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Instrumentos de Medida de Transferência de Treinamento

Capítulo 2 Efetividade de Treinamento: Análise da Literatura

2.2. Análise da literatura dos componentes do modelo de investigação

2.2.4. Transferência de Treinamento

2.2.4.1. Instrumentos de Medida de Transferência de Treinamento

Abbad (1999) construiu e validou um instrumento de Impacto em Amplitude, posteriormente divulgado por Abbad, Borges-Andrade e Sallorenzo (2004). O instrumento foi aplicado em 1270 participantes de 226 cursos oferecidos por uma organização pública brasileira e apresentou uma estrutura bifatorial (r=0,56). O primeiro fator consiste em 7 itens referentes ao impacto do treinamento no desempenho (α=0,86), e o segundo, em 5 itens referentes ao impacto do treinamento nas atitudes (α=0,86). Uma estrutura unifatorial também foi encontrada (α=0,90, 12 itens) que explica 45% da variabilidade das respostas dos indivíduo à escala. Ambas as estruturas podem ser utilizadas por serem válidas e confiáveis.

Esta escala foi submetida à análise fatorial confirmatória por Pilati e Abbad (2005). Segundo os autores, eram necessários mais testes empíricos para confirmar as diferenciações conceituais propostas por eles, principalmente, quanto à suposição de que as medidas de transferência de aprendizagem e impacto do treinamento no trabalho são correlatas, porém não coincidentes e que, as variáveis preditoras da primeira são diferentes daquelas que predizem a segunda. O instrumento, composto por 12 itens, possui indicadores de melhora do desempenho no trabalho, como por exemplo, diminuição do número de erros e aumento da qualidade e velocidade do trabalho, motivação para realização das atividades e atitude favorável à modificação da forma de se realizar o trabalho.

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O arquivo de dados utilizado pelos autores para realização da análise fatorial confirmatória foi composto por pesquisas desenvolvidas ao longo de cinco anos sobre impacto do treinamento no trabalho. Foram sete organizações, sendo dois tribunais, um hospital público, uma empresa de pesquisa, uma de televisão por assinatura, um banco estatal e uma instituição pública do ensino superior, totalizando 2.966 sujeitos, provenientes de diferentes categorias funcionais. O tempo de serviço, bem como o nível de escolaridade dos participantes, mostrou-se amplo. Os itens do instrumento de Abbad (1999) são apresentados na Tabela 10.

Tabela 10. Itens do instrumento de impacto do treinamento no trabalho proposto por Abbad (1999). Itens

1. Utilizo, com freqüência, em meu trabalho atual, o que foi ensinado no treinamento.

2. Aproveito as oportunidades que tenho para colocar em prática o que me foi ensinado no treinamento. 3. As habilidade que aprendi no treinamento fizeram com que eu cometesse menos erros, em meu trabalho, em atividades relacionadas ao conteúdo do treinamento.

4. Recordo-me bem dos conteúdos ensinados em treinamento.

5. Quando aplico o que aprendi no treinamento, executo meu trabalho com maior rapidez. 6. A qualidade do meu trabalho melhorou nas atividades diretamente relacionadas ao conteúdo do treinamento.

7. A qualidade do meu trabalho melhorou mesmo naquelas atividades que não pareciam estar relacionadas ao conteúdo do treinamento.

8. Minha participação no treinamento serviu para aumentar minha motivação para o trabalho.

9. Minha participação neste treinamento serviu para aumentar minha auto-confiança. (Agora tenho mais confiança na minha capacidade de executar meu trabalho com sucesso.).

10. Após minha participação no treinamento, tenho sugerido, com mais freqüência, mudanças nas rotinas de trabalho.

11. Este treinamento que fiz, tornou-me mais receptivo a mudanças no trabalho.

12. O treinamento que fiz beneficiou meus colegas de trabalho, que aprenderam comigo algumas novas habilidades.

Fonte: Pilati e Abbad (2005).

Os resultados indicam confirmação da estrutura empírica unifatorial. Os autores ainda encontraram que a noção de motivação e auto-confiança abordada em diferentes itens (8 e 9) são altamente similares para os respondentes, fazendo parte da mesma categoria. Essa categoria pode ser um indicador periférico do conceito de impacto do treinamento no trabalho e também parece apresentar uma composição conceitual atrelada aos fenômenos auto-referentes existentes em psicologia. A sugestão é substituir os dois itens similares por apenas um item mais genérico relacionado a aspectos motivacionais do trabalho do indivíduo ou mensurar esse conceito por meio de instrumentos específicos já existentes na literatura.

