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Ao longo de toda a história os processos educativos ocorrem no âmbito de determinado contexto histórico, social, cultural, político e econômico, os quais passam por transformações que, consequentemente, propiciam mudanças também na área de educação. No modo de produção capitalista o desenvolvimento da educação e dos processos educativos possuem suas particularidades, principalmente quando observada a cooptação da educação no desenvolvimento das forças produtivas e da divisão social e técnica do trabalho, ocasionando uma formação massiva de pessoas cujo processo de qualificação está vinculado aos interesses do capitalismo quanto à formação de mão de obra técnica e qualificada para o mercado. Por consequência, tais interesses se direcionam para a reprodução e manutenção de relações de exploração e, desse modo, não se voltam para a efetiva garantia e consolidação de direitos sociais e humanos que interessam à maioria da população.

Entretanto, nesta contradição também se inserem os processos de lutas e reivindicações sociais por educação. Mesmo que o objetivo não fosse a pauta por uma educação emancipadora e revolucionária, a sociedade passava a observar que a educação era um meio de inserir-se no mercado de trabalho e, consequentemente, uma oportunidade de melhoria nas condições de vida da classe trabalhadora. Atendendo às requisições do mercado capitalista, mas, também, às reivindicações populares, o Estado brasileiro passa a dispor de uma série de mecanismos legais, com a finalidade de promover a expansão do acesso à educação, que por muito tempo ficou direcionada, especialmente, para as classes altas e médias do país.

A história da assistência estudantil ocorre no Brasil em concomitância com a trajetória que vem sendo percorrida pela política pública de educação, havendo períodos em que se demarcaram expansões e retrocessos. A década de 1930 é considerada, também, como marco histórico quando se discute a assistência aos estudantes, pois nesse período iniciaram-se as ações voltadas para este público, em meio ao governo do ex-presidente Getúlio Vargas e de um processo de industrialização crescente e em desenvolvimento no país. Esse processo de modernização condicionou o Estado a implementar ações direcionadas para a educação dos jovens do país, visto que transformações no modelo agroexportador para o industrial requeriam uma formação de mão de obra qualificada para o atendimento das novas requisições do mercado.

Condicionados pela modernização do país, inúmeras ações de ampliação do acesso à educação e de melhoria das condições de permanência aos estudantes passaram a acorrer no país, legitimadas por dispositivos legais, como as Constituições Federais, as Leis de Diretrizes e Bases (LDB), os Planos Nacionais de Educação (PNE) e, mais especificamente para a educação superior,

o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) e o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). Todos esses dispositivos legais foram de extrema importância para a consolidação real das ações de expansão e permanência do ensino, em especial do ensino superior público federal.

Transformações observadas no cenário educacional do país, não podem ser dadas como fatos isolados, tendo em vista que o Brasil é um país inserido na logica do modelo de produção capitalista, sofrendo as determinações diretas dos países desenvolvidos e de seus organismos internacionais. Assim, no cenário nacional, aquelas transformações se mostraram reflexos de uma lógica educacional instruída por países de economia desenvolvida, que usam as suas influências, em especial econômicas, para ditar o ritmo do desenvolvimento econômico, social, cultural e político dos países periféricos e dependentes.

Ações executadas pelo Estado brasileiro ao longo dos anos permitiram o aumento do número de vagas nas universidades e, refletiram em uma entrada massiva e estudantes oriundos da classe trabalhadora na educação superior brasileira. Entretanto, os índices de retenção e evasão escolar continuavam crescendo, o que significava que as ações que garantiam a entrada desses discentes no ensino superior, não ocasionavam uma posterior conclusão de curso e a entrada no mercado de trabalho, necessitando-se, assim, de ações que impactassem diretamente nos determinantes que condicionam a permanência e a conclusão do ensino superior público federal. Nesse sentido, as estratégias lançadas pelo Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), inicialmente regido pela portaria 39 do MEC e, atualmente, pelo Decreto 7.234/2010, fazem-se de suma importância, quanto ao objetivo de viabilizar condições de permanência e conclusão do ensino superior para os discentes público alvo do programa e, consequentemente, reduzir os índices de evasão e retenção escolar.

