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6 O AGRONEGÓCIO DO LEITE NO BRASIL E NO RIO GRANDE DO SUL

6.5 AMBIENTE COMPETITIVO

Apesar da pecuária leiteira espalhar-se por todo o território nacional, as áreas de maior concentração da produção de leite localizam-se nos estados de Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Santa Catarina (ZOCCAL e GOMES, 2005). Percebe-se

que a maior produção concentra-se nas regiões Sudeste, Sul e Centro Oeste (PAULA, CASTRO e MOTA, 2005). Finamore e Montoya (2005) mostram que Minas Gerais é o maior produtor de leite (Quadro 07), respondendo por 28,5% da produção nacional, seguido por Goiás (11,5%) e Rio Grande do Sul (10,8%).

Ranking Estados Produção de Leite

(milhões de litros) Produtividade (Litros/vaca) Produtividade (litros/hab.) 1º Minas Gerais 6.177 1.351 328 2º Goiás 2.483 1.120 439

Rio Grande do Sul 2.330 1.964 206

4º Paraná 1.985 1.672 188 5º São Paulo 1.748 1.018 50 6º Santa Catarina 1.193 1.950 187 7º Bahia 752 496 55 8º Rondônia 644 978 306 9º Pará 577 582 61

10º Mato Grosso do Sul 472 987 33

11º Mato Grosso 467 1.072 206 12º Rio de Janeiro 447 1.150 169 13º Pernambuco 392 1.036 122 14º Espírito Santo 375 1.108 45 15º Ceará 341 768 45 16º Alagoas 224 1.376 77 17º Maranhão 195 528 135 18º Tocantins 186 463 27

19º Rio Grande do Norte 158 829 52

20º Paraíba 117 659 65 21º Sergipe 112 856 31 22º Acre 104 824 73 23º Piauí 75 381 27 24º Amazonas 40 550 13 25º Distrito Federal 37 1.355 18 26º Roraima 8.409 31 31 27º Amapá 3.556 8 8 T O T A L 21.644 13.206 116

Quadro 07 - Ranking da Produção Anual de Leite por Estado no Brasil – 2002 Fonte: Finamore e Montoya (2005, p. 3).

Para Loures e Leite (2005), mesmo com as novas tecnologias de embalagens longa vida, o mercado nacional de leite ainda é bastante regionalizado. Existe no Brasil um grande número de pequenos produtores de leite, constituindo-se a maioria, mas que no conjunto representam apenas 10% da produção nacional (SOUZA FILHO e PAULILLO, 2005). Assim, convivem neste mercado, produtores especializados e não especializados, estes últimos com uma maior expressividade no mercado informal de leite no Brasil (PAULA, CASTRO e MOTA, 2005). Farina et al (2001), por exemplo, afirmam que a informalidade no mercado do leite pode ser estimada em aproximadamente 30%. Segundo Bankuti, Schiavi e Souza Filho (2005) e Paula, Castro e Mota (2005), os especialistas do setor estimam que o mercado informal representa em torno de 35% do leite produzido no país, o que causaria um desequilíbrio nas condições de concorrência (PAULA, CASTRO e MOTA, 2005). De acordo com Souza Filho e Paulillo (2005), existem consideráveis barreiras entre o mercado formal e

o informal. Os produtores do mercado informal enfrentam fortes restrições para transpor estas barreiras, as quais consistem em escala de produção, padrões tecnológicos e de qualidade, além do próprio nível educacional dos produtores.

Os produtores não especializados, conforme observam Paula, Castro e Mota (2005), são os principais responsáveis pela formação de excedentes de leite de baixa qualidade. Estes produtores teriam dificuldades de sobrevivência em um mercado mais exigente por qualidade e estabilidade da produção (PAULA, CASTRO e MOTA, 2005). Entre os produtores, os diferenciais competitivos consistem no uso de tecnologias como raças específicas, ordenhadeiras e tanques de resfriamento (SOUZA, TONON e PEREIRA, 2005). Já na indústria processadora, Souza, Tonon e Pereira (2005) destacam que os padrões concorrenciais consistem na observância de critérios mínimos de higiene e pasteurização entre as empresas de menor porte e na adoção do sistema de processamento UHT entre as maiores.

Em um contexto amplo, é possível afirmar que entre os produtores prevalece uma estrutura de mercado concorrencial e na indústria esta estrutura se mostra oligopolizada (GOMES, BAPTISTA e WENDLING, 2005). Martins (2004) complementa esta afirmação destacando a inexistência de barreiras à entrada no setor primário e elevado grau de homogeneidade do produto e de outro lado, os elos anteriores e posteriores às propriedades rurais são altamente concentrados e organizados sob a forma de oligopsônios ou monopsônios regionais. Estas distorções acabam impondo sérias perdas para o segmento da produção primária (MARTINS, 2004).

