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Criança chorando = Referente/Primeira realidade

Cena escolhida Parte da cena desprezada na Composição e enquadramento na composição e enquadramento

Foto da criança chorando = segunda realidade Imagem mental = conhece

crianças e choro

Cultura = país não tem cri-

anças abandonadas

Imagem mental = conhece crianças e choro

Cultura = país tem crianças pobres

Imagem mental = Não conhece crianças e choro Cultura = país não tem crianças Percepção Denotativa = criança

chorando

Interpretação conotativa = briga, manha, machucado, fome etc. Não inclui abandono

Percepção Denotativa = criança chorando

Interpretação conotativa = fome, briga, manha, machucado, abandono etc.

Inclui fome

Percepção Denotativa = um ser/ objeto estranho

Interpretação conotativa = algo sobrenatural V I S Ã O 1 1 V I S Ã O 2 1 V I S Ã O 3

6.4.2 O QUE É A TEMATIZAÇÃO FOTOGRÁFICA E POR QUE TEMATIZAR

Foi visto no item 6.1 que diversas áreas de conhecimento e de atuação do homem podem receber ações de tematização as quais enquadram-se em dois grandes conjuntos.

No primeiro conjunto procuram-se identificar, por meio de análise interpretativa, os possíveis temas, concretos e/ou abstratos, que podem estar contidos numa determinada coisa (textos, imagens em geral, fotografias, objetos diversos, som etc.).

No segundo conjunto buscam-se, a partir da escolha de um determinado tema, objetos diversos e conceitos que, reunidos, representem esse tema.

A imagem fotográfica encaixa-se no primeiro conjunto e, por ser polissêmica, possui diversos temas e significados que podem estar nos campos denotativos e

conotativos. Os denotativos referem-se àquilo que a fotografia representa com “certa

precisão”, no seu sentido real; os conotativos, àquilo que ela pode “interpretar” num determinado contexto, num sentido figurado e simbólico. Estes últimos dividem-se em

conotativos concretos e conotativos abstratos. Embora, basicamente, a tematização diga

respeito mais diretamente aos campos conotativos (interpretativos), em alguns casos pode ser usada também no campo denotativo (descritivo).

Tematizar uma imagem fotográfica, portanto, significa contextualizar a priori50 seus sentidos conotativos permitindo o seu uso em diferentes assuntos e matérias, para diferentes interpretações e finalidades, direcionando e delimitando a abrangência de seu discurso temático.

Em muitos textos sobre imagens, quando se fala em sentido conotativo da imagem, a menção é feita, comumente, às possíveis interpretações daquilo que é visível nesta, ou seja, seu sentido conotativo concreto. Pouco se fala no sentido conotativo

abstrato da imagem, nos seus significados implícitos e não visíveis, embora esses

significados possam ser bastante explorados para a composição de informações. Na tematização ambos os sentidos são explorados. Além disso, determinados temas ou assuntos podem ser denotativos numa foto e conotativos concretos ou abstratos em outras. Em alguns casos, o denotativo pode confundir-se com o conotativo concreto quando ambos têm o mesmo significado numa foto.

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O uso da tematização justifica-se pela grande quantidade de imagens fotográficas produzidas diariamente em todo o mundo, dificultando de forma significativa a sua organização e recuperação. Suas técnicas estão, como as demais técnicas de organização de imagens fotográficas, inseridas no contexto de um sistema DAM – Digital Asset Management (Administração de Recursos Digitais), que equivalem, por analogia, às técnicas de organização de documentos textuais em bibliotecas, centros de documentação etc.

De acordo com Hsin-Liang e Rasmussen (1999, p. 291),

O rápido desenvolvimento das tecnologias de informática, principalmente no que diz respeito às possibilidades de arquivamento, visualização e transmissão, tem permitido a expansão do acesso a imagens digitais. [...] Isso tem feito crescer o foco nos problemas inerentes à descrição da imagem, particularmente na perspectiva da indexação e recuperação.

Para Manini, Lima-Marques e Miranda (2007, p. 3),

O número de banco de imagens na Internet cresce de modo exponencial. Encontrar uma fotografia para uma necessidade particular é tarefa cada vez mais difícil. [...] e as imagens se tornam virtualmente irrecuperáveis se não existir uma descrição associada a elas. E a maneira como esta descrição é realizada tem um enorme impacto na recuperação da imagem.