É inegável a importância desses mecanismos de acesso e permanência no ensino superior público para os discentes oriundos das camadas populares da sociedade; entretanto, a crítica deve ser feita ao caráter focalista, recortado e pontual que essas ações possuem. Podendo ser claramente observada uma perspectiva não universal dos direitos sociais reconhecidos no Programa Nacional de Assistência Estudantil, em relação ao que se delimita enquanto público usuário e as características sociais e econômicas que este referido público deve ter. As conquistas a partir da promulgação do Decreto 7.234/2010 são significativas, mas ainda existe um longo caminho a ser trilhado para que, efetivamente, os direitos sociais dos jovens estudantes possam ser conquistados, abrangendo não apenas ações que contemplem as condições objetivas e imediatas de sobrevivência, mas o conjunto de necessidades sociais que impactam diretamente a vida concreta destes.

Na atual conjuntura do país, essa ampliação de direitos sociais encontra-se totalmente desfavorável, não apenas na política pública de educação, mas em todas as áreas que abrangem as conquistas e os direitos sociais e humanos. Por este motivo, diariamente é visível a urgência da reafirmação e da luta por todos os direitos sociais historicamente conquistados pela classe trabalhadora do país, em razão das inúmeras ações realizadas contemporaneamente e que demonstram a retirada de direitos gradualmente conquistados.

Como estratégia de reafirmação da importância de serem efetivadas as ações de assistência direta aos estudantes, mostra-se relevante que as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) realizem avaliações do processo de execução do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), apontando seus ganhos, seus limites, seus desafios e as suas potencialidades. Entende- se que os resultados dessas avaliações podem subsidiar as instituições federais de ensino superior na requisição de recursos voltados a qualificação e ampliação do referido Programa, que hoje não atende à totalidade dos estudantes inseridos nas IFES, que necessitam das bolsas, auxílios e demais ações da assistência estudantil, para assim subsidiar sua permanência e conclusão do ensino superior.

Essas avaliações também se fazem necessárias para comprovar a efetividade do programa. Os trabalhos expostos no capítulo três deste trabalho possibilitam uma demonstração de que a Universidade Federal do Rio Grande (UFRG), a Universidade Federal de Viçosa (UFV), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR) têm atingido os objetivos descritos no Decreto 7.234 de 2010, referentes à democratização das condições de permanência dos jovens na educação superior pública; a redução das taxas de retenção e evasão escolar; e a minimização dos efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e conclusão da educação superior.

Ademais, acredita-se que essas avaliações do PNAES, conforme supracitado podem ser instrumentos para embasar e consolidar a luta por uma Política Nacional de Assistência Estudantil, que tenha em sua base a ampliação em todos os conceitos, ações, objetivos e metas acerca da assistência direta aos estudantes do ensino superior público federal. Como consequência, a consolidação dessa política propiciaria mais estabilidade e obrigatoriedade a todas as ações implementadas pela assistência estudantil, a qual passaria a ser regida por uma Lei e não por um Decreto, que apresenta fragilidades, podendo não ser cumprido ou revogado facilmente, a depender de disputas de poderes e do modelo societário defendido pelas instancias superiores de governo.

Pode-se inferir que mesmo com suas limitações e recortes atuais, a assistência estudantil é vista por seu público usuário (discentes em situação de vulnerabilidade social) como

extremamente necessária nesse contexto de extrema precarização, em todas as esferas da vida social, pois possibilita, mesmo que minimamente, condições básicas e essenciais para a permanência e a conclusão do ensino superior público federal. Como também se faz necessária a constante reafirmação e necessidade desta tornar-se uma Política Social Pública, regida por Lei, com obrigatoriedade, com maiores investimentos e recursos, sem critérios de seletividade no acesso às bolsas e auxílios e, que abranjam concretamente toda a educação superior, sendo esta pública ou privada, visto que o objetivo maior da assistência estudantil é propiciar melhores condições de permanência e conclusão do ensino superior, englobando assim as mais diversas instituições de ensino e os variados públicos discentes espalhados pelas instituições de ensino superior do Brasil.

REFERENCIAS