• Nenhum resultado encontrado

3.3 Caracteri zação dos su jeitos da pesq uisa

3.3.1 Os alunos e su as respectivas famíl ias

Os alunos aqui des critos s erão denominados Francis co , Al bert o, Manoel , Heitor e Ant ônio96, de acordo com suas respect ivas fam ílias .

De acordo com os dados obtid os por meio das ent revist as e questionários, as inform ações colet adas com as famíli as a respe i to dos alunos foram as segui ntes: t odos es tes moram na área rural, em bai rros dist antes, apenas um mora próximo à es col a , porém , como os dem a is, faz us o do transporte escolar.

Os dados most ram as condi ções econômi cas das famí lias , revelando que o número de pessoas que resi dem na m esm a casa, é de três a cinco pessoas e a renda mens al fam ili ar é de at é t rês sal ários m ínimos97.

Em rel ação à moradi a, quat ro famíli as m oravam em cas a cedi das pel o propri et ário da terra e apenas um a famíli a ti nha cas a própria. Iss o si gni fi ca que, enquanto há trabalho, há moradi a. Acabando o trabalho ou de acordo com a época das colheit as, esses indiví duos acabam ficando s em moradi a e tendo que recorrer a out ros lugares .

Ainda, ao col et ar os dados na entrevi st a, havi a duas famíli as que est avam nest e proces so de deixar a moradia e ter em que ir em busca de outr o lugar para s e abri gar, poi s o trabal ho por el es realiz ado est ava findando.

Na área rural , esta é um a sit uação recorre nt e, o que acaba por interferi r no proces s o de apren dizagem , onde muit as famíli as não perm anecem residi ndo no mesmo lugar.

Assim , C aldart (2009, p. 47 -48) ass evera que:

O [ . . . ] a c i r r a me nt o d a l ut a d e c l a s s e s no c a mp o , mo t i va d o p o r u ma o fe n s i va gi g a nt e s c a d o c a p i t a l i nt e r na c i o na l s o b r e a a gr i c ul t ur a , ma r c a d a e s p e c i a l me n t e p e l o c o nt r o l e d a s e mp r e s a s t r a ns n a c i o na i s s o b r e a p r o d uç ã o a gr í c o l a , q ue e xa c e r b a a v i o l ê nc i a d o c a p i t a l e d e s ua l ó gi c a d e e xp a n s ã o s o b r e o s t r a b a l ha d o r e s , e no t a d a me n t e s o b r e o s c a mp o ne s e s . N o c a s o b r a s i l e i r o , p o d e mo s o b s e r v a r c o mo e s t a l ó g i c a s e r e a l i z a a t r a v é s d e d i fe r e nt e s e c o mb i na d o s mo vi me nt o s , a p e na s a p a r e n t e me n t e c o nt r a d i t ó r i o s e nt r e s i , p o r q ue i n t e gr a m u ma me s m a l ó gi c a : e xp u l s a t r a b a l h a d o r e s d o c a mp o a o me s mo t e mp o e m q ue p r o me t e i nc l uí - l o s n a mo d e r n i d a d e t e c no l ó gi c a d o a gr o ne gó c i o ; s ub o r d i n a a t o d o s , d e a l g u ma fo r ma , a o mo d e l o t e c no l ó gi c o q ue vem sendo chamado d e ―agricultura ind ustrial‖ e mantém seus t e r r i t ó r i o s d e t r a b a l ho e s c r a vo .

96 N o me s f i c t í c i o s p a r a p r e s e r va r a i d e n t i d a d e d o s a l u no s e s u a s f a mí l i a s . 97 N a é p o c a d a p e s q ui s a o va l o r d o s a l á r i o mí n i mo e r a d e R $ 9 5 4 , 0 0 .

Os trabal hares do campo fi cam à m ercê do que o capi tal det ermina, m esmo em relação à s questões bási cas como a moradi a. Cons equentem ent e, o direit o à t erra, à moradi a pass am a int erferi r no di rei to à educação.

