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CAPÍTULO 3 – A REDE E-TEC NA INSTITUIÇÃO INVESTIGADA

3.3 A implementação do Curso de Meio Ambiente no âmbito da Rede e-Tec –

3.3.8 Mercado de Trabalho

A expansão da Educação Profissional e Tecnológica a partir do Governo Lula, como abordado no primeiro capítulo da dissertação, teve como principal fundamento atender as demandas de formação técnica apontada pelos diversos institutos de pesquisa, como IPEA e FGV. Neste sentido, as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE, 2007) estiveram centradas na valorização dos Arranjos Produtivos Locais (APL), sendo o e-Tec uma delas.

Segundo o Coordenador de Curso e o Professor 1, o Curso de Meio Ambiente da Rede e-Tec no IMR tem como norte formar um profissional preparado para atender às necessidades do mercado de trabalho nas regiões onde os polos estão instalados.

"É uma concepção mais aflorada no mercado, inclusive nos polos. O foco é - O que a cidade tem? O foco é isso, então vamos trabalhar nessa área. Então é focado na realidade de cada município, nas prefeituras". (Coordenador de Curso)

É bem voltada para o mercado de trabalho, inclusive é o diferencial. O técnico de meio ambiente a gente sempre procurar direcionar ele para o mercado. (Professor 1)

Para atender às demandas diversificadas das regiões do estado, o curso possui vários objetivos e possibilidades formativas, não tendo foco em uma área específica. Isso pode ser ilustrado na fala abaixo:

Então por exemplo, o curso técnico em meio ambiente, aqui no nosso estado ele vai ter um foco. Vamos supor o Município B, por exemplo, o foco desse aluno vai ser trabalhar com mineração. É o que tem de emprego lá, então ele tem que ser técnico

nisso. Tanto que tem aluno de graduação fazendo curso técnico para preencher um requisito das empresas que atuam lá. Então esse perfil técnico é que o projeto quer formar [...] Por exemplo, trabalhar com impacto ambiental. Trabalhar com educação ambiental. Trabalhar estação de tratamento de água, trabalhar estação de tratamento de esgoto. É uma infinidade deles. Vai depender de qual área a prefeitura tem. (Coordenador de Curso)

Ainda segundo o Coordenador de Curso, a grande abrangência em termos de áreas de atuação do Técnico de Meio Ambiente, permite que o próprio aluno direcione sua trajetória profissional:

A formação do aluno é para ele fazer tudo, ele pode fazer um concurso. Entendeu? Tem aluno aí que fez um concurso da Petrobrás. Concurso da Valle. Aonde que tem que eles encaixam no perfil de técnico de Meio Ambiente (...). Tem gente lá que já tem graduação e está fazendo um curso técnico. Então assim, eles vão reestruturando a sua vida de acordo com a oportunidade do mercado. (Coordenador de Curso)

No entanto, apesar de o curso ter como objetivo uma formação focada no mercado de trabalho, o Professor 1 considera que nem sempre o profissional formado atende à essas demandas. Isso ocorre devido ao currículo ser muito único e isso gerar uma dependência de direcionamento do próprio aluno às suas realidades.

Eu acho que assim, ele (o curso) te dá um aparato para você trabalhar em vários segmentos, mas às vezes, a demanda de mercado não corresponde ao profissional que está sendo formado. [...] Então é uma outra coisa que a gente peca. Eu acho que as vezes a EaD poderia ter um currículo mais direcionado para um contexto onde o pólo se insere e eu vejo o currículo muito único. É um currículo único. Ai o aluno é que flexibiliza, o aluno é que direciona para sua própria realidade. E às vezes eu acho que na grade curricular não existe esse direcionamento. Entendeu, é o aluno. É o aluno que acaba focando e priorizando por ele mesmo. (Professor 1)

O professor 2 enfatiza os diferentes objetivos e perspectivas pessoais de cada aluno com relação ao curso,sendo que alguns podem encarar um curso como processo formador para inserção no mercado de trabalho e outros apenas como titulação para ascensão salarial. Ele considera que, apesar disso também ocorrer no presencial, na EaD isso fica ainda mais confuso, já que as metodologias não propiciam uma formação completa dos alunos:

Então, por exemplo, se você é um aluno de ensino médio e vai fazer o curso do ETEC como processo formador, você depois vai querer depois usar aquilo como processo de trabalho com o mercado de trabalho. Se você é um profissional de um concurso público ou de uma empresa particular ou o que seja, você poderia estar usando aquilo apenas como titulação para aumentar seu salário, qualificação profissional, qualquer coisa desse tipo, então são duas coisas completamente diferentes. Isso acontece sim no presencial, mas eu acho que no EAD isso está ainda muito confuso. E as metodologias são bem diferenciadas, e elas ainda não propiciam uma formação completa, do curso, da proposta para esses alunos, entendeu?

