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Finalidades do ensino vocacional

No documento DM Maria da Glória Machado Pereira Sousa (páginas 30-34)

1. O ENSINO VOCACIONAL

1.2. Finalidades do ensino vocacional

Segundo Euler (2013: 19), o sistema de formação vocacional tem três dimensões: uma económica, uma social e uma individual, ou seja, promover a produtividade económica, a integração social e o desenvolvimento individual.

A dimensão individual refere-se ao papel da formação profissional no desenvolvimento das competências que os indíviduos necessitam para enfrentar os

desafios no trabalho, bem como em outros aspectos da sua vida. A formação vocacional proporciona uma oportunidade para os alunos moldarem a sua própria vida, desenvolver o seu potencial e aumentar a sua auto-eficácia e motivação para aprender.

A dimensão social da formação vocacional proporciona um meio de integração social para a geração mais jovem, tanto no local de trabalho como na sociedade em geral. O sistema de educação vocacional deve estar desenhado de forma a prevenir a marginalização social e promover a integração dos jovens na formação e no emprego.

No que respeita à dimensão económica, esta é justificada pelo papel desempenhado pelo ensino vocacional ao assegurar um alto nível de produtividade económica, comercial e individual. O objetivo económico consiste em desenvolver os recursos humanos assegurando-se de que existem trabalhadores suficientes com as competências adequadas e aumentar o seu número e nível de qualificação. Os fins comerciais destinam-se a garantir que as empresas tenham um fornecimento adequado de trabalhadores qualificados. Ao nível individual, o objetivo é assegurar que os indíviduos são empregáveis e estão capacitados para ganhar a sua vida. Do ponto de vista económico, é também importante a eficiência do próprio sistema de formação vocacional (Euler, 2013: 19).

Outros autores preferem fazer a abordagem dos cursos vocacionais partindo de quatro perspectivas: uma sociológica, uma política (ou sociopolítica), uma económica e uma pedagógica.

Segundo a prespectiva política, os cursos vocacionais foram apresentados pelo anterior governo PSD/CDS como uma fórmula de sucesso para providenciar aos alunos a partir dos 13 anos que manifestassem constrangimentos com os estudos do ensino regular, em especial aqueles que tivessem duas retenções no mesmo ciclo ou três ou mais em ciclos diferentes, uma alternativa de ensino que lhes proporcionasse “o desenvolvimento de conhecimentos e capacidades, científicas, culturais e de natureza técnica, prática e profissional que permitam uma melhor integração no mercado de trabalho e o prosseguimento de estudos3”.

3 Regulamento dos Cursos Vocacionais, Capítulo I, artºs 1 e 2, disponível em:

http://www.esmp.pt/docs/Regul_Especificos/REGULAMENTO%20VOCACIONAIS.pdf, [consultado

No entanto, esta “fórmula de sucesso” implantada pelo anterior governo não colhe a mesma aceitação por parte do novo executivo. Um artigo publicado no jornal Expresso, em 26 de janeiro de 2016, dá conta de que o secretário de Estado da Educação, João Costa, pretende acabar com os cursos vocacionais, sobretudo os frequentados por alunos do ensino básico, a partir dos 13 anos. A justificação dada por este governante é a de que estes cursos promovem uma “segregação precoce”, ao condicionar as escolhas futuras dos estudantes e apresentam “taxas de insucesso superiores à média nacional”.

Do ponto de vista pedagógico, e segundo a atual equipa do Ministério da Educação, estes cursos

não foram um programa maravilhoso de promoção de sucesso escolar, mas de segregação precoce”, tendo servido para martelar os números do sucesso, ao reduzirem o número de anos de formação e o tempo necessário para concluir o 2º ciclo (em 1 ano em vez de 2) e o 3º ciclo (em dois anos em vez de três)”. O mesmo secretário de Estado da Educação acusou ainda o sistema de promover uma “segregação precoce”, ao prever que os alunos com dificuldades pudessem ser encaminhados para estas vias alternativas logo a partir dos 13 anos, dado que, devido ao facto de terem currículos diferentes, os alunos destes cursos não conseguiam depois transitar para outras vias de ensino, como os cursos gerais (Leira, 2016)4.

Partindo de uma perspectiva sociológica, esta opinião é partilhada pelo professor universitário Joaquim Azevedo, o qual, no decorrer da conferência inaugural das

"Jornadas Pedagógicas - 25 anos ao serviço da educação e formação", organizada em

julho de 2015 pela Associação Nacional de Escolas Profissionais, criticou a criação dos cursos vocacionais, afirmando que investir nestes cursos ao lado dos profissionais é igual a "introduzir uma areia na engrenagem que não serve para nada". Na opinião deste professor catedrático, não é dando “respostas pobres a alunos pobres”, criando duas vias de ensino, que se resolve o problema da educação, salientando que os cursos vocacionais foram “introduzidos à força no sistema escolar e vão acabar porque não se consegue perceber de onde vêm e para onde vão”.

