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3. O PROJETO: REESTRUTURAÇÃO DO CURSO SECUNDÁRIO VOCACIONAL

3.3. O Curso Vocacional de Mecatrónica (2013-2015): Experiência-piloto

3.3.7. Avaliação da Formação

3.3.7.4. Entrevistas: análise de conteúdo

3.3.7.4.2. Alunos

Nas entrevistas efetuadas aos alunos, procurou-se averiguar qual foi a perceção dos mesmos sobre o curso que frequentaram o curso. Os aspetos abordados incluiram o programa e a estrutura do curso, a relação entre os seus vários intervenientes e sugestões dos formandos.

À pergunta sobre como tinha surgido a oportunidade de se inscreverem no curso vocacional de Mecatrónica, as respostas desdobraram-se em dois grandes grupos: enquanto uns responderam que tinham sido aconselhados pelos pais ou pelo psicólogo da escola (que frequentavam), outros adiantarm que tinha surgido por sugestão da Escola Secundária D. Sancho I. Além destes motivos, houve quem justificasse a sua opção como sendo uma forma de recuperar os anos em atraso – por causa de retenções em anos anteriores. O gosto pela mecânica e/ou eletrónica foram igualmente fatores decisivos.

No que diz respeito ao contexto de aprendizagem, houve, segundo os alunos, uma boa articulação entre os vários elementos envolvidos no curso (turma, corpo docente, tutores e comunidade educativa). Ainda que os alunos relatem que a relação entre pares e o ambiente da turma pudesse ser, por vezes, um pouco complicada, a relação com professores e tutores das empresas é descrita pela totalidade dos inquiridos como boa, tendo sido o fator de maior aprendizagem e motivação – algo que alguns

alunos apontam como fator determinante para obterem emprego na empresa de estágio aquando do fim da formação.

Acerca do planeamento geral do curso e a articulação entre as diversas disciplinas lecionadas, as respostas dos alunos vão ao encontro dos depoimentos dos professores: as aulas deveriam ter uma componente mais prática, pois os alunos passam “pouco tempo na oficina” e o período de duração do curso - 2 anos - é demasiado curto. Ainda assim, foi elogiado o equilíbrio existente entre teoria e prática, sendo que “as disciplinas da área vocacional” foram consideradas “todas bem estruturadas” e “bem articuladas”, com matérias comuns entre si, e os docentes competentes e adequados para dar resposta às necessidades do programa do curso.

Esta boa articulação entre conteúdos e a abrangência do programa foi, segundo os inquiridos, vantajosa pois “permitia saber um pouco de tudo”, alargando, então, o campo das saídas profissionais. No entanto, a diversidade de conteúdos não permitia o aprofundamento dos mesmos, pelo que os alunos apontaram sentir necessidade de terem aprofundado mais - e numa vertente mais prática - as áreas de Mecânica, Eletrónica e até Desenho, e o trabalho com máquinas CNC (Controlo/Comando Numérico Computorizado). Assim, houve quem alegasse que, face às necessidades reais em contexto de trabalho, a aprendizagem obtida no que diz respeito à prática não é suficiente “face ao que é exigido na empresa”.

As disciplinas de formação geral acabaram por ser negligenciadas pela maioria dos alunos nas suas respostas, mas aquilo que se pode concluir das opiniões recolhidas é que Português e Inglês foram “demasiado teóricos”. Contudo, houve quem tivesse uma apreciação positiva relativamente à disciplina de Inglês, comentando que “[foi] bom, porque aprendíamos os nomes dos materiais e ferramentas”.

O tópico mais mencionado pelos alunos, quando questionados acerca da configuração e apreciação pessoal do curso - pontos positivos e negativos -, revelou ser a estrutura do mesmo: apenas dois anos de curso, com uma carga horária e plano curricular demasiado pesados. Por um lado, este aspeto foi visto por uns como “um mal necessário”, possibilitando-lhes recuperar o(s) ano(s) perdido(s) com retenções e acelerando a entrada no mercado de trabalho, enquanto os preparava para as dinâmicas deste (onde tampouco encontraram tardes ou manhãs livres). Contudo, houve quem considerasse que, de futuro, este seria um aspeto a reformular. Questionados sobre o que

fariam para melhorar o curso, os alunos responderam que as reformas seriam essencialmente ao nível do horário, procurando deixar manhãs ou tardes livres,“foi tudo muito condensado/concentrado, houve dificuldade em assimilar certos conteúdos” foi um dos comentários recolhidos.

Outro dos aspetos negativos mencionados foi “a ausência de subsídio”. “(...) nem no estágio tiveram subsídios, nem almoço; foi complicado”, relata um aluno, sendo que aqui importa lembrar que, maioritariamente, se trata de alunos com agregados familiares com baixos rendimentos e situações socioeconómicas delicadas.

Quanto à prática simulada, a totalidade dos inquiridos respondeu que o regime em alternância (posto em prática no 2º ano) foi mais vantajoso que o estágio contínuo (realizado no 1º ano). E isto porque a alternância permitia aos alunos irem aplicando na empresa aquilo que estavam a aprender na escola; concomitantemente, tinham a oportunidade de colocar aos professores dúvidas que surgissem no estágio. Pelo contrário, aquando do estágio contínuo realizado no final do 1º ano, já tinham sido esquecidas algumas matérias, o que, aliado ao cansaço acumulado após um ano letivo preenchido, se tornou contraproducente e até desmotivante. Por sua vez, o regime de alternância acabou por ser uma boa forma de quebrar a rotina da semana de aulas, e, segundo relatam, para a empresa não era problemático que o aluno deixasse as tarefas a meio.

Assim, os alunos concluem os seus depoimentos afirmando que a participação neste curso foi uma mais-valia ao nível dos conhecimentos, pela sua abrangência, e pelas portas que abriu no mercado de trabalho – sendo que grande parte dos alunos afirma ter ficado a trabalhar na empresa onde realizou o estágio. Todos asseguram que, se tivessem de decidir novamente, optariam por ingressar no curso vocacional de Mecatrónica.

No documento DM Maria da Glória Machado Pereira Sousa (páginas 99-101)