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3.2 O FIM DOS LIXÕES NO BRASIL A PARTIR DA POLÍTICA NACIONAL DE

3.2.3 Alguns objetivos e conceitos da PNRS

3.2.3.3. Dos prazos de apresentação dos Planos de Resíduos Sólidos e do fim dos lixões –

Com relação ao cumprimento dos prazos de implementação dos planos e do fim dos lixões, a PNRS estipulou o seguinte: para os planos estaduais e planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos, foi fixado o prazo de agosto de 2012, consoante artigo 55 do citado diploma legal: “o disposto nos artigos 16 e 18 entra em vigor 2 (dois) anos após a data

de publicação desta lei” (BRASIL, 2010). Vale lembrar que a lei foi promulgada em 02 de agosto de 2010, portanto segundo a lei, o prazo se exaure realmente em agosto de 2012.

Para o fim dos lixões, a lei fixou o prazo de agosto de 2014, conforme enuncia o artigo 54 da Lei: “A disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos (...) deverá ser implantada até 04 (quatro anos) após a data de publicação desta lei”.9 (BRASIL, 2010, grifo nosso).

Mas há um longo caminho a percorrer entre a fixação de determinadas regras na sociedade por um ditame legal, e o seu real cumprimento na prática, mormente quando se refere a mudanças de práticas estabelecidas e arraigadas, decorrentes de todo um processo histórico, de modelos adotados por aquela sociedade no decorrer de seu desenvolvimento, como é o caso dos depósitos irregulares de resíduos sólidos no Brasil.

Por isto pode-se indagar se a sociedade brasileira, governo, empresas, cidadãos enfim, estarão aptos realmente ao cumprimento deste novo ditame legal, especialmente com relação aos prazos por ele fixados. Como o país extinguirá os lixões até o ano de 2014, faltando apenas dois anos para terminar o prazo? Alguns estudos e dados podem apontar um norte, algumas pistas para a obtenção de resposta aos questionamentos acima.

O delineamento da resposta deve partir das discussões acerca do prazo para elaboração dos Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos pelos municípios, o que deveria ocorrer até o mês de agosto do ano de 2012. No entanto, até o presente momento apenas 488 municípios apresentaram os planos, menos de 10% das cidades brasileiras 10, e vários ainda não deram início à sua elaboração.

Segundo a Confederação Nacional dos Municípios – CNM, os municípios justificam a inexistência de equipe técnica, falta de recursos financeiros ou espera da liberação de recursos prometida pelo governo federal e não repassados11.

Para o presidente da Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE, tais dados são desapontadores, haja vista o prazo dado pela Lei aos municípios, que foi de dois anos, e ainda assim, poucos se adequaram.

O mesmo talvez ocorra com o prazo para o fim dos lixões no Brasil. Considerando-se que na lei consta o prazo de 2014 para sua extinção, é provável que vários lixões no país não sejam desativados dentro desta data, em razão, justamente, da não apresentação por parte dos

9 A Lei nº 12.305/10 foi promulgada em 02 de agosto de 2010, e publicada no Diário Oficial da União em 03 de

agosto de 2010.

10 TRIGUEIRO, André. Menos de 10% das cidades apresentaram projeto para tratar lixo. Jornal Nacional. Rio

de Janeiro, 03 ago 2012. Disponível em: <http:www.g1.globo.com>. Acesso em: 03 ago. 2012

municípios gestores de seus planos de gestão de resíduos. Estes planos são condição fundamental para o recebimento de recursos federais que permitam às prefeituras colocar em prática os projetos de implantação de aterros sanitários nos termos exigidos pela lei.

Na opinião do presidente da Associação Nacional de Catadores de Produtos Recicláveis, Tião Santos12, o prazo estipulado na lei parece realmente que não será cumprido. No entanto, ele considera que se fossem dados mais quatro anos, ou seja, se o prazo fosse prorrogado até 2016, seria uma data razoável para a adequação dos municípios brasileiros ao cumprimento do objetivo legal (informação verbal).13

A situação é agravada ainda, pois a maioria dos municípios brasileiros esbarra no problema da baixa qualificação técnica, não apenas do ponto de vista técnico propriamente dito, mas sobretudo do ponto de vista administrativo, conforme ressalta Karin Segala, coordenadora do Instituto Brasileiro de Administração Municipal, também envolvido na solução da questão. 14

Segundo diagnóstico constante do Plano Nacional de Resíduos Sólidos elaborado em 2011 pelo Governo Federal (Ministério do Meio Ambiente)15 ainda há no Brasil 2.906 lixões a ser erradicados, distribuídos em 2.810 municípios.