4 Leiria, Isabel (2016), Cursos vocacionais no básico: a próxima medida de Crato com fim anunciado,

artigo publicado no jornal O Expresso, disponível em: http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-01-26- Cursos-vocacionais-no-basico-a-proxima-medida-de-Crato-com-fim-anunciado, [consultado em 2016.03.16].

Para Joaquim Azevedo, o importante é investir no ensino profissional, para qualificar jovens para “viverem, trabalharem e liderarem o século XXI”, defendendo a necessidade de apostar em orientar os alunos, implementando a inovação pedagógica, através de "projetos integradores e interdisciplinares", que "são uma maneira belíssima de motivar os alunos". No que concerne aos cursos vocacionais, o professor universitário sustenta que "o tempo social dos jovens é na escola", considerando que, "num mundo de profunda incerteza, turbulência e muito instável", é necessário "orientar bem e dar as bases" aos alunos, bem como "reforçar a [sua] arca de competências", de modo a "formar pessoas competentes mas flexíveis e humanas"5.

Por outro lado, no mesmo artigo, o Diretor do Agrupamento de Escolas de Real (2015), afirma que o Ensino Básico Vocacional, através dos cursos vocacionais, assume-se como uma via educativa que pretende complementar a resposta a necessidades fundamentais dos alunos. Podemos destacar a inclusão de todos no percurso escolar, havendo a integração dos jovens que têm apresentado dificuldades em acompanhar o sistema educativo regular, até mesmo manifestando algum desinteresse e algum descontentamento.

Assim, o ensino vocacional permitiria aos alunos a possibilidade de desenvolver atividades onde haverá simulação da prática, dotando-os de ferramentas que lhes permitam viver experiências profissionais adequadas aos seus interesses e vocação, diminuindo, deste modo, o insucesso e desinteresse escolar e orientando-os para possíveis ofertas do ensino profissional (Agrupamento de Escolas de Real, 2015).

O encaminhamento para estes cursos deve passar primeiro por um processo de avaliação vocacional, feito pelos psicólogos da escola. Este processo servirá para analisar se este caminho será o mais adequado às necessidades dos alunos. Estes podem escolher o seu caminho, segundo as suas habilidades, experiências, oportunidades e interesses.

Os objetivos dos cursos vocacionais foram estabelecidos pelas Portarias que criaram a nova oferta educativa: “em termos gerais pretende-se assegurar a inclusão de todos os alunos no percurso escolar, combatendo o abandono escolar precoce e o

5 Lusa (2015), Ensino vocacional é "areia na engrenagem que não serve para nada", artigo publicado em

Notícias ao Minuto, disponível em: http://www.noticiasaominuto.com/pais/422975/ensino-vocacional-e- areia-na-engrenagem-que-nao-serve-para-nada [consultado em 2016.03.16].

insucesso escolar.” De acordo com a Comissão de avaliação (2015:1), para cada nível de ensino foram estabelecidas finalidades mais específicas:

N ÍVEL ENSINO BÁSICO ENSINO SECUNDÁRIO

OBJETIVOS

Aumentar a motivação e o sucesso escolar de alunos com antecedentes de reprovações; prover os jovens de ferramentas que permitam a sua integração futura no mercado de trabalho. Desenvolver nos jovens um conjunto de regras

de trabalho em equipa, sentido de

responsabilidade e espírito de iniciativa.

Adquirir conhecimentos em Português,

Matemática e Inglês ao nível do 2.º ou 3.ºciclo. Estabelecer contato com diferentes atividades práticas. Desenvolver capacidades e práticas de trabalho. Assegurar a intercomunicabilidade entre as vias vocacional e de prosseguimento de estudos.

Assegurar a continuidade dos estudos de alunos que frequentam o ensino vocacional básico.

Desenvolver conhecimentos e

capacidades técnicas profissionais.

Dar resposta a necessidades

relevantes das empresas em termos de trabalhadores com qualificações técnicas específicas.

Assegurar uma oferta distinta dos cursos profissionais.

Tabela 1 - Objetivos dos Cursos Vocacionais

De um modo sucinto, podemos afirmar que o objetivo destes cursos, quer nos ensinos básicos quer no secundário é comum, isto é, a principal finalidade é combater o abandono escolar precoce e o insucesso escolar. No entanto, no ensino básico, a grande finalidade é fazer com que os alunos frequentem a escola e ganhem motivação num ensino mais prático. Já no ensino secundário, o objetivo também é dar aos alunos algumas ferramentas de trabalho, isto é, dar-lhes uma qualificação, não esquecendo um possível prosseguimento de estudos (Comissão de Avaliação Externa da Experiência- piloto dos Cursos Vocacionais, 2015: 2).

No documento DM Maria da Glória Machado Pereira Sousa (páginas 30-34)