Em rel ação às questões pedagógi cas, os al unos suj eit os da pesquisa traz em um a história de fracas so escol ar, especi ficam ent e em relação à al fabet izaçã o.

Ao entrar em cont at o com as famíli as dest es suj eit os e através das ent revist as e questi onários, foram obti das as s eguint es i nform ações, s endo ainda, possí vel observá -l as em l oco escol ar .

A respons ável pelo aluno Francis co, m atri cul ado no 4 º ano do ensi no fundament al, relat ou que o fil ho com eçou a frequentar a escol a tardi am ent e, devi do à situação de s aúde não era possí vel. A fam íli a veio de outro muni cípio (Ti et ê/SP), quando chegou em Porto Feliz , por cont a da idade, foi m at ri cul ado no 3º ano do ensino fundam ent al .

O aluno ainda faz os acompanham ent os médi cos em outr a ci dade (Botucatu/SP ), faz uso da bolsa de os tomia98, s endo di agnosti cado como defi ciência fí sica.

Percebe-se que, pelo históri co, o al uno, durant e um l ongo período, fi cou s em a ces so à esco la, tudo indi ca que não houves se out ro s meios para que est e direito foss e cum pri do.

Logo, em rel ação à alfabetiz a ção, os pai s do aluno Francis co não tiveram aces so à es col a, estando na condi ção de anal fabet os, s endo que os dem ais filhos tam bém traz em um hi s tóri co de fracass o es col ar e som ent e um filho é alfabetiz ado.

98 S e g u nd o a A s s o c i a ç ã o d e O s t o mi z a d o s d e J ui z d e F o r a : ― A o s t o mi a é a c i r ur g i a fe i t a q ua nd o h á n e c e s s i d a d e d e s e c r i a r u m no vo c a mi n h o p a r a a s a í d a d e f e z e s e / o u ur i na d o c o r p o . I s s o p o d e a c o n t e c e r p o r vá r i o s mo t i vo s , ma s p r i nc i p a l me n t e e m d e c o r r ê n c i a d e c â nc e r o u d e fe r i me n t o s c o m a r ma s b r a n c a s . N a c i r ur g i a é c r i a d o u m e s t o ma na p a r e d e a b d o mi na l , p o r o nd e s e r ã o l i b e r a d o s o s e x c r e me n t o s . O e s t o ma nã o é c o n t r o l a d o v o l u n t a r i a me n t e e p o r i s s o a s p e s s o a s o s t o mi z a d a s f a z e m us o d e b o l s a s c o l e t o r a s , q u e a r ma z e na m a s f e z e s e u r i na . A o s t o mi a t a mb é m r e c e b e o ut r o s no me s . I s s o va r i a c o n fo r me a p a r t e d o i n t e s t i no o n d e é r e a l i z a d a : c o l o s t o mi a - c o mu n i c a o c ó l o n c o m o e x t e r i o r ; i l e o s t o mi a - f a z a c o mu ni c a ç ã o e nt r e o i n t e s t i n o d e l ga d o e o e x t e r i o r , e l a f i c a l o c a l i z a d a na p a r t e i n fe r i o r d i r e i t a d o a b d ô me n ; ur o s t o mi a - é u m d e s vi o ur i ná r i o , q ue mo d i f i c a o c ur s o n a t ur a l d a ur i n a . D e s d e 2 0 0 4 , a t r a vé s d o D e c r e t o 5 . 2 9 6 , a o s t o mi a é c o n s i d e r a d a uma deficiência física: ―alteração co mpleta o u parcial d e um o u mais segmento s do corpo h u ma no , a c a r r e t a nd o o c o mp r o me t i me nt o da função física‖. Dispo nível em: < h t t p s : / / o s t o vi d a j f. wo r d p r e s s . c o m/ 2 0 1 6 / 0 1 / 1 4 / o s t o mi a - e -d e f i c i e nc i a - f i s i c a - s i m/ > . A c e s s o e m: 1 3 / 1 1 / 1 9 .

