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2 EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DE DRENAGEM DE ÁGUAS RESIDUAIS

2.4 Enquadramento actual do sistema

2.4.2 Gestão de sistemas de drenagem

Os sistemas de drenagem de águas residuais são passíveis de ser classificados no que respeita à agregação municipal na sua gestão. Segundo Galvão (2009) e Marques (2010), os sistemas de drenagem podem ser:

 Sistemas municipais com a responsabilidade de apenas uma autarquia;

 Sistemas intermunicipais, nos quais a gestão é assegurada por mais que uma autarquia, podendo ser criadas entidades para assegurarem a gestão integrada de sistemas;

 Sistemas multimunicipais, onde estão abrangidos dois ou mais municípios e a sua gestão e monitorização são assegurados pelo poder central.

Para assegurar a gestão eficiente de sistemas de saneamento básico existem diferentes níveis organizacionais, diferindo a tipologia da entidade representada consoante a sua actividade. Os modelos adoptados para a gestão e monitorização de sistemas de águas residuais são da responsabilidade da entidade gestora, sendo as mais comuns a prestação directa de serviços, a delegação de serviços a empresas constituindo parcerias com o Estado ou a empresas do sector empresarial local ou, por fim, a gestão concessionada de serviços (ERSAR, 2014).

Em Portugal, o serviço de saneamento de águas residuais é prestado com base num importante pressuposto tecnológico, onde existem várias etapas, como recolha, transporte e tratamento de águas residuais, de modo a assegurar o bom funcionamento dos sistemas. Estas etapas são frequentemente agregadas em duas categorias: as actividades em “baixa” (ou retalhistas) e as actividades em “alta” (ou grossistas). Estas actividades podem ser asseguradas por entidades distintas (ERSAR, 2014).

A cisão existente, embora tenha acarretado vantagens em termos de economias de escala, foi sinónima de perda de economias de processo. O sistema em “baixa” inclui o conjunto de

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infraestruturas e instalações que asseguram a recolha e drenagem das águas residuais desde os ramais domiciliários até aos pontos de recolha do sistema em “alta”. O sistema em “alta” é o conjunto de infraestruturas e respectivos componentes que permitem proceder à intercepção, tratamento e descarga em destino final de águas residuais provenientes do sistema em “baixa” (ERSAR, 2014).

O Quadro 2.3 elucida a distribuição quantitativa de entidades responsáveis pela gestão dos sistemas quer em “baixa”, quer em “alta”.

Quadro 2.3 – Panorama das entidades responsáveis pelo saneamento de águas residuais (FONTE: RASARP 2013, ERSAR)

Modelo de gestão Submodelos de gestão Sanemanto de águas residuais Alta Baixa Total

Gestão concessionada Concessões multimunicipais 16 0 16 Concessões municipais 2 22 24 Gestão delegada Delegações estatais 0 0 0 Parcerias Estados/municípios 1 1 2 Empresas municipais e intermunicipais 0 25 25 Gestão directa Associações de municípios 0 0 0 Serviços municipalizados ou intermunicipalizados 0 19 19 Serviços municipais 0 197 197

Outros submodelos de gestão/Não aplicável 0 0 0

TOTAL 19 264 283

Para melhor compreensão do panorama de entidades gestoras em Portugal continental, as figuras Figura 2.1 e Figura 2.3 demonstram, respectivamente, a distribuição geográfica de sistemas em “alta” e em “baixa”.

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Figura 2.1 – Distribuição geográfica das entidades gestoras de serviços de saneamento de águas residuais em “alta”. Adaptado de RASARP 2012 (ERSAR 2013)

Pela análise da Figura 2.1, é perceptível que a maioria dos serviços prestados na drenagem de águas residuais em “alta” se foca em entidades concessionárias, mais concretamente abrangendo 96% da população servida e 91% dos municípios que possuem serviços saneamento de águas residuais em “alta”. No que toca à verticalização do serviço, isto é, à incorporação por parte de uma entidade gestora de todas as fases de processo produtivo do serviço de saneamento de águas residuais, responsável pelas etapas que incluem a recolha, drenagem e tratamento do efluente até ao seu destino final, verifica-se que 94 municípios e 2,9 milhões de habitantes são abrangidos, concentrando-se maioritariamente no centro e litoral norte do país (ERSAR, 2014).

