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Nesta parte serão focados os elementos poluentes (sem orientação técnica científica) de acordo com a percepção dos assentados dos dois assentamentos pesquisados. A figura 34 mostra o destino dos resíduos sólidos nos assentamentos.

Nos dois assentamentos estudados (Figura 34) constatou-se que 77% dos assentados declararam que eliminavam os resíduos sólidos, ou seja, o lixo gerado, via queima, 11% informaram que deixavam o lixo livremente no meio ambiente, 3% que enterravam, 2% que enterravam e/ou queimavam, 2% queimavam e/ou deixavam no meio ambiente (livre) e, 1% deles faziam a coleta.

No PA Conceição 73% praticavam a queima e 14% deixavam o lixo no meio ambiente. No PA São Frutuoso a situação em relação ao uso da queima era pior uma vez que 82% dos assentados declararam que queimavam o lixo enquanto 7% informaram que o deixavam livremente no ambiente. Tais práticas indicam precariedades nos assentamentos, que colocam em risco o solo, os mananciais hídricos e comprometem a qualidade de vida dos assentados.

Figura 34 – Destino dos resíduos sólidos nos PAs Conceição e São Frutuoso. Fonte: Instituto de Capacitação Zumbi dos Palmares

2% 3% 14% 73% 1% 1% 4% 2% 0% 3% 7% 82% 4% 0% 0% 4% 1% 3% 11% 77% 2% 1% 2% 3% Coleta Enterra Livre Queima Enterra/Queima Coleta/Livre Livre/Queima Não informou

Conforme 56% dos assentados a estocagem de defensivos agrícolas não era feita consoante a legislação vigente e as orientações técnicas (Sendo aproximadamente 56% dos assentados no PA Conceição e, também, no PA São Frutuoso). Constatou-se que a maioria (60%) dos assentados dos dois assentamentos não acondicionava corretamente as embalagens de agrotóxico, conforme as orientações técnicas e a legislação em vigor. Constatou-se que 87% dos assentados declararam não contar com um local adequado para a lavagem dos implementos agrícolas utilizados no campo. No PA Conceição o percentual era de 92% e no PA São Frutuoso, de 84%.

Segundo informações de 94% de assentados dos dois assentamentos, não havia registros de pedreiras sendo operadas nos mesmos. No PA Conceição 98% dos entrevistados e, no PA São Frutuoso, 92% dos assentados não registraram pedreiras em operação em cada assentamento. Para 2% dos entrevistados no PA Conceição e 6% no PA São Frutuoso ocorria a extração de pedras em cada assentamento, operação realizada fora dos padrões exigidos.

Outro aspecto considerado é o pertinente a existência de lixeiras nos assentamentos estudados, para a acumulação do lixo gerado pelos assentados. Neste item observou-se que 71% do total de assentados informaram a inexistência de lixeiras nos assentamentos. No PA Conceição 78% dos entrevistados e no PA São Frutuoso 66% dos assentados, respectivamente, informaram não contarem com lixeiras para o lixo acumulado. De acordo com 22% dos assentados no primeiro assentamento e 33% no segundo assentamento havia, sim, lixeiras nos aludidos assentamentos.

A exploração de areia ou argila nos assentamentos estudados também não foi objeto de registro pela maioria dos assentados, cerca de 90%. Por assentamento, os percentuais chegaram a 96% e 93%, nos PAs Conceição e São Frutuoso, respectivamente. As constatações de casos de exploração de areia ou argila nos assentamentos foram indicadas por aproximadamente 4% dos entrevistados no PA Conceição e 5% no PA São Frutuoso.

Apenas 2% dos assentados dos dois assentamentos apontaram a existência de pocilgas e o registro foi verificado no PA São Frutuoso. Em relação a instalação de aviários os registros se repetem. No PA Conceição não há apontamentos em relação a existência de pocilgas e aviários como elementos poluentes.

A inexistência de matadouros nos dois assentamentos foi objeto de indicação por 96% dos assentados entrevistados, sendo 99% deste no PA Conceição e 94% no PA São Frutuoso. Elementos poluentes foram indicados por 1% dos assentados no primeiro assentamento e 4% no segundo.

Não foi apresentado pela maioria dos assentados (93%) ocorrência de erosões marcantes nos assentamentos (97% no PA Conceição e 89% no PA São Frutuoso). Os registros de erosões marcantes foram de 7%. Já a exploração de madeiras foi apontada como elemento poluente nos dois assentamentos, por 31% dos assentados, sendo 3% no PA Conceição e 32% no PA São Frutuoso.