Martins (2000) argumenta que o mercado interno experimentou um processo de concentração das empresas de laticínios e a entrada de empresas multinacionais. Em paralelo, ocorreu o aumento da participação relativa do leite UHT no mercado nacional de leite fluído durante a década de 1990. Sobre este aspecto Souza Filho e Paulillo (2005) salientam que antes da introdução desta inovação, o mercado brasileiro de leite era fortemente regionalizado, no qual apenas algumas poucas empresas competiam localmente. Após a introdução do leite UHT, as empresas passaram a ter a capacidade de competir em qualquer mercado, fazendo frente, principalmente, às cooperativas de produtores que abasteciam estes mercados com leite pasteurizado (SOUZA FILHO e PAULILLO, 2005). Paula, Castro e Mota (2005), também reforçam que esta tendência de concentração industrial tem se traduzido em dificuldades para os produtores de tamanho médio e para as cooperativas, as quais passaram a operar com capacidade ociosa e outras se tornaram economicamente inviáveis (SOUZA FILHO e PAULILLO, 2005).

Muitas cooperativas fecharam ou foram adquiridas por empresas multinacionais e o número de produtores no mercado formal diminuiu sensivelmente (MARASCHIN e WAQUIL, 2005). Como pode ser observado no Quadro 08, entre as maiores empresas do setor lácteo em operação no Brasil, segundo dados de 2001, 2002 e 2003, figuram Nestlé, Parmalat, Itambé, Elegê, Paulista, Batávia, Vigor, Líder, Centroleite, Morrinhos, Fleischmann e Danone.

Também é uma característica marcante do ambiente competitivo do SAG do leite no Brasil, segundo Martins (2000), o alto poder de barganha das grandes redes de distribuição em relação à indústria de processamento. Entre estes elos, existe uma relação de não- cooperação.

Em síntese, como mostram Freitas et al (2005), o fim da regulamentação de preços, a abertura comercial, a nova legislação sanitária, a tecnologia do leite UHT e a entrada de multinacionais no setor determinaram novos rumos à atividade leiteira no Brasil e, conseqüentemente, houve exclusão de produtores menos eficientes. Santos e Barros (2005) também mostram que a abertura econômica e a formação do Mercosul elevaram o nível de competição com a entrada de empresas de grande porte no mercado e com as importações de leite e derivados. Argumentam, ainda, que a possibilidade de importações representa o estabelecimento de um limite superior para os preços do leite brasileiro. Do lado das importações cabe destacar que o crescimento da renda e o câmbio favorável, a partir da segunda metade da década de 1990, representaram um forte estímulo às importações de leite e derivados (SANTOS e BARROS, 2005).

Frente ao resto do Mundo, o SAG brasileiro do leite é competitivo em relação aos custos de produção, em virtude da produção empregar a alimentação a pasto (LOURES e LEITE, 2005). Stock et al (2005) reafirmam a posição de baixo custo de produção da pecuária leiteira no Brasil e acrescentam que o SAG do leite possui um grande potencial que pode ser estendido por meio do aperfeiçoamento tecnológico. Na visão de Gomes e Ponchio (2005), alavancar as exportações brasileiras de lácteos é um caminho a ser trilhado, pois em suas estimativas, o setor caminha para um excesso de produção que não tem condição de ser absorvido pelo mercado interno. Atualmente, as exportações brasileiras correspondem a apenas 1,8% da produção nacional e estão compostas, principalmente, por leite condensado, leite em pó e queijos (LOURES e LEITE, 2005).

Recepção Anual de Leite (mil

litros)(2) Número de Produtores(3) Produção Média Diária (litros/dia/produtor)

