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Processo de mudança – perspectivas para adoção e implementação do

Esta pesquisa considera que a adoção da abordagem PBL deve ser apoiada em um processo de três principais dimensões: 1) estratégica, para entender o contexto educacional para qual a abordagem de ensino PBL será implementada; 2) gerencial, para esclarecer como a equipe pedagógica deve gerenciar as etapas do processo de ensino e aprendizagem em conformidade aos princípios PBL; e 3) operacional, com o sentido de direcionar a execução do processo pela equipe, alinhada aos objetivos estratégicos. A Figura 5 representa as três dimensões e suas ênfases para a mudança do processo de ensino e aprendizagem em PBL.

Figura 5 – Perspectivas para mudança do processo de ensino e aprendizagem em PBL

Fonte: Elaborado pela autora (2018)

Na perspectiva gerencial, atribui-se o By-Cycles como solução para apoiar esta dimensão no sentido de sistematizar o trabalho da equipe pedagógica e assim facilitar a implementação do processo em PBL. O capítulo x apresenta a estrutura do By-Cycles e destaca como os componentes apóiam cada etapa para a execução do processo de ensino e aprendizagem na abordagem PBL.

O Quadro 8 representa as fases e atividades indicadas para implementar a mudança dos processos na abordagem PBL.

Quadro 8– Associação de atividades ao modelo de Moesby

Fases Atividade Perspectiva Objetivo

Investigação Avaliação diagnóstica

Estratégica Diagnosticar o contexto educacional para qual a abordagem PBL vai ser implementada.

Adoção Execução do By-Cycles

Gerencial Planejar, Executar, Acompanhar e Agir com melhorias com apoio dos componentes metodológicos do By- Cycles.

Implementação Execução das etapas do By-Cycles

Operacional Executar o processo de ensino e aprendizagem, operacionalizando as etapas com apoio do fluxo de atividades representadas pelo mapeamento SIPOC.

Fonte: Elaborado pela autora (2018)

As fases “Investigação, Adoção e Implementação” são de um modelo de mudança para implementação de PBL em processos do Ensino Superior, proposto por Moesby (2006). O modelo foi testado em processos educacionais reais da Universidade de Aalborg, na Dinamarca, em cursos de Engenharia.

Para Moesby (2006), qualquer decisão de mudança educacional deve ser apoiada pela alta gestão para atender os objetivos institucionais. Na fase de investigação, Moesby reforça a importância da gestão e os demais envolvidos discutirem sobre a mudança (sua causa, desafios e implicações ao processo). Na fase de adoção, Moesby recomenda definir a visão por considerar que a “visão é a chave para o sucesso no processo de mudança (2006, p. 47)”. Para ele, a decisão de mudança depende das necessidades de cada instituição, ao considerar razões que comprovem a transição para PBL. Nesta fase, deve-se definir a variedade da abordagem baseada em problemas a ser considerada. Além disso, o modelo considere nesta fase, atividades como: 1) planejamento, focado no trabalho da equipe, com sessões curtas de treinamentos práticos que incluem relacionar objetivos a partir das necessidades locais; 2) definição de critérios de sucesso, como indicadores que contribuem para alcançar os resultados a partir da mudança. Moesby (2006) destaca que os critérios de sucesso podem ajudar as pessoas a acompanharem os resultados esperados com mais confiança. Por fim, na fase de implementação, o processo deve ser acompanhado continuamente por meio de um plano de avaliação recomendado para verificar quais metas foram atendidas.

Detalhes específicos à implementação de PBL em relação a gestão do processo de ensino não são considerados por Moesby. Neste contexto, esta pesquisa considera que a mudança pode ser facilitada quando a execução do processo for apoiada pelo By-Cycles.

A primeira atividade do Quadro, na fase de investigação, tem função estratégica. A atividade representa uma avaliação diagnóstica baseada em perspectivas do sistema de gestão estratégico organizacional Balanced

Scorecard (BSC) (Kaplan e Norton, 1997), adaptadas para o contexto

educacional. O resultado desta atividade se concentra em entender as particularidades do contexto para qual abordagem PBL será implementada. Esta atividade é considerada importante, dentro de um processo investigativo, porque pode conduzir discussões para o processo de mudança acerca de perspectivas estratégicas educacionais de cada instituição. Para Kolmos e Graaff (2003) a realidade deve ser analisada e interpretada em contexto mais amplo para entender o processo da mudança educacional. Esta atividade, que antecede a fase de adoção, pode favorecer no planejamento da equipe onde metas de curto e longo prazos devem ser definidas.

