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6 O AGRONEGÓCIO DO LEITE NO BRASIL E NO RIO GRANDE DO SUL

6.7 ESTRATÉGIAS E RESULTADOS SETORIAIS

Inegavelmente as modificações no ambiente institucional da década de 1990 resultaram em mudanças no comportamento dos agentes do SAG do leite no Brasil. Martins et al (2005) constatam que no período da regulamentação plena (antes de 1990), as atenções estavam focadas nos custos de produção nas propriedades rurais, as quais estavam inseridas num contexto de pouca competição e dinamismo. Mas os mesmos autores salientam que a partir de 1991, principalmente após 1994, o mercado começou a ser visto como o ponto de referência de todo o SAG do leite.

Souza, Tonon e Pereira (2005) e Paula, Castro e Mota (2005) mostram que, dentre as estratégias adotadas pelos produtores de leite, é possível destacar a busca de escala de produção, a adoção de novas tecnologias e a redução de custos. Coletivamente, os produtores têm buscado um maior nível de articulação, formando cooperativas e associações que lhes possibilitem incrementar o seu poder de barganha, tanto negociando preços de compra de insumos como nas disputas com a indústria processadora em relação ao preço do leite (SOUZA, TONON e PEREIRA, 2005).

No segmento da indústria processadora, a desregulamentação do mercado conduziu a um acirramento da competição entre as empresas, as quais passaram a adotar estratégias mais agressivas, disputando pelos grandes produtores (pagando mais pelo leite) e a diversificar horizontalmente (SOUZA FILHO e PAULILLO, 2005). Martins (2000) também acrescenta que a estratégia das grandes empresas direciona-se ao ganho de escala e a disputa com preços baixos, já as pequenas empresas do setor de laticínios procuram trabalhar em nichos regionais de mercado e as cooperativas caminham na direção da profissionalização da gestão e na diversificação do mix de produtos.

De Negri (1998), partindo da base do mercado consumidor que cada firma abastece, propôs, no final da década de 1990, uma classificação da indústria de laticínio brasileira, definindo três grupos estratégicos (Quadro 10):

Grupo

Estratégico Características do Grupo

1

ƒ É composto por firmas líderes que sustentam barreiras à entrada.

ƒ Investem na valorização da marca através de ações intensivas de marketing.

ƒ Trabalham com uma linha de produtos de alto valor adicionado voltados para as classes de maior poder aquisitivo.

2

ƒ Está formado por firmas que atuam em mercados competitivos.

ƒ Oferecem uma linha de produtos pouco diversificada direcionada a um mercado consumidor ed renda média.

ƒ As principais variáveis de concorrência são o custo, a escala de produção.

3

ƒ Neste grupo estão presentes as pequenas firmas que atuam em mercados locas. ƒ A estratégica é focalizar em um dado segmento geográfico do mercado.

ƒ Procuram atender a consumidores de baixa renda com produtos menos elaborados e mais baratos. Quadro 10 - Grupos Estratégicos da Indústria de Laticínios.

Fonte: elaborado com base em De Negri (1998).

Souza, Tonon e Pereira (2005) ainda constatam que a indústria processadora, frente ao mercado consumidor emprega estratégias voltadas a diferenciação de produtos, à segmentação de mercado e de redução de custos, principalmente relacionados à logística. Souza, Tonon e Pereira (2005) também constatam que, de maneira geral, as estratégias empregadas pelos agentes que compõem o SAG do leite caracterizam-se como emergentes e adaptativas, objetivando alcançar melhores posições de mercado e de acordo com os padrões estabelecidos

pela concorrência. Estes autores acrescentam que a formação das estratégias são fortemente influenciadas pelos elementos sistêmicos do SAG do leite, em especial no que diz respeito à dependência mútua entre produtores e indústria processadora.

As agroindústrias cooperativas do setor de laticínios também apresentam comportamento estratégico diferenciado entre si. Ferreira e Braga (2005) com o objetivo de conhecer as estratégias implementadas pelas cooperativas brasileiras de leite na busca de eficiência identificaram, quatro grupos estratégicos entre estas organizações (Quadro 11).

Grupo Estratégico Características do Grupo

Cooperativas Locais

ƒ Baixo investimento tecnológico e humano.

ƒ Limitada escala de processamento.

ƒ Incipiente agregação de valor ao produto.

ƒ Restringem-se ao resfriamento e o repasse da produção dos cooperados. Cooperativas de

Barganha

ƒ Posicionamento mais agressivo no mercado.

