• Nenhum resultado encontrado

Parte 2 – Elaboração dos capítulos fins da tese.

5 A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E A IMAGEM FOTOGRÁFICA COMO REGISTRO DE INFORMAÇÃO

6.3 A TEMATIZAÇÃO DA IMAGEM NA HISTÓRIA

Ao criar suas imagens, o homem primitivo, de forma inadvertida, elaborou os primeiros discursos da tematização imagética, amplamente utilizados posteriormente em todo o decorrer da história, até os dias atuais. Ainda que os objetivos de criação das imagens “primitivas” 36 fossem apenas registrar fatos, acontecimentos e eventos da natureza com o intuito de entendê-los; ou ainda registrar para dar conhecimento aos descendentes; ou, em última instância, criar mecanismos de dominação de uns homens sobre os outros, as imagens traziam consigo não só seu aspecto denotativo, mas também aspectos conotativos concretos e/ou abstratos (Figura 36), muitos dos quais eram, de certa maneira, tematizados conforme a orientação que deveria ser dada por algum costume tribal.

Foto Google

As flechas atiradas, por exemplo, sobre as pinturas de caça encontradas em muitas cavernas dão a entender que essas pinturas significavam uma caçada em todas as

36

Muitas das chamadas imagens “primitivas” tinham qualidades técnicas e estéticas comparadas a imagens de séculos recentes, principalmente algumas pinturas rupestres que se assemelham a imagens impressionistas.

Figura 36 –Pintura rupestre com cena de caça

Com relação à imagem ao lado:

Aspectos denotativos: homens

armados, flechas, animais.

Aspectos conotativos concretos:

caça, busca de alimentos

Aspectos conotativos abstratos:

sorte, proteção, fartura, vida, alimento, progresso, sobrevivência, perigo, medo, morte, violência etc.

suas nuances (técnicas, instrumentos de caça, perigos, espírito coletivo, luta etc.) e que as flechas atiradas sobre elas influenciariam positivamente no resultado das caçadas protegendo os caçadores. O uso das flechas produzia, portanto, discursos tematizados ligados à SORTE, PROTEÇÃO, FARTURA, VIDA, ALIMENTO, PROGRESSO, SOBREVIVÊNCIA etc. Ao produzirem tais discursos delimitavam e direcionavam a polissemia da imagem, deixando de fora outros discursos possíveis ligados a PERIGO, MEDO, MORTE, VIOLÊNCIA etc.

Via de regra, as imagens primitivas tinham como discurso temas ligados ao cotidiano da sobrevivência, tais como: proteção contra eventos da natureza, caça, fertilidade etc. e foram, desde cedo, manipuladas pelos “sacerdotes” ou “magos”. Referindo-se a isso, Baumgart (2007, p. 6) comenta:

Visto que, certamente, nem todo homem pré-histórico possuía esta capacidade de representação, os assim dotados poderiam ter desempenhado um papel importante, por exemplo, o de um mago ou invocador. Existem alguns indícios de que possuíam algo como uma oficina onde produziam as tintas a partir de carvão e ocre e as armazenavam em forma de bastonetes de giz, e até mesmo gozavam de certa reputação e eram solicitados em outras cavernas que não as de seu grupo.

Na sua evolução, a humanidade trouxe consigo essa dominação primitiva de uns homens sobre os outros, e a imagem exerceu importante papel nesse domínio devido aos discursos tematizados nos quais era criada e/ou utilizada. Em todas as épocas, aqueles que governavam37 – e que governam – sempre a utilizaram, nas suas mais diversas formas (pintura, escultura, desenho, fotografia, cinema, TV etc.), para direcionar as pessoas, forçando-as, de certa forma, a aceitarem suas idéias, sentimentos e ideologias. Cada imagem produzida ou utilizada por esses governantes com o intuito de dominação traz consigo um discurso tematizado que, de certa maneira, determina e direciona a sua característica polissêmica.

Grande parte dos objetos construídos e/ou manipulados pelo homem constituíram-se – e ainda constituem-se – em imagens com algum significado. Determinados tipos de pedras; espécies de animais e plantas; objetos diversos ligados ao cotidiano e, até, o próprio homem, ganharam, no decorrer da história, significados místicos, passando a representar fenômenos religiosos e transmitindo informações e conhecimentos de uma geração a outra. Também os acontecimentos naturais (arco-íris, pôr-do-sol, trovões, relâmpagos, eclipses, enchentes, tremores de terra etc.), por não

37

terem à época explicações, ganharam significados diversos. Era a “conversa” dos deuses com os homens.