Com relação aos itens relativos às mudanças no trabalho (10 e 11), ocorreu o mesmo fenômeno de sobreposição e a sugestão também é transformá-los em um item apenas, pois supõe-se que o indivíduo que propõe mais mudanças no trabalho também é o indivíduo que aceita melhor as mudanças que eventualmente podem ocorrer. Portanto, apesar da estrutura

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latente, de forma geral, ter sido confirmada, os autores encorajam o aprimoramento da escala visando acabar com a redundância encontrada em alguns itens e, por conseqüência, obter uma medida mais precisa e livre de sobreposição conceitual.

Carvalho, Zerbini e Abbad (2005) construíram e validaram uma escala de Impacto em Amplitude que avaliou o comportamento empreendedor dos egressos do curso IPGN ofertado pelo SEBRAE. Obtiveram-se estruturas bifatorial e unifatorial. O primeiro fator, denominado Gestão do Negócio, agrupou 24 itens relativos a atendimento ao cliente, planejamento financeiro, estratégias de marketing, conhecimento dos produtos e serviços oferecidos e apresenta índice de confiabilidade de 0,96. O segundo fator, Gestão de Pessoas, reúne 13 itens que abordam a relação do empreendedor com o pessoal interno, em termos de seleção baseada em perfil de competências, definição de papéis e metas, fornecimento de feedback sobre desempenho e acompanhamento do trabalho e apresenta Alfa de 0,97. A correlação bivariada entre os fatores de -0,80, entretanto, indica fortemente que os itens podem agrupar-se em apenas uma dimensão. A solução unifatorial reuniu todos os itens do instrumento, explicando 54,45% da variância e Alfa de 0,97.

Carvalho e Abbad (2006) e Zerbini e Abbad (2005) construíram e validaram estatisticamente um instrumento de Impacto em Profundidade, que também pode ser denominado de Transferência de Treinamento, do curso supracitado. Segundo Borges- Andrade (2002) a validação de um instrumento de transferência de treinamento é fato raro na área, por serem poucos os treinamentos oferecidos a um número suficiente de participantes que permita análise fatorial.

O instrumento apresentou 24 itens referentes aos comportamentos esperados dos indivíduos que participaram do curso, associados a uma escala do tipo Likert, de 11 pontos, em que 0 (zero) corresponde a Nunca e 10 (dez) a Sempre (Anexo 5). Foi obtida uma estrutura tridimensional, após análise fatorial exploratória, e a correlação entre os fatores 1 e 2 foi de 0,68; entre os fatores 1 e 3 foi de 0,70; e entre 2 e 3, de 0,67. As altas correlações indicaram a existência de um fator geral.

O fator Administração do Negócio, composto por 12 itens referentes as auto- avaliações do impacto do treinamento nas habilidades relacionadas à preocupação com os clientes, análise dos produtos/serviços oferecidos, objetivos e missão da empresa e preocupação com os colaboradores, apresentou um alto índice de consistência interna (α = 0,92). O segundo fator, Planejamento Financeiro do Negócio, composto por 7 itens, coletou informações sobre os desempenhos referentes ao cálculo da lucratividade, da receita anual, dos custos fixos, prazo de retorno de investimento e ponto de equilíbrio.

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Apresentou um alto índice de consistência interna (α = 0,95). O fator Análise do Mercado, composto por 5 itens, coletou informações sobre os desempenhos relacionados à análise e obtenção de informações sobre o mercado consumidor, concorrente e fornecedor. Também apresentou alto índice de consistência interna (α = 0,90). A estrutura unidimensional apresentou um Fator Geral denominado, Impacto do Treinamento no Trabalho em Profundidade, que avalia o impacto do curso IPGN no trabalho. Composto por 24 itens, este fator apresentou um alto índice de confiabilidade de 0,96.

Outras pesquisas apresentaram instrumentos de mensuração da transferência de treinamento, porém não foi possível a realização de validação estatística por insuficiência no tamanho da amostra.