Class (1) Empresas / Marcas 2001 2002(4) 2003(4) 2001 2002 2003 2001 2002 2003 1 DPA (5) 1.425.628 1.489.029 1.500.179 8.536 7.192 7.163 458 567 574 2 PARMALAT (6) 941.490 947.832 840.000 15.300 12.605 10.350 169 206 222 3 ITAMBÉ 832.000 732.000 750.000 7.990 6.010 5.991 285 334 343 4 ELEGÊ 782.141 711.335 671.780 31.282 28.665 27.676 69 68 67 5 CCL 367.213 268.385 309.540 8.191 4.512 6.402 123 163 132 6 CENTROLEITE 220.533 213.503 261.230 4.725 4.905 5.438 128 119 132 7 LEITE NILZA 139.937 182.568 241.217 2.384 3.031 3.671 161 165 180 8 BATÁVIA 225.659 165.276 232.311 6.820 6.529 5.111 91 69 125 9 SUDCOOP 209.070 230.952 226.016 6.333 6.993 6.734 90 90 92 10 DANONE 247.487 272.236 225.033 2.452 2.470 1.274 277 302 484 11 EMBARÉ 180.081 192.378 218.687 3.203 2.884 4.413 154 183 136 12 LATICÍNIOS MORRINHOS 207.031 210.572 191.782 7.299 4.990 3.128 78 116 168 13 GRUPO VIGOR 209.743 154.158 153.145 2.039 1.525 1.413 282 277 297 14 LÍDER ALIMENTOS 220.000 163.766 129.177 7.035 2.807 2.634 86 160 134 15 CONFEPAR 102.664 109.239 115.834 2.771 3.743 5.256 102 80 60 T O T A L 6.310.677 5.958.229 6.031.070 116.360 98.861 96.654 149 165 171 Notas:

1 - Classificação base recepção no ano 2003 2 - Não inclui compra de terceiros 3 - Posição em 31 de dezembro

4 - O total não inclui leite recebido pela DANONE da CCL devido a duplicidade 5- Números referentes a compra de leite realizada pela DPA Manufacturing Brasil e

nome de Nestlé, da Fonterra, da DPA Brasil e da Itas 6- Estimativa para o ano de 2003

Quadro 08 - Maiores Empresas de Laticínios no Brasil - 2003. Fonte: Leite Brasil (2006).

Sobre as características do consumo de leite e derivados, conforme Santos et al (2005), esta é determinada por diversos fatores, dentre os quais a renda coloca-se como um dos principais. De acordo com Santos et al (2005) e Zoccal e Gomes (2005), a estabilidade econômica promovida pelo Plano Real proporcionou uma elevação do poder aquisitivo dos brasileiros e isto promoveu um aumento do consumo de leite, estabilizando-se, a partir de 1998, em torno de 130 litros por habitante por ano. No entanto, este padrão de consumo ainda é inferior ao que a Organização Mundial da Saúde – OMS estabelece como ideal, ou seja, 200 litros/habitante/ano (SANTOS et al, 2005; LOURES e LEITE, 2005).

Para os consumidores o preço é um fator determinante da decisão de consumo do leite (LIMA et al, 2005), produto necessário e bom para a saúde das pessoas de todas as idades (CARVALHO, SANTOS e CARVALHO, 2005). Ainda sob a perspectiva do consumidor, a qualidade do leite está associada a variáveis estéticas (aparência, sabor, cheiro) e a outros atributos de ordem objetiva, como limpeza, nível de gordura, presença de proteínas, vitaminas e cálcio (CARVALHO et al, 2005b; CARVALHO, SANTOS e CARVALHO, 2005). Igualmente importantes para os consumidores são os indicativos do nível de segurança

alimentar do produto leite. Para Carvalho et al (2005b) e Carvalho, Santos e Carvalho (2005), isto envolve percepções subjetivas acerca da idoneidade da empresa processadora e sanidade do rebanho.

Souza, Tonon e Pereira (2005) também concordam que o preço do produto final é uma das principais variáveis que interferem no mercado lácteo brasileiro, mas acrescenta que a praticidade das embalagens e a credibilidade da marca são elementos considerados importantes por parte dos consumidores e que critérios mais específicos sobre a qualidade intrínseca dos produtos são mais valorizados pelas classes de consumidores com maior poder aquisitivo. Neste sentido, pode-se observar a redução da parcela de mercado para o leite Tipo C (MARTINS, 2000).

Por fim, uma boa perspectiva geral sobre as transformações no ambiente competitivo que tiveram lugar no SAG do leite no Brasil é oferecida por Gomes et al (2002). No segmento da produção ocorreu uma redução do número de produtores e elevação dos níveis de produtividade dos rebanhos. Na indústria, houve um aumento da concorrência na captação de leite e também a na colocação dos produtos que se diversificaram. Além disso, Martins (2000) acrescenta que há uma participação expressiva de grandes multinacionais no mercado brasileiro do leite. No segmento da distribuição, complementam Gomes et al (2002), observa- se a crescente participação dos hiper e supermercados na comercialização do leite e derivados. E, na esfera do consumo, observa-se um incremento significativo na demanda por produtos derivados do leite e uma mudança na postura do consumidor no sentido de uma maior exigência em termos de qualidade.

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