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CAPÍTULO 3 – A REDE E-TEC NA INSTITUIÇÃO INVESTIGADA

3.3 A implementação do Curso de Meio Ambiente no âmbito da Rede e-Tec –

3.3.9 O foco no aluno

Quando se coloca em pauta a formação do trabalhador, é importante pensar em quem seria este trabalhador, ou seja, este aluno a ser formado e o seu papel no processo de aprendizagem. No caso da EaD, isso se faz ainda mais importante, já que o aluno assume o foco, a centralidade do processo de ensino-aprendizagem.

Considerando o papel central do aluno como agente do processo de ensino- aprendizagem, o sucesso do curso dependerá em grande parte de sua postura, motivação, condições de estudo e responsabilidade com o processo educacional (BELLONI, 2012; TAROUCO, MOURO, ESTABEL, 2003). Neste sentido, os alunos da EaD precisam desenvolver diversas capacidades, entre as quais destaca-se: autonomia para estudarem sozinhos; domínio das ferramentas de estudo do ambiente virtual de aprendizagem; capacidade de colaborar com outros estudantes em uma comunidade de construção de conhecimento; disciplina e gerenciamento do tempo de estudo (PETERS, 2003).

Além destes diversos atributos, é preciso levar em conta o perfil do público atendido, suas características socioculturais, conhecimentos e experiências, de modo a integrá-las na concepção de metodologias, estratégias e materiais de ensino destes cursos e assim criar as condições de autoaprendizagem (BELLONI, 2012, P.32).

Segundo o Projeto Básico do e-tec no IMR, o público-alvo é bastante heterogêneo, e no geral envolve pessoas de classes menos favorecidas, residentes em diferentes pontos geográficos e com "perfis específicos de acesso ao conhecimento, principalmente no que se tange aos recursos tecnológicos" (Projeto Básico e-Tec IMR, 2008, p.16).

No caso específico do curso de meio ambiente, não foi possível descrever detalhadamente o perfil do público atendido, já que, segundo o Coordenador de Curso, não havia um cadastro específico que permitisse esse levantamento. No entanto, ele enfatiza que o perfil é variado, e depende muito de cada polo. Inclusive, a disciplina e participação dos alunos variam muito de acordo com a região aonde residem:

Depende do aluno, depende do polo, depende da turma. Por exemplo, a participação no Município A é completamente diferente da participação no Município B, são duas realidades distintas. (Coordenador de Curso)

técnicas e encontros presenciais possuem uma dimensão fundamental para que os docentes possam compreender de fato quem são seus alunos, e as dificuldades que estes possuem. Isso pode ser exemplificado no discurso do Professor 1:

Lá (no e-tec) eu vi uma defasagem muito grande de conteúdos do ensino básico, e eu vi isso quando eu fiz a visita técnica. Então a dificuldade que eles tem na minha disciplina é porque eles tinham visto conteúdos de quinta série, defasagem que veio anterior. Acho que é a principal barreira da EAD: você tentar ver o aluno além do computador, além do meio, da mídia que está ali trazendo a intermediação. Aí eu tive essa dificuldade, de imediato eu pensei assim “ah, são alunos do IMR” então eu nivelei por cima. Quando eu fui aos polos, principalmente do Município A na época, e eu conheci os meus alunos, e eu vi além do computador, eu vi a dificuldade que eles tinham para escrever. Na hora de fazer o relatório técnico eu vi a dificuldade que eles tinham para conhecimentos básicos, de cartografia que eles não tinham e eu já pressupus que eles já soubessem, e não sabiam. Então eu pude dimensionar quem era o meu aluno, eu conheci o meu aluno. (Professor 1)

Na fala acima do entrevistado, é possível perceber que o Professor 1 iniciou o curso pensando que os alunos da EaD teriam o mesmo nível dos alunos do IMR na modalidade presencial, porém percebeu que na prática não é bem assim. Os alunos da EaD possuíam defasagens de aprendizagem provenientes da educação básica que repercutiam no aproveitamentos das disciplinas.

O Professor 2 também percebe que o aluno da EaD não é o mesmo do presencial e enfatiza a importância de um processo seletivo bem feito para permanência dos alunos no curso:

[...] não é o mesmo aluno que faz curso presencial que vai fazer curso de EAD, não é. E se o processo seletivo é mal feito o aluno não continua, ele vai evadir do processo, ele vai parar o processo. (Professor 2)

Segundo o Professor 1, no Brasil tem-se a "cultura do mastigado", e na EaD não é assim, o professor atua apenas como mediador:

Então é muita dificuldade que às vezes o aluno tem para poder depois fazer a sua própria formação. Ele tem que ser dono da sua própria formação, ele tem que ir atrás. Ele tem que ser um aluno “pro-ativo”, sinérgico, trabalhar em equipe, correr atrás e não é todo mundo que tem esse perfil. Culturalmente, no Brasil, a gente tem aquela cultura do mastigado: eu vou te explicar já para você aprender. E aí você pega na mão do aluno, você leva ele para um caminho que está mais preparado. Na EAD não, é ele que faz. O professor é intermediador o tempo todo. (Professor 1)

Belloni (2012, p.113) considera que, em um país como o Brasil onde os níveis de cultura geral e escolaridade são de um modo geral pouco elevados, é fundamental que as

experiências de EaD enfatizem a interação social entre estudantes e instituição, de modo a favorecer o desenvolvimento da autoaprendizagem. Isso poderia ocorrer através do uso de técnicas de comunicação como: "criação de estruturas propiciadoras de interação entre os estudantes e professores e dos estudantes entre eles; e a criação de estruturas de apoio pedagógico e didático ao estudante (tutoria, aconselhamento, "plantão" de respostas a dúvidas, monitoria para o uso de tecnologias, etc)" (ibidem).

No entanto, outro fator dificulta o processo de aprendizagem no e-tec: a falta de iniciativa dos alunos em interagir com os professores e esclarecer suas dúvidas, ou até mesmo a falta de conhecimento sobre a utilização do chat ou do fórum como ambiente tira-dúvidas. Deste modo, fica mais difícil dos professores perceberem as dificuldades dos alunos e ajudar a resolvê-las.

[...] mas você não vê o aluno, a dificuldade que ele tem, e o aluno também não vai te procurar. Ele tem uma limitação muito grande de chegar para você e falar “ - ó, eu tô com duvida nisso, eu tô com duvida naquilo outro", e ai ele vai deixar de perguntar as vezes. Tem vergonha de perguntar ou não sabe utilizar o chat, não sabe utilizar o fórum. (Professor 1)

Segundo o Professor 1, muitas dificuldades dos alunos podem ter a ver com o perfil cognitivo dos alunos, que a seu ver não são bem explorados na EaD:

[...] tem aluno que é mais visual, tem aluno que é mais da fala e outros aprendem mais no fazer. Então os tipos de inteligência que cada aluno tem, a EaD acaba que ela não atende, porque ela pressupõe que o aluno já venha com ... que ele aprenda a ler, que ele aprenda lendo, aprender fazendo, de acordo ai com as teorias pedagógicas. Mas de qualquer maneira eu vejo isso, essas dificuldades. Eu sempre tento colocar isso nas minhas disciplinas. (Professor 1)