A forma como os “sacerdotes”, “magos” e governantes tematizavam todos esses tipos de imagens e acontecimentos determinava a interpretação que a eles era dada pelos “homens comuns” das tribos, aldeias e, posteriormente, cidades. Ao determinarem significados, criavam discursos que delimitavam e direcionavam os temas que queriam que as imagens representassem, eliminando os demais temas que não eram objeto de seus interesses. Uma pedra, por exemplo, podia transformar-se, entre outras coisas, num objeto representativo de êxito nas colheitas, ou de fertilidade feminina, se assim fosse tematizada pelo “sacerdote”.

As imagens, durante um grande período da história, por significarem aspectos místicos, culturais e informativos, mais que aspectos estéticos e decorativos, localizavam-se em locais considerados “públicos”, que variavam conforme o seu tipo, facilitando a sua tematização “globalizada”. Na pré-história abrigavam-se em locais de difícil acesso, nas grandes cavernas, onde podiam ser vistas apenas com fins específicos, o que evidenciava seu discurso místico e religioso. Na Antiguidade, os grandes monumentos e esculturas em locais públicos permitiam às populações assimilarem sua temática mística e religiosa, mas também cultural e informativa.

Nas catedrais da Idade Média, por meio de esculturas, alto relevos, grandes vitrais e, principalmente, pinturas exerciam uma função “decorativa” destinada essencialmente a transmitir conhecimentos e discursos com temática determinada pela Igreja. No conjunto das grandes catedrais a imagem localizava-se também na Bíblia dos

Pobres com discursos tematizados dirigidos aos padres de pouca cultura e,

principalmente, aos milhares de fieis analfabetos. A Bíblia dos Pobres (Figura 37) basicamente compunha-se de ricas imagens de cenas bíblicas com um ou mais textos explicativos que descreviam cada imagem. Essas bíblias ficavam inicialmente disponíveis nas catedrais e igrejas para serem “lidas” pelos clérigos que as interpretavam para os fieis de acordo com os discursos tematizados nas mesmas, de interesse da Igreja. Somente no século XV a Bíblia dos Pobres tornou-se mais popular, podendo ser adquirida por famílias de posses. Segundo afirma Fischer (2006, p. 181), os

[...] leitores não tinham o real significado dos desenhos e muitas vezes precisavam de mediação dos padres que, na qualidade de “intérpretes”, reafirmavam a hegemonia da igreja. [...] ao homem comum não se admitia ler a bíblia em latim. Somente as autoridades religiosas podiam lê-las. [...] A igreja, desviando a leitura para a bíblia dos pobres, equivalente à “leitura” dos vitrais,

manteve congregações inteiras confinadas nas fronteiras do analfabetismo e da subserviência por um longo tempo, permitindo que apenas um seleto grupo tivesse acesso à leitura e à escrita, com aprovação e apoio da igreja.

Foto Ricardo Rodrigues

A invenção da imprensa, por volta de 1450, apesar de ter ocasionado a popularização da educação, das ciências, da escola, da leitura e das imagens, trouxe consigo, na maior parte dos países, um rígido e violento controle com censura prévia, principalmente pela Igreja, sobre o que era produzido. Alegava-se que os novos livros

profanos poderiam pôr em risco a fé e os ensinamentos sagrados.

Todavia, a leitura silenciosa38 já vinha permitindo, bem antes da invenção da

imprensa, o uso de textos – especialmente xilográficos – com temática não religiosa e, inclusive, erótica. “Iluminuras de textos franceses e flamengos retratam cenas de luxúria em bordeis com realismo explícito e sedutor” (CHARTIER; CAVALLO, 1998, v. 1, p. 169). Assim, apesar da censura, muitos livros continuaram a ser lidos e muitos outros foram produzidos clandestinamente em várias esferas do conhecimento, indo de encontro aos discursos tematizados de interesse de governantes e da Igreja, que chegou a publicar, por volta de 1559, o Index Librorum Prohibitorum (Índice dos Livros

38

Desde a Antiguidade, uma vez que poucas pessoas sabiam ler e escrever, a leitura era feita em voz alta, principalmente em locais públicos, pelos escribas e por uns poucos “letrados”. Embora haja registros que mostram alguma leitura silenciosa na Antiguidade e início da Idade Média, era raro que uma pessoa lêsse em voz baixa ou em silêncio. Nos mosteiros, até a Renascença Carolíngia, os copistas faziam as cópias a partir dos textos que liam em voz alta ou que eram ditados por outros copistas. Com a proliferação de textos, no decorrer dos séculos seguintes, a leitura pode ser feita por um número maior de pessoas que adquiriram o hábito de lerem em silêncio, para si mesmas. A leitura coletiva em voz alta, todavia permaneceu – e ainda permanece – em muitas culturas.

Proibidos)39 no qual listava os livros e autores proibidos de serem lidos. No bojo desses

livros inseriam-se as ilustrações e imagens com discursos temáticos considerados profanos e/ou obscenos.

Durante o Renascimento Italiano os tipos de imagens relacionados a esculturas, relevos, joalheria etc. permaneceram praticamente os mesmos. As pinturas, desenhos e ilustrações, todavia, ganharam novas formas de divulgação decorrentes da invenção da imprensa. Ampliaram-se, com isso, de modo considerável, as temáticas até então vigentes, que passaram a incluir, além dos temas religiosos, discursos ligados a assuntos “profanos” e a estudos “técnicos” e “científicos”, como aqueles de Leonardo da Vinci e de Michelângelo.

Os locais de uso também expandiram-se dos locais públicos para locais privados e a imagem, principalmente a pintura, começou a ganhar uma dimensão temática ligada também ao estético e ao decorativo. Muitas obras passaram a ser encomendadas aos grandes mestres para decorar salas em palácios de famílias abastadas. Com o decorrer dos séculos, muitas dessas imagens, que anteriormente serviram apenas para decoração, ganharam sentidos informacionais incorporando discursos temáticos ligados à cultura e à história dos locais onde foram produzidas.

No período da chamada Revolução Industrial a imagem passa por uma profunda alteração na ordem de importância de sua tipologia. As ilustrações ganham um significado especial – destacando-se das demais formas (esculturas, relevos e a própria pintura no seu estilo clássico) – passando a fazer parte integral de livros, revistas, jornais, cartazes etc. A temática dessas ilustrações, em forma de desenhos, começa a obedecer a diferentes discursos que incluíam, em sua maioria, fatos, acontecimentos e ações do cotidiano da época. O uso de “legendas”, para fazer a junção de imagem e texto, tematizava de maneira clara as ilustrações direcionando e delimitando suas possíveis polissemias.

Surge então, ainda no bojo da Revolução Industrial, a fotografia, que modernizou a técnica de ilustrações, revolucionando o conceito de uso da imagem para fins de informação e transmissão de conhecimento, permitindo uma grande ampliação na produção de discursos imagéticos. Inicialmente utilizada, com essas finalidades, pelas revistas, jornais, livros, cartazes, folhetos, outdoors etc., a fotografia ganhou grande projeção na atualidade com o advento da Internet, por meio da qual pode atingir

39

todos os rincões do mundo quase instantaneamente após ser criada, produzindo inúmeros discursos temáticos, conforme o local, culturas e pessoas que dela tomam conhecimento.

Em todas as etapas da história existiram coisas (seres vivos, objetos e fenômenos) que, ao serem representadas na forma de imagens, passaram a significar situações e/ou conceitos específicos, por meio dos quais foi possível a criação de discursos imagéticos. Esses discursos variavam conforme a maneira pela qual cada coisa era vista por diferentes culturas e pessoas, tomando como a base a cognição e as imagens mentais predominantes nessas culturas. Além disso, as diferentes épocas em que um mesmo discurso era criado poderiam trazer significados completamente distintos, ainda que numa mesma cultura, uma vez que o conhecimento e as ideologias do homem sofriam constantes evoluções. A arte imagética dos povos bárbaros, por exemplo, criada numa determinada época e local, produziu discursos com significados diferentes quando foi incorporada ao Cristianismo, durante a Idade Média, modificando, inclusive, com o tempo, o modo como seus próprios criadores a viam inicialmente. Algumas pinturas religiosas nas catedrais tinham seus discursos temáticos alterados em épocas distintas, conforme as necessidades momentâneas dos governantes e da Igreja, levando-se em conta as condições culturais, políticas e sociais da população em determinado momento. Numa dada época uma imagem poderia ser associada ao diabólico ou ao mal. Em outra poder-se-ia dar a ela uma conotação voltada para a salvação ou o bem.

