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3 ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS RECENTES

No documento DIREITO DO TRABALHO CONTEMPORÂNEO (páginas 112-115)

No âmbito do sistema de custeio sindical, abordar as recentes alterações normativas significa tratar sobre a extinção da contribuição sindical compulsória imposta pela Lei 13.467, de 13 de julho de 2017, denominada “Reforma trabalhista”.

Antes da referida análise, contudo, importa aqui registrar que o tema do custeio sindical, por diversas vezes, já foi objeto de pauta proposta pelo Estado, em conjunto com o movimento sindical.

A última iniciativa considerável teve lugar no ano de 2003 com a instituição do “Fórum Nacional do Trabalho”. Criado no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego numa composição tripartite, o Fórum visava a construção de proposta legislativa para reformar integralmente a estrutura sindical brasileira, e no tocante ao custeio sindical, de fato, a proposição apresentada manifestava total ruptura em relação ao modelo vigente.

Nesse contexto, quanto as contribuições facultativas, ficariam extintas as atuais contribuições confederativa e assistencial, e seria assegurado aos sindicatos a prerrogativa de estipular duas modalidades distintas. A primeira seria a contribuição associativa (ou mensalidade sindical), nos moldes em que já é admitida no ordenamento jurídico vigente, por se tratar de arrecadação proveniente da livre manifestação das partes (sindicato e filiado). A segunda seria a contribuição de negociação coletiva, devida por todos os trabalhadores beneficiados pelo instrumento negocial celebrado, independente de filiação, semelhante à contribuição assistencial já aqui abordada, porém, convertendo a vedação jurisprudencial.

Quanto a contribuição sindical compulsória, a proposta do Fórum, harmonizando com a liberdade sindical, previa sua extinção total. Entretanto, por se tratar da principal fonte de receita dos sindicatos brasileiros, cuja extinção abrupta

poderia extenuar sobremaneira o movimento sindical, propunha-se a extinção de forma progressiva e escalonada ao longo de três anos.22

Sendo certo que as propostas construídas no âmbito do Fórum Nacional do Trabalho não promoveram a reforma sindical pretendida, o sistema de custeio permaneceu inalterado até o advento da Reforma Trabalhista que, desprovida de qualquer espírito democrático, extinguiu sumariamente a contribuição sindical compulsória.

O artigo 578 da CLT, dentre outros23, foram alvos de transmutação, para estabelecer que a contribuição sindical compulsória passaria a depender de autorização prévia e expressa dos integrantes das categorias, nos seguintes termos:

Art. 578. As contribuições devidas aos sindicatos pelos participantes das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidas entidades serão, sob a denominação de contribuição sindical, pagas, recolhidas e aplicadas na forma estabelecida neste Capítulo, desde que prévia e expressamente autorizadas.

Numa perspectiva teórica, à luz da plena liberdade sindical, poder-se-ia considerar louvável tal inovação, especialmente se trouxesse consigo outras alterações capazes de homogeneizar e harmonizar a estrutura sindical brasileira.

Já aqui foi mencionado que a contribuição sindical compulsória desde sempre constituiu a maior fonte de receita dos sindicatos brasileiros e, portanto, numa perspectiva empírica e factual, a extinção abrupta dessa forma de custeio veio acompanhada de efeitos contraproducentes para o sistema sindical brasileiro. Mas não só, enfraquecer o movimento sindical, significa enfraquecer os trabalhadores dentro da sua individualidade haja vista que os sindicatos são a estrutura legítima de representação da classe trabalhadora; responsáveis pela promoção e proteção dos direitos e interesses de cada um dos seus representados.

A extinção da natureza compulsória da contribuição sindical veio a ser declarada constitucional, por maioria, pelo Supremo Tribunal Federal que, em

22 OSTROWSKI, Antônio; MENEGUIN, Fernando Borato; ASSIS, Roberta Maria Corrêa de. Reforma sindical: reflexões sobre o relatório final do fórum nacional do trabalho. 2004. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/90/texto10%20-%20roberta.pdf?sequence=4>.

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CADERNO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO: DIREITO DO TRABALHO CONTEMPORÂNEO

síntese, fundou seu posicionamento: na proliferação excessiva de sindicatos constituídos com objetivo único de arrecadar os valores obtidos; na ausência de previsão constitucional que consagrasse a natureza compulsória; e na dispensabilidade dessa modalidade de contribuição face a outras existentes. A minoria vencida, por sua vez, ponderou que a estrutura sindical brasileira é arrimada num tripé (unicidade, representatividade compulsória e contribuição sindical), de

modo que a retirada de um dos componentes desajustaria todo o sistema.24

Na sequência da atuação estatal, adotando como premissa a mitigação do sindicalismo brasileiro, foi editada a Medida Provisória n.º 873, de 1º de março de 2019, que reformulou os procedimentos de arrecadação até então vigentes. Assim, ficou vedada a possibilidade de as contribuições serem realizadas mediante desconto em folha de pagamento, e se estabeleceu uma única forma de obter as contribuições, qual seja, mediante emissão e pagamento de boleto.

Ao contrário do provimento jurisdicional que se verificou em relação a extinção da compulsoriedade da contribuição sindical, os tribunais brasileiros, em sede de controle difuso de constitucionalidade, tem se posicionado pela inconstitucionalidade da previsão normativa trazida pela Medida Provisória n.º 873/2019, em primeiro lugar pela ausência dos requisitos necessários à adoção deste instrumento normativo, como determina o artigo 62 da Constituição Federal. Em segundo lugar, realizando controle de convencionalidade, tem prevalecido entendimento de que a previsão viola a Convenção n.º 98 da Organização Internacional do Trabalho (ratificada pelo Brasil em 18/11/1952) ao estabelecer a forma de recolhimento das contribuições, em derespeito à autonomia assegurada entre sindicatos e filiados.25

Certamente, essa pequena conquista que vem sendo obtida pelos sindicatos, representa um alento ante as alterações normativas austeras que têm desafiado o movimento sindical brasileiro a promover rápidas adaptações sem, contudo, deixar

24 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Acórdão nº 5794/DF. Relator: Ministro Edson Fachin. DJe-083. Disponibilizado em: 22/04/2019. Brasília, Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=749631162>. Acesso em: 30 abr. 2019.

25 Dentre diversas decisões: BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Mandado de Segurança nº 1000764-26.2019.5.02.0000.

de exercer o seu ofício em prol dos trabalhadores, especialmente numa época onde a flexibilização de normas parece predominar.

No documento DIREITO DO TRABALHO CONTEMPORÂNEO (páginas 112-115)