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3.4 Análise das greves sem a presença do sindicato da categoria quanto à sua

3.4.2 Análise da abusividade das greves em acórdãos que versaram sobre dissídios individuais

No tocante aos acórdãos em dissídios individuais, a análise da abusividade da greve não foi o objeto principal do processo, mas sua abordagem foi necessária para se verificar os efeitos do movimento nas relações individuais de trabalho. Notou-se, portanto, que os dispositivos desses acórdãos são caracterizados pela ausência de menção à greve, o que ficou adstrito à fundamentação dos tribunais.

Conforme destacado, foram identificados 28 acórdãos de recursos provenientes de dissídios individuais, sendo que 22 analisaram a dispensa por justa causa do trabalhador que participou da greve sem a presença do sindicato da categoria. Nessa hipótese, o trabalhador foi dispensado por justa causa por seu empregador e pretendeu a reversão da dispensa por justa causa por não entender estarem presentes os requisitos para aplicação de falta grave. Além disso, em dois acórdãos o empregado foi dispensado sem justa causa, mas ingressou com reclamação trabalhista exigindo, no Acórdão do Recurso Ordinário nº 0010694- 27.2013.5.14.0141 do TRT da 14ª Região (BRASIL, 2014e), indenização por danos morais e, no Acórdão do Recurso Ordinário nº 001075384.2014.5.18.0006 do TRT da 18ª Região (BRASIL, 2015d), a reintegração no emprego e a indenização por danos morais.

Por sua vez, em três acórdãos, foi realizado pedido de indenização por danos morais pelo trabalhador em razão de proibição de ingresso nas dependências da empresa devido à greve realizada. O Acórdão do Recurso Ordinário nº 0000221-38.2015.5.23.0051 do TRT da 23ª Região (BRASIL, 2016b) analisou a aplicação de penalidade de suspensão aos trabalhadores por participarem do movimento grevista.

A análise da abusividade do movimento grevista nesses acórdãos foi realizada de forma mais tênue do que nos dissídios coletivos, o que decorreu, especialmente, do fato de não integrarem o objeto principal do processo. O foco da análise dos Tribunais foi voltado à prática dos atos realizados pelos trabalhadores durante o movimento grevista e de seus efeitos para o contrato de trabalho.

Mesmo com essa ressalva, verificou-se que nos acórdãos analisados, o preenchimento dos requisitos da Lei de Greve também é considerado como fator determinante para a declaração de abusividade. Por outro lado, destaca-se que, ainda que a greve tenha sido declarada abusiva, os Tribunais consideraram ou não a prática de violência pelos trabalhadores durante a paralisação como motivos para a aplicação da justa causa.

Pela análise dos julgados, foi possível diferenciar os resultados do provimento jurisdicional nos acórdãos quanto à intensidade do movimento realizado pelos grevistas. Quando a greve foi realizada sem o emprego da violência, foi possível encontrar julgados que não declararam a abusividade do movimento e que foram favoráveis ao empregado, determinando a dispensa sem justa causa ou a indenização por danos morais pleiteada. Por outro lado, quando presente a violência no movimento, a dispensa por justa causa foi confirmada pelo tribunal em todas as hipóteses.

Do total de acórdãos referentes aos dissídios individuais, dezessete apresentaram informações apontando a ausência de violência na greve realizada. Nesses casos, apenas em seis julgados o processo foi desfavorável ao trabalhador. Por outro lado, sete acórdãos relataram o emprego de violência durante a greve sem a presença do sindicato da categoria, tendo todos resultados desfavoráveis ao trabalhador com a confirmação da dispensa por justa causa:

Gráfico 4 – Resultado da ação em relação ao emprego de violência no movimento grevista

Fonte: Autor, 2017.

Além disso, não foi possível determinar a ausência ou presença de violência em quatro acórdãos analisados.

