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2 A COMPETITIVIDADE E A AGRICULTURA

2.2 R UMO A UM MARCO DE ANÁLISE DA COMPETITIVIDADE PARA A AGRICULTURA FAMILIAR

2.2.2 O Ambiente Organizacional

Da mesma forma que no ambiente institucional, primeiramente, é necessário definir o que são organizações. Partindo do ponto de vista de Douglass North, Saes (2000) argumenta que as organizações representam o comportamento cooperativo, sendo assim, elas seriam formadas

por indivíduos que se unem em busca de um determinado objetivo, portanto, julgam que sua ação em grupo tem maior eficiência que sua ação individual. São exemplos de organizações: partidos políticos, igrejas, escolas, universidades, organizações não governamentais, sindicatos, empresas, cooperativas, associações, secretarias municipais, dentre outros.

Edquist e Johnson (1997, p.47) definem as organizações como sendo “(...) estruturas formais com um propósito explícito e são criadas conscientemente. Elas são os jogadores ou atores”.

Vargas (2001) propõe a separação dos tipos de organizações segundo as principais atividades que afetam a inovação em um sistema local, formando assim os seguintes grandes grupos: organizações produtivas (basicamente as firmas que produzem bens e serviços), de ensino (técnico, fundamental/médio, superior), financeiras (organizações que fornecem recursos financeiros de curto, médio e longo prazos), de infra-estrutura tecnológica (serviços tecnológicos, de pesquisa básica e aplicada, de informações técnicas e de espaços especializados), de coordenação de classe (associações, sindicatos e etc) de infra-estrutura comum (infra-estrutura local, informações gerais que dão suporte a determinadas ações dos agentes de um sistema local, tais como jornais, rádios etc), de comércio (interno e externo) e órgãos públicos.

Apesar das organizações terem seus objetivos próprios, os membros que fazem parte desta possuem interesses particulares, que muitas vezes são conflitantes com os interesses de outros membros, dificultando o alcance dos objetivos da organização. Nesse sentido, temos um problema de agência, ou seja, da relação agente – principal. Pindyck e Rubinfeld (1994) argumentam que existe uma relação de agência sempre que o bem estar de alguém (chamado de principal) depender da ação de outra pessoa (chamado de agente), onde as partes possuem interesses particulares diferentes e há informação assimétrica, ou seja, os agentes se valem de informações privilegiadas em suas transações que acabam por incorrer em perdas para o principal. Portanto, no caso das organizações estas seriam o principal, à medida que o alcance de seus objetivos dependeriam de seus membros (agentes), sendo assim, o alcance dos objetivos das organizações poderiam ser comprometidos e decorrência da ação de agentes que visem o alcance de interesses particulares.

Além disso, é factível de se imaginar que, dado que cada organização possui um objetivo próprio, a busca desse por parte de cada organização pode conflitar entre si, ou seja, a busca de um objetivo por parte de uma organização pode esbarrar nas ações empreendidas por

outra organização na busca de seus objetivos, levando ao estabelecimento de uma relação conflituosa entre ambas, impedindo assim, muitas vezes, o alcance de benefícios para o meio no qual estão inseridas. Sório e Fagundes (2009) constataram que na cadeia de carne ovina no Mato Grosso do Sul os conflitos existentes entre produtores e indústrias impedem ações mais efetivas que levem ao avanço consistente da organização da cadeia produtiva.

A interação das organizações com a sociedade depende das ações desta, que por sua vez, estão relacionadas às suas estratégias definidas e que são mediadas pelas instituições. Castro (2004) destaca que as instituições conferem maior estabilidade ao sistema e permitem assim melhor desenvolvimento das próprias organizações.

No entanto, isso não significa que as organizações respondem de forma passiva às instituições. As organizações, por meio de sua capacidade, suas estratégias e sua coordenação, também exercem influência na criação ou na evolução das próprias regras do jogo (instituições) (CASTRO, 2004).

Porém, como coloca Hodgon (1998) isso não significa que as organizações não possam ser vistas como instituições, à medida que as próprias organizações possuem jogadores e regras, constituindo-se, então, uma instituição.

O desempenho econômico, social e tecnológico das organizações, portanto, o alcance de seus objetivos, depende do ambiente institucional constituído. Mudanças no ambiente institucional provocam, então, mudanças nas organizações, e segundo Saes (2000), a adaptação das organizações a essas mudanças se constitui o principal problema tratado pelas organizações. A capacidade de adaptação das organizações depende da profundidade das mudanças institucionais e da trajetória adotada em períodos anteriores (SÓRIO E FAGUNDES, 2009, p. 7). Segundo esses autores a trajetória pode determinar a persistência de organizações ineficientes. Além disso, as mudanças institucionais têm provocado uma redefinição do papel das associações de interesse privado, diversificando sua atuação, ou seja, passam não somente a buscar políticas públicas favoráveis ao setor onde atuam, mas também, outras demandas, tais como organização estatística, investimento em pesquisa, compras e vendas conjuntas, marketing institucional, selos de qualidade dentre outros (SAES, 2000).

A ação do Estado é justificada, na teoria econômica, a partir da necessidade da correção das chamadas falhas de mercado12, portanto, a redução de seu escopo de ação gera ineficiência alocativa o que, por sua vez, exigirá a construção de mecanismos que levem a ações coordenadas. A operacionalização destes mecanismos será repassada às organizações, à medida que estas visarão o alcance de maior eficiência alocativa. Assim, as organizações passam a ter um papel cada vez maior numa situação de crescente ausência estatal (FARINA, 2000). Vale ressaltar que o alcance da eficiência alocativa com a constituição das organizações não é automática, à medida que, como posto anteriormente, o alcance dos objetivos da organização dependerá da relação agente-principal. Vale ressaltar, que apesar de muitas vezes as organizações, tais como associações de interesse privado, redes de cooperação entre outros assumirem o papel do Estado na provisão de bens coletivos ou públicos13, a ação de um não necessariamente exclui a ação do outro. Assim, Estado e organizações atuam de forma conjunta no sentido de atender a provisão desses bens.

A existência de organizações afeta diretamente o desempenho e, portanto, a competitividade das empresas (que é uma organização). A junção de um conjunto de agentes que visam o mesmo objetivo permite um maior alcance dos mesmos, comparativamente a ação individual, o que significa que, o desempenho de cada agente e, portanto, sua competitividade depende muitas vezes da ação coletiva. Além disso, a existência de organizações muitas vezes gera externalidades positivas em outras áreas que não são de atuação da organização14.