Item que chama a atenção é o referente aos esgotos uma vez que foram apontados como elementos poluentes por 51% dos assentados (para 50% dos assentados no PA Conceição e para 51% dos entrevistados no PA São Frutuoso). Parte dos dejetos gerados não tinha tratamento e/ou destino adequado nos assentamentos. A prática de queimadas foi citada por 70% dos assentados dos dois assentamentos, comprometendo os solos e o meio ambiente como um todo.

A aplicação de agrotóxicos nos assentamentos pesquisados foi objeto de registro por 77% dos assentados (79% no PA Conceição e 76% no PA São Frutuoso). Prática que encerra o uso de substâncias que comprometem a saúde dos futuros consumidores e que no momento da aplicação compromete a saúde dos agricultores e familiares vez que em sua maioria a prática era desprovida dos devidos cuidados (uso de equipamentos de proteção individual, armazenamento, destinação de embalagens etc.) consoante a legislação vigente, além de contribuírem para a poluição de mananciais hídricos.

A utilização de bombas de recalque d’agua em rios, nos dois assentamentos, foi citado por 17% dos assentados, sendo 16% no PA Conceição e 18% no PA São Frutuoso. O assoreamento em rios e riachos foi um elemento poluente citado por 91% dos assentados dos dois assentamentos (96% do PA Conceição e 87% do PA São Frutuoso. Já a supressão de mata ciliar foi registrada por 6% dos assentados, sendo 2% do PA Conceição e 9% do PA São Frutuoso. A exploração em área de preservação permanente foi apontada por 18% dos assentados dos dois assentamentos (7% do PA Conceição e 25% do PA São Frutuoso).

Outro elemento poluente foi o manejo inadequado do solo, colocado por 61% dos assentados dos dois assentamentos, 48% no PA Conceição e 70% no PA São Frutuoso. Alia-se as condições das estradas rurais deteriorantes que contribuíam

negativamente para 72% dos assentados dos dois assentamentos, sendo 17% no primeiro assentamento e 73% no segundo. Condições que comprometiam o fluxo de pessoas, trânsito de veículos a tração animal ou automotivos e o transporte da produção e de insumos produtivos.

Quando perguntados sobre existência de potencial poluição das águas 53% dos assentados dos dois assentamentos responderam que não – 64% dos assentados no PA Conceição e 45% do PA São Frutuoso. Sobre o risco de inundação ou saturação do solo nos dois assentamentos a maioria dos assentados (86%) opinou pela inexistência de tal risco (98% no PA Conceição e 78% no PA São Frutuoso). Segundo 95% dos assentados dos dois assentamentos não havia registros de obstrução de curso d’agua nos assentamentos (99% no PA Conceição e 91% no PA São Frutuoso). De acordo com a opinião de 96% dos assentados não estava ocorrendo degradação de nascentes nos dois assentamentos; assertiva de 99% dos assentados no PA Conceição e 94% dos assentados no PA São Frutuoso.

Diante dos dados apresentados sobre os aspectos ambientais nos assentamentos pesquisados se evidencia que infelizmente a queima do lixo representava uma prática comum, para a eliminação do mesmo, conforme a maioria dos assentados. Já em relação aos defensivos agrícolas o cenário se nos apresenta como preocupante tendo em vista que a estocagem dos produtos, a aplicação no campo e o acondicionamento das embalagens vazias não atendiam ao prescrito na legislação vigente pondo em risco a vida dos futuros consumidores dos alimentos, bem como os assentados que manipulavam os produtos, os solos e os mananciais hídricos existentes nos dois assentamentos.

Conforme opinião da maioria dos assentados não havia registros de obstruções de curso d’água, riscos de inundação ou saturação do solo, degradação de nascentes, ou potencial poluição das aguas ou supressão de mata ciliar. Entretanto, de acordo com os assentados os principais elementos poluentes nos dois assentamentos eram as queimadas, a aplicação de agrotóxicos, o assoreamento de riachos e rios e, o manejo inadequado do solo. Registros que implicam na necessidade de tomadas de decisão mormente em relação às ações de orientação técnica, social e ambiental cujas atividades, conforme apontam as observações de campo, sofreram constantes interrupções nos últimos anos, comprometendo não apenas o andamento dos projetos bem como, a qualidade de vida dos assentados e familiares.