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4 UMA ANÁLISE SOBRE A QUESTÃO DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS E SEUS

4.2 AQUECIMENTO GLOBAL

4.2.1 Alterações Climáticas

Atualmente, pode-se dizer que é consensual que a intensificação nas emissões antropogênicas de GEE tem alterado o processo natural em si. Ainda, pode-se também ressaltar que as alterações climáticas são consequências do aquecimento global e constituem possivelmente uma grande ameaça ao futuro da vida na Terra19. Os sinais dessas alterações são já notáveis e tendem a se tornar cada vez mais evidentes.

17 “H

2O também representa um outro gás com efeito estufa crescente, e constitui um reforço positivo natural

causado pelo aumento do CO2, pois o ar quente retém mais vapor de água, que por sua vez, sendo este

próprio um gás com efeito de estufa, aquece ainda mais o planeta” (SACHS, 2009, p. 97).

18 A abreviação ppm se refere a partes por milhão, que é a medida de concentração que se utiliza quando as soluções são muito diluídas, o que neste caso expressa o número de moléculas do poluente por um milhão de moléculas constituintes do ar.

19 É importante ressaltar que os termos Aquecimento Global e Alterações Climáticas, são usados erroneamente como sinônimos, seja pela mídia, comunidade científica ou sociedade civil. Apesar de pouco debate até a década de 1970, estes termos passaram a ser utilizados no final desta década quando um estudo da NASA revelou o papel do CO2 no clima. A partir disso, usavam o termo Aquecimento Global quando se referiam ao

aumento da temperatura na superfície terrestre, ou seja, somente ao fator térmico, e Alterações Climáticas no que se referia as consequências do aquecimento global.

Para Sachs (2009, p. 96-100):

As mudanças climáticas antropogênicas constituem o maior de todos os riscos ambientais, visto que alterações no clima em grande escala perturbariam todos os ecossistemas e imporiam dificuldades catastróficas em muitas áreas do mundo. [...] As mudanças nas concentrações dos gases com efeito de estufa na atmosfera irão alterar não apenas as temperaturas mas também muitos outros processos químicos, climáticos e biológicos da Terra.

De acordo com o Painel Internacional Governamental de Mudanças Climáticas (lê-se IPCC na sigla em inglês), no Climate Change 2007: Synthesis Report20

, as mudanças climáticas são

definidas da seguinte forma:

Climate change in IPCC usage refers to a change in the state of the climate that can be identified (e.g. using statistical tests) by changes in the mean and/or the variability of its properties, and that persists for an extended period typically decades or longer. It refers to any change in climate over time, whether due to natural variability or as a result of human activity. This usage where climate change refers to a change of climate that is attributed directly or indirectly to human activity that alters the composition of the global atmosphere and that is in addition to natural climate variability observed over comparable time periods.21

Assim como o efeito de estufa é um processo natural e que permite a existência de vida sobre a terra, as alterações no clima também é um processo natural, e que te variado intensamente desde o início da formação da atmosfera terrestre há milhões de anos. No decorrer da existência Terra tem ocorrido uma alternância climática, que vai de períodos glaciais frios, com uma duração aproximada de 80.000 a 100.000 anos, e períodos interglaciais relativamente quentes, com uma duração média de 10.0000 a 20.000 anos. As principais causas dessa alternância são de natureza astronômica e resultados de variações na excentricidade da órbita da Terra em torno do sol, na inclinação do eixo da Terra e no seu movimento de precessão, que consiste na mudança no eixo da rotação terrestre. Atualmente, nos encontramos em um período interglacial estável, com temperaturas amenas, o que de acordo com Santos, criou condições favoráveis para o desenvolvimento das civilizações nos últimos seis mil anos (SANTOS, 2007).

Apesar do processo natural de mudanças climáticas, o clima também começou a se alterar devido ao aumento das emissões de GEE desde o início da era dos combustíveis fósseis, e consequente aumento da temperatura na superfície.

20

International Panel on Climate Change. IPCC Fourth Assessment Report: Climate Change, 2007. Synthesis

Report. Disponível em: <http://www.ipcc.ch/publications_and_data/ar4/syr/en/mains1.html>. Acesso em: 14 jul. 2010.

21

A mudança climática no uso do IPCC refere-se a uma mudança no estado do clima que pode ser identificada (por exemplo, usando testes estatísticos) por mudanças na média e/ou na variabilidade das suas propriedades, e que persiste por um longo período, tipicamente décadas ou mais. Refere-se a qualquer mudança no clima ao longo do tempo, quer devido à variabilidade natural ou como resultado da atividade humana. Esse uso, onde a mudança climática se refere à mudança do clima que é atribuída direta ou indiretamente à atividade humana que altera a composição da atmosfera global e que está para além da variabilidade climática natural observada ao longo de períodos comparáveis (Tradução livre).

