• Nenhum resultado encontrado

Cabe registrar que não se pretende inventariar pesquisas sobre cooperação e assentamentos de reforma agrária no Brasil. O conteúdo foi inserido considerando o enfoque básico deste trabalho, o problema da cooperação nos assentamentos e, na expectativa de que os estudos escolhidos sejam significativos em relação a abordagem teórica quanto em relação a realidade nacional embora saiba, de antemão, das limitações existentes.

O tema desenvolvimento rural sustentável tem suscitado um infindável debate conceitual no transcorrer das últimas décadas. Segundo a Comissão Mundial sobre o

Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, 1998), desenvolvimento sustentável corresponde a um desenvolvimento que é capaz de garantir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem também às suas. Adota-se, neste trabalho, a construção elaborada por Sen (2000, p.10), para quem o “desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente”. Cabe registrar que dentre as contribuições mais relevantes do interminável debate se destacam as de Herman Daly (2005), Celso Furtado (1974), Amartya Sen (2000), Ignacy Sachs (2008) e Veiga (2010), bem como os trabalhos de Leff (2010), Romeiro (2001), Scotto; Carvalho; Guimarães (2010), Veiga e Zatz (2008) dentre outros.

A questão agrária, para França (2011), é crucial para a sociedade brasileira, uma vez que só por meio de sua consolidação é que o povo brasileiro poderá superar a pobreza e a miséria, assim como avançar no processo de consolidação da democracia.

No Brasil, dois grandes modelos podem ser identificados no processo de desenvolvimento rural: o dos agricultores que desenvolvem a denominada agricultura empresarial, tradicionalmente dirigida para o agronegócio, apoiada pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e o dos que compõem a categoria dos agricultores familiares, incluindo-se os agricultores que exploram lotes em assentamentos de reforma agrária. O termo assentamento, criado no âmbito das políticas públicas para nomear um determinado tipo de intervenção fundiária, unifica e, muitas vezes, encobre diferentes ações como a compra de terras ou a desapropriação de imóveis rurais, envolvendo trabalhadores demandantes de terra, suas entidades de representação e muitos outros atores (públicos e privados) determinantes na sua conformação (LEITE; MEDEIROS, 2004).

No estado de Alagoas a realidade se desdobra em dois grandes modelos ou padrões, de um lado, a agroindústria canavieira, de outro, a produção de alimentos via pequenos produtores rurais - agricultores familiares ou assentados (AQUATRIX, 2008; SEPLANDE, 2011; OLIVEIRA, 2007).

O estado de Alagoas, além de produzir pouca riqueza, possui uma renda mal distribuída, excluindo do mercado consumidor interno parcela majoritária da população (CARVALHO, 2010). Oliveira e Barros (2010) afirmam que mais da metade da população vivia abaixo da linha de pobreza. Carvalho (2010) assevera que na área

rural, a ausência de um universo de pequenas unidades produtivas com acesso ao crédito, assistência técnica e facilidade na comercialização implica a falta de uma produção que atenda ao abastecimento alimentar e à diversificação das agroindústrias. Registra, ainda, que a experiência alagoana de reforma agrária, concretizada no assentamento de milhares de famílias, ainda não criou um espaço significativo capaz de servir de alternativa ao modelo agrário tradicional (CARVALHO, 2010).

Trabalho realizado por Bezerra (2012) registra que o estado de Alagoas, nas últimas décadas, tem despontado como um dos estados brasileiros com número significativo de Assentamentos Rurais vinculados ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). No entanto, as políticas agrárias realizadas pelo Estado brasileiro, com a intenção de emancipar produtores rurais assentados, têm alimentado o ciclo da pobreza.

De acordo com dados levantados em 2011 pelo MDA/INCRA (2012), o estado de Alagoas conta com 164 projetos de assentamento sob a tutela do aludido órgão, ocupando uma área total de 98.845,17 hectares, assim distribuídos por mesorregião do estado: a mesorregião do Sertão alagoano, com 22.699,58 ha, engloba 9 municípios e 37 assentamentos; a mesorregião do Leste alagoano, com 62.053,78 ha, engloba 26 municípios e 108 assentamentos; e a mesorregião do Agreste alagoano, com 14.091,81 ha, engloba 8 municípios e 19 assentamentos. A mesorregião do Leste alagoano, que detém cerca 60% das áreas com projetos de Reforma Agrária é aquela onde tradicionalmente e historicamente se cultiva a lavoura da cana-de-açúcar. Os assentamentos aí localizados foram, no passado recente, espaços (fazendas particulares ou terras de usinas) de cultivo da citada monocultura. São, no estado, 9.709 famílias (74% na mesorregião Leste, 14% no Sertão e 12% no Agreste).

