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2.3 Cooperação

2.3.1 Cooperação e meio rural

Serão apresentadas contribuições que tratam da utilização da cooperação no meio rural, com ênfase nas experiências cooperativas, que historicamente têm sido marcantes, mormente com o apoio do Estado.

Segundo Costa et al. (2010) “a cooperação é um outro fator imprescindível nas comunidades para se processar ações que resultem em desenvolvimento local”. A competição ou a cooperação, então, seriam reflexos de uma culturalidade assimilada com a própria história de vida das pessoas que compõem uma comunidade.

A formalidade própria das entidades como associações, sindicatos e cooperativas não são aceitas, de acordo com Costa et al. (2010), com naturalidade por comunidades rurais, pois toda a institucionalização daquilo que antes era espontâneo, natural e simples, quando assume a figura de pessoa jurídica, assusta e desmobiliza as pessoas.

Eles ressaltam, ainda, que o que se verifica historicamente no meio rural são entidades de caráter cooperativo, com personalidades jurídicas que, todavia, não apresentam consistência em seu corpo social” (COSTA et al., 2010).

Segundo Sachs (2008) para que os pequenos produtores possam se tornar pequenos empresários seria necessário melhorar a sua cultura administrativa e, ao mesmo tempo, precisam tirar proveito da assistência mútua e do empreendedorismo coletivo, fortalecendo os seus esforços individuais. O aperfeiçoamento organizacional, de acordo com Sachs (2008), é tão importante quanto o aperfeiçoamento técnico.

É importante reter que, para Oliveira (2006), o associativismo é uma forma de organização social, econômica e produtiva bastante diversificada e praticada através de nuances complexas, no contexto da realidade brasileira. Que não se pode separar associativismo do cooperativismo, eles se complementam, pois necessariamente uma cooperativa nasce de uma associação de pessoas e sua continuidade depende dessa forma de organização.

Oliveira (2006), destaca que, em diversos estudos, inclusive o dele, o associativismo é voltado para as diversas formas de organização em contextos populares. Ela indica, ainda que:

...em regra geral, o cooperativismo tem suas origens na formação de grupos com objetivos voltados essencialmente para o econômico, o associativismo tem a mais uma função mobilizadora quanto à organização de movimentos populares, de interação entre as pessoas em torno de um objetivo comum, que é a luta pela melhoria da qualidade de vida e que, pouco a pouco vai se configurando nos aspectos sociopolíticos, econômicos e educacionais (OLIVEIRA, 2006, p.162).

Rios (2006), analisando instituições cooperativas nordestinas, observa:

As instituições são constituídas simultânea e dialeticamente de estruturas objetivas (estatutos, regimentos, organogramas, fluxogramas, orçamentos, patrimônio, planejamentos etc.) e por outro lado são vivenciadas por indivíduos que «vestem (ou não) a camisa» dessa instituição, isto é, uma visão de mundo e de valores da mesma e aí interagem num quotidiano permeado por satisfações, insatisfações, auto-realizações, frustrações, congraçamentos e conflitos, esperanças ou ilusões perdidas (RIOS, 2006, p.6).

O autor retrata, ainda, que “as instituições como produtos de nossa sociabilidade, refletem, como num espelho de dupla face, os agentes que as vivenciaram no passado e as vivenciam no presente” (RIOS, 2009, p.117).

Santos e Rodriguez (2005), trabalham a tese de que as alternativas de produção não são apenas econômicas: o seu potencial emancipatório e as suas perspectivas de êxito dependem, em boa medida, da integração que consigam, entre processos de transformação econômica e processos culturais, sociais e políticos. Eles apresentam que as iniciativas de produção alternativa geralmente são apenas uma parte de um projeto integral de organização comunitária e o êxito depende da forma como os processos econômicos e não econômicos (com dinâmicas culturais, sociais, afetivas, políticas etc.) dentro delas se sustentam mutuamente. Seriam experiências de economia solidária em que ao capital social é conferida importância ímpar; experiências de sobrevivência que têm crescido no mundo inteiro através da produção cooperativada e autogestionária (ABDALLA, 2002).

Singer (2005) já afirmava que o ato de se associar implica em perda de autonomia, necessidade de coordenar o tempo de trabalho em tarefas comuns e que tipo de produto as famílias vão produzir, além de conciliar o trabalho de membros das famílias para a associação com o realizado em suas unidades individuais.

