3 ASPECTOS PROCESSUAIS DA SOLICITAÇÃO DE OPINIÕES
3.3 A DECISÃO DO JUIZ NACIONAL BRASILEIRO DE SOLICITAR
3.3.1 Momento de solicitação de opinião consultiva
Não existe regulamentação acerca do momento em que deve ser realizado o reenvio
prejudicial.
502O órgão jurisdicional nacional que o promove tem assim plena liberdade para
realizá-lo no estágio do processo que entender mais adequado.
503502
ANDRADE, Miguel Almeida. Guia prático do reenvio prejudicial: o artigo 177º do Tratado CEE e a cooperação entre os tribunais nacionais e o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. Lisboa: Gabinete de Documentação e Direito Comparado, 1991. p. 82; BULNES, Mar Jimeno. La cuestión prejudicial del artículo
177 TCE. Barcelona: Jose Maria Bosch, 1996. p. 408; FABRÍCIO, Adroaldo Furtado. A prejudicialidade de
direito comunitário nos Tribunais Supranacionais. Ajuris, Revista da Associação dos Juízes do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, v. 24, n. 69, p. 16-75, mar. 1997. p. 49.
503 ALMEIDA, José Carlos Moitinho de. O reenvio prejudicial perante o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. Coimbra: Coimbra, 1992. p. 42; ANDRADE, Miguel Almeida. Guia prático do reenvio prejudicial:
o artigo 177º do Tratado CEE e a cooperação entre os tribunais nacionais e o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. Lisboa: Gabinete de Documentação e Direito Comparado, 1991. p. 82; BARAV, Ami. Le renvoi préjudiciel communautaire. Justices: Revue Générale de Droit Processuel, Paris, n. 6, p. 1-14, avril/juin. 1997. p. 2. Traduzido por José Carlos Braz Machado Ramos; BULNES, Mar Jimeno. La cuestión
Em que pese a inexistência de regra sobre tal questão é aconselhável que o reenvio seja
realizado quando os fatos já estiverem estabelecidos e as questões relativas ao direito nacional
já estiverem resolvidas.
504Isso ocorre porque, somente assim terá o órgão jurisdicional nacional uma ampla visão dos
problemas que se colocam no caso perante ele apresentado, bem como se incidem aí
efetivamente questões relacionadas ao Direito Comunitário. Da mesma forma, somente em
estágio mais avançado do processo principal terá o Tribunal de Justiça da União Europeia
condições para, inserido nas circunstâncias que permeiam o processo principal, proferir uma
sentença que seja efetivamente útil ao órgão jurisdicional nacional.
505A questão relativa ao momento de realização da solicitação de opinião consultiva já chegou a
ser tratada pelo Tribunal Permanente de Revisão. Isso porque, tanto na Opinião Consultiva n.º
01/2008, quanto na Opinião Consultiva n.º 01/2009, não foi possível ao Tribunal se
manifestar sobre o objeto da consulta. Em ambos os casos entendeu o Tribunal:
para uma adequada atuação do Tribunal, seria conveniente que a petição de opiniões consultivas fosse formulada em uma etapa processual em que se tenha estabelecido a
CAMPOS, João Luiz Mota de. Contencioso Comunitário. Curitiba: Juruá, 2008. p. 153; CAMPOS, João Mota de. Manual de direito comunitário. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2008. p. 319; COLOMER, Damaso Ruiz-Jarabo. El
juez nacional como juez comunitario. Fundación Universidad Empresa – Civitas: Madrid, 1993. p. 100;
FABRÍCIO, Adroaldo Furtado. A prejudicialidade de direito comunitário nos Tribunais Supranacionais. Ajuris,
Revista da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 24, n. 69, p. 16-75, mar. 1997. p. 49;
PESCATORE, Pierre. Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias: o recurso prejudicial do artigo 177º do Tratado CEE e a cooperação do Tribunal com as Jurisdições Nacionais. Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, 1986. p. 15; QUADROS, Fausto de; MARTINS, Ana Maria Guerra.