A Figura 2.2 apresenta quatro indicadores sobre o paradigma actual dos sistemas de drenagem de águas residuais “em alta” em Portugal Continental. Os gráficos evidenciam a tentativa de uma abordagem integrada na gestão deste ramo do saneamento básico, visto que a maioria dos sistemas é alvo de uma gestão através de concessões multimunicipais.

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Figura 2.2 – Indicadores gerais do funcionamento de sistemas de drenagem de águas residuais em “alta”, por submodelo de gestão (FONTE: RASARP 2013, ERSAR 2014)

No que diz respeito aos sistemas em “baixa”, representados na Figura 2.3, o modelo de prestação de serviços de drenagem de águas residuais com maior expressão é a gestão directa, com 78% dos municípios e cerca de 63% da população de Portugal continental a ser abrangida por esta categoria. Os modelos de gestão delegada ou concessionada são mais expressivos no litoral ou em grandes centros urbanos (ERSAR, 2014).

Figura 2.3 – Distribuição geográfica das entidades gestoras de serviços de saneamento de águas residuais em “baixa”. Adaptado de RASARP 2012 (ERSAR 2013)

À semelhança da Figura 2.2, a Figura 2.4 ilustra o cenário para os mesmos quatro indicadores considerando os sistemas de drenagem de “águas residuais” em baixa. Através da sua análise, é clara a predominância da gestão através dos serviços municipais.

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Figura 2.4 – Indicadores gerais do funcionamento de sistemas de drenagem de águas residuais em “alta”, por submodelo de gestão (FONTE: RASARP 2013, ERSAR 2014)

A utilização deste tipo de abordagem na gestão de sistemas de águas residuais em Portugal é acompanhada de diversas desvantagens, nomeadamente a nível de escala. O facto de haver destrinça entre os sistemas geridos em “alta” e em “baixa”, sendo regulados por entidades diferentes, faz com que sejam aumentadas as dificuldades quer em termos processuais, quer económico-financeiros.

O sistema de drenagem de águas residuais a funcionar em “alta” é caracterizado pela gestão da responsabilidade do grupo Águas de Portugal, através de concessões municipais. Em 2011, o subsistema obteve um superavit de 12 milhões de euros, devido à obtenção de rendimentos totais de 284 milhões de euros e gastos totais de 272 milhões de euros através de 19 entidades, sendo que o principal financiador destes resultados foram as entidades gestoras do sistema em “baixa” (ERSAR, 2013).

Os sistemas em “baixa” apresentam resultados bastante diferentes dos sistemas de drenagem de águas residuais a funcionar em “alta”. Geridos por 264 entidades que operam maioritariamente ao nível autárquico, quer através de serviços municipalizados, quer por meio de empresas municipais, estes sistemas apresentaram um balanço financeiro negativo referente ao ano de 2011. Este balanço refere-se aos gastos totais de 440 milhões de euros, contrastando com os rendimentos totais de 389 milhões de euros, financiados pelo consumidor do serviço, através da tarifa de saneamento anexada à factura mensal da água (ERSAR, 2013).

Do ponto de vista económico, o sector de saneamento de águas residuais é passível de ser classificado como um monopólio natural devido à inexistência de um mercado concorrencial, facto que conduz à especulação entre sector público e interesses privados. De modo a tentar aumentar o bem-estar social, o sector foi regulado economicamente. No entanto, as discrepâncias de preços praticados pelas autarquias conferem um cariz político a esta questão, em detrimento da abordagem técnica e social. A competição no ramo do saneamento apenas surge na etapa da adjudicação de projectos, no caso de existirem várias empresas que concorram entre si para garantir a sua concessão.

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