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2 RELEVÂNCIA DA ATIVIDADE NO SETOR PRIMÁRIO DE

3.1 O AMBIENTE INSTITUCIONAL E A ECONOMIA DOS CUSTOS DE

Coase (1937), cientista econômico, estabeleceu pela primeira vez uma conexão entre as instituições, custos de transação e a teoria neoclássica. Os resultados preconizados pela teoria neoclássica só são obtidos quando não existem custos para se transacionar. O pressuposto fundamental da Economia dos Custos de Transação (ECT) é que o funcionamento dos mercados tem custos positivos, em contra partida à visão dada pela economia neoclássica, de um ambiente sem custos associados ao funcionamento da economia.

Uma transação entre dois elementos de um sistema agroindustrial não se dá sem custos. Antes do inicio da transação, existem custos de procura, obtenção de informação, do conhecimento, do parceiro, entre outros. São os custos de transação ex-ante (NEVES, 1999). Os custos ex-post são os custos de mensuração e

monitoramento do desempenho, custos de renegociações, etc.

Os custos de transação foram definidos por Williamson (1979, 1993 apud NOGUEIRA, 2003), como os custos ex-ante de preparar, negociar e salvaguardar um acordo, bem como os custos ex-post dos ajustamentos e adaptações, quando a

execução de um contrato é afetada por falhas, erros, omissões e alterações inesperadas.

Em seu artigo, Coase (1937) estabeleceu dois pontos fundamentais no estudo da ECT, em relação às organizações: primeiro, não é a tecnologia, mas as transações e seus respectivos custos que constituem o objeto central da análise; e segundo, a incerteza e, de maneira implícita, a racionalidade limitada são elementos chaves na análise dos custos de transação.

Em Coase (1937 apud FERREIRA et al., 2005), a empresa teria como função economizar nos custos de transação, o que se realizaria de duas maneiras: através do mecanismo de preço, que possibilitaria à empresa escolher os mais adequados em suas transações com o mercado, gerando economia do custo de transação, e substituindo um contrato incompleto por vários completos.

Zylbersztajn (1995) destaca o estudo das relações contratuais como uma das principais áreas da Nova Economia Institucional, da qual a ECT faz parte, que envolve outras áreas, como Economia, Direito e Administração, ainda que estas tenham enfoques diferentes sobre os contratos. A Economia considera os aspectos ligados à eficiência, enquanto que para o Direito o critério de avaliação dos contratos seria a justiça.

Pode-se fazer uma ponte entre o ECT e o Direito, criando-se, assim, uma ferramenta útil para a compreensão da estrutura e do funcionamento das organizações, pois a firma moderna pode ser entendida como um conjunto de contratos entre agentes especializados, que trocarão informações entre si, de modo a produzir um bem final (ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). Se a firma pode ser entendida dessa forma, os problemas advindos de quebras contratuais devem ser solucionados e mitigados por salvaguardas e instâncias que resolvam essas questões.

O contrato, portanto, é uma obrigação, legalmente exigível, de entrega ou recebimento de determinada quantidade de uma mercadoria, bens e serviços, de qualidade preestabelecida, pelo preço ajustado (MARQUES, 2000). É por meio dele que firmas ou empresas realizam transações entre agentes econômicos (pessoa física ou jurídica), seja para trocar bens, seja para procurar serviços, sendo condição de pagamento, à vista ou a prazo, fundamental para o funcionamento do sistema econômico, gerando renda, produção, consumo, poupança/investimentos.

Os custos incorridos nas transações entre agentes de uma cadeia produtiva podem ser percebidos, principalmente, nas incertezas existentes quanto a ações oportunistas e não atendimento de padrões de mercado pré-acordados. Estes fatores podem influenciar nas decisões sobre internalização da produção ou livre negociação com o mercado. Desta forma, caso os custos de transação sejam

elevados, o produtor preferirá trabalhar através da integração vertical. Por outro lado, se as incertezas quanto ao atendimento forem pequenas e por isso gerarem custos de transação baixos, a firma preferirá contratar a produção (RAUEM, 2007). A teoria dos custos de transação propõe que a firma, vista como uma estrutura de governança das transações, poderá, através da influência de seus agentes, tratar suas operações através de uma pura transação com o mercado, optar pela transação através de contratos ou se definirá pela necessidade de integração vertical (ZYLBERSZTAJN, 2005).

