• Nenhum resultado encontrado

Alternativas à educação formal: educação não formal e informal

Capítulo I Enquadramento teórico

1. Os adultos e a educação

1.1 Alternativas à educação formal: educação não formal e informal

Quer a educação não formal como a educação informal estão presentes em muitas situações de socialização de um individuo e, por tal, são transversais a todo o ciclo vital. Estas modalidades educativas estão presentes em diversas práticas educativas, direcionadas a diferentes públicos e que em muitas situações são utilizadas como complemento de atividades formais. Como no caso das atividades extracurriculares ou as atividades de tempos livres, que tem a finalidade de complementar a formação dos indivíduo, sendo mencionado por Cavaco (2002).

“…surgindo assim a valorização das modalidades educativas não formal e informal, como complementares da educação formal.”

(Cavaco, 2002, p. 29)

Atendendo a que a prática catequética enquadra-se nestas modalidades educativas, visto esta atividade ocorrer fora do âmbito escolar, torna-se oportuno focar algumas temáticas relacionadas.

ANA INÊS COLARES 10

Embora se possa considerar que a educação não formal e educação informal estiveram sempre presentes nas sociedades através dos processos de socialização e dos movimentos sociais, o reconhecimento destas praticas como tendo um potencial educativo dá-se após a segunda guerra mundial dentro das dinâmicas e lógicas da educação de adultos. Os processos educativos destes dois tipos de educação reconhecem as experiências e as vivências como uma possibilidade de aquisição de conhecimentos e saberes (Cavaco, 2002;Canário, 2006).

Estas duas modalidades educativas apresentam características distintas apesar de coexistirem em múltiplas atividades educativas. De seguida apresentam-se as características específicas de ambas.

Toda atividade educativa organizada por um determinado grupo que seja executada fora do contexto escolar pode ser denominada por educação não formal. Esta modalidade de educação caracteriza-se por ser uma atividade sistemática que inclui espaços, tempos e programas flexíveis, não existindo uma obrigatoriedade no que se refere a participação dos indivíduos. Nas práticas de educação não formal, as aprendizagens efetuam-se mesmo quando esse não é objetivo principal (Canário, 1999),pois neste tipo de práticas é possível a aquisição de conhecimentos de forma não intencional.

“Um nível não formal caracterizado pela flexibilidade de horários, programas e locais, baseado geralmente no voluntariado, em que está presente a preocupação de construir situações educativas "à medida" de contextos e públicos singulares.“

(Canário,1999, p. 80)

Por seu turno, a educação informal caracteriza-se por ser uma modalidade educativa não organizada que não é sistemática, podendo ser intencional ou não intencional (Cavaco, 2002, p. 27). É-lhe reconhecido um carácter educativo, devido a aquisição de conhecimentos e a transformações de comportamentos e atitudes desencadeadas por ela. Os processos formativos decorrem na sua maioria fora das estruturas formalizadas, não contém um programa, nem conteúdos pré-definidos. Os indivíduos têm um papel fundamental em todo o processo, desempenhando simultaneamente o papel de educador e de educando (Cavaco, 2002). Nesta modalidade as aprendizagens são concretizadas a partir das interações e intervenções do individuo com o meio envolvente e com outros.

ANA INÊS COLARES 11

Tendo presente a catequese, pode-se considerá-la como uma prática de educação não formal, uma vez que contém uma estrutura orgânica organizada por departamentos de catequese diocesanos e pelo sector da catequese paroquial sendo este ultimo responsável pela formação cristã nas comunidades paroquiais. São disponibilizados aos catequistas instrumentos para a orientação e o desenvolvimento da sua prática educativa, tais como catecismos, e guia do catequista. No entanto, a catequese contém um programa flexível, incluindo atividades sistemáticas e funcionando numa lógica de voluntariado.

Por outro lado, podemos identificar na prática catequética a educação informal, quando esta ocorre em contextos familiar e social, nos quais são transmitidos valores e condutas que de outro modo seria difícil a sua apropriação. Exemplos destas aprendizagens são a interiorização de valores como a partilha, a interajuda, e a importância da família, que não podem ser transmitidos na íntegra nas sessões de catequese.

Na ação catequética, as experiências e as vivências do individuo são reconhecidas e valorizadas como essenciais para a interiorização dos saberes a ser transmitidos. As experiências dos indivíduos têm vindo a ser reconhecidas como aspetos relevantes nos processos de aprendizagens, segundo Canário (1999). A este reconhecimento está inerente um processo de aprendizagem que ocorre ao longo da vida do individuo. Observa-se que as aprendizagens através das experiências podem ocorrer numa lógica de tentativa erro. Contudo só lhe foi reconhecido potencial educativo recentemente na sequência da valorização da educação não formal e informal (Cavaco, 2002). A tardia valorização das experiências como uma mais-valia para a aquisição de saberes deve-se ao fato de se considerar a educação formal como a única possibilidade eficaz de transmissão de conhecimentos (Canário, 1999; Cavaco, 2002). À experiência, são lhe atribuídos dois sentidos: a lógica da experimentação, como forma de apreensão de conhecimentos, e a transmissão de saberes, partindo da experiência de vida do individuo. As experiências e vivências individuais ou coletivas estão inerentes às práticas educativas abordadas neste ponto (Cavaco, 2002).

É neste tipo de educação que se identificam com maior incidência as práticas de animação sociocultural, dando maior importância aos resultados educativos do processo (Canário, 1999, p. 71 a 75). A animação é uma prática social educativa que contém características específicas. Apesar disso é uma modalidade que se insere nos diversos níveis de educação e abrange diferentes públicos e contextos. Tal como é relatado por Canário (1999).

ANA INÊS COLARES 12 “A animação sociocultural constitui, hoje, um campo fundamental da acção educativa que abrange públicos muito diversos (em idade, estatuto social, nível de instrução), está presente em áreas de atividade social muito diversificadas (empresas, serviços sociais, vida escolar, administração pública, organizações de saúde, etc.). “

(Canário, 1999, p. 72)

Em diversos momentos, a formação catequética recorre as práticas da animação sócio cultural como estratégia educativa. Existem igualmente múltiplos projetos de educação não formal que têm obtido êxito no que diz respeito ao desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos, e ainda ao nível do desenvolvimento local. Na sua maioria, esses projetos recorrem a práticas de animação social.

Estas modalidades de educação são vistas como uma atividade de ocupação dos tempos livres ou extra-escolar. Como afirma Canário (2006), a educação não formal e informal são ocultas ou ignoradas em termos de potencial educativo pelas sociedades. Muitos dos projetos alternativos à educação escolar permanecem em atividade durante pouco tempo, por não lhes ser reconhecido valor educativo. Loureiro (2012) reforça essa tese quando refere que os modelos e princípios da educação não escolar são ainda pouco valorizados, embora exista uma tendência para a sua identificação nas práticas educativas escolares.

Conclui-se que estas modalidades de educação de cariz não formal, mais do que uma alternativa à educação formal, são uma continuidade das práticas educativas formais e que contribuem para uma melhor apropriação dos conteúdos formais por parte dos indivíduos. De resto a educação não formal e a educação informal reconhecem a experiência do individuo como uma mais-valia no processo de aprendizagem.