A avaliação diagnóstica baseia-se nas perspectivas do BSC (Kaplan e Norton, 1997) de uma forma adaptada para o contexto educacional. Enquanto o scorecard mede o desempenho organizacional sob quatro perspectivas equilibradas (financeira, do cliente, dos processos internos da empresa, e do aprendizado e crescimento), para o contexto educacional, estas perspectivas são transpostas para Mercado de TI, Estudantes, Processos PBL e Recursos, respectivamente. A Figura 6 apresenta as perspectivas estratégicas estabelecidas na avaliação diagnóstica.

Figura 6 – Perspectivas da avaliação diagnóstica.

Fonte: Elaborado pela autora (2018)

Para a equipe pedagógica, as perspectivas estratégicas na avaliação diagnóstica, estimula discussões a respeito da necessidade da mudança cultural e dinâmica do processo de ensino e aprendizagem, assim como sobre a formação do estudante direcionada pelas tendências do mercado de trabalho. Todas as perspectivas estratégicas educacionais devem ser consideradas nesta fase e suas definições representam o início da “visão” (citada por Moesby) no processo da mudança para a aprendizagem em PBL.

Mesmo que existam causas semelhantes compartilhadas entre as instituições de ensino superior que desejam migrar para a aprendizagem em PBL, cada contexto educacional possui suas particularidades. Uma das causas mais comuns para a mudança para PBL está na possibilidade de melhorar os processos de ensino atuais com vistas a envolver os estudantes em práticas reais para promover uma formação autêntica a realidade profissional.

Entende-se que cada instituição pode escolher um modelo de processo mais conveniente diante da variedade de modelos baseados em PBL. O entendimento das pessoas sobre PBL influencia diretamente em sua aplicação. Este fato pode ser um problema porque, ao depender da forma da aplicação, pode-se descaracteriza à essência da abordagem. E, este tipo de risco não pode ser cometido porque a incerteza dos resultados devido à aplicação incoerente

ocasiona a descrença quanto à eficácia de PBL e consequentemente desencoraja sua adoção.

Para guiar a discussão sobre as perspectivas estratégicas na fase de investigação, esta pesquisa indica questionamentos que podem guiar a avaliação diagnóstica, conforme apresenta o Quadro 9.

Quadro 9– Questionamentos para a avaliação diagnóstica nas perspectivas estratégicas

Perspectivas Estratégicas

Objetivo Central Direcionamentos

Mercado de TI

Para atender a dinâmica de mercado como a Academia deve se posicionar diante as demandas e tendências futuras do mercado de TI?

Como aumentar as chances de inserção dos estudantes no mercado profissional? Quais as reais demandas atuais exigidas pelo mercado?

Qual(is) perfil (is) de estudante(s) que queremos formar?

Estudantes Para alinhar a Academia ao Mercado Profissional, que competências os estudantes precisam desenvolver durante o processo de aprendizagem em PBL?

Como ajudar os estudantes a identificar seu perfil profissional?

Diante do perfil do estudante, quais papéis podem exercer?

Quais habilidades, atitudes e comportamentos são necessários para atender o perfil? Processos PBL Como os processos de ensino e aprendizagem na abordagem PBL devem ser definidos?

Como planejar adequadamente o processo de ensino e aprendizagem em PBL em conformidade com seus princípios?

Como executar o processo de aprendizagem alinhando às práticas de resolução dos objetivos educacionais? Como acompanhar e verificar os resultados e evolução no desempenho do estudante? Como agir para melhorar a execução do processo?

Recursos Quais são os recursos necessários para a execução efetiva do processo de ensino e aprendizagem na abordagem PBL?

Quais sistemas tecnológicos (LMS, AVA, VLE) podem ajudar na gestão do processo de resolução em PBL?

Como capacitar o recurso humano para implementação do processo em PBL? Como orientar o recurso humano conforme seu papel na equipe pedagógica?

No Quadro 9, os questionamentos refletem aspectos necessários a cada perspectiva para identificar as necessidades reais do contexto educacional analisado. A perspectiva “Mercado de TI” posiciona as instituições de ensino como centro de formação de perfis profissionais para demandas do mercado de trabalho. Neste caso, esta perspectiva considera que a equipe pedagógica precisa entender a situação do mercado profissional de TI, suas necessidades atuais e tendências futuras para alinhar os objetivos educacionais a uma formação de perfis esperados.

Por sua vez, a perspectiva estratégica “Estudantes” faz referência à aprendizagem em PBL ao ser centrada no estudante. Considerar o estudante como protagonista do processo de aprendizagem é uma característica marcante em processos PBL. Esta perspectiva reflete a condição ideal para a aprendizagem dos estudantes ao mantê-los intrinsecamente motivados na resolução de problemas e assim favorecer o desenvolvimento conceitual e comportamental. Os questionamentos desta perspectiva permitem mapear os perfis profissionais a partir de tendências e oportunidades das áreas, além de considerar necessário favorecer a identificação dos perfis por parte dos estudantes.

