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Ambiente de Estudo e Procedimentos: relação com variáveis de

Capítulo 2 Efetividade de Treinamento: Análise da Literatura

2.2. Análise da literatura dos componentes do modelo de investigação

2.2.3. Ambiente de Estudo e Procedimentos

2.2.3.2. Ambiente de Estudo e Procedimentos: relação com variáveis de

Não foram identificados na literatura analisada, estudos empíricos que investigassem o relacionamento entre o ambiente de estudo do aluno e de procedimentos de interação com transferência de treinamento. As pesquisas identificadas, ao menos as que apresentaram modelos multivariados, analisaram variáveis de “barreiras institucionais”, “barreiras pessoais”, “características da clientela” e “características do treinamento” com o nível de aprendizagem, e as variáveis de persistência e evasão como variáveis critério.

Vargas (2004) investigou a presença de barreiras pessoais (demográficas, motivacionais e tecnológicas) em um programa de educação e treinamento a distância, e analisou a influência de tais barreiras nos níveis de aprendizagem e persistência no referido programa. A amostra foi composta de funcionários de uma empresa de grande porte do setor elétrico, participantes de um curso de especialização técnica para agentes e assistentes administrativos.

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Foram utilizadas abordagens qualitativas e quantitativas, com entrevistas semi- estruturadas para detecção de barreiras institucionais e pessoais e, posteriormente, aplicação de dois questionários: MSLQ- Motivated Strategies for Learning Questionnaire e Reações à tecnologia. Os instrumentos foram aplicados via intranet, e via formulário impresso. Foram realizadas análises de conteúdo para as questões abertas, análises de correlações, análises de regressão logística e de regressão múltipla padrão.

Os resultados obtidos pela autora foram: (a) gênero, ansiedade em testes, crenças de aprendizagem e aversão ao computador relacionaram-se negativamente com persistência, (b) mulheres são o grupo mais persistente (c) indivíduos que menos acreditam que seus esforços para aprender irão gerar resultados positivos, foram os que mais persistiram no curso e (d) aqueles que não estão engajados na atividade de aprendizagem por razões externas, como nota, prêmios e competição, foram os que obtiveram médias mais altas no curso.

Brauer (2005) analisou o curso IPGN, via internet, gratuito, que ensina o passo-a- passo da elaboração de um plano de negócios. O autor relacionou variáveis demográficas com evasão e com barreiras pessoais à conclusão do curso. O autor encontrou que indivíduos mais jovens e com menor grau de escolaridade foram os que mais se evadiram; indivíduos de menor idade e que residem nas regiões Norte, Nordeste ou Centro-oeste apresentaram maiores dificuldades relacionadas à regularidade de acesso à Internet; e mulheres apresentaram maiores dificuldades relacionadas com a interface gráfica do curso e aspectos pessoais.

O estudo empírico de Xenos e cols. (2002), realizado junto a uma amostra de estudantes de um curso de graduação em Informática, avaliou o rendimento e a evasão de alunos. Os principais resultados mostram que maiores índices de evasão ocorreram entre: os alunos mais idosos, com idade iguais ou superiores a 35 anos; os homens, que mostraram maiores índices de evasão que as mulheres; os alunos que estudaram menos freqüentemente por meio do computador; os alunos que trocaram menos e-mails com os tutores e demais participantes do curso; e aqueles que tiveram pouco contato com atividades educativas na área de informática, antes do curso. O estado civil não influenciou os níveis de evasão.

Entre os fatores externos, citados como razões da evasão pelos alunos em entrevistas individuais, estavam: problemas profissionais (como troca de emprego e pressões de tempo); pessoais (nascimentos de filhos, mortes na família) e problemas de saúde. Entre os

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fatores internos ao curso, a evasão ocorreu em função da falta de assistência do tutor e à quantidade de trabalhos escritos exigidos pelo curso.

Shin e Kim (1999) testaram um modelo para explicar rendimento de alunos de uma universidade coreana utilizando e realizaram uma análise de regressão logística para investigar os fatores associados à evasão de alunos. Das sete variáveis antecedentes (carga de trabalho, integração social, anseio, tempo de estudo, planejamento da aprendizagem, atividades face-a-face e nota ou rendimento acadêmico), apenas a participação do aluno em atividades face-a-face esteve associada positivamente com a evasão. Integração social esteve associada positivamente à evasão apenas ao final do primeiro semestre avaliado na pesquisa. Os autores discutem esses resultados destacando o importante papel de atividades presenciais na manutenção de alunos em cursos a distância.

Abbad, Carvalho e Zerbini (2006) desenvolveram um estudo no qual objetivaram identificar variáveis explicativas de evasão em um curso técnico a distância ofertado via

internet, em termos de características da clientela e da interação dos participantes com os

recursos eletrônicos disponibilizados pelo curso. As variáveis antecedentes incluíram dados demográficos e de uso dos recursos eletrônicos. Optou-se pela análise de regressão logística pela natureza categórica da variável critério evasão, definida como o abandono definitivo do curso e codificada como variável dicotômica nominal (concluinte versus não concluinte).

As análises foram realizadas com a população de alunos inscritos no curso (n=19.849). De modo a avaliar o efeito do tamanho elevado da população sobre a significância das correlações entre variáveis e a consistência dos resultados, repetiram-se as análises de regressão logística em duas amostras aleatórias, extraídas da população (amostra 1: n = 1.349; amostra 2: n = 1.436). Os resultados indicaram que os participantes com freqüências mais baixas de acesso aos chats, ao mural de notícias e ao ambiente eletrônico do curso foram aqueles que tenderam a abandonar o curso. Esses dados sugerem que os evadidos, no período de realização do curso, provavelmente ainda não dominavam o uso dos recursos baseados nas NTICs e ou não se sentiram estimulados a utilizá-los, já que podiam obter o material pela

internet e imprimí-lo.

