2.4.6 Atos Concretos
AMÁLISE PKESCMITIVA DA PESQUISA DE CAMPO
Passamos à fase pré-terminal deste trabalho. Buscare
mos, pela incursão valorativa de certos aspectos e dados da
pesquisa dç campo, aclarar a geometria do diagnóstico da Função Social do Ministério Publico/SC, e das perspectivas a seu res - peito projetadas na fala dos entrevistados.
Ressaltamos que, ao usarmos a expressão "Função So ciai do Ministério Publico/SC", designamos uma situação parti - cular: o papel que essa instituição jurídico-administrativa do
Estado de Santa Catarina deve exercer, no cumprimento de suas
atribuições, junto à Sociedade que é vista como titular do di - reito público subjetivo de exigir das agências estatais um fun cionamento consentâneo com a concepção de interesses sociais e de Bem-Comum que ela define, dimensiona, prioriza.
Esse pressuposto geral considera:
- que o Ministério PÚblico/SC, uma das divisões dos
serviços estatais coordenados, deve estar inserido no contexto ideológico-político do Estado-instrumento anteriormente pré-fi- gurado;
- sua estrutura e suas ações devem, portanto, refle - tir desdobramentos dessa nova articulação entre o poder etático
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- que o Bem-Comum, esboçado como um património soei - a l , corresponde a um conjunto de elementos do bem-estar coleti
vo. Estes elementos existem ou decorrem da dinâmica social na
qual o Estado deve atuar sob o governo do princípio da legiti - m i d a d e ;
- que, para se viabilizar o trajeto "Ida e volta" en tre "Teoria e Práxis" no concernente à Função Social, é impera tivo que o Ministério PÚblico/SC situe a Justiça Social num dos pontos privilegiados do seu quadro de atenção.
Nos capítulos anteriores tivemos a intenção de captar
informes que propiciassem o esboço do Ministério Publico de
Santa Catarina nos planos da teoria e da confomiação jurídica ,
considerados como momentos pré-práxis da Instituição.
Nesse sentido, vimos que desde os seus primórdios ,
com o advento do Dec. n. 104/91, de 19.08.1891 até o Dec. n.20. 731, de 06.,12.1983 (criação do DECOM) , o Ministério P Ú b l i c o / S C
foi concebido ambiguamente, na medida em que direcionado para
atuações que pressuponham intencionalidades divergentes,não ra ro contraditórias.
Eis como, resumidamente e sem rigor matemático, re tratamos essa evolução:
Numa I a fase, que denominamos remota, cujos marcos
fundamentais são o Dec. 104/91 e a lei n. 634/52 ( que previu
lei própria para o MP/SC), vemos predominar a dualidade: Defesa do Esatdo/Defesa do interesse público (social, coletivo).
Numa 2 a fase, que chamamos de moderna, situada entre a Lei n.634/52 e a Lei n.4.557/71 (Terceira Lei Orgânica do Mi nistério PÚblico/SC), percebemos a Instituição transformar - se
num ser de três faces: Defesa do Estado (Governo)/Defesa dos
Interesses Públicos (sociais, coletivos/Defesa da Legalidade. A
rigor talvez não se possa falar que houve acréscimo de uma
terceira face, mas apenas a afirmação/autonomização de uma ren- dência pré-existente, porém diluída na Defesa do Estado, presu mindo-se este como o criador e o mantenedor de uma Ordem Social
(justa) através do Direito (justo).
Entendemos que nessa fase se manifesta o instante mais crítico do "dilema ético-jurídico" da Instituição, sua trilate-
ralidade: ao lado do Governo/ao lado da Sociedade/ao lado da
lei em si.
Numa 3- fase, que intitulamos "contemporânea", vivida a partir da Lei Complementar estadual n . 17/82, (Quarta Lei Or - gânica do Ministério PÚblico/SC), a Instituição retorna à duia - Xidade, porém com caráter diferente da dualidade da fase remo - ta. Agora se dá a desincorporação legal do Defensor do Governo. A nova concepção jurídico-legal sintetiza a seguinte ambivalên cia: Defensor da Ordem Jurídica/Defensor dos Interesses indis - poníveis da Sociedade.
A essa altura ganha corpo uma indagação fundamental : Considerando que o objeto de nosso estudo, em última instância, é a atualidade do Ministério PÚblico/SC ... Como se dá, na prática, a passagem da 2^ para a 3 â fase?
Esse tipo de inspeção importa em múltiplas perquiri - ções. Vejamos algumas delas:
- Qual a concepção que os membros do Ministério PÚ blico/SC têm, hoje, sobre a Função Social da Instituição a que pertencem?
- Que diretrizes vêem vivenciadas no dia a dia de sua atividade funcional?
- Haveria concordância entre o que os membros do Mi - nistério PÚblico/SC percebem como ordem de compromissos atuais da Instituição e o que eles pretendem seja a ordem mais adequa da?