A famíli a do aluno Albert o , matri culado no 3º ano do ensino

fundamental, veio do Est ado do P araná, com o a m aiori a, em bus ca de

emprego e melhores condi ções de vi da. Est a foi a úni ca entrevi sta em que est avam pres ent es a mãe e o padrasto. De acordo com o relato da m ãe, na educação infantil , Al berto foi encami nhado para o pedi at ra e o mesm o rel at ou um possível di agnóst ico de TDAH .

Nesta época, o médi co fal ou sobre a pos sibilidad e de m edi cação, no ent anto, não prescreveu receit a. A mãe diz que a n ão aprendiz a gem é devido à agit ação e não prest ar atenção, dest a m anei ra, devi do est a situação foi encami nhado para a s al a de recursos, apres entando di fi culdades na l eitura e na escrit a. O aluno aguarda ser chamado pel a UBS para consult a com neurol ogi sta.

Em rel ação ao aluno M anoel, matri cul ado no 2 º ano do ensino fundam ental, na fal a da mãe é pos sível i dentifi car que o filho é uma cri anç a com muit a dificuldade es col ar. Ainda em rel ação ao comport ament o agit ado, o que acaba comprom et endo sua at enção na sal a de aula. Difi cil mente t em regist ros no caderno, e , em casa, há recus a para faz er as t arefas escolares.

Em virt ude de t ais difi culdades acadêmi cas e comport am ent ai s é que passou a s er at endido na sal a de r ecurs os. Em rel ação às professoras, há uma fal a que o aluno apresent a difi cul dade para compreender com andos , históri as, compreens ão d o que lhe é soli cit ado , muit a difi cul dade em rel ação ao regis tro.

A mãe pouco parti ci pa das at ividades es col ares, fal ou nã o s aber ler e escrever e por i sso que t ambém não consegue ajudá -lo.

A entrevist a com a mãe do al uno Hei tor , 2º ano, acont eceu durant e a sem ana, no local de trabal ho, sendo no horário do al moço, que nest e caso, no s ábado , não seri a possí vel.

De acordo com os relatos da m ãe, o aluno foi encaminhado para a sal a de recursos, pois apres entava di fi culdades para a al fabetiz ação. Ainda rel at ou que o aluno passou por psi cólogo e que não apresen t ava nenhum a difi cul dade, e que ainda tem buscado com out ros es pec i alist as pel a Unidade Bási ca de S aúde, logo, at é o mom ent o da col et a de dados, o aluno não

apresent ava di agnóst ico concl usivo que o identi ficava com o públi co -alvo da educação especi al.

Tal qual as dem ais ent revist as, com o aluno Antônio, 1º ano , a col et a de dados aco nteceu com a m ãe. S endo o l ugar onde o aluno resi di a de difí cil acesso e , após vári as tent ativas de encontrar o endereço, o l ocal para diál ogo foi a es col a.

Através da entrevi sta, a mãe informou que Ant ônio foi encaminhado para a sal a de recur sos à pedi do da profess ora da s al a com um , pois tinha di fi culdades para ler e escrever. Quanto ao diagnóstico, se era ou não público-al vo da educação especial, el a rel atou que o filho pass ava na pediat ra e que ele não tinha nada.

Na s al a de recursos, segun do os relatos da profess ora especi al ista e m esm o da profess ora da sal a comum, o aluno apres ent a difi cul dades em rel ação a compreens ão de comandas, de execut ar o que lhe é s olicitado, de realiz ar regi stros por m eio da escrit a, reconhecim ento e identificação d e let ras e números.

É import ant e s ali ent ar que, em m eio as difi culdades para o acess o à es col a, em relação às condições de em pregabili dade, de moradi a, de aces so aos bens m at eriais, à saúde, as famíli as reconhecem a import ânci a da es col a e querem que os filhos a frequent em, m esm o em m eio as di fi cul dades .

