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DIMENSÃO E ESPECIFICIDADES DA ATIVIDADE LEITEIRA NO RIO

6 O AGRONEGÓCIO DO LEITE NO BRASIL E NO RIO GRANDE DO SUL

6.8 DIMENSÃO E ESPECIFICIDADES DA ATIVIDADE LEITEIRA NO RIO

Uma das principais características da produção de leite no Rio Grande do Sul, segundo Maraschin (2004), é a sua atomização, ou seja, a existência de um grande número de pequenos produtores de leite (70% do total) cujo volume diário não ultrapassa os 50 litros, mas que correspondem, no seu conjunto, a 30% do volume de leite produzido no estado.

A produção gaúcha de leite é tipicamente uma atividade de pequenas propriedades rurais. De acordo com Pedroso (2001), a maioria dos estabelecimentos produtores de leite no Rio Grande do Sul está concentrada em propriedades com área inferior a 50 hectares, as quais representam 58% do total de estabelecimentos. De acordo com Krug (2001), as unidades típicas de produção de leite no Rio Grande do Sul destinam, em média, 35% de sua área para a atividade leiteira, a qual representa em torno de 43% da renda bruta total da unidade de produção. Ainda segundo Pedroso (2001), nestas propriedades a atividade leiteira desempenha um importante papel econômico e social. Produção esta que emprega mão-de- obra familiar e que representa uma fonte de constante ingresso de renda monetária para os agricultores. Além disso, Bertollo (2002) informa que no SAG do leite no Rio Grande do Sul estão envolvidas aproximadamente 733 mil pessoas, o equivalente a 9% da população gaúcha. Pedroso (2001) considera que houve uma realocação da atividade leiteira entre as micro-regiões do estado, principalmente, segundo ele, pela incorporação da tecnologia de embalagem UHT que viabilizou a produção de leite em regiões mais afastadas da Grande Porto Alegre. Além disso, destaca que existem significativos diferenciais de produtividade entre as micro-regiões produtoras de leite. Pedroso (2001) explica esta situação pela diferença no padrão tecnológico adotado pelos produtores de cada micro-região. Neste sentido, este autor argumenta que o aumento da produção de leite no Rio Grande do Sul deriva de ganhos de produtividade alcançados pela especialização dos produtores e dos rebanhos, assim como pela utilização da ordenha mecânica e de resfriadores para a coleta a granel do leite.

Conforme Santana (2003), a atividade leiteira no Rio Grande do Sul é encontrada em todas as regiões, no entanto, a região Noroeste do estado concentra cerca de 68% dos produtores gaúchos de leite. Finamore e Montoya (2005) mostram a concentração espacial da produção de leite no Rio Grande do Sul (Quadro 07), também destacando a meso-região Noroeste do Rio Grande do Sul, a qual foi responsável por 57,2% do leite produzido no estado em 2002. Em especial, destacam a micro-região de Passo Fundo como a que concentra a maior produção de leite.

De acordo com Finamore e Montoya (2005), embora o Rio Grande do Sul seja o terceiro estado brasileiro em termos de volume de produção de leite, coloca-se como primeiro em produtividade, obtendo 1.964 littros/vaca/ano (Figura 53) e neste sentido pode-se afirmar que os produtores gaúchos são os mais eficientes do país. Além disso, produção de leite no Rio Grande do Sul tem apresentado um crescimento constante desde 1991 (Quadro 12), o qual esteve acompanhado de incrementos na eficiência produtiva. Percebe-se que entre 1991 e 1996 houve um salto em termos de produtividade, representando um incremento de 41%. Já em termos de eficiência custo, Santana (2003) fala que o leite produzido no Rio Grande do Sul apresenta um custo de produção inferior à média brasileira, porém é mais alto do que a média dos custos que incorrem os produtores de leite dos seus visinhos do Mercosul.

