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CAPÍTULO 2. A REFORMA AGRÁRIA E OS ASSENTAMENTOS RURAIS: CONHECENDO OS

2.5 Panorama Cronológico das Reformas Agrárias RAs do Mundo

2.5.1 Alguns casos de RA no mundo

No mundo foram muitos os países que fizeram reforma agrária; reformas diferentes na sua forma de implantação e intensidade, mas geradas por motivações semelhantes, como a injusta distribuição da terra. Conheçamos, a seguir, um pouco do que foram algumas destas reformas:

A RA da Rússia: segundo Scolese (2005); os primeiros sinais da RA russa iniciaram-se

em 1861 no tempo de Czar Alexandre II e da abolição da servidão. Nesta época o Estado deu uma porção de terras aos libertados, com compromisso de propriedade, prévio pagamento parcelado da mesma com altos juros, fato, este último, que influenciou no endividamento dos beneficiários e a volta destes (agora sem terra pois tiveram que devolvê-la ao Estado) ao trabalho nos engenhos. Este fato que pareceu ser o início de uma reforma agrária transformou-se numa enorme desilusão no campo.

O mesmo autor reforça que Czar Alexandre II aboliu a servidão justificando ser melhor a emancipação dos camponeses pelo “alto”, do que a libertação por “baixo”; mas esta medida não gerou mudanças na situação dos lavradores, pois o regime feudal (como visto parágrafo acima) se manteve inalterado. Não houve acesso à propriedade da terra e seu uso significava, para quem não tinha recebido terra do governo, o pagamento em produtos ou dinheiro aos nobres (detentores das terras) pelo uso das mesmas.

O crescimento populacional e o aumento da renda por uso da terra fizeram com que a quantidade de terra por lavrador se reduzisse até a revolução de 1905. Em 1906 o governo tentou acabar com as comunas, através da compra facilitada das áreas, por parte de quem as trabalhava, isto com o objetivo de criar uma classe média conservadora no campo, fato que não foi atingido, pois a maioria vendeu seus lotes e abandonou as áreas (SCOLESE, 2005 e VEIGA, 1984)

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No fim do Estado Czarista e com o País em greves e revoltas, juntou-se o fato da chegada dos soldados que participaram da primeira guerra mundial, os quais tiveram que retornar aos antigos lotes das comunas. Indignados com o sistema implantado, os soldados organizaram os conselhos comunais e se levantaram em armas tomando milhões de hectares de terra, obrigando assim, ao governo a socializar as mesmas através de Lei. Com a lei agrária de 26 de outubro de 1917, promulgada pelo II Congresso dos Sovietes5, aboliu-se a propriedade privada da terra, cancelou-se a dívida de arrendamento e autorizou-se aos lavradores a ocuparem os latifúndios através de comissões locais. Esta medida, em pouco tempo, desconcentrou o controle da terra a favor dos camponeses.

A partir de 1930 o comando comunista iniciou um processo que posteriormente culminou com camponeses transformados em mais um elemento estatal, associado a cooperativas e assalariados pelo governo ( SCOLESE, 2005).

A RA Chinesa; é um caso emblemático dentro dos processos mundiais de reformas

agrárias. Esta foi iniciada com a chamada rebelião de Taiping, em 1850, liderada por Hung Hsiu- ch uan, um camponês pobre com fortes ideias religiosas e que lutava contra a insuficiência agrícola para os habitantes do país. Naquela época, cada família recebia um lote de terra para trabalhar, sendo que somente eram donas da quantidade de produção necessária para sua subsistência pois, a diferença era estocada em armazéns coletivos que ficavam sob o comando dos militares. Em 1930 a concentração de terras persistia em números alarmantes; a metade dos camponeses possuíam tão pouca terra, que não era suficiente para a subsistência familiar. Tudo isto promoveu, em 1934, a marcha de Mao Tse-Tung, mas há que lembrar que esta marcha era diferente, em concepção, a outras revoltas já ocorridas.

A estratégia de Mao era investir no campo e depois nas cidades, em que os homens deste invadiram as grandes propriedades, mas, os camponeses e latifundiários ricos também recebiam um pedaço de terra. As áreas produtivas eram protegidas embora fossem aplicados impostos progressivos sobre as mesmas. Criou-se uma classe média no campo formada por camponeses que antes da luta não possuía nenhum bem. Scolese (2005) indica que a revolução chinesa,

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realizada com suas bases no campo, controlou a fome e miséria por meio de ações coletivas que fizeram desta uma RA exitosa.

A RA Vietnamita: iniciou-se no final da II Guerra mundial com uma “pré-reforma

agrária”, a qual teve como primeira medida o confisco das terras controladas por inimigos de guerra e fixou como taxa máxima de arrendamento em 25% da colheita. Posteriormente, se aboliram as dívidas camponesas; aumentaram os impostos para os médios proprietários e distribuiu-se a terra.