Assim , para ess a população:

E n t e nd e - s e a i nd a q ue a e d u c a ç ã o é u ma d a s p o s s i b i l i d a d e s p a r a a a s c e n s ã o d o s s uj e i t o s nã o a p e na s d o p o nt o d e v i s t a s o c i a l , ma s p r i nc i p a l me n t e , a p r e s e nt a - s e c o mo u ma fo r ma d e c o mb a t e r a d e s i g ua l d a d e i mp i n gi d a a e s s e s s uj e i t o s . ( G O M E S ; A R A Ú J O e A N T U N E S - R O C H A , 2 0 1 9 , p . 2 4 ) .

Nas entrevist as, todos os res ponsávei s tiveram ci ênci a do obj etivo da pes quis a at ravés do TC LE - Term o de C ons entimento Li vre e Esclareci do, o qual foi red i gido para o aluno e s endo as sinado pelo responsável do m esmo. No m om ento da apl icação dos quest ionári os sem pre est avam pres entes as mães, os pais est avam no trabalho, não se encont ravam no mom ento, som ent e um al uno que foi possí vel a parti ci pação da mãe e do padrasto.

Port ant o, os dados regist rados no quadro e as inform ações col et adas nas ent revi stas diz em respeito às mães .

Quadro 15 - C ondi ção socioeconômi ca dos al unos ent revist ados.

Al uno Ti po de moradi a Grau de i nst rução das mães Nº de pessoas que m or am na casa Renda m ensal f am il i ar (sal ári o m í ni m o)

P rof i ssão dos Respons ávei s

Recebe benef í ci o

soci al

Fr anci sco Cedi da Não al f abet i zada

Mai s de 5

3 sal ári os Mãe e pai l avr adores

Não Al bert o Cedi da Ens . F und .

co mpl et o

5 1 sal ári o Mãe - d o l ar Padrast o - dese mpr e gado Bol sa Fa mí l i a R$212, 00 Manoel Própr i a Não al f abet i zada

3 1 sal ári o Mãe - col et or a de r eci cl age m

pai - dese mpr e gado

Não

Hei t or Cedi da Ensi no Médi o i nco mpl et o

4 2 sal ári os Mãe - pa dei ra Não

Ant ôni o Cedi da Ensi no Fund. i nco mpl et o

4 1 sal ári o Mãe - d o l ar Pai - casei ro

Não

F o nt e : q ua d r o e l a b o r a d o p e l a a ut o r a c o m b a s e n o s d a d o s c o l e t a d o s a t r a vé s d a e nt r e vi s t a e d o q u e s t i o n á r i o .

Medi ante a col et a dos dados no local onde resi di am os alunos ou no t rabalho dos respons áveis, foi mui to signi ficat i vo, por m ei o dos el em ent os obs erváveis , a mel hor com preens ão da reali dade das cond i ções m at eriais e não m at eri ais as quais est es indivíduos (alunos e res pons áveis ) estã o subm etidos.

Em al gum as ent revi stas foi poss ível pres enci ar a chegada dos respons ávei s do t rabalho, o mom ent o da refei ção com os filhos, da organiz ação da cas a no local do t rabal ho pres enci ar as condi ções para a realiz ação das t arefas. Portanto, fi cou evidente nas fal as, nos gestos corporais, nas expres sões faciai s, na com preens ão ou não d o que est ava s endo pergunt ado na ent revist a e nas respost as dos ques tionários a fal ta do aces so aos conhecimento s sistemat izado s (ci entífi cos, fil osófi cos e artís ticos) po r part e, destes s ujeitos.

Para Franco (2018, p. 12 -13):

A s me n s a ge n s e xp r e s s a m a s r e p r e s e nt a ç õ e s s o c i a i s n a q ua l i d a d e d e e l a b o r a ç õ e s me n t a i s c o n s t r u í d a s s o c i a l me n t e , a p a r t i r d a d i nâ mi c a

q ue s e e s t a b e l e c e e nt r e a a t i v i d a d e p s í q ui c a d o s uj e i t o e o o b j e t o d o c o n h e c i me nt o . R e l a ç ã o q ue s e d á na p r á t i c a s o c i a l e h i s t ó r i c a d a h u ma n i d a d e e q ue s e ge ne r a l i z a v i a l i n g ua g e m. S e nd o c o n s t i t u í d a s p o r p r o c e s s o s s o c i o c o g ni t i vo s , t ê m i mp l i c a ç õ e s na v i d a c o t i d i a na , i n f l ue n c i a nd o n ã o a p e na s a c o mu n i c a ç ã o e a e xp r e s s ã o d a s me n s a ge n s , ma s t a mb é m o s c o mp o r t a me nt o s . A l é m d i s s o , t o r na - s e i nd i s p e ns á ve l c o n s i d e r a r q ue a e mi s s ã o d a s me n s a ge n s , s e j a m e l a s ve r b a i s , s i l e nc i o s a s o u s i mb ó l i c a s , e s t á ne c e s s a r i a me n t e v i nc ul a d a s à s c o nd i ç õ e s c o nt e xt u a i s d e s e u s p r o d u t o r e s . C o nd i ç õ e s c o n t e x t ua i s q ue e n vo l v e m a e v o l u ç ã o h i s t ó r i c a d a h u ma n i d a d e ; a s s i t ua ç õ e s e c o nô mi c a s e s o c i o c u l t u r a i s na s q u a i s o s e mi s s o r e s e s t ã o i n s e r i d o s , o a c e s s o a o s c ó d i go s l i n g uí s t i c o s , o g r a u d e c o mp e t ê n c i a p a r a s a b e r d e c o d i f i c á - l o o q ue r e s u l t a e m e xp r e s s õ e s ve r b a i s ( o u me n s a g e ns ) c a r r e g a d a s d e c o mp o ne n t e s c o g n i t i vo s , s ub j e t i vo s , a f e t i vo s , va l o r a t i vo s e h i s t o r i c a me nt e mu t á ve i s .

Tal excert o ajuda a ent ender al gum as das impli cações result antes das condições de subsist ênci a destes suj eitos, que acabam por expres sar at é mesm o o desenvol viment o psíqui co , desvel ando assim as bas es m at eri ais sobre as quais t anto os alunos como os adultos, s ujei tos da pesquis a, foram e est ão se cons titui ndo.

Embora al guns dos respons áveis t enham frequent ado a es cola e est ando na condi ção de al fabetizado, apresent aram difi cul dades para a com preens ão das pergunt as , m esm o aquel as com i nform ações explíci tas , necessit ando serem repetidas m ais de um a vez, iss o fi ca evident e na audi ção dos áudi os, sendo as ent revi stas foram gravadas. Quanto ao questionário, necessit aram que fos se feito o regist ro das res post as .

Martins (2016a, p. 1 574) assevera que:

P o r t a nt o , s e a l i n g ua g e m p o s s i b i l i t a a a b s t r a ç ã o d o o b j e t o s o b a fo r ma d e i d e i a , p o r me i o d o p e n s a me n t o , e s s a a b s t r a ç ã o c o nq u i s t a o b j e t i vi d a d e , o u p o r o ut r a , a e n vo l t ur a ma t e r i a l ne c e s s á r i a p a r a q ue a r e p r e s e n t a ç ã o c o nq u i s t e f i d e d i g n i d a d e e m r e l a ç ã o a o o b j e t o q u e r e p r e s e nt a , t o r na nd o - s e g u i a d a a ç ã o i n t e nc i o na l me n t e d i r i g i d a a d e t e r mi n a d o s fi n s c o ns c i e n t e s . A fi r ma d a a r a d i c a l i d a d e s o c i a l d o d e s e n vo l vi me nt o d o p e n s a me n t o , há q u e s e r e c o n he c e r q ue a s c o nd i ç õ e s c o n c r e t a s q u e r e s p a l d a m a r e l a ç ã o a t i v a s uj e i t o / o b j e t o , b e m c o mo o u ni ve r s o s i mb ó l i c o d i s p o n i b i l i z a d o à a p r o p r i a ç ã o p o r p a r t e d o s i nd i v í d uo s , r e p r e s e nt a m a s b a s e s , a s q ua i s o s s e r e s humano s co nq uistam a ―cap acid ade p ara p ensar ‖. Sendo uma c o nq u i s t a , o p e n s a me n t o a t e nd e a u m p e r c ur s o hi s t ó r i c o s o c i a l d e fo r ma ç ã o , d e p e nd e n t e , s o b r e t ud o , d a s c o nd i ç õ e s o b j e t i va s d e v i d a e d e e d uc a ç ã o .