Produção de Leite (milhões litros) Produtividade (litros/Vaca) Mesorregião Geográfica 1991 1996 2001 2002 1991 1996 2001 2002 Noroeste Rio-Grandense 647 1.011 1.293 1.332 1.394 1.971 2.120 2.205 Nordeste Rio-Grandense 199 197 233 292 1.234 1.653 1.372 1.845

Centro Ocidental Rio-Grandense 67 73 93 95 945 1.219 1.220 1.222

Centro Oriental Rio-Grandense 164 206 201 205 1.255 1.848 1.814 1.864

Metropolitana de Porto Alegre 213 165 169 165 1.316 1.784 1.896 1.942

Sudoeste Rio-Grandense 91 86 96 99 925 1.475 1.521 1.574

Sudeste Rio-Grandense 109 124 138 142 1.077 1.604 1.606 1.603

Rio Grande do Sul 1.488 1.861 2.222 2.330 1.254 1.805 1.845 1.964

Quadro 12 - Principais Mês Regiões Produtoras do RS – 1991- 2002 Fonte: Finamore e Montoya (2005, p. 4).

Talvez esta situação de destaque frente ao restante do país seja resultado da considerável participação das cooperativas neste segmento. Sobre este aspecto, Santana (2003) fala da importância das cooperativas na base de manutenção da oferta de leite cru no Rio Grande do Sul, pois mesmo as agroindústrias não-cooperativas mantém uma estratégia de aquisição do leite captado por cooperativas de produtores.

Por outro lado, colocando-se em separado as cooperativas, percebe-se que o mercado comprador de leite cru no Rio Grande do Sul é bastante concentrado, destacando-se neste cenário o Grupo Avipal (Elegê) como o principal comprador de leite, movimentando mais de 50% da produção de leite fiscalizado no estado (SANTANA, 2003).

Mas o setor lácteo gaúcho não é tão diferente do restante do país, apesar de suas especificidades. Pedroso (2001) considera que as transformações que tiveram lugar na pecuária leiteira do Rio Grande do Sul acompanharam as modificações no mercado nacional do leite, principalmente em termos da estrutura da concorrência e do novo ambiente institucional que se desenhou a partir da década de 1990. Também do lado do consumo de leite e derivados no Rio Grande do Sul, Santana (2003) considera que este apresenta um

comportamento semelhante ao dos demais mercados do Brasil, obedecendo às mesmas variáveis definidoras do consumo em termos nacional.

Por fim, uma idéia mais global do que representa a atividade leiteira no Rio Grande do Sul é dada por Finamore e Montoya (2005), os quais calcularam que o produto do complexo lácteo gaúcho corresponde a 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto) total do estado e 6,8% da parcela do PIB decorrente do agronegócio (Quadro 13).

Agregados

Valores a preços Básicos

Participação relativa dos agregados no PIB do complexo lácteo Participação relativa dos agregados do Complexo lácteo no PIB do agronegócio Participação relativa do PIB do Complexo lácteo no PIB estadual I Insumos do Leite 38,00 2,57% 3,03% II Produto do Leite 309,28 20,88% 5,63% III Agroindústria do Leite 569,01 38,41% 8,80% IV Agrosserviços do Leite 565,12 38,15% 6,52%

PIB do complexo lácteo ( I + II + III+ IV ) 1481,41 100,00% 6,77% 2,46%

Quadro 13 - O PIB do Complexo Lácteo Gaúcho a Preços Básico (em R$ milhões e percentual) Fonte: Finamore e Montoya (2005, p. 8).

Finamore e Montoya (2005) consideram que o produto leite está fortemente vinculado ao setor urbano da economia gaúcha, visto que, segundo eles, do total do produto gerado neste complexo, cerca de 21% é atribuído ao campo e 79% fica a cargo do setor urbano. Destacam, ainda, que o setor lácteo é responsável por uma significativa adição de valor às matérias- primas por ele utilizadas. Isto é facilmente compreendido, dado que o leite pode ser transformado fisicamente em uma série de produtos derivados com elevado valor agregado, tais como queijos e iogurtes.

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