- Quais as tendências dominantes, acerca dos compro - missos gerais da Instituição, que atualmente integram o ideário dos membros do Ministério PÚblico/SC?
- Como os membros do Ministério PÚblico/SC vêem a So ciedade Catarinense avaliar a importância social da Institui ção?
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- De que forma estão os membros do Ministério PÚbli - co/SÇ, avaliando a importância de sua atividade funcional para a Sociedade Catarinense?
- 0 que pensam os membros do Ministério Publico quan
do refletem sobre a eficácia de sua atuação no atendimento de
situações, na defesa de direitos e interesses que refletem no - vas demandas sociais (ex. proteção ao consumidor, do meio ambi
ente, etc)?
- Qual a percepção que os membros do Ministério PÚ -
blico/SC têm quanto às relações dessa Instituição com esferas
vitais do poder público, como o Poder Executivo, o Poder Judi - ciário e o Poder Legislativo?
- Que fatores internos ou externos à Instituição os
membros do Ministério PÚblico/SC reconhecem como favoráveis ou desfavoráveis à visualização da Função Social?
- Quais as perspectivas que os membros do Ministério PÚblico/SC visualizam para o futuro da Função Social da Insti - tuição que integram?
No âmbito de uma proposta que não tem meta pré-orde -
nada, tentaremos aprofundar esses questionamentos através do
seguinte itinerário: Consideraremos os componentes da estrutura lógica da Função Social (Vide item 3, do Capítulo II), desta cando as "Diretrizes", o "Dever de A g i r " , o "Agir" e os "Atos Concretos", em interação com as "Mormas", o "planejamento do Agir" e o "Feed-Back".
1 . '1 — Diretrizes
Do ponto de vista doutrinário, vimos, especialmente , no item 4.6. "Despertando para o Social", que a fase contempo - rânea do Ministério PÚblico/SC pode ser encarada como a culmi - nância de um processo de reflexão "interna-corporis" que vinha se intensificando desde a década de 70.
Na fase inicial desse processo se destaca o trabalho 151
de Walmor Cardoso da Silva , que alinhavou conclusoes como
ess a s :
- 0 Ministério Publico, como órgão do Estado,não é representante do Poder Executivo;
- A defesa da Fazenda Publica deve ficar a cargo de órgão próprio, este sim, vinculado à orien tação Governamental.
Em 1982 e 1983 a II Conferência Nacional dos Procura
dores - Gerais de Justiça/III Encontro Estadual do Ministério
Publico/SC., e o XXIV Encontro Estadual do Ministério Publico / SC., respectivamente, transformaram-se em foruns de debates de
temas que orbitaram em torno da Dimensão Social do Ministério
Publico e o Ministério Publico como Instrumento de Defesa So cial.-
Em 1986, fato que só agora registramos, o Ministério
Publico de Santa Catarina se fez representar nas plenárias do
VI Congresso Nacional do Ministério Público, realizado na cida de de São Paulo, entre 26 a 29 de junho, por três de seus mem -
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bros,cujos trabalhos , aprovados, tratavam de questões inti -
mamente relacionadas com a Defesa dos Direitos indisponíveis da Sociedade.
Recentemente, agora no VII Congresso Nacional do Mi - nistério Público, ocorrido em Belo Horizonte, o Ministério PÚ -
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blico Catarinense voltou a participar , novamente focalizando
matérias relacionadas com essas preocupações.
151. SILVA, Walmor Cardoso da. Ministério Publico. Sua po -
sição entre os poderes do Estado e sua atuação como fiscal da
lei e representante d a Fazenda Publica. Aspectos de sua Lei Or gânica. Dissertação. Curso de Pós-Graduação em Direito,da U F S C .
152. ALVES LIMA, Miguel Moacyr. A ação de reparação de dano
decorrente de delito e o Ministério Público. Justitia, São Pau lo, 47 (131-A):79-92. ALBERTON, José G alvani. 0 Ministério PÚ -
blico e os abusos do Poder Administrativo. Justitia, São Paulo, 47 (131-A) : 113-123. REAL, Adalberto Villa. Ministério Público e os abusos do poder e - conomico.Justitia, são Paulo, 47(131-A): 132-135.
153. Referimo-nos aos trabalhos "Dualidade de Jurisdição.Li mitações Constitucionais e o Ministério Publico;e;O Ministério
Publico e a Iniciativa irtea na Constituição de 1987, das Promotores
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Finalizando este registro , mencionamos que o Promo
tor de Justiça Raulino Jacó Brünning acaba de defender com su -
cesso perante o Curso de Pós-Graduação em Direito da Uni
versidade Federal de Santa Catarina, a Dissertação "0 Controle dos Atos Administrativos pelo Ministério Público'.'