Com a cit ação do t exto da autora, fi ca evident e que as condi ções de ensino, estudo, de es col arização oportunizadas ou não a est es i ndi víduos acabam por i nterferir na sua compreensão dos fat os, como também n a expressão dos s eus ans eios. Tais dinâm icas acabam por m ediar o processo educacional dos fi lhos, o que é comprovado at ravés da col et a de dados na ent revist as com os s ujeit os, pois nas questões sobre as condi ções de ensino e aprendiz agem dos s ujeit os at endidos na sal a de recursos e mes mo na s ala regul ar, percebe -s e que a responsável ainda confunde sobre qual o papel a s er desenvol vido pelos espaços frequent ados pel o aluno na es cola.

Na quest ão , “C omo o aluno pelo qual você é r espons ável foi encaminhado para a sala de recursos multifuncionais?”, nota-se que, na resposta, a ent revis tada s e m ost ra mui to confus a, as sim como no di a da ent revist a foi necess ári o reform ular a pergunt a vári as vezes para a sua m el h or com preens ão. Ainda as sim, a resposta foi el aborada de manei ra c aóti ca , passando a rel at ar outros m om entos da escol a, pes soas, acont ecim entos. Nes te contexto a respost a foi a s eguint e: ―Foi na m oça l á, só que eu não s ei o nom e del a. Que falo que i a, ti po ass im quando as professoras não vem sabe... daí ela ia ficar aqui meio ajudando lá‖.

Percebe-se que a respons ável acaba por confundir a s al a de recurs os com a s ubs t ituição da professora event ual; port ant o, não compreende ou não t em conheci ment o sobre o t rabal ho educativo real izado nest e espaço , ou, t al vez, não saiba da própri a existênci a dess e espaço na escola.

Out ra situação recorrent e , que contri bui para a não com preensão do t rabalho educati vo realiz ado , é o fat o dess as famíli as não resi direm próximos à es cola, s endo o acesso lim itado por cont a da di st ânci a ou mesmo pel o motivo das fam ílias t rabalharem no campo e o horário não s er favorável com o horári o da es col a. P or vez es, a m aiori a dest as famíli as trabalha como diarist a, t endo s eu ganho por di a de t r abalho e acabam por optar em supri r as necessidades bási cas ao ir à escol a para acom panhar a vida es col ar dos filhos.

Por cons equência , o trabalho para estes indiví duos torna a prim ei ra necessi dade vit al para atender e supri r as carênci as do dia a di a com o alim ent ar -se, vesti r-se, moradi a, saúde, ente outras condi ções (ANTUNES, 2016). A cotidi ani dade desses suj eit os, de modo geral, não

ultrapas sa os l imit es do que M arx e Engels (2007, p. 33) denomi na de prim ei ro at o hi stóri co:

