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Parte 2 – Elaboração dos capítulos fins da tese.

5 A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E A IMAGEM FOTOGRÁFICA COMO REGISTRO DE INFORMAÇÃO

6.2 IMAGEM EM GERAL

6.2.5 IDADE MODERNA

Fatos marcantes acontecidos na Europa em fins do século XV e começo do século XVI representaram mudanças significativas na ciência, cultura, educação e artes. Entre eles, a invenção da imprensa, o Renascimento Italiano e a reforma protestante.

A invenção da imprensa com tipos móveis de metal, feita por Gutenberg, em Mainz, na Alemanha, por volta de 1450, alavancou o desenvolvimento e a popularização da educação, das ciências, da escrita, da leitura e, por extensão, da imagem como suporte aos textos.

Um dos maiores acontecimentos da história da humanidade, relacionado à cultura, à educação e às artes, foi o Renascimento Italiano, movimento nascido em Florença em meados do século XIV e que teve seu apogeu no século XV, quando se espalhou por toda a Europa, prolongando-se até meados do século XVI.

Apesar de significar o renascer de uma série de atividades, o Renascimento estava mais associado à arte, principalmente às imagens (escultura, relevos, pintura, joalheria etc.). Além dessas, música e arquitetura tiveram também um papel importante no Renascimento.

A descoberta da perspectiva científica34 e os estudos de anatomia que permitiram a representação perfeita do corpo humano (GOMBRICH, 1999, p. 341) tiveram um papel fundamental nas representações imagéticas, levando-as à categoria de verdadeiras obras-primas da arte humana.

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A descoberta da perspectiva científica, atribuída ao arquiteto florentino Fillipo Brunelleschi, permitiu dar às imagens pictóricas a sensação de profundidade e tridimensionalidade.

Pintores e mecenas estavam fascinados pela idéia de que a arte pudesse ser usada não só para contar a história sagrada de uma forma comovente, mas também para refletir um fragmento do mundo real. (GOMBRICH, 1999, p. 248)

É importante ressaltar que, apesar da invenção da imprensa e do aumento do número de livros disponíveis, parte da população continuava iletrada, necessitando das imagens para ter acesso à informação.

Além das pinturas religiosas (Figura 24) e profanas (Figura 25), as imagens pictóricas foram amplamente utilizadas nas xilogravuras de cenas religiosas para ilustrar os livros que começaram a ser produzidos após a invenção da imprensa móvel. Produziram-se, nesse período, muitos desenhos, provenientes de estudos “técnicos e científicos” realizados por estudiosos, destacando-se os de Michelangelo e os de Leonardo da Vinci sobre a anatomia humana (Figura 26).

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Figura 25 – Alegoria à Primavera, de Sandro Botticelli Figura 26 – Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci

Os relevos em mármore e metais, adotando técnicas da perspectiva científica, tiveram destaque principalmente nas imagens religiosas que ornavam os altares, pias batismais, portas das igrejas etc. (Figura 27). As grandes esculturas, em madeira, bronze e, principalmente, mármore, foram, com as pinturas, o grande expoente das imagens renascentistas (Figura 28).

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Figura 27 – Portas do Paraíso, Batistério Figura 28– Davi, de Michelangelo da Duomo de Florença – Lorenzo Ghiberti

Todavia, apesar da grandiosidade artística e cultural que trouxe a toda Europa, o Renascimento foi abalado em alguns países pela Reforma Protestante deflagrada no início do século XVI por Martinho Lutero e que trouxe consigo o questionamento sobre o valor moral e religioso das imagens. De acordo com Gombrich (1999, p. 374),

No norte da Europa questionou-se, durante a Reforma, se a pintura podia e devia existir. Muitos protestantes objetavam à existência de quadros ou estátuas de santos em igrejas, considerando isso um sinal de idolatria papista. Os mais rigorosos condenavam inclusive decorações nas casas.

Assim sendo, a proibição do culto às imagens estava entre as várias medidas adotadas pelos reformistas protestantes alterando de forma significativa a criação de imagens nos países que adotaram a nova religião. Para Gombrich (1999, p. 413), “os pintores tinham que se concentrar em certos ramos da arte para os quais não houvesse objeções de fundo religioso. A pintura de retratos foi o campo mais explorado”, enquanto nos países católicos permaneciam os temas até então vigentes.

O surgimento do Barroco, em meados do século XVI ao início do século XVII, marcou ainda mais a divisão “temática” das imagens entre os países católicos e protestantes. Os pintores e escultores protestantes especializaram-se em paisagens,

cenas de natureza, naturezas mortas, cenas do cotidiano, festas, estátuas equestres etc., tornando-se “especialistas tão notáveis na fiel e minuciosa retratação de barcos e apetrechos náuticos (Figura 29), que ainda hoje seus quadros são considerados valiosos documentos históricos do período da expansão naval na Inglaterra e Holanda” (Gombrich, 1999, p. 418). Por outro lado, nos países católicos – apesar de os temas “profanos” continuarem a ser usados em grande escala – a Igreja Católica incentivava, cada vez mais, o uso da imagem para finalidades religiosas utilizando-se de artistas diversos – pintores, escultores, arquitetos etc. – para decorar suntuosamente suas igrejas e catedrais (Figura 30). O objetivo era continuar atraindo as pessoas, através da imagem, para a doutrina estabelecida. Esculturas e pinturas magníficas eram feitas para decorar os altares, paredes e tetos das igrejas. O movimento chamado Contra-Reforma, cujo objetivo principal consistia em “salvar” os países ainda não afetados pela Reforma Protestante, entendia que as imagens continuavam sendo fundamentais para a imaginação das pessoas, principalmente as iletradas e ignorantes. Todavia

Não foi só a igreja católica que descobriu o poder da arte para impressionar e dominar pela emoção. Os reis e príncipes da Europa seiscentista estavam igualmente ansiosos por exibir seu poderio e assim aumentar a sua ascendência sobre a mente de seus súditos (GOMBRICH, 1999, p. 447).

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Figura 29– Vaso de Guerra Holandês, de Figura 30 – Igreja Barroca em Convento de Simon de Vlieger São Gonçalo do Amarante