No geral, entretanto, há, segundo autores citados nesta pesquisa40, um conjunto de coisas que ao serem utilizadas nas imagens tematizavam as mesmas – ou quase as mesmas – situações e fenômenos, variando muito pouco entre as diferentes culturas que as usavam e nas distintas épocas. Os discursos criados pela tematização dessas coisas pelos “sacerdotes”, “magos” e governantes destinavam-se a influenciar as pessoas e, na maioria das vezes, a determinar seu comportamento, compatibilizando-o com os interesses dos mandatários e da comunidade como um todo.

Algumas coisas, mais que outras, permitiram a criação de significados para as imagens, levando à determinação de diferentes discursos imagéticos, conforme os interesses dos produtores desses discursos.

40

No contexto das representações as imagens que usavam seres vivos incluíam animais terrestres, aquáticos, pássaros e o próprio homem como objetos centrais de suas temáticas. Determinados animais, reais ou mitológicos, possuíam representações e significados específicos ligados a virtudes, vícios, alegria, tristeza, bem, mal, saúde, doença, força, fraqueza, sabedoria, ignorância etc. O uso de imagens com animais procurava criar discursos que levavam os homens a temerem ou a idolatrarem algumas situações e conceitos. Na Idade Média, por exemplo, as imagens contendo figuras de dragões associavam-se a aspectos maléficos e passavam um discurso do perigo, das forças do inferno. A imagem de São Jorge vencendo, com sua lança, o dragão transmitia a mensagem de vitória do bem contra o mal, da coragem sobre o perigo, ou seja, na concepção religiosa da época, da Igreja sobre os pagãos (Figura 38). Para muitas pessoas, a figura do dragão e de outros animais mitológicos possuía um discurso verdadeiro, pois não conseguiam vislumbrar a existência desses animais apenas no campo do imaginário. Para muitos, esses animais existiam realmente nos discursos tematizados que as imagens lhes mostravam.

Ilustração Google

No campo dos animais reais, alguns traziam – e ainda trazem nos dias atuais – uma simbologia que permitia a criação de discursos tematizados ligados à dominação, à força bruta, ao poder, à nobreza etc. e, ao mesmo tempo, ao medo, ao perigo, ao pavor. O leão, por exemplo, significou na Antiguidade a força e o poder de determinados reinos, como o de Salomão. Posteriormente, para os cristãos significou o discurso da morte nas arenas. As aves, pelas suas habilidades de voar significavam a possibilidade de se atingir os céus e se chegar aos deuses, embora em muitos discursos tematizassem

o sofrimento, o medo e o pavor, como no caso da águia que, embora significasse sabedoria e esperteza, também era a representação do sofrimento e dor no discurso imagético que remete à história de Prometeu Acorrentado (Figuras 39 e 40), obra atribuída a Ésquilo41.

Foto Google Foto Ricardo Rodrigues

As imagens primitivas das cavernas, principalmente aquelas mostrando cenas de caça, tematizavam os animais sob dois prismas distintos: o do agradável e o do desagradável. Poder-se-ia ver o discurso do agradável quando as imagens eram associadas a alimentos, sobrevivência, saúde, alegria e fartura. Do desagradável quando associadas a perigo, medo, escassez e fome. Por isso, como já mencionado, os rituais das flechas atiradas sobre as imagens eram realizados para buscar fluidos positivos para garantir que as caçadas fossem fartas e seguras.

A imagem feminina, por sua vez, sempre teve um papel de destaque na simbologia histórica e esteve associada ao simbolismo e à tematização do sexo e do ciclo da vida, como função de eternidade e de culto da fertilidade.