ƒ Comercialização do leite em grande escala, o que gera poder de barganha.

ƒ Não se preocupam com a agregação de valor ao produto. Cooperativas de

Escala e Diferenciação

ƒ Processamento em alta escala.

ƒ Elevado esforço de agregação de valor ao produto.

ƒ Marca forte e diferenciação de produtos.

ƒ Investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

ƒ Competem diretamente com grandes empresas nacionais e internacionais. Cooperativas de

Nichos

ƒ Elevada agregação de valor ao produto.

ƒ Comercialização em escala reduzida.

ƒ Estratégia competitiva de posicionamento mercadológico.

Quadro 11 - Agrupamentos Estratégicos das Cooperativas na Indústria de Laticínios. Fonte: elaborado com base em Ferreira e Braga (2005).

Os fatores de maior relevância na classificação dos grupos estratégicos na análise de Ferreira e Braga (2005) foram agregação de valor, tamanho e posicionamento mercadológico. Os autores concluíram que a eficiência está mais fortemente associada aos vetores de posicionamento estratégico e à escala de produção, uma vez que um melhor desempenho foi verificado nas cooperativas de escala e diferenciação e nas cooperativas de barganha.

Em termos de resultados setoriais, a experiência da elevada regulamentação do mercado de leite e derivados anterior à década de 1990 não foi favorável para o crescimento e à modernização do SAG do leite no Brasil (MARTINS et al, 2005). Porém, diante das transformações, principalmente de natureza institucional, que tomaram lugar na década de 1990, o setor leiteiro passou a ter um desempenho expressivo (PAULA, CASTRO e MOTA, 2005), houve um processo de reorganização da pecuária leiteira nacional que acabou refletindo no aumento da competitividade do SAG do leite (SANTOS e BARROS, 2005). Martins et al (2005) então destacam que os anos de 1990 representaram um grande contraste frente ao que se verificou durante o período da intensa intervenção governamental.

Nos últimos 25 anos, conforme informações de Freitas et al (2005), a produção de leite no Brasil elevou-se em 150%, principalmente devido aos ganhos de produtividade e à abertura de novas fronteiras de produção, tais como nos estados de Goiás, Mato Grosso e Rondônia. Considerando-se apenas na década de 1990, a produção brasileira de leite apresentou um crescimento de 40% (JANK, FARINA e GALAN, 1999). No período 1990- 2002, Ponchio e Gomes (2005) mostram que a produtividade média em litros por vaca por ano cresceu 50%.

Krug (2001) concluiu que, em termos do desempenho das unidades de produção de leite, os altos níveis de produtividade estão associados a fatores como alimentação dos animais, sazonalidade, idade do primeiro parto, a genética dos animais e o tipo de sistema de produção. A tecnologia, conforme Zoccal e Gomes (2005), teve um papel fundamental no desempenho da produção brasileira de leite. Para estes autores, o aumento da produção deveu- se tanto pela expansão dos sistemas de produção como em decorrência de ganhos de produtividade. A expansão para a região do cerrado, grande produtora de grãos, teve uma considerável influência também no sentido de redução de custos da alimentação concentrada para o gado leiteiro (ZOCCAL e GOMES, 2005).

Por outro lado, o crescimento da produção e da produtividade, somados a abertura às importações, resultou na queda do preço do leite na década de 1990 (PAULA, CASTRO e MOTA, 2005). Entre janeiro de 1990 a dezembro de 2003, Ponchio e Gomes (2005) falam em uma redução real nos preços do leite na ordem de 59%. Scalco e Toledo (2005) também destacam, como resultado negativo, a desarticulação entre os agentes do SAG, contribuindo para a baixa qualidade do produto final e para os elevados índices de desperdícios e custos. Tupy et al (2005) reforçam que as perdas de eficiência no sistema de produção de leite no Brasil são de grande magnitude.

Mesmo com algumas adversidades, Zoccal e Gomes (2005) apresentam que o SAG do leite é um dos mais importantes no agronegócio brasileiro, ocupando, conforme dados de 2004, o sexto lugar em valor bruto da produção agropecuária, o que significa um faturamento de cerca de R$12 bilhões, sendo responsável pelo emprego de 3,6 milhões de pessoas considerando somente a produção primária.

6.8 DIMENSÃO E ESPECIFICIDADES DA ATIVIDADE LEITEIRA NO RIO GRANDE

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