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Programas de formação por alternância: forças e fraquezas

No documento DM Maria da Glória Machado Pereira Sousa (páginas 53-57)

2. A FORMAÇÃO POR ALTERNÂNCIA

2.7. Programas de formação por alternância: forças e fraquezas

Os países que se viram confrontados com taxas elevadas de desemprego na camada mais jovem, tal como é o caso de Portugal, Espanha, Itália e a Grécia, tiveram que introduzir novos programas de aprendizagem ou outros programas de formação por alternância. Estes últimos eram considerados como um meio de melhorar as possibilidades de inserção profissional (Parlamento Europeu, 2014).

Novos programas foram ainda criados não porque os países tinham uma taxa de desemprego elevada na União Europeia, mas devido a um drástico aumento comparado com as mesmas taxas antes da crise, tal como, por exemplo, na Dinamarca, onde a taxa de desemprego dos jovens era de 37,7% em 2012. A variação em percentagem 2007- 2012 é de 85%. (Parlamento Europeu, 2014).

Em Portugal, no ano escolar de 2013/2014, foi introduzido o projeto-piloto dos cursos vocacionais em duas dezenas de escolas ao longo do país, destinado a alunos do ensino secundário. Trata-se de uma variante dos cursos profissionais, cujo projeto-piloto tinha sido testado, sem sucesso, no ano escolar anterior – 2012/2013 – nos níveis de ensino inferiores, destinado a estudantes com idade superior a 13 anos. Após a fase piloto, a partir de 2014-2015, prevê-se que os cursos profissionais de nível secundário sejam expandidos para abranger um maior número de escolas. (Parlamento Europeu, 2014).

Segundo a Direção Geral das Políticas Internas do Parlamento Europeu (2014), as pesquisas feitas em vários países da União Europeia provam que os resultados têm sido positivos, no que diz respeito à introdução de novos programas de alternância. Existiu uma melhoria dos resultados profissionais dos indivíduos diplomados e as reformas executadas nos diversos países apontam para vantagens em comum que são as seguintes:

 Fortalecer os programas de alternância disponíveis no país: este método é particularmente evidente na Grécia, onde a educação assentava essencialmente

no ensino escolar e onde, até à reforma, apenas uma pequena percentagem de estudantes optou pelas aprendizagens profissionais. Em Portugal, os novos cursos vocacionais (cursos piloto) também estão alargar as possibilidades para futuros alunos de Educação e Formação Profissional (EFP).

 Fornecer soluções de formação para os jovens em situação vulnerável: os novos cursos profissionais (projeto-piloto) em Portugal são especificamente direcionados aos jovens em abandono escolar. Os cursos oferecem a possibilidade a este grupo de estudantes de obter uma certificação em dois anos, fornecendo uma maior parte da formação no trabalho e outra nas aulas. Estes cursos, portanto, permitem um acesso mais rápido ao mercado de trabalho, que é uma razão importante para a participação dos estudantes.

 Envolver os parceiros sociais: a lei de reforma na Grécia enfatiza os principais parceiros sociais envolvidos no processo de decisão da EFP e na seleção de especializações oferecidas em cada província por meio de comités provinciais de educação e formação profissionais. Esta abordagem assegura que a oferta corresponde às necessidades das empresas nacionais e locais, o que permite aumentar o número de lugares de aprendizagem disponíveis.

 Envolver mais os empregadores: o novo padrão de alternância 2 + 1 introduzido na Finlândia foi recebido com entusiasmo pelos empregadores. Este modelo convém-lhes mais pois os estudantes incorporam os seus negócios durante o terceiro ano de estudo, o que significa que eles precisam menos de formação e de supervisão.

De acordo com a Direção Geral das Políticas Internas do Parlamento Europeu (2014), apesar das reformas que trazem novos programas de formação por alternância serem bem-vindas, certas fragilidades podem ser apontadas no que diz respeito à sua conceção, a sua integração nos cursos de formação profissional existentes e ainda outros elementos específicos aos países. Especificamente, e acreditando nas fontes nacionais e nas entrevistas, podemos apontar a responsabilidades a muitos aspetos:

 A sua falta de ambição: na Grécia por exemplo, o ciclo de aprendizagem na EFP secundária superior será facultativo. Alguns estudantes com diploma de EFP serão sempre privados de terem uma experiência de estágio numa empresa.

 Podem criar conflitos com os programas existentes: os alunos diplomados dos cursos profissionais chamados “vocacionais” no ensino secundário em Portugal terão um certificado após dois anos, contra três anos para os estudantes que frequentam "cursos profissionalizantes", também disponíveis no âmbito do Ministério da Educação. É por isso que os "cursos vocacionais" são chamados de setor “low-cost", visto a sua aplicação requerer menos recursos que outros. Estes novos cursos levam consequentemente, alguns a temer que eles possam ter uma influência negativa sobre a participação em "cursos profissionais".

2.7.1. Problemas de execução

Segundo a Direção Geral das Políticas Internas do Parlamento Europeu (2014), alguns desafios consideráveis caraterizam a aplicação completa destas reformas nos cursos de formação por alternância. Entre esses desafios, podemos apontar os seguintes:

 Incentivar os empregadores a oferecer estágios: conforme indicado acima, o facto de propor mais programas de alternância / de aprendizagem faz automaticamente aumentar a procura de estágios em empresas. A participação das PME é mais problemática; dada a sua dimensão limitada, estas empresas precisam de ajuda extra para aceitar aprendizes e oferecer uma formação de qualidade. Nos países onde as empresas têm pouca ou nenhuma experiência com a aprendizagem e as formações, os empregadores podem ter falsas expectativas para com os programas de aprendizagem/de formação. Às vezes, podem estar relutantes em embarcar nos procedimentos e noutras obrigações administrativas relacionadas com a garantia de qualidade. Finalmente, os empregadores podem simplesmente ignorar a existência desses novos programas e seus potenciais benefícios.

 Enfrentar o aumento dos custos e a falta de recursos: a implementação destas reformas passa pela atribuição de recursos, tanto financeiros como humanos. Além disso, o aumento do número de programas de alternância implica também um aumento do número de alunos em escolas de EFP, o que também aumenta o financiamento público necessário, bem como os investimentos nas infraestruturas, equipamentos e, é claro, o número de professores necessários.

 Garantir a qualidade: visto que a implementação das reformas começou apenas recentemente e que os pedidos de estágios adicionais devem ser rapidamente satisfeitos, pode ser difícil garantir a qualidade da formação oferecida em empresa.

Os países que implementam novos programas, em especial de aprendizagem, devem levar em conta possíveis efeitos de substituição. A importância que lhe é atribuída, criando percursos entre pares / assistência nacional e financeira da Comissão Europeia, facilita a melhoria dos programas e a sua introdução nos diferentes países. Este interesse crescente na aprendizagem deve ser acompanhado de um controlo rigoroso de qualidade: alguns empregadores podem usar o aprendiz para ter mão-de- obra barata, especialmente em países com pouca experiência na aprendizagem e mais atingidos pelo desemprego juvenil. Essas empresas, por vezes, substituem os seus trabalhadores não qualificados pelos aprendizes. Este fenómeno pode dar origem a percepções negativas entre pais / alunos, especialmente em países com pouca experiência na aprendizagem, e retardar a sua execução. É interessante notar que este efeito de substituição é observado mesmo na Alemanha (onde diria respeito a 18,5% dos empregadores).

3. O PROJETO: REESTRUTURAÇÃO DO CURSO SECUNDÁRIO

No documento DM Maria da Glória Machado Pereira Sousa (páginas 53-57)