Krogh (2006, p.8), especialista em sistemas DAM, acrescenta que

Quanto mais universais forem as estruturas e práticas de sua catalogação, maior valor e eficiência você poderá ter de suas fotos. Um sistema DAM tem uma particular habilidade de adicionar valor para uma coleção como todo. Consistência na organização permite rapidez e mais confiabilidade na pesquisa à sua coleção, e coletando juntas imagens relacionadas há uma maximização no valor de cada imagem individual

De acordo com Forsyth (1999, p. 326), “muitas das coleções de imagens contêm dezenas de milhões de itens. Acessar uma coleção de fotografias é difícil porque é trabalhoso descrever uma foto corretamente. Indexar uma grande coleção de modo manual envolve um substancial volume de trabalho”. Para Arms (1999, p. 379, tradução nossa)51

51

describing pictorial materials accurately is time-consuming and expensive. Unlike a book, which usually has a title page on which basic information is recorded, an image does not describe itself. Words are needed to indicate the place or event represented in a photograph, its creator, the names of people

Descrever material fotográfico corretamente demanda um grande tempo, além de grandes recursos financeiros. Diferentemente do livro, que possui uma página de rosto com informações básicas, uma imagem não descreve a si mesma. Palavras são necessárias para indicar local ou evento representado na fotografia, seu criador, os nomes das pessoas retratadas e quando isso foi feito. Permitir um acesso efetivo a grandes coleções torna-se um grande desafio, pois, infelizmente, muitas soluções para acesso a arquivos físicos não podem ser usadas de forma adequada em ambientes virtuais [...].

Os comentários dos autores acima dão uma dimensão exata das angústias que envolvem os administradores dos bancos de imagens: como organizar com qualidade as fotos, garantido a sua recuperação com a maior relevância possível e sem gastar excessivamente? A resposta a essa pergunta está na adoção de padrões adequados de análise das imagens e do estabelecimento de princípios de tematização que reúnam imagens semelhantes e delimitem e direcionem a sua polissemia, permitindo a racionalização: dos custos de funcionários, equipamentos, softwares; tempo de trabalho necessário; profundidade da indexação; volume de fotos a serem analisadas diariamente etc. Todos esses itens têm custos, e o casamento destes com os orçamentos possíveis dos bancos de imagens desempenha um papel fundamental na qualidade do trabalho executado.

Nas palavras de Smit (1998, p. 102) “a descrição de uma imagem nunca é completa” e Manini (2007) acrescenta: “sempre haverá algo a se perguntar sobre ela”, aumentando a dificuldade em se saber o que indexar e em que profundidade. O uso de uma tematização adequada poderá, todavia, delimitar e direcionar o discurso da imagem estabelecendo limites para a sua polissemia, além de permitir a incorporação de temas aparentemente fora de seu contexto. Contribui ainda para que se escolham, na hora da indexação, somente fotos compatíveis com as características e objetivos dos bancos de imagens, principalmente daqueles de caráter especializado. A tematização é, portanto, uma técnica que antecede a indexação das imagens fotográficas delimitando e direcionando os discursos contidos nas mesmas.

Ao delimitar os discursos, a tematização, de certa forma, seleciona os temas existentes na fotografia que são de interesse do banco de imagens. Fixa os limites em que a foto será indexada e para os quais terá metadados e termos de recuperação. Uma

portrayed, and when it was taken. Providing effective access to large collections poses a challenge; unfortunately, many of the solutions for access in physical archives do not transfer as readily to the online environment […]

foto, por exemplo, pode conter vários discursos A, B, C, D, E, F, G, H etc. Destes, apenas os discursos B, D, E e H são de interesse do banco de imagens. Nesse caso, a fotografia será interpretada e, posteriormente, indexada observando-se apenas os discursos desses temas. Os demais discursos, embora presentes na fotografia, serão desconsiderados, pois não fazem parte dos interesses do banco de imagens.

Esses discursos escolhidos podem ter sentidos conotativos concretos (B e H) e

conotativos abstratos (D e E) que, ao serem delimitados, direcionam a foto juntando-a a

outros discursos semelhantes de outras fotografias já existentes no banco de imagens. Principalmente os sentidos conotativos abstratos, por não estarem claramente implícitos nas imagens, permitem um direcionamento que amplia as possibilidades de uso da foto.

Tematização B, D, E e H

Delimitam o discurso da fotografia

B e H conotativos concretos

D e E conotativos abstratos Direcionam o discurso da fotografia

A sequência de fotografias a seguir (Figuras 46 a 53) traz exemplos de possíveis tematizações52 de assuntos implícitos em algumas fotografias. Embora cada foto possa ter vários discursos, somente o discurso relacionado a MODA será observado uma vez que as fotografias selecionadas destinam-se à coleção MODA do banco de imagens OLHARES que as armazena. A escolha desse tema delimita a polissemia das fotos e as direciona para o assunto do banco. Alguns temas são conotativos concretos, pois estão bem explícitos em relação àquilo que é mostrado pelas fotografias; outros são

conotativos abstratos, pois estão implícitos, e sua utilização dentro do tema será

possível em determinadas circunstâncias de uso da fotografia para ilustrar e/ou comunicar alguma informação. Ao escolher o discurso sobre MODA, todos os temas a ele relacionados serão ligados à foto, os outros serão descartados.

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As possíveis tematizações podem variar conforme a visão de quem faz a análise da foto.

A B C D E F G H

FOTO

Foto: Olhares

Figura 46 – Modelos e motocicleta