Quando se observa o tamanho médio dos lotes dos assentamentos alagoanos constata-se que é inferior a um módulo fiscal municipal, apresentando dificuldades para que os agricultores assentados possam viabilizar processos produtivos capazes de garantir o bem-estar das famílias. Situação esta que foi constatada por Costa e Fernandes (2013a) em estudo efetivado nos assentamentos Pacas, em Murici, João Pedro Teixeira, em Flexeiras e Milton Santos, em Atalaia, localizados na zona canavieira do estado de Alagoas, cujas áreas médias dos lotes são de 8 ha, 6,6ha e 7 ha respectivamente.

Abreu (2007), com base em dados obtidos sobre o perfil dos assentados, as principais atividades e aspectos gerais do Assentamento Pindoba II, no município de União dos Palmares, em Alagoas, evidencia que uma das dificuldades citadas pelos assentados era a comercialização da produção agrícola e que - conforme os assentados - caberia a associação investir no beneficiamento dos produtos e capacitação dos associados agregando valor aos produtos e aumentando a renda familiar.

Junges (2009), em trabalho realizado no Assentamento Brasileiro, localizado no município de Atalaia, em Alagoas, estuda as atividades de assessoria técnica, ali realizadas, a partir da perspectiva dos assentados, e constata que a relação entre “extensionista” e assentados é avaliada positivamente pelos usuários, observa ainda que a demanda dos assistidos é superior à capacidade dos técnicos.

Jesus (2007), trabalhando com o perfil dos assentados e o modo de vida no Assentamento Eldorado dos Carajás, em Branquinha, Alagoas, observa que o assentamento apresenta uma série de problemas relacionados à infraestrutura, à organização social, à produção agropecuária e à conservação ambiental.

Vasconcelos (2011), com base em diagnóstico socioeconômico e ambiental realizado no Assentamento Margarida II, em Maragogi, Alagoas, aponta que as reivindicações dos assentados estavam voltadas para investimentos em infraestrutura, créditos produtivos rurais e apoio de políticas públicas.

Pesquisa de opinião realizada por Lima (2007), em relação ao que pensam os assentados do Assentamento Pindoba II, em União dos Palmares, Alagoas, sobre os serviços básicos ali ofertados, detecta insatisfações dos assentados, principalmente em relação aos serviços de saúde. Para os assentados a associação dos assentados não dá o suporte necessário porque não sabe reivindicar, junto aos governantes, as melhorias para o assentamento.

Analisando o perfil socioeconômico, cultural e ambiental dos produtores rurais dos assentamentos do município de Porto de Pedras, em Alagoas, Moreira (2010), constata que “os assentamentos não oferecem as condições necessárias para a sobrevivência digna dos assentados, destaca as dificuldades para se organizarem e trabalharem coletivamente e o fato de que não estão adequadamente preparados para administrarem de maneira eficiente e eficaz os seus respectivos lotes”.

De acordo com Leite et al. (2004), os assentamentos se constituem em espaços diferenciados de relação com o Estado: são uma criação do Estado e ficam sujeitos à

sua gestão e à sua ingerência. Souza (2008) define-os como um espaço de relações sociais influenciadas pela trajetória social do assentado; por sua relação com os mediadores; portanto, um espaço de reconstrução de saberes, onde a heterogeneidade cultural emerge e o direito à diferença se torna explícito.

Ao estudar o perfil de um grupo de assentados egressos de um projeto de alfabetização de jovens e adultos, vinculado ao Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), no estado de Alagoas, Sá (2010) constata que eram de origem rural, maioria oriunda da zona canavieira, filhos de trabalhadores rurais, vivendo em condições precárias, com presença muito limitada de formas de socialização nos assentamentos e, aparentemente, predomina entre as famílias um comportamento individualizado (SÁ, 2010).