A perspectiva “Processo” fomenta a gestão do processo de ensino e aprendizagem em PBL ao considerar questionamentos que relacionam como a equipe pedagógica deve operacionalizar o planejamento de um processo em PBL e sua execução, assim como pela verificação dos resultados e realizações de melhorias no processo. É nesta perspectiva em que o By-Cycles é referenciado para apoiar o trabalho da equipe pedagógica ao sistematizar as etapas do processo de ensino e aprendizagem.

Por fim, a perspectiva “Recursos” considera os recursos humanos e as tecnologias para conduzir e apoiar o processo de ensino e aprendizagem em PBL. Esta perspectiva considera importante a composição de uma equipe pedagógica com papéis específicos e posturas diferenciadas às do modelo de ensino tradicional, que mantém ênfase apenas no professor. A pesquisa defende a mudança cultural pela equipe e a adesão pode ser favorecida a partir de práticas de treinamento e formação.

Uma vez que o contexto educacional é inicialmente investigado e mapeado e os detalhes das perspectivas educacionais são definidos,

recomenda-se a atividade de criação de um mapa estratégico. A função de um mapa estratégico é traduzir as estratégias em objetivos, trazendo clareza e foco aos resultados almejados para cada perspectiva.

As dimensões “gerencial” e “operacional” se apoiam diretamente na implementação do processo em PBL. As etapas do By-Cycles e seus componentes metodológicos guiam a execução do processo de ensino e aprendizagem pela equipe pedagógica.

As etapas do By-Cycles (Plan, Do, Check e Act) relacionam atividades aos papéis da equipe para que a efetividade e qualidade do processo de ensino e aprendizagem possam ser promovidas. Em síntese, os componentes metodológicos que apoiam cada etapa do By-Cycles permitem que a equipe pedagógica consiga: 1) planejar o processo de ensino e aprendizagem em conformidade com os princípios da abordagem PBL; 2) conduzir a execução do processo de ensino e aprendizagem diante das mudanças necessárias à abordagem PBL; 3) verificar os resultados da aprendizagem, evolução dos estudantes, do processo de ensino, do professor e do programa de ensino e; 4) agir corretivamente e/ou preventivamente para melhorar a qualidade do processo na abordagem PBL.

A seção 6.1 apresenta a representação do processo em alto nível, para cada etapa do By-Cycles.

3.5. Conclusões do capítulo

Discutir sobre um processo de mudança com adoção de PBL exige considerar razões que motivam a mudança, seus desafios e implicações. A seção 3.1 destaca a necessidade da abordagem PBL ser gerenciada para que a qualidade do processo possa ser promovida, e reforça o propósito do ciclo PDCA como método focado na melhoria contínua e sua relevância quando adotado em processos educacionais.

A seção 3.2 destaca implicações associadas aos elementos rigor, eficiência e cultura como influências na mudança dos processos tradicionais para PBL. O aspecto cultural reforça a necessidade da adaptação gradual diante das mudanças do processo na abordagem PBL, como requisito importante para aceitação e aderência do capital humano.

A seção 3.3 destaca papéis, além do professor, para compor uma equipe pedagógica na abordagem PBL. O tutor PBL e o cliente real são papéis que diferenciam uma equipe no contexto educacional em PBL. O tutor PBL, como guardião do método, guia e alinha a equipe na execução do processo ao manter a conformidade da execução da abordagem em relação aos seus princípios. Esta seção ainda aponta atividades direcionadas aos papéis (professor, tutor PBL, tutor técnico e cliente) como forma de agregar atitudes e comportamentos para uma execução aderente.

A seção 3.4 destaca que a adoção de PBL deve ser apoiada em três dimensões: 1) Estratégica, para entender as particularidades do contexto onde PBL será implementada por meio da avaliação diagnóstica sob a análie de quatro perspectivas estratégicas (Mercado de TI, Estudantes, Processos PBL e Recursos); 2) Gerencial, com apoio do By-Cycles para sistematizar a implementação das etapas do processo; e 3) Operacional, ao orientar a execução das atividades do processo pela equipe. A pesquisa relaciona a aplicação do By-Cycles ao modelo de mudança para implementação de PBL proposto por Moesby (2006) e critica o fato de que no modelo, a fase de implementação não expõe detalhes da execução sistemática do processo diante dos papéis da equipe.