Segundo Zylbersztajn (2005), composições intermediárias de governança são observadas com maior grau de freqüência, sendo também denominadas de governança mista ou contratual. Neste ambiente, percebe-se que a integração vertical não é eficiente, tampouco o mercado pode governar, de forma isolada, as transações. O autor apresenta alguns dos estudos sobre contratos em relações agricultura-indústria no Brasil, sendo indicativo da fertilidade desta área de estudo no País.

TABELA 7 – Mercados e Contratos: Evidências na Agricultura.

GOVERNANÇA OBSERVADA

AUTOR PRODUTO

Mercado Contratos Hierarquia

Leme (2004) Soja X X

Zylbersztain e Miele (2005) Vinho X X

Zylbersztain e Nadalini (2003) Tomate X

Soja X X

Terra X X

Zylbersztain et al (2005)

Crédito X

Zylbersztain e P. Machado (2003) Carne X X X

Zylbersztain e Nogueira (2002) Frango X X

Mizumoto e Zylbersztain (2005) Ovo X X

Constata-se, portanto, que a economia dos custos de transação é um tema abrangente e sua discussão está longe de ser esgotada pela academia. Foi priorizado, neste trabalho, o estudo da teoria sob a ótica dos agronegócios, bem como o estudo da percepção dos agentes com estruturas de governança. Para o aprofundamento da matéria existe uma boa revisão da literatura sobre economia dos custos de transação em Nogueira (2003) e em Ferreira et al. (2005).

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa tem como campo de atuação as empresas do agronegócio de carcinicultura instaladas no estado de Pernambuco. A metodologia baseia-se em aplicação semelhante feita por Nogueira (2003), para a avicultura paulista.

A pesquisa de campo envolveu as empresas que atuam e que produzem pós-larvas e camarão marinho cultivado em Pernambuco, bem como as empresas que recebem, beneficiam, industrializam, armazenam e procedem à comercialização do camarão. Desta forma, identificaremos as variáveis, conforme segue:

TABELA 8 – Composição das Variáveis.

AGENTES VARIÁVEL DEPENDENTE

Laboratórios de Pós-larvas (UPL) Fazendas de Engordas (FE) Unidades de Beneficiamento (UB)

Mercado, contratos e Hierarquia.

FONTE: Pesquisa Autor.

Os agentes compõem os elos da cadeia produtiva, conforme fluxograma apresentado na pagina 26 deste trabalho, enquanto a variável dependente caracteriza os arranjos institucionais, numa escala que parte da coordenação pelo mercado, passa pelos vários arranjos de coordenação com contratos, até atingir, no outro extremo, a integração vertical (hierarquia), conforme tabela 9.

TABELA 9: Escala de Coordenação.

Mercado Contratos Hierarquia

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Inicialmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental, visando a caracterizar a operacionalidade das empresas que atuam na cadeia produtiva, suas modalidades, garantias, pontos críticos, renegociações, padrões de concorrência, bem como as práticas vigentes no mercado.

Basicamente, o trabalho foi um levantamento de dados primários realizado por amostragem das empresas do segmento do agronegócio, constantes do censo da ABCC e do cadastro de produtores associados à comissão de carcinicultura da Federação de Agricultura do Estado de Pernambuco (FAEPE).

As técnicas de pesquisa aplicadas foram: a) a exploratória, proporcionando maior familiaridade com as ações integrantes da cadeia produtiva, e b) levantamento tipo

survey. A entrevista, mediante aplicação de questionário (ANEXO A), foi direcionada

aos diretores e/ou gerentes que são responsáveis pela elaboração e controle de contratos das empresas estudadas, sendo a pesquisa realizada in loco.

Os dados coletados pelo questionário proporcionaram informações que irão constituir dois blocos para o desenvolvimento da pesquisa, são eles: Perfil do

Agente, incluindo as principais características da produção e das estratégias

operacionais do agente, e Coordenação e Transação, que apresentará as características de percepção do agente perante os arranjos institucionais e seus custos de transação. A hipótese a ser validada é que a percepção do administrador sobre as transações influi nos arranjos de coordenação da produção.

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