Dentro do contexto de ausência de violência do movimento, destacou-se o acórdão do Recurso Ordinário nº 00986-2008-110-15-00-7 do TRT da 15ª Região, que correspondeu a uma reclamação trabalhista que pretendeu, dentre outros pedidos, a reversão de justa causa em razão do trabalhador ter paralisado suas atividades. Nesse caso, o Tribunal ressaltou que,

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Com violência Sem violência

apesar da ausência de assistência do sindical e da prévia comunicação ao empregador, não seria possível a aplicação da justa causa diante da inexistência de atos de vandalismo pelo trabalhador. Além disso, houve a afirmação de que o próprio ordenamento possibilita a ocorrência de greve sem o sindicato:

O modo informal como foi feita a referida paralisação, sem a presença do sindicato e prévia comunicação ao empregador, requisitos exigidos pela Lei 7783/89, não invalida, no primeiro momento, o movimento paredista, cuja iniciativa cabe exclusivamente aos trabalhadores. Ademais, a própria Lei 7783/89, em seu art. 4º, § 2º, prevê a possibilidade de greve sem a assistência sindical. E, por fim, a Carta Magna não estabelece que o movimento grevista ocorra estritamente nos termos da lei, já que é, em muitas vezes, um ato espontâneo e não planejado (BRASIL, 2009d).

Vê-se, portanto, que a ausência de violência na manifestação foi considerada na análise da participação dos trabalhadores no movimento grevista, o que levou inclusive à manifestação de que a ausência do cumprimento dos requisitos da Lei de Greve não invalida a greve sem a presença do sindicato da categoria.

No entanto, situação diversa ocorreu quando se verificou a presença de violência no movimento sindical realizado pelos trabalhadores. Nesse caso, o empregado foi punido com a manutenção da justa causa aplicada.

A respeito, menciona-se o Acórdão do Recurso de Revista do TST nº 19300- 90.2008.5.03.005 (BRASIL, 2016c), no qual houve a dispensa por justa causa de dirigentes sindicais diante da paralisação, por um grupo de 19 trabalhadores, em razão de dispensa de um colega de trabalho. Além da paralisação, os empregados dirigiram-se à linha férrea da empresa e impediram o deslocamento das mercadorias causando diversos atrasos e prejuízos ao empregador. O movimento iniciou-se sem a notificação do presidente do sindicato profissional que afirmou desconhecer a paralisação e, consequentemente, sem a realização da assembleia que deliberasse sobre o movimento. O Tribunal sustentou que o movimento foi ilegal e que a dispensa por justa causa foi válida diante da responsabilidade dos dirigentes sindicais, que deveriam ter atuado para impedir o ato que ocorreu após a realização de uma falsa assembleia composta por 19 trabalhadores.

De acordo com os acórdãos provenientes dos dissídios individuais e coletivos de trabalho, categorias (vi) e (vii), verificou-se que a análise da abusividade do movimento foi realizada de maneira mais completa nos julgamentos dos dissídios coletivos, inclusive por ser esse o objeto principal da ação. Os argumentos que justificaram a declaração de abusividade estiveram pautados pelo preenchimento dos requisitos da Lei nº 7.783/1989 no momento da deflagração. Apesar de considerada pelos tribunais, a ausência da participação do sindicato nem sempre foi justificada como requisito determinando para a sua abusividade, pois a greve

poderia ter sido realizada pelos trabalhadores desde que respeitados os demais requisitos da legislação.

No âmbito dos dissídios individuais, apresentou destaque a consideração acerca da violência dos atos praticados pelos trabalhadores para a determinação da presença ou ausência de justa causa aplicada. Quando presente a violência, os tribunais consideram o movimento paredista abusivo e confirmam a dispensa por justa causa. Nos dissídios individuais, portanto, a análise do tribunal enfatizou mais a violência dos atos praticados de que a análise da presença ou ausência do sindicato da categoria.

3.4.3 Análise da abusividade em relação à forma de organização das greves sem a