Em 1963 as terras pertencentes aos franceses foram confiscadas e, as de latifundiários, foram desapropriadas mediante indenização de títulos do tesouro. As grandes plantações foram transformadas em fazendas do Estado e o restante foi retalhado e distribuído pelos comitês de RA de cada vilarejo. Posteriormente e como medida para evitar o minifúndio, o governo promoveu o cooperativismo. Em 1968, 90% das famílias camponesas integravam cooperativas que exploravam em média 120 ha, com força de trabalho de 27 famílias; cabe lembrar que estas famílias agricultoras tinham uma dupla atuação, pois os agricultores também formavam as unidades de milícias (VEIGA, 19 4).

Rocha (2013) destaca que após o fim do processo revolucionário, o Vietnã foi dividido em duas partes: o Norte (controlado pelos comunistas vitoriosos) e o Sul (onde predominava um regime anticomunista amparado pelos Estados Unidos).

A RA Italiana: para Veiga (19 4); Oliveira (2007); e Rocha (2013); a RA Italiana foi um

processo um tanto diferente dos outros da época, pois, não foi homogêneo em todo o País ao não estabelecer regras gerais para todo o território. A RA foi feita por regiões respeitando a diversidade agrária das mesmas.

No início do século XX os grandes latifundiários praticaram uma agricultura extensiva, portanto, os camponeses sem terra tinham que recorrer à parceria com os donos, ou então, trabalhar como assalariados nas grandes propriedades. Ante isto, a pressão social cresceu tanto que o Estado, em 1923, iniciou o processo de reforma agrária.

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O processo começou com o decreto 215 através do qual os grandes proprietários de terras de regiões, previamente delimitadas, passaram a ser obrigados a estabelecer mecanismos para elevar a produtividade e o valor do campo.

Na Itália e durante todo o período fascista a questão agrária foi tratada como problema de policia e no imediato pós-guerra a revolta camponesa voltou à tona com vigor e nas primeiras eleições o Partido Comunista Italiano, que promovia a RA, obteve surpreendente votação. O novo governo distribuiu as terras nas regiões de maior tensão social.

Em 1950 a Lei de Transação (Stralcio) foi, dentre as Três leis agrárias concedidas na Itália no contexto de reformas agrárias, uma lei de caráter nacional aplicável unicamente em territórios onde predominavam as grandes propriedades mal equipadas, com numerosa população agrícola e onde a pressão e insatisfação dos camponeses eram mais intensas.

A RA de Formosa – Taiwan: Veiga (19 4) afirma que esta RA, a partir de 1949 e sob a

direção da JCRR –Joint Comission for Rural Reconstruction, iniciou um processo de redistribuição da propriedade fundiária pertencente às antigas propriedades japonesas. A ajuda técnica do Estado e os incentivos ao Associativismo permitiram um rápido aumento da produtividade. O mesmo autor indica que o sucesso também se deveu à injeção, no país, de um bilhão de dólares americanos.

A RA do Japão: o Japão até a Segunda Guerra Mundial apresentava uma estrutura fundiária extremamente fragmentada onde, a quantidade média de terra por família era de apenas um hectare e 34% do total das famílias agrícolas possuíam menos de 0,5 hectares. Em 1945, esta fragmentação, fazia com que os preços dos arrendamentos atingissem cerca de 50 a 60% do valor da produção. Em 1946, os rendeiros representavam 70% dos camponeses e detinham para cultivo, 46% das terras no país. A lei da reforma agrária neste País foi assinada em dezembro de 1946, e derivou das instruções dadas pelo Comando Supremo das Forças Aliadas no Japão, em 9 de outubro de 1945. Consistiu em um Programa para a transferência da propriedade da terra dos grandes proprietários para os rendeiros, e um conjunto de ações visando a protegê-los (OLIVEIRA, 2007).

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A Lei de RA de 1946 fixou em 3 ha o teto de propriedade individual e o Estado comprou as áreas excedentes e vendeu-as às famílias camponesas. Foi assim transferida um terço da área agrícola total, beneficiando 70% do total das famílias do país. Em 1961 o crescimento industrial japonês exigiu uma nova reforma, agora, de caráter concentracionista.

A RA de Portugal: também conhecida como “A revolução dos Cravos” foi uma RA

emblemática realizada por operários agrícolas de latifúndios do sul do País que em menos de um semestre ocuparam à força mais de um milhão de hectares e organizaram, sem ajuda do Estado, cerca de 500 unidades coletivas de produção agrícola. Este sólido processo resistiu a cinco anos de aplicação de uma feroz contrarreforma (VEIGA, 19 4).