Araújo e Bezerra (2010), com base em dados coletados em assentamentos alagoanos assistidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, através do PRONERA, afirmam que “a questão agrária central dos assentamentos não se resume à falta de terras”, mas decidir sobre o que fazer. No cotidiano “os assentados se deparam com a ausência de formação técnica, recursos, incentivos ficais, insumos agrícolas, técnicas agroecológicas, etc.”, itens considerados pelos autores como fundamentais para o êxito dos assentamentos.

Ao estudar o Assentamento Massangano, um dos dezesseis assentamentos existentes no município de Maragogi, situado no litoral norte de Alagoas, França (2011) revela que ele tem um caráter atípico, uma vez que cerca de 90% dos seus assentados já residiam no local, antigo engenho Massangano, não tendo participado nas lutas pela reforma agrária. O aludido autor ressalta que o município de Maragogi se constitui num dos principais palcos da luta dos movimentos sociais no campo, em Alagoas, sendo hoje o município alagoano que conta com o maior número de acampamentos de reforma agrária (FRANÇA, 2011).

O autor registra que o referido assentamento está situado relativamente próximo à cidade de Maragogi comunicando-se com esta por meio de uma estrada vicinal de terra, a qual fica intransitável durante grande parte do inverno devido a inundação dos riachos que a cortam, dificultando a comunicação dos assentados com a zona urbana de Maragogi, assim como o escoamento da produção agrícola do Assentamento (FRANÇA, 2011).

Segundo França (2011), aspecto importante é a forma como os assentados (antigos trabalhadores rurais expulsos da terra, moradores de favelas,

desempregados e subempregados) encaram o fato de haverem se tornado “proprietários de terra”. Usa a categoria de representação social, proposta por Moscovici (1983, p.61), para entender a realidade subjetiva vivenciada pelos assentados e infere que é de suma importância descrever algumas das representações sociais dos assentados do Assentamento, para melhor compreensão da sua realidade. Destaca que os assentados passaram a se autoconceber como proprietários, donos de um lote (onde podem desenvolver a agricultura familiar com fins de consumo de suas famílias e para comercialização) (FRANÇA, 2011, p.96).

Apesar de conquistas pelos assentados, foram constatados alguns obstáculos à realização de uma reforma agrária. A integração ao mercado capitalista é bastante difícil. As dificuldades estão relacionadas ao diminuto tamanho do lote de cada assentado, assim como ao deficiente nível de organização social e produtiva dos assentados; tanto o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) quanto INCRA e os Bancos oficiais não garantem uma assistência técnica eficiente e permanente para o Assentamento (FRANÇA, 2011, p.97).

Segundo França (2011), os dados permitem considerar que os vários problemas enfrentados pelo Massangano estão correlacionados com a cultura e a política alagoanas, as quais têm seu fundamento no latifúndio e monocultura da cana- de-açúcar (FRANÇA, 2011).

Os assentados abandonaram a luta pela terra, alegando não ter tempo para continuar a luta pela reforma agrária. Essa posição pode ser explicada pelo fato de que 90% dos assentados não tinham lutado pela conquista do assentamento. Esse fato foi, certamente, agravado pela falta de acompanhamento político-pedagógico dos assentados por parte dos dirigentes do MST. Este é um dos fatores pelos quais os assentados não assimilaram suficientemente os princípios e objetivos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) (FRANÇA, 2011, p.99-100).

Em estudo realizado em três assentamentos existentes em Murici, Flexeiras e Atalaia, localizados na zona canavieira do estado de Alagoas, Costa e Fernandes (2013a), observam que a maioria dos assentamentos apresenta deficiências em relação à disponibilidade de água, iluminação pública, estradas, saúde, educação, produção e comercialização da produção, situação que põe em cheque as interações entre os assentados, suas formas de participação via associações de assentados e as experiências de mediação nas esferas municipal, estadual e federal.

Dentre os dados obtidos no supracitado trabalho consta que os assentados são oriundos do meio rural, a maioria ex-trabalhadores assalariados das fazendas de cana-de-açúcar, de Alagoas e Pernambuco, filhos de agricultores, que vivenciaram experiências em acampamentos e alguns, também, em assentamentos. Chama a atenção o não equacionamento do problema ao longo do tempo e aflora o questionamento sobre a atuação dos próprios assentados na busca por melhor qualidade de vida, bem como, o papel dos mediadores que os representam junto à sociedade (COSTA; FERNANDES, 2013a).

