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6 PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA DIAGNÓSTICO

6.2 Análise de cartas topográficas

O início da elaboração de um plano interventivo começa pelo estudo e análise da bacia hidrográfica artificial que drena para a ETAR de Sesimbra. Apesar do subsistema em estudo se tratar de um importante foco no saneamento da região, nomeadamente no período em que existe aumento da população flutuante, é inviável procurar, ao longo da área de influência da bacia hidrográfica, fugas, alagamentos ou ramais domiciliários erróneos. O mesmo objectivo pode ser alcançado recorrendo à delimitação da rede em troços ou regiões que ofereçam uma maior probabilidade de comportar infiltrações, ou através do recurso a uma análise de factores distintivos como localização, vulnerabilidade de elementos estruturais, entre outros.

Segundo Cardoso et al. (2002), sugere-se, numa fase inicial, a elaboração de um estudo pormenorizado que contemple a afectação da rede de saneamento com o intuito de identificar as zonas mais problemáticas a diversos níveis.

Recorrendo à Carta Militar de Portugal Série M888 – Folha 464 da região de Sesimbra, à escala 1:25 000 assim como ao mapa da rede de drenagem que aflui à ETAR de Sesimbra, é possível aferir informação importante que permite identificar pontos baixos, locais com maior proximidade a níveis freáticos, locais com maior vegetação, locais planos ou próximos a estradas com maior tráfego (Coelho, 2013).

Deve ser referido que a utilização de cartas topográficas ou militares está em desuso, já que a sua morosa actualização pode colocar em causa a actualidade da informação. As entidades gestoras tendem a recorrer, com maior frequência, aos sistemas de informação geográfica (SIG), cuja actualização é mais simples.

6.2.1 Identificação de pontos baixos

Os pontos de cota topográfica mais baixa são designados, de modo comum, como “pontos baixos” numa bacia hidrográfica ou rede de drenagem. Na análise de cartas topográficas ou militares e/ou no recurso a cartografia em sistemas de informação geográfica (SIG) com curvas de nível, estes pontos são facilmente identificáveis pela convergência do escoamento da rede, no caso dos sentidos de drenagem se encontrarem devidamente definidos.

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No caso concreto de Sesimbra, a ETAR situa-se num dos pontos de cota mais baixa da rede, sendo o efluente drenado do lado poente dessa sub-bacia encaminhado para as estações elevatórias da Fortaleza e do Mar, que enviam, por bombagem, cerca de 40% e 15% a 20%, respectivamente, do volume total afluente à rede de drenagem para a estação de tratamento.

A existência de “pontos baixos” na rede de drenagem implica o necessário cumprimento dos critérios de velocidade mínima, promovendo a autolimpeza dos colectores.

Frequentemente, os locais designados por “pontos baixos” são associados a zonas estruturalmente vulneráveis, quer por questões estruturais, quer por questões sanitárias. A sua regulação e prevenção passa por uma maior componente de monitorização, incluindo manutenção periódica e com vistoria associada.

No caso de estudo em análise, a avaliação dos pontos baixos recorreu ao estudo do sentido de escoamento na rede de drenagem, de acordo com as plantas disponibilizadas pela entidade gestora, sem, no entanto, considerar os colectores em pressão gravítica.

De acordo com a informação disponibilizada, os pontos mais baixos da rede ocorrem junto ao mar, sendo que a bacia hidrográfica em questão apresenta, globalmente, um declive acentuado. Na Figura 6.2 apresenta-se a disposição simplificada da rede de drenagem no território.

Figura 6.2 – Representação da disposição da rede de drenagem no território (dados disponibilizados por SIMARSUL)

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6.2.2 Identificação de locais com proximidade a níveis freáticos

Ao longo de um curso de drenagem é comum serem observadas linhas de água subterrâneas, com particular ênfase durante os períodos de maior precipitação, função do coeficiente de saturação do solo.

No caso de existência de eventos pluviométricos de grande intensidade e/ou duração, a porção de água não retida no solo tende a escoar por linhas preferenciais, conduzindo à subida dos níveis freáticos.