O diagnóstico também apontou que, em números absolutos, o estado da Bahia é o que possui mais municípios com a presença de lixões (360), seguido pelo Piauí (218), Minas Gerais (217) e Maranhão (207). O documento apontou ainda que 98% dos lixões existentes no País concentram-se nos municípios de pequeno porte, e 57% estão localizados no Nordeste.

Com relação aos aterros controlados, o mencionado documento aponta que o Brasil possui ainda 1.310 unidades, distribuídas em 1.254 municípios. Então pode-se afirmar que 71% dos municípios brasileiros dispõem seus resíduos e rejeitos em aterros controlados e lixões.

Estimativas indicam que, como a maioria dos municípios brasileiros utilizam lixões e aterros controlados (ambos terrenos sem condições técnicas), a tendência é que a meta estabelecida pela PNRS seja adiada em alguns anos. Assim, caso a média de crescimento do setor nos últimos cinco anos seja repetida, a meta só seria atingida em 150 anos (de 2007 a

12 Tião Santos foi protagonista do filme “Lixo Extraordinário”, que relatou o cotidiano dos catadores do lixão de

Gramacho, no Rio de Janeiro, indicado ao Oscar como melhor documentário.

13 Opinião fornecida por Tião Santos em entrevista concedida à autora, no dia 16 de agosto de 2012, no auditório

da Escola Bosque, professor Eidorfe Moreira, na ilha de Caratateua, distrito de Belém/PA.

14 TRIGUEIRO, André. Menos de 10% das cidades apresentaram projeto para tratar lixo. Jornal Nacional. Rio

de Janeiro, 03 ago 2012. Disponível em: <http:www.g1.globo.com>. Acesso em 03 ago. 2012

15 BRASIL, 2011. Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Versão Preliminar Para Consulta Pública. Governo

2011, o número de cidades que adotou destinação correta para os resíduos sólidos cresceu 1,67% - 0,33% ao ano em média).16

Um estudo elaborado pela Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública - ABLP aponta que, para acabar com os lixões no país seriam necessários 448 aterros, sendo 248 regionais, 192 de pequeno porte e oito em capitais. Para o diretor da associação “Seriam necessários investimentos de R$1,8 bilhão para construí-los e operá-los por cinco anos”. Mas segundo ele, os recursos previstos no Plano de Aceleração do Crescimento no 2 (PAC 2) do Governo Federal, estimado em 1,5, bilhão para o setor, seriam praticamente suficientes para coibir os custos. Sem filiar-se aos posicionamentos mais pessimistas ou mesmo impressionar-se com as perspectivas, há de se pensar mecanismos eficazes de atingir o objetivo legal. Um deles seria o consórcio público.

Ainda segundo o representante da ABLP, há falta de mobilização dos municípios, e ainda não há exemplos suficientes de consórcios. Para ele “[...] os municípios terão de cumprir o que está estabelecido na lei. Precisa apenas de vontade política e isso passa pela discussão do tema nas eleições municipais”. Para ele, os prazos determinados na lei são insuficientes, mormente quando comparado a metas estabelecidas em outros países. 17

Por sua vez, a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) sugere que sejam levados em consideração aspectos regionais na solução do problema. Por isso apontou que

A região Norte terá mais dificuldade para dar destinação correta para os resíduos, pois possui municípios com grande área, isolados, e exigem soluções únicas, sem possibilidade de fazer consórcio [...] Já no Nordeste há inúmeros pequenos municípios, que ficam mais próximos, e podem dar destinação para os dejetos em conjunto. 18

Apesar destas peculiaridades regionais e administrativas de cada município, das questões políticas e do papel de cada ator envolvido, além dos dados existentes, que apontam para o provável não cumprimento da meta legal no prazo estipulado, o Ministério do Meio

16 Mais de 60% dos municípios estão longe da meta para resíduos sólidos. In: Revista Valor

Econômico.03/08/12. Disponível em:< http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2012/8/3/mais- de-60-dos-municipios-estao-longe-da-meta-para-residuos-solidos> acesso: 10/08/12

17 Segundo o representante da ABLP, aponta-se que na Europa, os países da união europeia obtiveram um prazo

de 12 anos (de 1998 a 2010) para regularizar o problema dos lixões, e ainda conseguiram ampliar o prazo, para só então poderem destinar seu lixo adequadamente.

Ambiente ressalta o caráter de obrigatoriedade do disposto no diploma legal quanto ao fim dos lixões: “O diretor de meio ambiente urbano do órgão reforça que a implantação de aterros sanitários até 2014 é lei. Precisa ser cumprida. Caso não seja, os lixões serão tipificados como crime ambiental, cabendo sanções administrativas e multas" 19