M a s , p a r a vi v e r , p r e c i s a - s e , a nt e s d e t ud o , d e c o mi d a , b e b i d a , mo r a d i a , ve s t i me n t a e a l g u ma s c o i s a s ma i s . O p r i me i r o a t o hi s t ó r i c o é , p o i s , a p r o d uç ã o d o s me i o s p a r a a s a t i s f a ç ã o d e s s a s ne c e s s i d a d e s , a p r o d u ç ã o d a p r ó p r i a vi d a ma t e r i a l , e e s t e é , s e m d ú v i d a , u m a t o hi s t ó r i c o , u ma c o n d i ç ã o f u nd a me nt a l d e t o d a a hi s t ó r i a , q ue a i nd a ho j e , a s s i m c o mo há mi l ê ni o s , t e m d e s e r c u mp r i d a d i a r i a me n t e , a c a d a ho r a , s i mp l e s me nt e p a r a ma n t e r o s ho me n s vi vo s . M e s mo q ue o mu n d o s e ns í ve l , c o mo e m S ã o B r u no , s e j a r e d u z i d o a u m c a j a d o , a u m mí n i mo , e l e p r e s s up õ e a a t i vi d a d e d e p r o d uç ã o d e s s e c a j a d o . A p r i me i r a c o i s a a f a z e r e m q ua l q u e r c o n c e p ç ã o hi s t ó r i c a é , p o r t a nt o , o b s e r va r e s s e f a t o f u nd a me n t a l e m t o d a a s u a s i g ni f i c a ç ã o e e m t o d o o s e u a l c a n c e e a e l e fa z e r j u s t i ç a .

O que ilustra tal excerto são as fal as das famíl ias dos al unos identificados com o Franci sco, Alberto, Manoel , Hei tor e Antôni o quanto à parti cipação na vida es col ar dos filhos.

As ques tões abaixo express am as falas dos respons áveis em rel ação à Par tici pação na vida escolar do filho, sendo.

Na questão 1: Qual a contribui ção da sala de recursos multifuncionai s no process o de alfabet ização do aluno pelo qual você é respons ável?

―Não sei né, não conheço o trabalho né, não conheço o trabalho‖ (inform ação verbal - respons ável do aluno Fran cis co).

Nesta situação, verifica -s e que devido ao funci onam ento da sal a de recursos na es col a s er recent e e pelo motivo de t er ficado sem professora especi alist a por m ui to tem po, est as situações col aboram até mesm o para que os respons áveis não t enham conhe cim ent o dos obj eti vos e função dest e espaço A quest ão 2: Como é sua relação com a profes soras da s al a de aul a com um e da professora da sal a de recursos mul tifuncionais ?

―Não, não tenho, não conheço né, tenho que ir lá qualquer hora né. O horário que eu pos so s ai r é às quatro né, não sei s e el es est ão mais ‖ (inform ação verbal - responsável do aluno Francisco).

S a l a c o mu m: E nt ã o c o m o e u fa l e i p r a vo c ê , nó s t á s e m c a r r o , i g ua l na r e u n i ã o e u q ue r i a t e r i d o , nã o d e u p r a mi m i r , a go r a ma r q ue i c o m e l a , p r a ve r s e s e g u n d a - f e i r a e u t ô i nd o l á , p r a mi m p e gá e c o n v e r s a r c o m e l a . É b e m d i f í c i l e u t á i nd o n a e s c o l a , v i u p o r q ue e s s e s t e mp o e u f u i c o m e l e , e u p a s s e i mu i t o me d o no me i o d o