Costa e Fernandes (2013a) constataram que, além, evidentemente, da busca de apoio junto à diretoria da Associação do Assentamento em situações de emergência, os assentados exercitam formas de cooperação para suprir carências. O exercício de solidariedade é frequente em situações de dificuldade; familiares, amigos e vizinhos se mobilizam, se unem e ajudam via cotização para locação de veículo para transporte de assentados doentes, pedido de auxílio junto a componentes de redes sociais, em que o paradigma da dádiva (dar, receber e retribuir) de Marcel Mauss (CAILLÉ, 1998) ou da reciprocidade (SABOURIN, 2011, 2008) é objeto de prática.

Nos assentamentos observados é comum a exploração de diversas atividades agropecuárias. A opção pela diversificação segue uma lógica de evitar perdas totais caso ocorra qualquer intempérie. A escolha do que cultivar ocorre, segundo assentados entrevistados, conforme preços no mercado e considerando a limitação de oferta de água nos lotes e experiência deles com cada cultura (COSTA; FERNANDES, 2013a). Dos contatos mantidos com técnicos ficou claro que estes assessoram os assentados apresentando dados técnicos que subsidiam as decisões deles. “Quem decide” representa outra polêmica, segundo Souza (2012), pois trabalhadores que quase sempre tiveram tarefas determinadas por outros, vivem o desafio de decidir individual ou coletivamente como trabalhar a terra, isto é histórico e cultural.

É importante lembrar que a produção está inter-relacionada às condições estruturais encontradas e disponíveis nos assentamentos estudados. Disponibilidade de água, energia elétrica, condições das estradas, disponibilidade de recursos financeiros e assessoria técnica interferem sobremaneira. Cabe aprofundar o desenvolvimento de ações coletivas nos processos produtivos dos assentamentos estudados uma vez que se constatou a inexistência de laços fortes de cooperação entre as unidades familiares (COSTA; FERNANDES, 2013a).

A abordagem do capital social, particularmente a abordagem de James Coleman, servirá de base para se tentar compreender a vinculação do capital social com os processos de cooperação viabilizados nos assentamentos rurais em Alagoas. A comercialização da produção obtida nos assentamentos ocorre de diversas maneiras, considerando a necessidade do assentado, a conjuntura econômica e as informações disponíveis, apresentando, cada uma, resultados financeiros diferentes para os assentados que impactam a renda e qualidade de vida no assentamento. Destacam-se as feiras livres, diretamente junto a atravessadores nos assentamentos, como, a prática vivenciada por intermédio de cooperativas de comercialização de produtos de assentados. Um dos assentamentos conta com cooperativa de comercialização da produção, sendo esta promovida junto às organizações (municipal e estadual) que operam com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do Governo Federal. As diferentes formas de comercialização apresentam características próprias a cada uma delas.

Os assentados têm dificuldades no desenvolvimento de papeis enquanto protagonistas individuais e sobre participação e uso de ferramentas coletivas (formais ou informais) que possibilitem o equacionamento e/ou solução dos problemas junto às instituições públicas. Isto caracteriza uma condição de fraco capital social do tipo público (SACCHET, 2009), que se exprime pelas ligações com instituições formais existentes na esfera pública a partir das associações dos assentados (COSTA; FERNANDES, 2013a).

A associação corresponde ao órgão de representação formal existente em todos os assentamentos, criada quando do início das atividades oficiais do assentamento, em função da indução do Estado que exige um órgão de representação oficial dos assentados. Fato corroborado em estudos de Sabourin, Oliveira e Xavier (2007) para quem a primeira intervenção do INCRA para oficializar um assentamento é a constituição da associação de produtores.

Segundo Miranda (2011), órgãos governamentais, ONGs e movimentos sociais têm abordado o associativismo econômico enquanto mediação entre indivíduo, coletividade e mercado.

Os assentados afirmam que nas reuniões todos falam, votam, decidem e que, após isso, tudo é viabilizado muito lentamente. Alguns deles afirmam que não conseguem visualizar resultados via associação. Pode ser que esta seja uma das razões para a pouca cooperação antes constatada, ou vice-versa. Segundo Sabourin,

Oliveira e Xavier (2007), as principais tensões e queixas dos assentados com o poder público acontecem em torno da implementação das infraestruturas. Apontam duas contradições em relação às associações em assentamentos rurais: de um lado o excesso de procedimentos coletivos transforma a associação num novo intermediário e, por outra, emerge entre a onipresença forçada do coletivo e os sentimentos ou aspirações individualistas dos assentados (SABOURIN; OLIVEIRA; XAVIER, 2007: p.30).