Trabalhando os conceitos de cooperação, cooperativas e cooperativismo, Pires (2004), aponta a existência de uma “relação dialética de aproximação e distanciamento entre cooperativas e cooperativismo que subsidia (ou constitui) a principal fonte de tensão observada”. A autora visualiza as cooperativas como prática concreta e o cooperativismo como prática idealizada. Cabe frisar que Rios (1987) chamava a atenção para o fato de que as cooperativas se apresentavam como instrumento de ação do ideário ou do pensamento cooperativista ou do cooperativismo. Ela registra que tais conceitos estão intimamente ligados a uma dimensão de cooperação, cooperação que representaria a “ideia-força”.

A autora assim os apresenta:

Cooperação: etimologicamente a palavra cooperação (do latim cooperari, de cum e operari, que significa operar conjuntamente) é entendida como ação conjugada através da qual as pessoas se unem com vistas aos mesmos objetivos, o que pressupõe a sua significância social nas mais diversas formas de associação humana – do matrimônio às relações comerciais. ” (PIRES, 2004, p.35-36)

“Por Cooperativismo entendemos um fenômeno de amplitude universal ligado a uma forma de organização empresarial, pautada numa legislação especifica e num conjunto doutrinário e filosófico, através do qual estão ordenados os seus valores e princípios. Os valores dizem respeito a temas como ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade, equidade, solidariedade, honestidade, transparência, responsabilidade social e preocupação com seu semelhante, os quais fundamentam os princípios. Os princípios são: da adesão livre e voluntária; do controle democrático pelos sócios; da participação econômica dos sócios; da independência e autonomia das cooperativas; da educação, treinamento e formação; da cooperação entre cooperativas; da preocupação com a comunidade” (PIRES, 2004, p.36) “Situamos a cooperativa enquanto uma expressão concreta, enquanto uma forma de manifestação possível do cooperativismo. E, mais especificamente, o modus operandi configurado na forma de uma empresa que atua no mercado em nome dos seus membros ou cooperados (PIRES, 2004, p.37).

Assevera Pires (2004) que a vocação de associação de pessoas e de empresa econômica, que define a cooperativa, tornou possível a designação de empresa, associação ou cooperativa. Já as pessoas envolvidas com o ato cooperativo foram nomeadas como membros, associados ou sócios.

Carvalho (1998), em estudo sobre formas de associativismo vivenciadas no Brasil, “utilizou-se da expressão forma de associativismo para dar conta, de maneira genérica, de todas as possibilidades de cooperação organizada entre pessoas físicas para a realização de um determinado objetivo”, podendo, ou não, ter sua existência

legalizada. A associação, neste caso, enquanto organização, correspondendo a uma instância de mediação entre atores sociais e sociedade.

Para Carvalho (1998), as expressões “coletivo” e “semi-coletivo” são assim tratadas:

a expressão coletivo pode referir-se à forma de cooperação no processo de produção, à apropriação da terra, à comercialização de produtos e insumos e ou à repartição do produto do trabalho”. O sujeito do objeto é um coletivo de pessoas e ou famílias. Já “a expressão semi-coletivo significa que todas as famílias, ou somente parte delas, de trabalhadores rurais existentes num assentamento vivenciam simultaneamente as formas de exploração coletiva e a individual, sendo que a forma coletiva refere-se, em geral, ao uso comum de parcela da terra do assentamento e a exploração individual dá-se no lote particular (CARVALHO, 1998, p.3-4).

Em estudo sobre as formas associativas do Brasil moderno, Vela (1994) aponta que elas podem ser distribuídas, mesmo que preliminarmente, em dois grandes grupos: “formas organizadas pelos médios e grandes produtores” e outro, “formas organizadas por pequenos produtores, camponeses assalariados e os assentados do Movimento Sem-Terra”.

Vela (1994), em seu ensaio, “mostra algumas das inúmeras formas de cooperação formais não tradicionais que surgem entre alguns segmentos da sociedade rural brasileira, especialmente entre os setores mais desprotegidos no contexto do desenvolvimento rural”. Em nível de médios e grandes produtores ele apresenta: Cooperativas Tradicionais; Gretas ou Grupos Regionais de Empresas de Tecnologia Agropecuária; Cites ou Centros de Integração e Troca de Experiências. Em nível de pequenos produtores, camponeses assalariados, temporários e assentados do Movimento Sem-Terra: Cantinas Comunitárias; Grupos de produção comunitária; Mutirões; Condomínios rurais; Casas de farinha; "Sociedade da vaca"; Círculo de máquinas; Associação de Prestação de Serviços e Assistência Técnica (APSAT); Hortas comunitárias; Grupos alternativos comunitários; O sistema Cooperativista dos Assentados; Cooperativas ecológicas (VELA, 1994).

Se percebe que o termo cooperação encerra, em si, inúmeras possibilidades de ação, quer formais ou informais, viabilizando necessidades das mais variadas, consoante o que se objetiva, quer no meio urbano ou rural.