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Análise comparada: crítica ao procedimento de emissão de opinião consultiva

2.2 PROCEDIMENTO DE SOLICITAÇÃO E DE EMISSÃO DE OPINIÃO

2.2.2 Procedimento de emissão de opinião consultiva: análise comparada com a

2.2.2.2 Análise comparada: crítica ao procedimento de emissão de opinião consultiva

O ponto mais relevante que surge a partir do estudo comparado, entre o procedimento de

emissão de opiniões consultiva e o procedimento de emissão da sentença prejudicial, é a

divulgação, no primeiro caso, dos votos em dissidência (artigo 9º, alínea “c”, do Regulamento

do Protocolo de Olivos). No estudo do procedimento do reenvio prejudicial, constatou-se que

o sigilo, em relação às discussões travadas e em relação à opinião de cada um dos juízes do

Tribunal de Justiça da União Europeia tem relação direta com o exercício de sua função com

independência.

370

garantiza la independencia de los jueces, favorece la búsqueda de una solución de compromiso y evita los bloqueos en la evolución ulterior de la jurisprudencia.” MATEO, Manuel Cienfuegos. Las sentencias

prejudiciales del Tribunal de Justicia de las Comunidades Europeas en los Estados Miembros. Barcelona: Jose

Maria Bosch, 1998. p. 196-197.

367

Conforme as Estatísticas judiciárias do Tribunal de Justiça, item número 12. Disponível em: <http://curia.europa.eu/jcms/upload/docs/application/pdf/2009-03/ra08_pt_cj_stat.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2009.

368 Conforme parágrafo 31, da “Nota informativa relativa à apresentação de pedidos de decisão prejudicial pelos

órgãos jurisdicionais nacionais”. Disponível em: <http://eur- lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:C:2009:297:0001:0006:PT:PDF>. Acesso em: 13 dez. 2009.

369 Artigo 104, parágrafo 6º, do Regulamento de Processo do Tribunal de Justiça: “Compete ao órgão

jurisdicional nacional decidir sobre as despesas do processo prejudicial.”

370 FABRÍCIO, Adroaldo Furtado. A prejudicialidade de direito comunitário nos Tribunais Supranacionais. Ajuris, Revista da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 24, n. 69, p. 16-75, mar. 1997. p. 53; MATEO, Manuel Cienfuegos. Las sentencias prejudiciales del Tribunal de Justicia de las Comunidades

Diego P. Fernandéz Arroyo sugere a não divulgação das opiniões em dissidência. Segundo o

autor, em entendimento ao qual nos filiamos, toda norma é potencialmente sujeita a diversas

interpretações. Se as opiniões consultivas que visam justamente auxiliar o juiz na aplicação da

normativa Mercosul e alcançar uma interpretação uniforme vierem a brindá-lo com uma série

de interpretações possíveis (ainda que umas tenham mais apoio que outras) a finalidade do

mecanismo será severamente desvirtuada.

371

Além disso, compreende-se, com respaldo no

que restou consignado do procedimento do reenvio prejudicial, que o desenvolvimento da

atividade dos árbitros seria realizada com maior autonomia se não houvesse a divulgação dos

votos em dissidência.

Na análise do procedimento do reenvio prejudicial, percebeu-se, também, a possibilidade de

as partes apresentarem ao Tribunal de Justiça da União Europeia suas considerações sobre a

questão objeto do reenvio prejudicial. A razão para tanto é a possibilidade de elas serem

diretamente afetadas pela sentença do Tribunal de Justiça da União Europeia.

372

Inexiste

371 Nas palavras do autor: “Si las autoridades estiman pertinente proceder a la reforma del mecanismo de la

consulta interpretativa algo que debería eliminarse, con o sin reforma del ROC [Regulamento das Opiniões Consultivas – Dec. n.º 02/2007 do CMC], es la inclusión de disidencias prevista em el art. 9.1.c del RPO [Regulamento do Protocolo de Olivos]. Todos los que han estudiado derecho saben que toda norma es potencialmente susceptible de interpretaciones divergentes. Pero es precisamente por esa razón que se establece el mecanismo. Si la respuesta nos brinda toda uma serie de interpretaciones posibles – aún cuando se nos diga que algunas tienen más apoyo que otras – la finalidad del mecanismo queda profundamente desvirtuada.” ARROYO, Diego P. Fernández. La respuesta del Tribunal Permanente del Mercosur a la primera ‘consulta interpretativa’: escoba nueva siempre barre más o menos. In: ACCIOLY, Elizabeth. (Coord.) Direito no século