Os dados da pesquisa de Abbad, Carvalho e Zerbini (2006) diferem, em parte, dos encontrados por Xenos e cols. (2002), uma vez que no contexto da pesquisa das autoras não foram encontradas correlações estatisticamente significativas entre idade e evasão. Os mais idosos, na pesquisa de Xenos e cols. (2002), tendiam a se evadir mais do que os mais jovens.

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Os achados de Brauer (2005) diferem dos encontrados por Xenos e cols. (2002) que encontraram idosos evadindo-se mais do que os mais jovens. Segundo o autor a razão está no tipo de curso avaliado, o qual é gratuito, disponibilizado na Internet, e que ensina a elaborar um plano de negócios. É provável que indivíduos mais jovens tenham menor interesse no assunto e por isso se evadem mais. Os estudos de Abbad, Carvalho e Zerbini (2006) e de Brauer (2005) não encontraram relação significativa entre sexo e evasão, porém Xenos e cols. (2002) e Vargas (2004) descobriram que mulheres persistem mais que os homens em cursos a distância.

Zerbini, Brauer, Meneses e Abbad (2006) realizaram uma pesquisa no Banco Central do Brasil (BACEN), já comentada anteriormente na seção 3.1. da presente tese, e que, entre outros aspectos, investigam as percepções dos funcionários sobre possíveis dificuldades enfrentadas pelos servidores para se adaptarem às novas tecnologias de ensino que seriam implementadas com a criação da Universidade Corporativa.

Em relação ao instrumento de coleta de dados utilizado, dois conjuntos de itens foram elaborados: o primeiro conjunto era constituído por 11 questões de múltipla escolha sobre viabilidade de conteúdos para o formato de EaD, vantagens da EaD, barreiras pessoais, hábitos de estudo, participação anterior em EaD e barreiras institucionais; o segundo conjunto era formado por 18 itens que, associados a uma escala Likert de intensidade de 11 pontos (0=Nenhum Domínio a 10=Domínio Total), visavam investigar o domínio ferramentas de EaD. Nesta seção serão comentados apenas os resultados obtidos em relação à percepção de barreiras existentes à implementação de programas de EaD no banco.

Após ter sido enviada cópia eletrônica do questionário aos 4.590 servidores do banco, foi obtida uma amostra de 1047 participantes (22,80%). Quanto à percepção de possíveis dificuldades à implantação da EaD no banco e de barreiras para a participação em cursos dessa modalidade, 43,85% dos respondentes indicaram que a falta de ambiente de estudo adequado (ruídos, falta de colaboração dos colegas e interrupções constantes) consiste no maior empecilho, ao passo que 32,35% indicaram a infra-estrutura e tecnologia deficientes como a principal barreira à participação em um curso a distância no banco. Os resultados demonstraram a preocupação dos participantes com a provável falta de apoio psicossocial e tecnológico para participarem de programas de cursos a distância.

Os dados sobre a inadequação de ambientes para a realização de cursos a distância, apesar de constituírem apenas percepções sobre possíveis dificuldades inerentes à participação em ações de EaD, convergem com outros da área da psicologia do

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treinamento realizadas ao longo dos últimos vinte anos (Abbad, 1999; Carvalho e Abbad, 2006; Meneses e Abbad, 2003; Sallorenzo, 2001; Tamayo, 2002; Tannenbaum & Yukl, 1992; Zerbini e Abbad, 2005). Diversos autores, assim, chamam a atenção para o fato de que o apoio psicossocial, que envolve a colaboração de colegas de trabalho e a ausência de interrupções, entre outros aspectos, é um dos mais importantes preditores do sucesso de uma ação educacional, principalmente em termos de melhoria de desempenho pós-curso.

Vale destacar que a maioria das respostas dos participantes da pesquisa de Zerbini, Brauer, Meneses e Abbad (2006) foi favorável à EaD (92,15%) e já participou de pelo menos um curso na modalidade a distância (60,74%), patrocinado pelo banco (46,33%). A atitude favorável das pessoas em relação a programas de EaD, apesar das barreiras apontadas pelos resultados anteriormente descritos, consiste em um importante alicerce sob o qual deverão ser elaboradas as principais estratégias para implantação de programas de EaD.

Nos resultados de pesquisas anteriormente descritos, percebe-se que há grande necessidade de desenvolver mais pesquisas sobre a influência do ambiente nos efeitos de um curso a distância. Isso também foi percebido por pesquisadores da área de treinamento e gestão de pessoas em organizações, como Peters e O’Connor (1980). Os autores estudaram a influência de restrições situacionais no desempenho dos indivíduos e recomendam que as restrições ambientais sejam analisadas e removidas antes de iniciar um evento instrucional. Segundo os autores, os funcionários não teriam motivação para tentar aplicar no trabalho os conhecimentos aprendidos no treinamento, já que conhecem os obstáculos existentes, tais como falta de recursos materiais e financeiros, carência de informações ao retornar ao trabalho, falta de tempo disponível, entre outros.

Variáveis de ambiente podem tanto facilitar quanto dificultar a permanência do aluno em cursos a distância. Abbad, Carvalho e Zerbini (2006) sugerem a realização de mais estudos com barreiras e com variáveis de suporte na explicação de evasão em cursos a distância. Lembrando que, nesta pesquisa, são utilizadas as dimensões “Ambiente de Estudo e Procedimentos de Interação” para investigar aspectos que podem influenciar a permanência do aluno no curso.