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8 CONCLUSÕES

8.2. Ameaças à validade

Esta seção descreve os cuidados do pesquisador na condução da pesquisa diante das ameaças à validade interna e externa. Por se tratar de uma pesquisa de natureza qualitativa e caráter prático, a investigação e a apresentação dos resultados devem promover autenticidade e confiabilidade, como fatores que convencem o leitor quanto à sua validade.

De acordo com Merriam (2009), as pesquisas qualitativas devem fornecer ao leitor detalhes de como as pessoas atuam em eventos para justificar as conclusões apontadas pelo pesquisador.

Sob a perspectiva da validade interna, que indica a credibilidade, Merriam (2009) destaca que esta validade representa como os resultados da pesquisa coincidem com a realidade. O autor ainda destaca que a validade interna

relaciona: 1) a coerência das descobertas com a realidade; 2) o realismo na captura das descobertas; e 3) a observação e medição assumidos pelo pesquisador.

Diante desses aspectos, essa pesquisa considera que a coerência e o realismo do estudo foram reportados fielmente ao que aconteceu na aplicação real do By-Cycles. É importante ressaltar sobre o cuidado da pesquisadora na aplicação do By-Cycles para não enviesar a execução de todas as etapas do processo de ensino e aprendizagem pela equipe pedagógica. Apesar de sua imersão em todo processo, não houve interferências ao comportamento e trabalho da equipe. Para Merriam (2009), a pesquisa qualitativa não é conduzida para que as leis do comportamento humano sejam isoladas.

A equipe pedagógica era composta por: 1) orientadora da autora desta pesquisa, ao assumir o papel de professor consultor, com garantia de conhecimento e experiência na aplicação de PBL e; 2) estudante de doutorado, como tutor técnico, completamente familiarizado com o contexto dessa pesquisa, pelo fato de também realizar pesquisas em PBL; e 3) a própria pesquisadora assumindo a função de “tutor PBL”, o que permitiu observar e interpretar a realidade sob a ótica do comportamento do processo diante dos aspectos metodológicos.

Para reduzir os riscos de incredulidade, ao considerar apenas a observação da autora, buscou-se por especialistas para avaliar e apontar percepções diferentes daquelas propostas pela autora. Portanto, um questionário foi concebido para facilitar a avaliação do By-Cycles e assim identificar a percepção de docentes da área de Computação quanto à estrutura e componentes do By-Cycles.

Esse instrumento foi revisado por pares como estratégia para promover a consistência, clareza e imparcialidade, favorecendo a interpretação dos respondentes. No capítulo de resultados, a seção 7.3 destaca os resultados da avaliação, usados pela autora para justificar suas conclusões. Neste caso, a estratégia “trilha de auditoria”, apontada por Merriam (2009), foi adotada para relatar detalhes de como o estudo foi conduzido e como os dados foram analisados. O cuidado em relacionar os resultados da aplicação do By-Cycles com a avaliação dos especialistas foi considerado. Esta relação permitiu à pesquisadora apresentar conclusões consistentes, apresentadas na seção 7.4.

Por sua vez, a validade externa, que indica a transferibilidade da pesquisa, representa a possibilidade de replicar uma realidade sob condições a priori estabelecidas, no sentido de generalizar os resultados para os mesmos contextos. Para Merriam (2009) este aspecto pode ser promovido quando o pesquisador descreve detalhes do ambiente, dos participantes e das evidências identificadas com a aplicação (também com apoio da literatura), para que o leitor consiga identificar similaridades entre os contextos.

Neste caso, essa pesquisa detalha a estrutura e os componentes do framework, esclarecendo a relação das etapas e função dos componentes metodológicos para apoiar a implementação do processo de ensino e aprendizagem em PBL. Na seção 7.1 da pesquisa, o leitor se depara com evidências que permitem entender o funcionamento da By-Cycles. A pesquisadora se preocupou em fornecer dados descritivos suficientes sobre o comportamento de todas as etapas do By-Cycles para a implementação e gestão do processo em PBL para tornar a transferência válida e possível.

De acordo com Merriam (2009), há duas maneiras de pensar sobre a generalização na pesquisa: 1) extrapolações, como especulações sobre a provável aplicabilidade dos resultados em outras situações em condições semelhantes, mas não idênticas; e 2) hipótese de trabalho como situações que refletem situações específicas em um contexto particular.

Nestas condições, entende-se que a exibição dos resultados da aplicabilidade do By-Cycles no contexto em particular é uma forma de favorecer o leitor no entendimento necessário para usar a solução em situações semelhantes. Importante considerar que, cada contexto de ensino apresenta condições particulares e o estudo descrito representa, teoricamente, um exemplo de como adotar o framework. A pesquisa também destaca os esforços do leitor em entender requisitos essenciais a abordagem PBL como forma de promover uma implementação aderente aos seus princípios. Neste caso, entende-se que não seria adequado representar uma condição única para representar o processo de ensino e aprendizagem em PBL com o By-Cycles.

Portanto, é importante considerar a aplicabilidade do By-Cycles, por outras pessoas, como forma de verificar a confiabilidade da pesquisa. No entanto, a pesquisadora não desacredita nos resultados apresentados porque representam de forma consistente a realidade, mesmo com o viés de sua

participação. O Quadro 45 resume justificativas do pesquisador para questionamentos destacados por Merriam (2009) necessários para a promover a validade de pesquisas qualitativas.

Quadro 45–Justificativas e estratégias assumidas para a validade da pesquisa

Questionamentos Estratégias

Se o pesquisador é o principal instrumento na coleta e análise dos dados, como podemos ter certeza de que o pesquisador é um instrumento válido e confiável?

Para mitigar a inviabilidade do instrumento usado para avaliação do By-Cycles pelos especialistas, a pesquisadora utilizou a estratégia de revisão por pares. Com ela, foi possível refinar as afirmações a respeito das etapas e componentes do By-Cycles, tornando-as claras para favorecer a correta interpretação dos respondentes. O pesquisador não é tendencioso

e apenas descobre o que se espera encontrar?

O posicionamento crítico da pesquisadora quanto as descobertas e suposições foi considerado. Neste caso, a pesquisadora buscou apoio em pesquisas da literatura como forma de entender a relação das evidências e como elas poderiam afetar os resultados. A presença do pesquisador não

resulta em uma mudança no comportamento normal dos participantes, contaminando os dados?

A necessidade de assumir a imparcialidade foi considerada pela pesquisadora durante a aplicação do By-Cycles, inclusive para não influenciar no comportamento dos participantes. Se outra pessoa fizesse este

estudo, eles teriam o mesmo resultados?

A trilha de auditoria foi a estratégia adotada para representar detalhes do procedimento de uso do By-Cycles em um estudo de caso real. Esta estratégia é adequada para que o estudo possa ser replicado, uma vez que as decisões assumidas e relatadas podem conduzir a aplicação do By-Cycles em outros contextos similares.

Fonte: Elaborado pela autora (2018)

Uma vez expostos os cuidados considerados para a promoção da confiabilidade a essa pesquisa, a próxima seção descreve as limitações e trabalhos futuros.