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CONCEITUAÇÃO TEÓRICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

3 ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3.2 CONCEITUAÇÃO TEÓRICA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A causa da destruição ambiental tem suas raízes identificadas, segundo Hannigan (1995) em duas explicações principais: a ecológica e a da economia política.

Na explicação ecológica, entende-se que a luta pela sobrevivência é o princípio ativo no elo das cadeias alimentares na luta pela existência. Porém, a intervenção humana sob forma de desenvolvimento quebrou esta cadeia e o seu equilíbrio natural.

Assim encontram-se fundamentos sólidos para entender a destruição do meio ambiente na explicação da economia política, que busca sua inspiração nos escritos de Karl Marx e Friedrich Engels, em que sua análise da estrutura social e da mudança social tornou-se o ponto de partida para diversas teorias contemporâneas sobre o meio ambiente (HANNIGAN, 1995).

Em resumo, o capitalismo é considerado o responsável pela destruição do meio ambiente devido à sua busca incessante por poder, lucro e produção industrial, causando diversos problemas sócio-ambientais derivados do excesso demográfico, destruição dos recursos e da alienação das pessoas em relação à necessidade de preservação ambiental por sua avançada industrialização. E atualmente, segundo a teoria marxista contemporânea, não só o capitalismo enquanto sistema econômico exerce este papel, mas o Estado, enquanto intermediário, exerce influência na destruição ecológica de acordo com suas condutas.

Porém, os impactos ambientais, até então percebidos como resíduos inevitáveis do progresso e da expansão capitalista passam a assumir uma nova dimensão com a intensificação dos problemas sócio-ambientais, e por seus efeitos destrutivos sobre os ecossistemas naturais, gerando impacto na opinião pública mundial e atraindo atenção para uma realidade até então pouco observada.

Isso fez com que houvesse um aumento da consciência sobre os riscos ambientais no sistema internacional com a observação da deterioração ambiental nas nações como conseqüência das sociedades industriais.

A partir disso, assiste-se à emergência da problemática ambiental no âmbito das relações internacionais, após de meados da década de 1960, tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, juntamente com a mobilização da sociedade civil em favor da proteção do meio ambiente. Surge um novo jogo político, no qual o meio ambiente se torna objeto de políticas públicas, enquanto outras instituições surgem a níveis nacionais e internacionais (LE PRESTE, 2000).

O meio ambiente começa então, a aparecer bruscamente nas cenas nacionais e internacionais devido à publicidade crescente, pois o tema virou uma questão de proteger a humanidade de suas próprias atividades, assim como sua proteção e melhoramento no quadro de vida.

Com a multiplicação das novas estruturas e a mudança no panorama da emergência ambiental, surgem novos atores participantes na discussão desta ecopolítica para abranger e englobar todos os níveis de interações internacionais e a estrutura da cooperação internacional.

Durante este período destacam-se principalmente a participação crescente das Organizações Não Governamentais, participantes na definição dos problemas e na iniciativa de políticas, as Organizações Internacionais Governamentais (OIG), como é o caso da Organização das Nações Unidas (ONU) que vem à luz ampliando o domínio sobre o tema, pois devido à complexidade das relações entre os países, a ONU tem sido palco de muitas negociações da ordem ambiental internacional, embora obviamente não seja a única.

Todavia, foi através da ONU que surgiram outros órgãos de discussão sobre o meio ambiente, e várias rodadas da ordem ambiental internacional, que consequentemente levaram ao desenvolvimento de instrumentos jurídicos devido à freqüência de acordos internacionais que se aceleravam.

Assim, para tentar justificar algumas das tentativas de aumento da consciência e ações ambientais nas relações internacionais, principalmente a partir da década de 1970, é necessário identificar as tensões nos sistemas políticos e suas preocupações com os bens comunais internacionais, como o ar, os mares e oceanos, o espaço e com as novas formas de poluição advindas da aceleração na produção industrial e tecnológica (HANNIGAN, 1995).

A partir desta perspectiva, estes novos movimentos ambientais surgem como uma reação defensiva contra a intrusão do Estado na vida dos cidadãos comuns, tendo isto relevância na esfera ambiental. Porém, nenhuma das abordagens discutidas é capaz de justificar integral e adequadamente a forma como os problemas sociais são definidos e, conseqüentemente articulados pelos atores sociais de forma a serem discutidos sob a ótica da ordem internacional.

Com a exploração sobre as correntes que envolvem as relações internacionais e suas variáveis, a abordagem do presente tema pode ser descrita e explicada através do paradigma da teoria da interdependência.

Para tentar explicar a evolução do debate sobre o meio ambiente no sistema internacional, a Teoria da Interdependência, proposta inicialmente por Nye e Keohane (1973)10, é sempre lembrada entre analistas da ordem ambiental, pois sua justificativa é o caráter transnacional dos problemas ambientais e a multiplicidade de atores que debatem e se confrontam acerca de temas ambientais na esfera internacional (OLIVEIRA, G. 2002).

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Outros autores em seus escritos reafirmaram a proposta inicialmente oferecida por Nye e Keohane (1973)

De acordo com Sarfati (2005, p. 169) a teoria da interdependência é caracterizada “1) pelos múltiplos canais entre as sociedades, com múltiplos atores, não apenas Estados; 2) por assuntos múltiplos que não são claramente arranjados de forma hierárquica; e 3) pela irrelevância da ameaça ou do uso da força entre os Estados conectados pela interdependência complexa” (SARFATI, 2005, p. 169).

Segundo Oliveira G. (2002), a Teoria da Interdependência é caracterizada pela rapidez e praticidade na transmissão de conhecimento, na transnacionalização da economia e na revolução biotecnológica usada na agricultura, alimentação e nutrição do mundo contemporâneo, e também na proliferação dos organismos transnacionais.

Diante do quadro dos problemas ambientais enfrentado e a luta para minimizá-los, a Teoria da Interdependência auxilia na percepção das dinâmicas internacionais entre diversos estes atores já citados, pois como ilustra Aron (1986, p. 166): “a sociedade transnacional manifesta-se pelo intercâmbio comercial, pelo movimento de pessoas, pelas crenças comuns, pelas organizações que ultrapassam as fronteiras nacionais [...]”.

A abordagem da perspectiva social construcionista sobre o meio ambiente também tem várias vantagens, pois estabelece o estudo dos assuntos ambientais em um paradigma sociológico, o qual mostra que assim como os problemas sociais, os problemas ambientais não são condições estáticas, mas uma série de acontecimentos que se desencadeiam com base nas ações coletivas. Embora os problemas ambientais sejam identificados como conseqüência dos agentes humanos, eles têm uma base física mais impositiva que se convertem em questões públicas, e consequentemente em questões relevantes no entendimento do debate sobre o meio ambiente no sistema internacional.