(Professor 2)

Quando questionado se os profissionais formados pela rede e-tec estariam capacitados para atuar no mercado de trabalho, o Professor 1 respondeu afirmativamente, mas novamente enfatizou que isso depende da postura do aluno e do estágio que ele realizasse no curso.

Até certo ponto sim, mas ai é a questão se ele tiver uma postura mais autônoma, se ele procurar um estágio bacana. Essa parte de estagio eu acho muito frágil no projeto. (Professor 1)

Como visto na afirmação acima, o Professor 1 considera o estágio um ponto frágil do projeto. Segundo este entrevistado, o coordenador de curso fica sobrecarregado no processo de acompanhamento dos alunos, que acabam não tendo uma orientação individual.

Tem (orientação no estágio), mas eu acho um pouco fraco ainda. Porque é feito às vezes o coordenador do curso para ajudar todos ao mesmo tempo. Então é muito centralizado e às vezes o aluno não tem aquela orientação devida e individual, que deveria enriquecer. Então assim, já tem aluno que formou, que está no mercado de trabalho que eu vejo que dá conta, mas se você for pegar em termos de imagem mais da metade vai ter dificuldade porque não conseguiu aplicar na prática aquilo que aprendeu. (Professor 1)

Para o Professor 1, o curso presencial possui uma estrutura melhor, com laboratórios e acompanhamento de estágio. Já na EaD devido a algumas carências de organização, o aluno forma com algumas dificuldades.

Esse é o grande nó também. Ele tem condições? Tem mas vamos colocar na realidade, o presencial sempre vai estar melhor. Porque ele tem uma estrutura, tem um laboratório, tem a presença do professor ali sempre que ele precisar, ou pelo menos com uma frequência mais assídua do professor, das dificuldades que ele tem no fazer. Às vezes o técnico que formou em EaD só vai apreender as dificuldades dele depois que já formou. (Professor 1)

O Professor 1 exemplifica uma situação em que uma aluna formou com dificuldade em elaboração de relatório técnico e pediu ajuda:

Foi o que aconteceu com essa aluna: ela veio me pedir ajuda para escrever um relatório técnico e ela fez essa disciplina de como escrever relatório técnico no segundo módulo. Então pressupõe que ela deveria saber escrever. Mas ela formou sem saber, ou pelo menos teve uma insegurança de fazer esse primeiro relatório. (Professor 1)

Para o Professor 2, o Programa e-Tec no âmbito no IMR ainda não conseguiu chegar a um resultado efetivo em termos de prática profissional. Os alunos enfrentam muitas

dificuldades, o que exige muita determinação:

Estou dizendo pelas minhas disciplinas, não posso dizer pelos outros, porque eu acho que o processo de formação como técnico do Meio Ambiente exige além do conteúdo, uma prática. A obtenção desse conteúdo tem que ter uma metodologia pra gerar esse aprendizado técnico, que ele vá fazer uma atuação. E eu acho que não, o ETEC, o IMR, o EAD, não conseguiu, no meu ponto de vista, chegar a esse resultado. Então os alunos, pelo que eu vi às vezes, da minha disciplina, eram poucos que avançavam. Uma evasão muito grande do processo. Então eu acredito que, assim, pelo objetivo que era fazer uma formação desse grupo, eu acho que os poucos que formaram, o que tinha ali foram mais porque eles buscaram e tinham uma iniciativa grande, por conta disso, entendeu? (Professor 2)

Já o Professor 3 não sentiria segurança de indicar um aluno formado na EaD para o mercado de trabalho, já que não teve contato físico com o aluno.

Na verdade, vou justificar. Na verdade podem ser perfis de professores. Meu perfil é um perfil presencial e para te falar a verdade como eu não participei do campo, eu até tive a oportunidade mas tive alguns problemas também, eu pessoalmente não conheci nenhum aluno. Então eu não posso dizer se, apesar dos trabalhos que eles mandavam por email, trabalhos de qualidade, eu acho que eu não ficaria seguro de indicar um aluno. Claro ficaria seguro de indicar alguns alunos pelos trabalhos enviados por email, mas eu não sinto a mesma segurança do que se eu tivesse participado da formação deles como pessoal (presencial). (Professor 3)

Através da análise das entrevistas, foi possível perceber a grande contradição existente na proposta do curso de Meio Ambiente: apesar de o curso ter o foco no mercado de trabalho, os profissionais formados não estarão preparados para atender à estas demandas. A falta de confiança dos professores em indicarem os alunos só vem a ilustrar a fragilidade desta formação, que enfrenta problemas de ordem estrutural, institucional e financeira.

Se fosse levada à frente a tese do Professor 1, de que o curso técnico presencial é sempre melhor do que o curso a distância, seria possível perceber uma nova dualidade na Educação Profissional: a educação presencial, de qualidade, para os residentes em regiões metropolitanas; a educação a distância, frágil, para os residentes no interior e em regiões distantes de instituições formais. Certamente, essa dualidade deveria se refletir na colocação dos profissionais no mercado de trabalho, e consequentemente nos salários, mantendo as desigualdades sociais.