XXI: em homenagem ao Professor Werter Faria. Curitiba: Juruá, 2008. p. 123-141. p. 140. Em sentido contrário, Adriana Dreyzin de Klor compreende que a divulgação dos votos em dissidência é uma exigência de validade da opinião consultiva e que está de acordo com as práticas judiciárias dos países que integram o Mercosul. A divulgação dos votos em dissidência, ainda segundo a autora em nada prejudicaria a função de uniformização das opiniões consultivas. Nas palavras da autora: “Uno de los posibles sustentos en favor de la opción asumida por el legislador mercosureño en relación a la obligatoriedad de fundar los votos en disidencia en las OCs. [opiniões consultivas], – a diferencia de lo que acontece con los laudos – se vincula estrechamente con la propia idiosincrasia de la comunidad jurídica latinoamericana. Así, se há sostenido que para los juristas de esta parte del mundo – a diferencia de lo que sucede en el TJCE [Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias] donde las mismas no se fundan –, la fundamentación de la opinión disidente es una exigencia para la validez del dictamen. Piénsese en ‘la perpejidad del juez y de las partes en un proceso llevado a cabo en cualquiera de los países

miembros, si los integrantes del TPR [Tribunal Permanente de Revisão] que estuvieran en desacuerdo con la interpretación jurídica que la mayoría hace de una norma del acervo legislativo del Mercosur, no pudieran dar las razones de su desacuerdo y de su propia interpretación’. Se trae a la colación la situación planteada por las opiniones consultivas solicitadas por STJ [Superiores Tribunais de Justiça dos Estados Partes] que deben necesariamente formularse en el marco de un proceso judicial en trámite, en las que sería eventualmente cuestionable – a la luz de la garantia del debido proceso – la constitucionalidad de una pieza de convicción que contuviera tal limitación. Según esta posición, el RPO no há hecho más que brindar una solución acorde con la práctica judicial de los países que componen el bloque, que de manera alguna significará un obstáculo a la eficacia uniformadora de las opiniones consultivas, haciéndolas, por el contrario, plenamente ponderables a partir de su validez constitucional.” KLOR, Adriana Dreyzin de. La primera opinión consultiva em Mercosur ¿Gérmen de cuestión prejudicial? In: ACCIOLY, Elizabeth. (Coord.) Direito no século XXI: em homenagem ao Professor Werter Faria. Curitiba: Juruá, 2008. p. 41-64. p. 51.

372 ANDRADE, Miguel Almeida. Guia prático do reenvio prejudicial: o artigo 177º do Tratado CEE e a

cooperação entre os tribunais nacionais e o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. Lisboa: Gabinete de Documentação e Direito Comparado, 1991. p. 97-98.

previsão semelhante no procedimento de emissão de opiniões consultivas. Somente há nesse

procedimento, a possibilidade de o Tribunal Permanente de Revisão solicitar esclarecimentos

e documentos ao Tribunal nacional solicitante (artigo 8º, do Regulamento do Protocolo de

Olivos e artigo 4º, da Dec. n.º 02/2007, do CMC), hipótese que é prevista (e de forma muito

mais ampla) no procedimento do reenvio prejudicial (artigo 24 do Estatuto, do Tribunal de

Justiça da União Europeia). Entende-se que seria salutar, ao procedimento das opiniões

consultivas, a possibilidade de apresentação, pelas partes, de suas manifestações ao Tribunal

Permanente de Revisão.

Constatou-se ainda, em análise ao procedimento do reenvio prejudicial que, de acordo com as

estatísticas do ano de 2008, do Tribunal de Justiça da União Europeia, o tempo médio para a

conclusão do procedimento referido é de aproximadamente 16 meses.

373

Para a emissão das

opiniões consultivas dispõe, o Tribunal Permanente de Revisão, de 45 dias. É certo que o

procedimento de emissão da sentença prejudicial, que possui uma fase escrita e uma fase oral,

é muito mais complexo. Entretanto, a comparação tem o objetivo tão só de sustentar que o

prazo de 45 dias pode não ser suficiente para uma análise tão profunda quanto necessária para

o desenvolvimento da atividade consultiva por parte do Tribunal.

Por fim, entendem-se criticáveis as previsões dos artigos 10, alínea “c” e 12, alínea “b”,

ambos do Regulamento do Protocolo de Olivos (a última repetida no artigo 7º, alínea “c”, da

Dec. n.º 02/2007). Como mencionado, o artigo 10, alínea “c”, do Regulamento do Protocolo

de Olivos

374

, prevê como uma das hipóteses de encerramento do procedimento consultivo, o

início de um procedimento de solução de controvérsia sobre a mesma questão. O artigo 12,

alínea “b”,também do Regulamento do Protocolo de Olivos

375

, por sua vez, prevê como uma

das hipóteses de impedimento à admissão de solicitação de opinião consultiva estar em curso

um procedimento de solução de controvérsias sobre a mesma questão.

