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CAPÍTULO 3. OS ASSENTAMENTOS RURAIS E A SEGURANÇA ALIMENTAR: O CAMINHAR

3.4 O Caminhar do Assentamento Horto Vergel no decorrer dos seus 16 anos de luta

3.4.7 A (In)Segurança Alimentar

3.4.7.1 O que comem os Assentados do Vergel

Ao aprofundar um pouco mais nas características da alimentação que as famílias do Vergel têm, pode-se afirmar que desde as origens do Assentamento a base da alimentação das famílias do Vergel é composta, principalmente, pelo arroz e feijão que bem como retrata Santos e Ferrante (2003) e Oliveira et al, (1996). São alimentos, que formam uma mistura alimentar que se encontra presente na mesa das famílias de quase todas as regiões do país, e em todos os estratos de renda, sendo significativamente responsáveis pela oferta de calorias e proteínas da população.

Aliado ao arroz e feijão outros alimentos são incorporados a essa mistura em função das características culturais da família, da escolaridade dos membros, das influências externas ao

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meio, da produção agropecuária e da renda. Assim sendo, e querendo conhecer as características alimentares das famílias assentadas no decorrer dos anos 2008 e 2013 apresenta-se o gráfico 04:

GRÁFICO 04: Alimentos consumidos pelas famílias assentadas na semana de referência. 2008-2013

Fonte: Elaboração própria com base em dados de campo 2008 e 2013.

O gráfico 04 mostra que em 2008 a alimentação das famílias, durante a semana de referência, esteve composta, em ordem de prioridade por feijão, arroz, derivados lácteos principalmente o queijo; pão e biscoitos; leite, doces recheados, refrigerante, chá de ervas

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Leite Derivados Lácteos Feijão Lentilha Arroz Mandioca Verduras Legumes Frutas Carne Ovos Embutidos Macarrão/Miojo Chá de ervas Açúcar Mel Pão/biscoitos Margarina Doces recheados Refrigerante Número de Famílias 2013 2008

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plantadas nos quintais, frutas, macarrão ou miojo57, carne, mel, ovos, embutidos, verduras,

mandioca, legumes, margarina e lentilha. Basicamente o prato do almoço estava composto por arroz e feijão alguma fruta ou o suco dela.

Em 2013 as prioridades alimentares, em termos de tipo de alimentos consumidos, mudaram; as famílias durante a semana de referência declararam consumir, em ordem de preferência, feijão, carne, arroz, pão, mandioca, frutas e ovos, legumes, verduras, margarina, refrigerantes e doces recheados, leite, embutidos, derivados lácteos, chá de ervas, macarrão ou miojo, mel e lentilha. Um prato de almoço estava composto por feijão, carne, arroz, mandioca, verdura, e fruta ou suco dela.

O açúcar usado para adoçar o café (consumido diariamente e várias vezes ao dia), e chá, em ambos os anos foi usado por todas as famílias durante todos os dias da semana de referência.

Os alimentos adicionais ao arroz (que é comprado) e o feijão (que é majoritariamente plantado); são: mandioca, alface ou cebolinha ou algumas vezes tomate; no que diz respeito aos alimentos de origem animal, os ovos de galinha (criadas nos quintais) constituem-se num recurso importante consumido por todas as famílias pelo menos uma vez por semana; dentre as carnes, a preferência de consumo é a carne de porco, seguida da carne bovina. Está claro que esta preferência não supera o costume de consumir uma galinha caipira em momentos especiais.

Atualmente e no que corresponde ao consumo de carne de frango, é importante destacar que existe uma subjetividade de “status” no consumo da mesma, comentários como: “como frango quando a renda está acabando”, ilustram o fato de consumir este produto em função da renda do domicílio.

Esta última colocação se mostra antagônica ao depoimento tomado por Soares (2005, p.48): “A carne de frango é mais consumida que a vermelha e ambas são compradas”.

A contradição existente nestas constatações revela que os costumes alimentares têm sido modificados, no decorrer do tempo e com o incremento, dentre outras coisas, da renda e as melhores condições de vida que as famílias agora detêm.

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As frutas plantadas nos quintais dos assentados constituem-se também num importante recurso na alimentação destes e até no subjetivo das famílias estas estão atreladas à sobrevivência em tempos de escassez: “na família nois não passa fome, não se tem dinheiro no bolso, ma' fome a gente não passa pois tem fruta aqui fruta lá” (Assentado “K”)

Outra constatação feita no Assentamento é que ter dinheiro não é garantia de estar bem alimentado; esta constatação vai da mão com o enunciado por Oliveira et al, (1996) que indica que a maior disponibilidade de renda contribui com o aumento da diversidade de alimentos comprados, mas não com a quantidade de alimentos básicos e com a qualidade nutricional da alimentação.

Isto foi evidenciado nesta pesquisa após ter observado que, no Assentamento, existem titulares solteiros que trabalham arduamente nos seus lotes e que por isto detém importantes rendas. Quando entrevistados, pôde-se observar que estes se alimentam de arroz e feijão, que preparam 2 a 3 vezes por semana, bebem refrigerante e comem alguma fruta. Ficou evidente que estes assentados não dão importância à qualidade alimentar, incluindo aqui as frequências alimentares. Eles usualmente tomam um café de manhã baseado em café preto e pão e almoçam após o meio dia uma refeição como a acima indicada. Estes assentados não costumam jantar.

Um fato positivo a destacar é que, atualmente, o entendimento sobre a importância de uma alimentação equilibrada e saudável, através do consumo de alimentos de qualidade, tem atingido a um número maior de famílias com respeito a 2008, mas embora o panorama alimentar tenha mudanças positivas, existe a necessidade de uma reeducação alimentar que fortaleza a ideia do consumo de alimentos com teores baixos de açúcar e incremente o consumo de frutas e vegetais em adição ao arroz e feijão.

(...) há necessidade de programas direcionados para a educação alimentar que ressaltem a importância do consumo de frutas e vegetais adicionados à mistura do arroz e feijão, e redução do consumo de açúcares no momento da compra dos alimentos que farão parte do cardápio diário das famílias (SEGALL-CORREA e SALLES-COSTA, 2008, p.73).

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FIGURA 04: Composição alimentar média do almoço das Famílias do Vergel, anos 2008-2013.

Fonte: Elaboração própria com dados de campo 2008 e 2013.