• Nenhum resultado encontrado

Parte 2 – Elaboração dos capítulos fins da tese.

5 A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E A IMAGEM FOTOGRÁFICA COMO REGISTRO DE INFORMAÇÃO

6.2 IMAGEM EM GERAL

6.2.4 IDADE MÉDIA

Após a queda do império romano e a ocupação pelos chamados povos

bárbaros31, iniciou-se na Europa Ocidental o período definido pela História como sendo

a Idade Média (de 476 d.C. a 1453 d.C.).

Os primeiros momentos dessa nova era foram confusos e passaram a ser conhecidos como a “Idade das Trevas”.

Deu-se-lhe essa designação para significar, em parte, que as pessoas que viveram durante esses séculos de migrações, guerras e sublevações estavam mergulhadas na escuridão e tinham escassos conhecimentos para guiá-las: mas também para assinalar que pouco sabemos a respeito desses séculos confusos e desconcertantes que se seguiram ao declínio do mundo antigo e precederam o surgimentos dos países europeus na configuração em que mais ou menos os conhecemos hoje. (GOMBRICH, 1999, p. 157)

A instabilidade causada pelas guerras e pelas constantes invasões de povos do norte deixou a vida cultural e intelectual sensivelmente fragilizada. A cultura tornou-se privilégio de uns poucos nobres e do clero, que dela se servia para seus propósitos de propagação da fé católica. A população em geral estava mais preocupada com suas necessidades básicas do dia-a-dia, não lhe restando tempo para assuntos intelectuais, culturais ou científicos. Assim, a Igreja Católica foi a única instituição que manteve as

31

A expressão bárbaros foi utilizada pelos gregos para indicar os estrangeiros. Os romanos a usavam para designar os outros povos que não pertenciam ao império nem tinham seus costumes e suas tradições.

tradições culturais e intelectuais, notadamente nos mosteiros onde os clássicos latinos e gregos, além de textos religiosos, eram lidos e copiados. Esta mesma Igreja cuidava de propagar oralmente à população os ensinamentos constantes dos documentos religiosos escritos.

Embora muitos clérigos fossem, desde a Igreja primitiva, contra o uso de imagens na religião – principalmente as esculturas –, a Igreja apoiava-se nas figuras pictóricas como instrumentos auxiliares à leitura oral, e grande parte dos textos religiosos possuía iluminuras em pergaminho com cenas religiosas de rara beleza (Figura 21). Também as paredes das igrejas eram ornadas com pinturas. Segundo Gombrich (1999, p. 135),

alguns as consideravam úteis porque ajudavam a congregação a recordar os ensinamentos que haviam recebido e mantinham viva a memória desses episódios sagrados.

O papa Gregório Magno, que viveu no final do século VI, seguiu essa orientação. Lembrou àqueles que eram contra qualquer pintura que muitos membros da Igreja não sabiam ler nem escrever, e que, para ensiná-los, essas imagens eram tão úteis quanto os desenhos de um livro ilustrado para crianças. Disse ele: „A pintura pode fazer pelos analfabetos o que a escrita faz pelos que sabem ler‟.

Foto Google

Figura 21 – Gênesis de Viena – pergaminho com iluminura do século VI

O uso de imagens religiosas, entretanto, era questionado pelas igrejas cristãs de língua grega, no império romano oriental, cuja capital era Bizâncio. Em 726, por influência dos iconoclastas32 judeus e islâmicos, o imperador Leão III proibiu o uso de imagens em todo o império, permitindo apenas a decoração geométrica, semelhante à usada pelos seguidores de Maomé. Tal fato, conhecido como a Querela Iconoclasta –

32

Iconoclastas são pessoas que se opõem ao culto de imagens e outros ícones, seja por motivos culturais, políticos ou religiosos.

que durou até 825 –, causou graves conflitos entre as autoridades políticas por um lado, e os monges, clérigos e fieis por outro, resultando num rompimento com a Igreja de Roma, que aprovava o uso de imagens. Em 787, para combater a iconoclastia, considerada uma heresia, a Igreja decretou no sétimo Concílio Ecumênico, realizado em Nicéia, que

A realização de pinturas não é uma invenção do pintor, mas uma proclamação reconhecida das leis e tradições da Igreja como um todo. Os padres antigos são responsáveis por sua execução nas paredes das igrejas: é o pensamento e a tradição deles que vemos, mas não os do pintor. Ao pintor, a arte pertence, mas a ordem das pinturas pertence aos padres da Igreja‟. (FISCHER, 2006, p. 137)

“Competindo” com o Cristianismo, surge no Oriente Médio – precisamente na região onde hoje se situa a Arábia Saudita – outra grande religião: o Islamismo, fundada por Maomé em 622 d.C.

Diferentemente do Cristianismo, o Islamismo proibia com rigor o uso de imagens para quaisquer representações de cunho religioso. Baseava-se numa arraigada tradição oral para transmitir seus ensinamentos, e “somente após a Hégira (fuga de Maomé de Meca para Medina, em 622 d.C.) os discípulos do profeta começaram a empregar a escrita árabe local para preservar fragmentos desse ensinamento oral” (FISCHER, 2006 p.139). Porém, “mesmo tendo importância reduzida devido à aversão a imagens, condicionada pela religião, representações figurativas não estavam excluídas” (BAUMGART, 2007, p. 117). Para outros fins, como ilustração em documentos, romances, cerâmicas, relevos em marfim, objetos diversos, tapeçaria, tecelagem etc. era permitido o uso de imagens, principalmente aquelas que tinham uma visão menos realística do mundo. Pinturas em forma de afrescos e mosaicos eram utilizadas para decorar palácios, edifícios públicos e residências abastadas e representavam normalmente cenas de caça e do cotidiano.

Para contornar a proibição de imagens religiosas, as mesquitas e os documentos religiosos, incluindo o Alcorão – livro sagrado dos muçulmanos –, eram adornados com imagens na forma de arabescos33 (Figura 22) que traziam representações normalmente

abstratas. Alguns raros arabescos retratavam flores, frutas e plantas entrelaçadas. Além deles, paredes de vários edifícios, objetos e utensílios de uso pessoal (Figura 23), vasos em cerâmica, tecelagem e tapetes eram também adornados com esse tipo de desenho.

33

O termo arabesco significa “ornato em origem árabe, no qual se entrelaçam linhas, ramagens, grinaldas, flores, frutos, etc.” (Dicionário Aurélio)

Foto Google Foto Google

Caixa árabe