Fissuras ou roturas na rede podem conduzir à entrada de água dessas linhas de água subterrâneas na rede de drenagem, aumentando o caudal a transportar. A qualidade da água infiltrada é, na maioria das vezes, bastante superior à da água residual transportada pela rede de drenagem. A diluição do efluente pode causar transtorno no seu tratamento aquando da chegada à estação de tratamento podendo, inclusive, comprometer qualquer etapa e, consequentemente, ter que ser forçada a descarga no meio receptor, através de descarregadores de tempestade situados a montante da ETAR.

A análise destes locais deve ser encarada como prioritária, uma vez que se constitui, geralmente, uma das fontes mais comuns de afluência de infiltrações às redes de drenagem.

Os dados disponibilizados revelam-se inconclusivos relativamente à influência de níveis freáticos na afluência à rede de drenagem em análise. No entanto, os pontos baixos da rede situam-se junto à linha de costa, pelo que a interferência de águas subterrâneas no escoamento de águas residuais só poderá ter alguma influência na zona de montante da rede de drenagem, mas mesmo nesses locais tal influência deverá ser reduzida, face aos declives que essas zonas de montante apresentam, no que ao caso de estudo em análise diz respeito.Identificação de locais com maior vegetação

6.2.3 Identificação de locais com maior vegetação

A cobertura vegetal é outro factor que pode influenciar o acréscimo de caudais excedentes, embora com menor preponderância relativa quando comparada com os parâmetros anteriormente descritos.

Segundo Lencastre & Franco (2010), a consideração do revestimento vegetal de uma bacia hidrográfica e do seu tipo de utilização possuem relevância na análise dos fenómenos hidrológicos que ocorrem na bacia, principalmente pela sua influência na infiltração e no escoamento superficial.

A existência de vegetação pode eliminar o choque directo das gotas da chuva com a superfície do solo, modificando as suas próprias características, favorecendo a infiltração e reduzindo a velocidade do escoamento superficial. Este factor reduz a possibilidade de fenómenos de erosão e de ocorrência de cheias, aumentando, contudo, a contribuição para as reservas hídricas subterrâneas (Lencastre & Franco, 2010).

Contudo, o desenvolvimento de raízes pode significar um problema pela maior probabilidade de ocorrência de intrusões na rede de colectores, nomeadamente se se tratar de vegetação arbórea. Por

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outro lado, a absorção da água existente no solo poderá ser impeditiva da saturação, contrariando, a prazo, a infiltração dessa água na rede de drenagem.

Destaca-se a importância da necessidade de desenvolvimento de estudos detalhados, de modo a aferir a flora e vegetação predominante na região e os seus potenciais efeitos sobre o processo de infiltração na rede de drenagem.

6.2.4 Identificação de locais planos

Apesar do sub-sistema de Sesimbra se localizar numa zona com acentuado declive, a existência de pontos ou troços planos numa rede de drenagem potencial a ocorrência de infiltrações na rede de drenagem.

Tenha-se em atenção um solo com amplitude considerável e ausência de declive, durante um evento pluviométrico (Figura 6.3). A perpendicularidade entre o solo e a direcção assumida pela precipitação conduz a que a direcção do escoamento seja vertical, aumentando o volume de infiltração no solo.

Figura 6.3 – Direcção do escoamento num local plano

A precipitação, ao incidir sobre o terreno, tende a tende a percolar com maior ou menor velocidade, função das características desse solo e do seu teor de água. Nalgumas situações, nomeadamente na presença de solos com elevada permeabilidade e após a ocorrência de eventos de precipitação, a entrada de água de infiltração na rede de colectores, através de fissuras ou outras anomalias estruturais no material constituinte do colector, pode ser potenciada, aumentando os caudais infiltrados (Lencastre & Franco, 2010).

No caso da sub-bacia em estudo, o declive do terreno desempenha um papel importante. Atente-se na Figura 6.4.

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Figura 6.4 – Direcção do escoamento num local com declive

Neste cenário, o escoamento sub-superficial tende a seguir a orientação do talude, desfavorecendo a deposição de água na camada superficial de solo. Desta forma, a infiltração no solo é globalmente menor, tendendo a depositar-se no ponto baixo seguinte, que corresponde ao cruzamento de dois taludes com declives contrários ou, no caso de Sesimbra, numa zona de cota 0 metros, que corresponde à linha de costa.