Muitas imagens produzidas ao longo da história com o objetivo de representar situações místicas e divinas, além daquelas que representavam cenas de batalhas, caçadas, atividades do cotidiano etc., tinham um caráter antropomórfico, ou seja, atribuíam aos deuses, aos elementos da natureza, aos animais e aos objetos em geral

41

Algumas versões em texto da obra de Ésquilo e algumas pinturas sobre o tema trazem a figura de um abutre em lugar da águia.

Figura 39 – Prometeu Acorrentado, de Rubens

e Snyders – Museu de Arte da Filadélfia Figura 40 – Prometeu Acorrentado, de Sébastien Adam – Museu do Louvre

características humanas. Grande parte dos deuses nas diferentes civilizações possuía algumas características humanas mescladas com características animais.

Ainda no aspecto da representação imagética utilizando-se de seres vivos, as doenças físicas, principalmente aquelas que causavam deformidades nas pessoas e animais, eram tematizadas como ligações ao malévolo, aos deuses ruins e ao diabo (na Idade Média), o que justificava, em muitos casos, os rituais de sacrifício desses seres em algumas culturas. Acreditava-se que os aleijados eram aqueles seres rejeitados pelos deuses e a quem o reino dos céus era negado.

Além dos seres vivos, muitos objetos e construções representavam, em si mesmos, imagens tematizadas nos diversos períodos da história, principalmente na Antiguidade e boa parte da Idade Média. Na Grécia e na Roma antigas, por exemplo, as colunas clássicas, com seus alto-relevos, simbolizavam a grandeza e a glória dos impérios, tematizando fatos e acontecimentos a isso relacionados. Os arcos dos triunfos tematizavam as grandes conquistas sobre outros povos. No antigo Egito, as pirâmides, além de ostentarem a grandeza dos monarcas que ali eram enterrados, simbolizavam e tematizavam a eternidade e a vida após a morte, princípios básicos da religião egípcia. Ainda no Egito, o livro dos mortos simbolizava a glorificação da vida após a morte e indicava os caminhos a serem seguidos pelo homem na nova vida. Tematizavam, portanto, um futuro promissor, advindo após a passagem do homem para uma nova dimensão.

Praticamente todos os povos antigos dispunham de objetos e construções tematizadas com situações místicas e religiosas. Inúmeros objetos podiam representar as coisas do mundo e tematizar, entre outras coisas, alegria e tristeza, vitória e derrota, guerra e paz, amor e ódio, trabalho e ócio, fartura e fome etc. O círculo, o disco, a roseta podiam, por exemplo, tematizar o sol, o universo ou as estrelas em vários sentidos positivos ou negativos. Outros objetos representavam algo nos rituais religiosos e nas ações cotidianas do homem. Ser retratado, por exemplo, junto a determinados objetos, poderia dar ao homem uma aparência de realeza, tematizando poder e superioridade.

Somando-se aos seres vivos e aos objetos de forma geral, os elementos da natureza (terra, água, ar, fogo) e os fenômenos (trovões, relâmpagos, arco-íris, eclipses, terremotos, maremotos, furacões etc.) eram tematizados de acordo com as diversas culturas e conforme os momentos em que aconteciam. Um eclipse solar, por exemplo, poderia significar, num determinado lugar, a “ira do deus sol” e num outro a sua complacência com os homens, ao aparecer novamente após a fase de desaparecimento.

Em todos os seus momentos, no decorrer da história, a imagem permitiu tematizações as mais diversas. Grande parte era prontamente percebida, posto que as imagens eram quase sempre criadas individual e artesanalmente e já com o objetivo de atender a determinados temas. A invenção da fotografia e sua grande expansão, principalmente após o advento da fotografia digital, alteraram em parte a maneira de se ver a imagem. Criada a partir de um objeto/ser vivo já existente, o que permite diferentes interpretações e formas de visão, a fotografia amplia significativamente as possibilidades interpretativas tornando-a bem mais polissêmica que as demais formas de imagem. Todavia, ao se tematizar uma fotografia, levando-se em conta seu objetivo e função, além das características do banco de imagens onde será inserida, torna-se possível delimitar e direcionar os possíveis temas que possa vir a ter. Tal procedimento, que será visto nos capítulos subsequentes, permite maior racionalização na indexação, bem como a possibilidade de inserir determinadas fotografias em temas nos quais, aparentemente, não estariam inseridas por não pertencerem diretamente a eles.