Dentre os diversos problemas observados que comprometem a produção dos assentados e a qualidade de vida nos assentamentos estudados ressaltam-se, sobremodo, o reduzido tamanho dos lotes, as dificuldades em relação à disponibilidade e abastecimento de água, ao acesso aos assentamentos em função das estradas, à assistência médica (ambulatorial e de emergência), à rede de educação extra assentamentos, à precária assistência técnica, dificuldades com a comercialização da produção e para pagamento dos créditos obtidos e, raros equipamentos sociais de lazer (COSTA; FERNANDES, 2013a).

Marcante foi a constatação, pelos aludidos autores, de que os assentamentos localizados em Alagoas, que estão vinculados ao INCRA, não contavam com a assessoria técnica, social e ambiental desde novembro de 2011. Fato que, sem dúvida alguma, vinha gerando uma série de problemas para os assentados (falta de orientação técnica no campo, no que se refere às etapas dos processos de produção, colheita, armazenamento, processamento/industrialização, comercialização, de assistência na elaboração e acompanhamento de projetos etc.), com consequências imediatas, bem como a médio e longo prazo.

Os autores levantam a questão pertinente à necessidade de trabalhar mais amiúde o universo dos assentamentos alagoanos a fim de melhor compreender a realidade local, uma vez que formas de cooperação contribuem historicamente para a melhoria da qualidade de vida das comunidades. Questiona-se se dificuldades observadas têm relação com a maneira como as experiências foram implantadas nos assentamentos ou refletem o despreparo ou desinteresse dos assentados em vivenciar experiências associativas. Eles inferem que estudar a participação vivenciada nos assentamentos e as relações entre os assentados e entre eles e as demais organizações com as quais interagem diariamente seriam fundamentais para um melhor entendimento da realidade, até mesmo a partir da análise do capital social existente nos assentamentos

Costa e Fernandes (2013b) constatam que cerca de 60% dos assentamentos rurais vinculados ao INCRA, em Alagoas, estão localizados na mesorregião do leste alagoano, em área tradicionalmente conhecida como de exploração da cultura da cana-de-açúcar no estado, cujos solos estão com o lençol freático comprometido, principalmente, em função do uso, pelos proprietários anteriores, ao longo dos anos, de agroquímicos utilizados na cultura da cana-de-açúcar. Os autores chamam a atenção para o fato de que a divisão das áreas e distribuição dos lotes, em muitos assentamentos, ocorreu de tal forma que alguns lotes ficaram com parte da sua área em terras legalmente proibidas para uso agrícola, reduzindo ainda mais a sua possibilidade de exploração e, consequentemente, a condição de sobrevivência dos assentados (COSTA; FERNANDES, 2013b).

Estudo realizado por Lages e Ramos (1999) indica que a maioria dos lotes nos assentamentos alagoanos tinha área inferior ao módulo fiscal definido para cada município onde estava localizado, acarretando dificuldades para que os agricultores assentados pudessem viabilizar processos produtivos capazes de garantir o bem- estar deles e de seus familiares.

Costa e Fernandes (2013b) consideram que os assentamentos estudados foram entregues sem oferecer a infraestrutura necessária para o seu desenvolvimento sustentável, conforme proposto, não garantindo aos assentados e familiares a esperada condição de vida. A inferência é de que as condições inicialmente oferecidas obstaculizam a sustentabilidade dos assentamentos pesquisados, quadro ainda não revertido ao longo do tempo.

De acordo com os autores, as ações efetivadas não atendem às expectativas dos movimentos sociais rurais e assentados, uma vez que as aspirações não são atingidas em função de que as ações governamentais se distanciam dos objetivos propostos.

Em texto que discute a cooperação agrícola em assentamentos do estado do Paraná, Souza (2006) revela que o assentado possui um conjunto de conhecimentos, valores e atitudes que podem, inclusive, questionar as diretrizes do próprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no que se refere às propostas de cooperação. A autora cita que a cooperação agrícola nos assentamentos pode ocorrer de várias formas, a saber: grupos de famílias; associação ou grupos de máquinas; grupos de produção semi-coletivizada; grupo de produção coletivizada; cooperativa

de comercialização; cooperativa de produção agropecuária (CPA); condomínios e