• Nenhum resultado encontrado

3.2 O FIM DOS LIXÕES NO BRASIL A PARTIR DA POLÍTICA NACIONAL DE

3.2.2 Alguns princípios da PNRS

Um importante avanço dessa lei, é que ela traz como um de seus princípios, a observância a uma visão sistêmica na gestão dos resíduos sólidos, que deve considerar as variáveis de ordem ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública (art.6, inc. III da Lei nº 12.305/10).

Este princípio é de fundamental importância quando levados em consideração os aspectos pelos quais o legislador determinou o fim dos lixões no Brasil, especialmente no que tange às razões de ordem socioambiental.

Outro princípio importante do novo diploma legal é o do desenvolvimento sustentável, e todas as suas implicações (art. 6, inc. IV), o que representou um avanço frente à legislação de saneamento básico, de 2007, que também dispõe sobre resíduos sólidos, e que traz como destaque no seu rol de princípios a sustentabilidade, mas apenas a econômica (art. 2, inc. VII da Lei nº 11.445/2007).

O reconhecimento do resíduo sólido reutilizável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e gerador de cidadania (art. 6, inc. VIII da Lei) mostra-se como um importante passo no que diz respeito à inclusão social.

Uma importante conquista se dá também através do princípio que embasa o direito da sociedade à informação e ao controle social, vez que gera transparência e confiança entre os atores envolvidos.

O direito à informação é postulado básico do regime democrático, e essencial ao processo de participação na defesa do patrimônio ambiental brasileiro (EFING; GIBRAN, 2012), além de estar presente em diversos documentos, inclusive em âmbito internacional, como na Declaração dos Direitos Humanos, na Declaração de Estocolmo, na Declaração do Rio e na Agenda 21 (MILARÉ, 2009).

De acordo com Bianchi (2010) o direito à informação está ligado à participação do cidadão, e deveria ser prática usual na Administração Pública.

No seu entendimento, e fazendo uma referência sobre as normas ambientais, a autora afirma que “[...] a ocultação das informações sobre o estado dos recursos naturais e outras informações públicas, como decisões administrativas, os laudos, por exemplo, contribuem para a ineficácia da norma ambiental” (BIANCHI, 2010, p. 179).

Deve-se ressaltar, como bem lembrado por Bianchi (2010), a negação de informação por parte de órgão público enseja a impetração de Mandado de Segurança, para que se possa assegurar a obtenção do direito líquido e certo à informação.

Sobre a informação, Milaré (2009) ressalta que os cidadãos com acesso à informação têm melhores condições de atuar sobre a sociedade, de articular mais eficazmente desejos e ideias, e de tomar parte nas decisões que lhes dizem respeito diretamente. O jurista afirma ainda que “o cidadão bem informado dispõe de valiosa ferramenta de controle social do poder” (MILARÉ, 2009, p.198).

A este respeito, a PNRS conceitua controle social como “o conjunto de mecanismos e procedimentos que garantem à sociedade informações e participação nos processos de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas relacionadas aos resíduos sólidos” (BRASIL, 2010, art. 3o, inc. VI).

Na esfera dos resíduos sólidos, o controle social só será efetivo, quando informações forem devidamente repassadas pelos órgãos competentes e atinjam efetivamente o cidadão, dando-lhe os instrumentos necessários para sua participação eficaz - reflexão e processo de criação, concretização e fiscalização de políticas públicas (EFING; GIBRAN, 2012).

Para Milaré (2009), a sociedade brasileira aprendeu, finalmente, não só a reclamar e a participar, como também a cobrar, a exigir, e a participar, através de meios mais diversos, como por exemplo, os da representação político-partidária, das entidades de classe, das audiências públicas, do ordenamento jurídico (constituição, leis), da justiça e da mobilização popular.

Por oportuno, convém mencionar os três meios básicos pelos quais os grupos sociais podem atuar, segundo Mirra (apud MILARÉ, 2009). São eles:

a) Participação nos processos de criação do Direito Ambiental: este meio de participação pode compreender tanto a participação no processo legislativo (com a iniciativa popular na apresentação de projetos de leis complementares ou ordinárias e com o referendo sobre uma lei relacionada ao meio ambiente); quanto a participação em órgãos colegiados dotados de poderes normativos (como por exemplo o CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente e os conselhos estaduais e municipais de meio ambiente, com a presença de representantes da comunidade, indicados livremente pelas associações civis, dando ensejo à atuação efetiva na criação do direito tutelar ambiental).

b) Participação popular na formulação e execução de políticas ambientais:6 com a atuação direta da coletividade na formulação e execução de políticas ambientais, como por exemplo, nas audiências públicas 7.

6 Sobre a participação política e gestão ambiental, Moraes (2003) realizou estudo com relevantes considerações

no campo da participação política no processo de tomada de decisão ambiental, ao estudar exemplos de realização de audiências públicas para o licenciamento ambiental.

7 “É exatamente aqui que a participação popular tem sido mais deficiente, seja pela ausência de um canal direito

que ligue a comunidade aos órgãos da Administração Pública, seja pela falta de composição paritária nos órgãos colegiados que participam da elaboração e da execução dessas políticas, e onde as propostas dos ambientalistas não raras vezes são rejeitadas” (MIRRA, apud MILARÉ, 2009, p. 195).

c) Participação popular através do Poder Judiciário: é assegurado o efetivo acesso ao judiciário dos grupos sociais intermediários e do próprio cidadão na defesa do meio ambiente, através de mecanismos de tutela jurisdicional, como através de ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade), de Ação Civil Pública, de Ação Popular, de Mandado de Segurança e Mandado de Injunção, todos previstos na Constituição Federal de 1988.

Além dos princípios já abordados neste trabalho, a Lei de Resíduos Sólidos trouxe ainda outros importantes, elencados no artigo 6o do diploma legal, como o da prevenção e precaução (inc. I); o do poluidor-pagador e protetor-recebedor (inc. II) o da ecoeficiência (inc. V); o da cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais segmentos da sociedade (inc. VI); o da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos 8(inc. VII); o do respeito às diversidades locais e regionais (inc. IX) e o da razoabilidade e proporcionalidade (inc. XI).