c a mi n ho , p o r q ue é mu i t o l o n ge d a q u i a t é l á d e a p é , s a í d a q ui d a E s t r e l a99, d á q ua s e u ma h o r a d e c a mi n h a d a , e nt ã o d a í f i c a d i f í c i l d e e u i r . E nt ã o , e u a t é p e d i o t e l e fo n e d e l a e e l a nã o p a s s o u o t e l e fo n e d e l a , p r a e u t á e nt r a nd o e m c o n t a t o c o m e l a , i g ua l d a s me n i na s e u t e n ho o gr up o n é , d a s m e n i na s e u t e n ho c o nt a t o , q u a nd o e u f a l t o na r e u n i ã o a p r o fe s s o r a p a s s a p r a mi m p e l o c e l ul a r t ud o o q ue fo i c o n v e r s a d o . A l g u ma c o i s a a c o nt e c e c o m a s me ni n a s , e l a c o n v e r s a c o mi go p e l o c e l ul a r . I g u a l d a ma t r í c u l a , e u f u i f a z e a ma t r í c u l a d e l e q ue e u c o n ve r s e i c o m e l a , e n t e nd e u? Q ue e l a f a l o u d a s d i fi c u l d a d e s d e l e , p o r q u e q ue e l e t á f a l t a nd o no r e fo r ç o , q ua nd o e l e f a l t o u, p o r q ue a p r i me i r a c o i s a q ue e u fa l e i p r a vo c ê q ua nd o c ho v e e u nã o ma nd o , p o r q ue e u t e n ho me d o s i m d a í q u a nd o t á mu i t o b a r r o a l g u ma c o i s a a s s i m d a í nã o d á p r a mi m l e vá e l e p r a e s c o l a . P r o fe s s o r a s a l a d e r e c ur s o s : N ã o , e s s a e u n u nc a vi , n u nc a vi , e l a nã o . ( i n fo r ma ç ã o ve r b a l – r e s p o n s á ve l d o a l u no A l b e r t o ) . N ã o t e n ho , e u nã o vo u ne m n a s r e u n i ã o q ua s e . A h , s ã o mu i t o r ui m, e u f a l e i q ue e nq u a nt o nã o i nd e r e i t a , n ã o fa z ê a s c o i s a d i r e i t o e u nã o vô . ( Q u e m q u e é mu i t o r u i m? – p e s q u i s a d o r a ) . O s d o i s , d a í e u f i c o a s s i m s a b e , e u p o n ho me d o n e l e s p a vê s e e l e s né , p a r a d e b r i ga r c o mi g o , p o r q u e ve m d e mu r r o p r a c i ma d e mi m o p e q u e ni n i n ho t a mb é m. D a í e u n u m go s t o , r a i a c o m e l e é me s ma c o i s a d e na d a , r e me d a t ud o o q ue a g e nt e f a l a , s a b e . P o r c a u s a d i s s o a í , e u vo u d a r u m c a s t i go p r a e l e e nt ã o , t a mb é m d e n u m í né , ma s u ma ho r a e u vo u c o n v e r s a r c o m a s p r o fe s s o r a . ( i n f o r ma ç ã o ve r b a l – r e s p o n s á v e l d o a l u no M a no e l ) M a s a s e n h o r a n ã o a c r e d i t a q u e p a r t i c i p a n d o d a s r e u n i õ e s e l e s v ã o v e r q u e a s e n h o r a e s t á i n t e r e s s a d a e e l e s i r ã o mu d a r o c o mp o r t a me n t o t a mb é m? - p e s q u i s a d o r a A h , me u d i f í c i l v i u, é d i fí c i l , p o r q ue o ma i s ve l ho é ma i s r u i m d e na t ur e z a a i nd a , i g no r a n t e e q ue e l e , o p e q ue no é r ui m t a mb é m nã o é fá c i l d e l i d a r c o m e l e , l i d a r c o m e l e t a mb é m. T ud o a s c o i s a q ue v a i fa l a p r a e l e o u p e r g u nt a o u à s ve i z p e r g u n t a s e e l e q ue r c u mi d a o u u ma c o i s a o u o ut r a q ue fa l a q ue p õ e c o mi d a e l e x i n ga s a b e , fi c a d i fí c i l c o n ve r s a r t e m h o r a , t e m ho r a q u e e u p r e f i r o fi c a r q ue t i n ho s e m f a l a r na d a mu i t a s v e i z i , i n t é ma n d a fa z e a l g u ma c o i s i n ha a s s i m n u m é e xp l o r a ç ã o né , p o r q ue t e m q u e a p r e nd e r t a mb é m, t e m q ue a r r u ma r u ma c a ma n é , m a i s nã o t e m n a d a , ne n h u m d o s d o i s nã o t e m i n t e r e s s e p a n a d a . ( i n fo r ma ç ã o ve r b a l – r e s p o n s á ve l d o a l u no