No aspecto eonnmativo, reportamo-nos à Quarta Lei 0r - gânica do Ministério Publico (Lei Complementar estadual n. 17/ 87, que ressalta estar a Instituição doravante vinculada à De - fesa da Ordem Jurídica (Constituição e leis vigentes) e à Defe sa dos interesses indisponíveis da Sociedade. Ha uma única hi - pótese de defesa de interesses do Estado: é quando a lei prevê, por força do disposto no § 2 5 , do art.95, da Constituição Fede ral que os membros do Ministério Público estadual ainda poderão no interior, ser chamados a representar os intereses da União.
Ainda cabe mencionar, o D e c . n. 20.731/83, criando o Serviço Especial de Defesa Comunitária - DECOM no âmbito do Mi
nistério Público, modelo inédito no Brasil.
Vejamos agora como os membros do Ministério Público
de Santa Catarina, na pesquisa de campo, encararam esse compo - nente da Função Social.
Conforme se observa no item 2.4.2, do "Relatório da
Pesquisa de Campo", quanto às Políticas institucionais, foram
destacados as seguintes opções:
- A defesa dos interesses difusos; - A catalização dos anseios sociais; - A integração na Comunidade;
- A reposição do equilíbrio social; - A ação educativa;
- Mais executoriedade na ação do Ministério Público. Significativa parcela dos entrevistados não apenas a- valisaram, mas até superaram o direito posto.
Atendidos os contornos propostos, o Ministério Públi co de Santa Catarina estaria transformado num organismo da ati
aça© preventiva, rejeitando, com isso, a imagem do "repressor " por excelência.
Resguardando os espaços já ocupados, o Ministério Pu blico Catarinense investiria em novas frentes, como a do con trole dos atos governamentais de natureza administrativa ou ju- rídico-administrativa, seja atuando junto aos Tribunais de Con
ta, seja obtendo a legitimação para agir na Ação Popular, seja
cuidando de aspectos como a Defesa do contribuinte ante os abu sos da Fazenda Publica, etc..
Ademais, se dotado de maior capacidade executórla ,
libertado dos rigores da atividade requerente, a Instituição ,
lembram os registros da coleta de dados, poderia funcionar com mais eficácia na órbita da defesa social.
Registramos que "de lege lata", já alguns avanços nes
se sentido: É o caso das atribuições previstas no art.15, da
Lei Complementar federal n. 40/81, e no art. 30 da Lei Comple - mentar estadual n. 17/82, e no art. 8 9 , § l 9 , da Lei n.7.347/85
(que disciplina a Ação Civil Publica).
Observaríamos que essa tendência de enfatizar a exe - cutoriedade das ações do Ministério Publico integra um momento que pensadores do Ministério Publico, como é o caso de Ferreira focalizam com cuidado especial. Segundo esse autor, se o Minis
tério Publico pretende se constituirem verdadeira instituição
promovente de Justiça e representante da Sociedade, não pode e- xercer um papel passivo:
"... tem de buscar, por seus próprios meios, os
dados necessários a sua plena atuação, seja no campo penal, seja no campo cível1.1 154
154. FERREIRA, Sergio de Andréa. O poder de requisição do
Ministério Publico. "IN" Ministério Público, Direito e Socieda de. Porto Alegre, Sérgio Antonio Fabris Editor, 1986, p . 147.
148
1..2 — Bever—de—Agir
Utilizamo-nos dessa expressão para designar o compro misso dinâmico e contingente do Estado para com a Sociedade. No caso do Ministério Publico, deve traduzir o engajamento da Ins
tituição, enquanto realiza suas atribuições, na representação
das vontades sociais manifestadas através da intenção de defen der novos posicionamentos, ainda que contra posições instituí - d a s .
Pensar o Dever-de-Agir pressupõe testar as opções que o Ministério Publico adota na hora em que passa da ação abstra ta para a ação concretamente considerada.
Tanto no campo doutrinário quanto na esfera normati - va, o Dever-de-Agir do Ministério Publico de Santa Catarina es tá imbuído dos mais alviçareiros conteúdos. Em suma, o Ministé rio Publico teria assumido seus vínculos com a Sociedade Civil, pensando e agindo sem subalternidades frente ao Poder Político
sedimentado no Poder etático.
No plano da pesquisa de campo o teste se deu nas per guntas ns. 2, 3 e 4.
Na pergunta n.2, que pretendeu colher dos entrevista dos a sua percepção quanto aos compromissos atuais do Ministé - rio Público Catarinense, essa foi a ordem final dos resultados:
l g ) Ordem Juridica 2 5) Ordem Social
3°)
Aperfeiçoamento Institucional4 Q) Ordem Político-Administrativa.
A pergunta n.3, que traduz um posicionamento dos en - trevistados sobre o quadro que desenharam ao responder a per gunta n.2, esclarece que 55% manifestaram sua discordância, is to é, não aceitaram tal quadro como a situação desejável.
A tabulação das respostas desse grupo, que passamos a denominar "inconformados", à pergunta n.2, redundou no seguinte enquadramento das alternativas propostas: