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A AMPLIAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO FEDERAL A PARTIR DO PROGRAMA DE APOIO A PLANOS DE REESTRUTURAÇÃO E EXPANSAO

DAS UNIVERIDADES FEDERAIS (REUNI)

O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) foi assinado em 24 de abril de 2007, por meio do Decreto 6.096. Teve como base para a sua implementação o Plano Nacional de Educação (PNE) do ano de 2001, que fixava metas que buscava o aumento de investimentos em toda a área da educação e, a ampliação do número de estudantes em nível de ensino mais elevado, o ensino superior. Para o atendimento das metas previstas foi estabelecido, para os dez anos de atuação do Plano, os programa de expansão do ensino superior federal, que em sua primeira fase, que ocorreu dos anos de 2003 a 2007, teve como principal ação a interiorização dos campi das universidades federais (BRASIL, 2012).

Está descrito no Decreto 6.096, que institui o REUNI que o objetivo do Programa é de ―[...] criar condições para a ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível de graduação, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais‖ (BRASIL, 2007). Ademais, complementa em seu parágrafo primeiro, que sua meta global está voltada para a o aumento da taxa de conclusão dos cursos de graduação e para a elevação da relação de alunos por professor em cursos presenciais.

O Programa tem como meta global a elevação gradual da taxa de conclusão média dos cursos de graduação presenciais para noventa por cento e da relação de alunos de graduação em cursos presenciais por professor para dezoito, ao final de cinco anos, a contar do início de cada plano (BRASIL, 2007).

Na redação do programa também se apresentam as diretrizes que devem ser seguidas, a forma de financiamento para a posterior execução, a forma como os planos de reestruturação das universidades poderiam passar a aderir ao programa e, a definição do órgão que aprovará ou não os planos de expansão, e consequentemente, as universidades que desejam mostrariam interesse em participar (BRASIL, 2007).

De acordo com o documento Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas, por meio do REUNI se permite uma expansão democrática do acesso ao nível superior de educação, o que ocasionará um aumento do numero de estudantes oriundos da classe

trabalhadora nas universidades públicas de todo o país. Os investimentos específicos nesse nível de educação pretende melhorar os indicadores de qualidade das instituições federais, aumentando não apenas o número de discentes ingressantes matriculados, mas também o de discentes que finalizam os seus cursos de graduação, visando um melhor aproveitamento tanto da estrutura física, quanto dos recursos humanos já existentes em tais instituições (BRASIL, 2007). A luta se dava pela ampliação das ofertas do número de vagas no ensino superior público federal o que levaria a uma maior democratização deste nível de ensino e uma entrada significativa dos jovens estudantes oriundos das classes populares (BRASIL, 2012).

Ao que consta no site do REUNI, a onda de expansão da rede federal de educação superior teve início no ano de 2003 a partir da interiorização dos campi das Universidades Federais (UF’s). Deste modo, o número de municípios que contam com campis de UF’s passaram de 114 no ano de 2003, para 237 no ano de 2011. (BRASIL, 2003-2010).

Gráfico 01: Expansão das Universidades Federais.

Fonte: Reuni (2003-2010).

Como pode ser observado no gráfico acima, desde que iniciada a fase de expansão, foram criadas 14 novas universidades, o que, consequentemente, possibilita a ampliação de vagas no ensino superior e a criação de novos cursos de graduação, a partir das realidades vivenciadas em cada campi (BRASIL, 2003-2010).

Quanto ao número de vagas, o censo realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) (BRASIL, 2012) mostra que houve um crescimento de aproximadamente 111% do número de oferta de vagas entre os cursos da educação

superior na IFES de todo o Brasil, entre os anos de 2003 – 2011. Com destaque para o período compreendido entre os anos de 2003 e 2007, que indicou um crescimento de aproximadamente trinta mil vagas no ensino superior, como aponta o gráfico 02:

Gráfico 02: Vagas ofertadas na graduação presencial nas universidades federais de 2003 a 2011.

Fonte: (BRASIL, 2012).

O relatório apresentado pelo Ministério da educação que faz uma análise sobre a expansão das universidades federais, dos anos de 2003 a 2012, considera que existem três dimensões que permeiam todo esse processo de expansão do ensino superior, em especial o do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), sendo elas: política, pedagógica e de infraestrutura.

A primeira diz respeito ao cumprimento do objetivo do Programa que é de democratizar o acesso aos cursos do ensino superior, em especial a partir dos processos de interiorização das IFES, que possibilitou oportunidades do estudo para os estudantes que residem em cidades e municípios mais afastados dos centros urbanos. Ademais, a expansão também proporciona a pesquisa e a extensão, contribuindo não apenas com a formação dos indivíduos, mas também com desenvolvimento das comunidades. A segunda dimensão se caracteriza pelo cumprimento dos objetivos do Programa por meio da reestruturação didática e pedagógica das IFES, com a reorganização dos currículos, a revisão da estrutura acadêmica, a criação de novos cursos, o aumento do número de servidores (técnicos e professores), a ampliação dos programas de mobilidade estudantil e, o aumento de recursos para a assistência estudantil. Também se

observaram avanços na pós-graduação e na ampliação do número de projetos de pesquisa, mesmo estes não estando presentes nas metas do referido programa. A última dimensão, diz respeito ao comprimento dos objetivos relacionados à infraestrutura das instituições federais de ensino superior, que veio a ser melhorada significativamente,para que fossem desenvolvidas com melhor desempenho as ações de ensino, pesquisa e extensão preconizadas a todas as universidades (BRASIL, 2012).

Tanto o Plano Nacional de Educação, quanto o Plano de Desenvolvimento da Educação, apresentam o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) e o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) enquanto projetos que se complementam no sentido de que a efetividade da reestruturação e expansão das universidades federais está totalmente atrelada à criação e à consolidação das condições de permanência e conclusão do ensino superior público federal, alcançado por meio da criação de uma Política Nacional de Assistência Estudantil. Deste modo, pode-se afirmar que:

O REUNI permite uma expansão democrática do acesso ao ensino superior, o que aumentará expressivamente o contingente de estudantes de camadas sociais de menor renda na universidade pública. O desdobramento necessário dessa democratização é a necessidade de uma política nacional de assistência estudantil que, inclusive, dê sustentação à adoção de políticas afirmativas. O Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) consolida o REUNI (BRASIL, 2007, p. 27).

As primeiras discussões acerca da assistência estudantil foram mobilizadas pelo Fórum Nacional dos Pró-reitores de Assuntos Comunitário e Estudantis (FONAPRACE) em conjunto com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES). Em detrimento dos resultados de pesquisas e discussões acerca do tema da assistência aos estudantes, foi constatado que as dificuldades sociais e econômicas dos estudantes são elementos que corroboram com os índices de evasão e retenção escolar. Aponta-se, assim, a necessidade de ações de assistência a estes estudantes, de modo a contribuir com a permanência e conclusão do ensino superior, desse segmento da sociedade (ANDIFES, 2007).

No ano de 2007, em conjunto com as ações descritas pelo REUNI, o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) passa a ser instituído e regido pela Portaria Normativa nº 39, de 12 de dezembro de 2007. Assinada pelo então ministro da educação Fernando Haddad, a Portaria tem centralidade na instituição do Programa Nacional de Assistência Estudantil como estratégia governamental de combate às desigualdades sociais e regionais, assim como, a democratização das condições de permanência dos jovens no ensino superior público (BRASIL, 2007). Posteriormente, no ano de 2010, a Portaria normativa nº 39 foi substituída pelo Decreto nº 7.234,

que passa a dispor sobre o referido programa, traçando suas finalidades, objetivos, ações, requisitos de acesso, assim como as formas de financiamento do programa (BRASIL, 2010).

Como apontado anteriormente, a partir do ano de 2007 o Estado passa a intervir diretamente nas ações de assistência estudantil implementadas pelas universidades federais. Inicialmente ocorre por meio da Portaria Normativa do MEC nº 39 e, posteriormente, pelo Decreto 7.234/2010. Entretanto, essas medidas de responsabilização do Estado nunca se tornaram efetivamente uma política pública, como preconizado no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE); mas sim, foram instituídas a partir de Programas, que não possui força de Lei e que pode ser revogado a depender dos interesses governamentais e das disputas de projeto societários.

É importante ressaltar que todas as mudanças, avanços e ampliações que ocorreram no ensino superior público federal, em especial a partir do REUNI, tem em sua centralidade a responsabilização do Estado brasileiro em prover para os seus cidadãos uma educação democrática e de qualidade, que atinja a todos, independente de cor, de raça, de sexo, de etnia e/ou classe social. Entretanto, tais mudanças carregam em si uma dualidade que é intrínseca as políticas sociais de maneira geral que, de um lado atende aos anseios, requisições e lutas da classe trabalhadora, que de maneira organizada reivindicam seus direitos sociais; e de outro se encontra o Estado, que incorpora estas demandas e responsabiliza-se por elas, de modo a garantir sempre os interesses do capital e desmobilizar os movimentos reivindicativos da sociedade.

Neste sentido, também ocorre à expansão do ensino superior brasileiro, que mesmo atendendo as necessidades de formação dos seus cidadãos, tem como o objetivo central a formação massiva de mão de obra técnica e qualificada, para assim atrair os interesses de empresas que buscam novos territórios para se instalarem. Assim, quanto mais o mercado dispõe de mão de obra qualificada, maior será a procura por emprego e, consequentemente, a maior baratização, exploração e subordinação da mão de obra. Estes aspectos econômicos atraem empresas que buscam expansão e lucro aliado a superexploração da força de trabalho e do desemprego estrutural dos países de economia periférica (MARTONI, 2015).

Todo esse processo de luta, conquista e mudança que ocorreu ao longo dos anos na política pública de educação do Estado brasileiro, foi acompanhado, também, por ações de assistência estudantil, que visam proporcionar condições de permanência para os estudantes de origens populares. Assim, pode-se dizer que a trajetória histórica da política de educação brasileira está intimamente ligada com a trajetória histórica da assistência estudantil, de modo que suas lutas sempre foram conjuntas (educação e assistência estudantil), como também possuem uma intrínseca relação de complementariedade.

3 O PERCURSO HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL E SUA