373 Conforme as Estatísticas judiciárias do Tribunal de Justiça, item número 12. Disponível em:

<http://curia.europa.eu/jcms/upload/docs/application/pdf/2009-03/ra08_pt_cj_stat.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2009.

374 Artigo 10, alínea “c”, do Regulamento do Protocolo de Olivos: “O procedimento consultivo será finalizado

com: [...]; c. o início de um procedimento de solução de controvérsias sobre a mesma questão. Nesse caso, o procedimento consultivo deverá ser finalizado pelo TPR sem mais trâmite. Estas decisões serão notificadas a todos os Estados Partes, através da ST.”

375 Artigo 12, alínea “b”, do Regulamento do Protocolo de Olivos: “O TPR não admitirá solicitações de opiniões

consultivas, quando: [...]; b. encontre-se em curso qualquer procedimento de solução de controvérsia sobre a mesma questão.”

Da forma como previsto no Regulamento, essas hipóteses de conclusão do procedimento

consultivo ou de impedimento ao recebimento da solicitação são aplicáveis, igualmente, à

solicitação de opinião consultiva advinda tanto dos Estados Partes e dos órgãos decisórios do

Mercosul (artigo 3º do Regulamento do Protocolo de Olivos), quanto dos juízes e Tribunais

do Judiciário nacional dos Estados Partes (artigo 4º, do mesmo Regulamento). Compreende-

se que as hipóteses dos artigos 10, alínea “c” e 12, alínea “b” deveriam incidir somente nas

solicitações de opiniões consultivas formuladas pelos legitimados previstos no artigo 3º, do

Regulamento (Estados Partes e órgãos decisórios do Mercosul – caso se entenda dessa forma

a previsão do artigo 7º, alínea “c”, da Decisão n.º 02/2007, estaria deslocada, pois a referida

Decisão destina-se, à exceção do artigo 12, do procedimento de solicitação de opiniões

consultivas realizado pelos órgãos do Judiciária nacional dos Estados Partes).

376

Isso porque,

somente nas hipóteses do artigo 3º, do Regulamento do Protocolo de Olivos, há como

característica da solicitação de opinião consultiva a sua não vinculação a um caso concreto,

característica que seria afetada com a pré-existência de um procedimento de solução de

controvérsias ou com o início de um posterior procedimento de solução de controvérsias sobre

a mesma questão.

376 Roberto Ruíz Díaz Labrano se manifesta contrariamente à aplicação da regra prevista no artigo 10, alínea “c”,

do Regulamento do Protocolo de Olivos, às solicitações de opiniões consultivas realizadas pelos órgãos do Judiciário nacional dos Estados Partes. Segundo o referido autor: “Las cuestiones sometidas al sistema de solución de controversias buscan la supresión de la norma interna que contradice las fuentes jurídicas del Mercosur o la terminación de los obstáculos de carácter discriminatorio que se producen de un modo general como afectación al comercio de bienes. En tanto, los conflictos suscitados en sede jurisdiccional nacional buscan resolver cuestiones concretas de afectaciones específicas, en un proceso que no será suspendido como efecto de una controversia por medio del sistema de solución de controversias del Mercosur. Por ello, privar al órgano jurisdiccional de una interpretación especializada que contribuirá a una solución coherente y armónica no parece justificado.” LABRANO, Roberto Ruiz Díaz. Las opiniones consultivas ante el Tribunal Permanente de Revisión del Mercosur a través de los tribunales superiores de los Estados partes. Anuario de Derecho

Constitucional Latino Americano, 2006, p. 629-651. Disponível em:

<http://www.juridicas.unam.mx/publica/librev/rev/dconstla/cont/20061/pr/pr29.pdf>. Acesso em: 15 set. 2008. p. 646. Alejandro Daniel Perotti assim se manifesta sobre a previsão do artigo 12, alínea “b”, do Regulamento do Protocolo de Olivos (repetida no artigo 7º, alínea “c”, da Dec. n.º 02/2007): “Esta causa de inadmisibilidad, en supuestos muy específicos, podría presentar alguna situación de indefensión de los derechos de los particulares, ya que existen algunos casos en los que las controversias son iniciadas por los Estados Partes y permanecem ‘abiertas’ – y en ocasiones, inactivas – por vários años, dado que las mismas se enmarcan dentro del poder de negociación de los Estados.” PEROTTI, Alejandro Daniel. Tribunal Permanente de Revisión y Estado de

2.3 FACULDADE DE REALIZAR A SOLICITAÇÃO DE OPINIÃO