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5 ETANOL

5.4 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

5.4.3 Etanol vs Alimentos

Uma outra questão de suma importância para se analisar a sustentabilidade do etanol, é saber se na produção deste, a produção de outros produtos, especificamente alimentos, possam ser afetados, e ainda encarecidos em consequência da iminentes redução da oferta.

A questão alimentar, face aos biocombustíveis, tem sido bastante questionada devido a uma combinação de fatores recentes, que colocaram em causa a relação dos biocombustíveis com uma subida nos preços dos alimentos. Frente a este dilema, os principais protagonistas foram apontados por Abramovay (2009) como a destinação do milho americano para a produção de álcool, a alta do petróleo e os baixos estoques mundiais, que resultaram numa série de críticas aos biocombustíveis, acusando estes de serem os responsáveis pela subida de preço dos alimentos e como potenciais causa de uma possível escassez. Cruz (2010)47 aponta que esta crítica acontece pois:

Essa objeção aos biocombustíveis tem sido popularmente aceita na Europa e nos Estados Unidos e é fácil entender por que: estas são regiões do mundo nas quais não há fronteira agrícola a ser explorada – toda a terra arável está em uso. Por isso, falar de plantar “fontes de energia” deslocaria plantações de alimentos. Mas na América Latina e na África há muita terra boa ainda disponível. A disponibilidade nessas duas regiões é especialmente positiva, pois são justamente as regiões mais pobres do mundo e nas quais o desenvolvimento vai levar a maiores demandas por energia.

47

CRUZ, C. H. B. A pesquisa no etanol da cana. CDi/FAPESP - Centro de Documentação e Informação da

FAPESP, 2010. Disponível em: <http://www.bv.fapesp.br/namidia/noticia/35048/pesquisa-no-etanol-da-cana/>. Acesso em: 23 set. 2010.

Grande parte da relação da questão alimentícia com a dos biocombustíveis está inserida no contexto de produção norte americano, de produção de etanol de milho. Sendo o maior exportador mundial de milho, na qual são responsáveis por 60%, o fato de destinarem 20% de sua produção à produção de etanol, resulta em elevação nos preços dos alimentos (ABRAMOVAY, 2009).

No que diz respeito ao caso brasileiro, entretanto, o dilema da questão alimentar versus biocombustíveis não se aplica. Analisemos os fatos.

Ilustração 5: Uso da terra no Brasil

Fonte: BNDES (2008).

Em primeiro lugar, a produção de cana no Brasil, nas últimas décadas, aumentou substancialmente, partindo da média dos 100 milhões de toneladas em 1976 para os aproximados 500 milhões em 2007. O aumento da produtividade cresceu a uma média anual de 1,4%. Isto não quer dizer, no entanto, que este crescimento ocorreu devido ao aumento na área agrícola somente, pois o crescimento baseou-se mais em ganhos de produtividade técnica por área, do que no aumento de área em si. Se ainda contabilizarmos a eficiência dos processos industriais a esta equação, o crescimento passa a ser da ordem de 3%, ou seja, a produtividade dobrou nos últimos 40 anos (ABRAMOVAY, 2009).

Em contrapartida, a produção de alimentos no Brasil não decaiu. O ano-safra de 2007/2008 bateu recorde histórico de produção de grãos, atingindo a marca dos 140 milhões de toneladas. Isto

representa um crescimento anual médio de 2,6% na produção de soja, 2,5% na de milho, e de 2,5% na de arroz (ABRAMOVAY, 2009).

Tais dados demonstram, desta forma, que a ameaça de que a produção de etanol afetou ou poderá afetar a oferta de alimentos não existe, afinal a produção agrícola brasileira, como um todo, tem se mostrado eficiente devido ao impulsionamento da produtividade, e não da mobilidade ou desmatamento florestal, seja na produção de alimentos, seja na produção de combustíveis renováveis, como já demonstrado no tópico anterior.

Se formos analisarmos a capacidade de produção agrícola a nível mundial, podemos perceber que, ainda assim, a produção de etanol, não representa uma ameaça para a produtividade do setor alimentício. Abramovay (2009, p. 47) destaca que:

Segundo a FAO, o potencial de terras aráveis do mundo totalizam 1,4 bilhão de hectares, dos quais somente 15 milhões são utilizados para a produção de etanol, ou seja, 1%. A grande pergunta é: como esse 1% pode ser responsabilidade pelo aumento do preço de produtos cultivados nos outros 99% da área? Ainda segundo a FAO, o potencial de terras aráveis no mundo é de aproximadamente 4 bilhões de hectares. Portanto, existem recursos ociosos que permitem aumentar tanto a produção de alimentos como a de biocombustíveis, desde que haja avanço e difusão das melhorias técnicas de produtividade.

Sanado o questionamento de que a produção de etanol ameaça a oferta de alimentos, existe ainda a questão de que esta esteja relacionada ao aumento dos preços dos alimentos.

Diante de uma perspectiva internacional, diversos fatores têm implicação, direta ou indireta, sobre o preço dos alimentos. O aumento da demanda de alimentos, principalmente em países emergentes, como Índia e China, que tem se fortalecido economicamente nos últimos anos, é um deles. Custos na produção de commodities agrícolas, principalmente relacionados ao aumento dos preços de fertilizantes e defensivos agrícolas, que representa uma boa parcela dos custos de produção é outro. A diminuição da produtividade agrícola de algumas safras, em algumas partes do mundo, em decorrência, por exemplo, em decorrência de fatores climáticos; a desvalorização do dólar, que é a moeda mais utilizada na comercialização destas commodities; redução nos estoques de produtos agropecuários; políticas protecionistas e subsídios domésticos, praticados principalmente por países desenvolvidos; além de uma gama de outros fatores são apontados por Abromavay (2009) como causas que justificam o preço dos alimentos.

Sob a luz destes fatos, vários organismos de renome internacional têm destacado esta questão, desmistificando o fato de que os biocombustíveis possam ser uma possível causa na diminuição da produção de alimentos ao redor do mundo.