De acordo o Quarto Relatório de Avaliação das Mudanças Climáticas do planeta do IPCC, o IPCC-AR4, a temperatura média global da atmosfera da terra aumentou uma média de 0,6ºC. É importante destacar, no entanto que, ao considerarmos a temperatura média global da superfície da Terra no período desde o início da revolução industrial, onze dos doze anos mais quentes da história estão no período de 1995 a 2006. O índice de aumento na temperatura entre 1850 e 1899 foi 0,57ºC, ao passo que entre 2001 e 2005 essa taxa passou para 0,95ºC, o que representa um aumento médio de 0,76ºC neste período. Nos últimos cinquenta anos estes aumentos correspondem a uma elevação média de 0,13ºC na temperatura da atmosfera terrestre por década (IPCC, 2007).

Ainda que não se eleve mais a concentração de CO2 na atmosfera, é provável que a

temperatura global aumente mais devido ao aquecimento dos oceanos em função do aumento da temperatura na terra, visto que os oceanos reagem mais demoradamente ao aquecimento da atmosfera. Ou seja, à medida que os oceanos esquentem em resposta a este fenômeno, a terra irá aquecer ainda mais.

O aquecimento da atmosfera e dos oceanos registrados nos últimos cinquenta anos nos leva a crer então, que é muito pouco provável que as causas deste aquecimento e das mudanças climáticas possam ser explicadas sem a ação humana, e que tenham acontecido em função do processo natural de aquecimento da atmosfera terrestre simplesmente.

Nesse sentido, ainda segundo os relatórios do IPCC, as previsões de suas pesquisas para o século XXI apontam para um aumento médio global das temperaturas entre 1,8ºC e 4,0ºC até o período de 2090 a 2099, relativamente ao período de 1980 a 1999. O que pode vir a ser ainda maior, atingindo a marca dos 6,4ºC caso a população e a economia continuem a crescer em ritmo acelerado, e também caso seja mantido com mesma intensidade a utilização de combustíveis fósseis (IPCC, 2007).

Porém, a estimativa mais confiável aponta para um aumento médio de 3ºC, desde que os índices de emissões de CO2 se mantenham em 45% acima da taxa atual. O relatório também

demonstra, com mais de 90% de fiabilidade, que a maior parte do aumento de temperatura observado nos últimos 50 anos foi provocada por atividades humanas (IPCC, 2007). Isso quer dizer que, caso se mantenha este cenário de emissão contínua de GEE, o aquecimento poderá induzir muitas mudanças no sistema climático global durante o século XXI, e suas repercussões sem precedentes, para o ambiente terrestre.

Assim, baseados nessas projeções de aumento da temperatura da atmosfera terrestre, o IPCC (2007) também delineou os possíveis cenários dos efeitos das mudanças climáticas, sendo eles: aumento dos níveis dos oceanos; destruição de habitats; transmissão de doenças; alterações na produtividade agrícola; alterações na disponibilidade de água; calamidades naturais; alteração química dos oceanos.

Para além disso, de uma maneira particular e preocupante, comunidades pobres, localizadas em áreas de alto risco, serão as mais vulneráveis onde houver maior incidência, ou frequência de

eventos climáticos extremos. Isso resultará numa menor oferta de água e alimento local, recursos estes que são os mais utilizados por essas comunidades, aumentando em muito os custos, e diminuindo ainda mais a capacidade que estes locais têm de se adaptarem a estas alterações de clima. Pode-se citar o caso do continente africano, que devido a situação econômica, os múltiplos conflitos e a baixa capacidade de adaptação, será um dos mais vulneráveis as alterações climáticas. Ainda, essas mudanças poderão servir de empecilho para o alcance de um desenvolvimento sustentável, principalmente nos países em desenvolvimento, na qual estes, na busca pelo o desenvolvimento econômico, acabam por exercer inúmeras pressões sobre o meio ambiente e recursos naturais, devido à industrialização e urbanização.

Para que tal situação possa ser contida, e assim, evitar que as previsões do IPCC se tornem uma realidade no futuro, faz-se necessárias iniciativas e mecanismos de regulamentação a nível internacional sobre a emergência da questão ambiental, para que assim seja possível o controle das emissões de GEE na atmosfera.