Contencioso comunitário. Coimbra: Almedina, 2002. p. 64 e 73. Este entendimento também é extraível do
parágrafo 18º da “Nota informativa relativa à apresentação de pedidos de decisão prejudicial pelos órgãos jurisdicionais nacionais”. Disponível em: <http://eur- lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:C:2009:297:0001:0006:PT:PDF>. Acesso em: 13 dez. 2009.
504
ALMEIDA, José Carlos Moitinho de. O reenvio prejudicial perante o Tribunal de Justiça das Comunidades
Europeias. Coimbra: Coimbra, 1992. p. 43; ANDRADE, Miguel Almeida. Guia prático do reenvio prejudicial:
o artigo 177º do Tratado CEE e a cooperação entre os tribunais nacionais e o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. Lisboa: Gabinete de Documentação e Direito Comparado, 1991. p. 82; BULNES, Mar Jimeno. La cuestión prejudicial del artículo 177 TCE. Barcelona: Jose Maria Bosch, 1996. p. 409; COLOMER, Damaso Ruiz-Jarabo. El juez nacional como juez comunitario. Fundación Universidad Empresa – Civitas: Madrid, 1993. p. 100; PESCATORE, Pierre. Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias: o recurso prejudicial do artigo 177º do Tratado CEE e a cooperação do Tribunal com as Jurisdições Nacionais. Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, 1986. p. 15. Este entendimento também é extraível do parágrafo 19º da “Nota informativa relativa à apresentação de pedidos de decisão prejudicial pelos órgãos jurisdicionais nacionais”. Disponível em: <http://eur- lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:C:2009:297:0001:0006:PT:PDF>. Acesso em: 13 dez. 2009.
505 ALMEIDA, José Carlos Moitinho de. O reenvio prejudicial perante o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. Coimbra: Coimbra, 1992. p. 43; ANDRADE, Miguel Almeida. Guia prático do reenvio prejudicial:
o artigo 177º do Tratado CEE e a cooperação entre os tribunais nacionais e o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. Lisboa: Gabinete de Documentação e Direito Comparado, 1991. p. 82; QUADROS, Fausto de; MARTINS, Ana Maria Guerra. Contencioso comunitário. Coimbra: Almedina, 2002. p. 73.
qualificação – taxa ou imposto – conforme o direito interno aplicável, necessária à verificação da compatibilidade com a normativa Mercosul.506
De modo mais detalhado, compreendeu o Tribunal Permanente de Revisão na Opinião
Consultiva n.º 01/2008 que, apesar de ser sua competência emitir uma opinião consultiva
sobre a compatibilidade de uma norma interna com uma norma do Mercosul, no exame dessa
compatibilidade, o Tribunal deve se limitar a analisar a norma interna exclusivamente quanto
à possível colisão. Verificar se a medida questionada constitui um gravame ou uma taxa,
demandava interpretação do conceito de “custo aproximado dos serviços prestados” e uma
análise das importâncias cobradas da parte e sua relação com os “serviços prestados”, nos
termos do Anexo I, do Tratado de Assunção.
507Todas essas questões, necessárias à análise
pelo Tribunal Permanente de Revisão da compatibilidade da norma interna com a normativa
Mercosul, objeto da consulta, competiam ao órgão solicitante da opinião consultiva.
508506 Este entendimento consta tanto na Opinião Consultiva n.º 01/2008 (página 13, parágrafo 7º) quanto na
Opinião Consultiva n.º 01/2009 (página 6, parágrafo 5º), no original: “Para una adecuada actuación del Tribunal, sería conveniente que la petición de opiniones consultivas sea formulada en una etapa procesal en la que se hubiere establecido la calificación – tasa o impuesto – conforme el derecho interno aplicable, necesaria para verificar la compatibilidad con la normativa Mercosur.” Esta situação também não passou despercebida por Susana Czar de Salduendo, como se observa em: ZALDUENDO, Susana Czar de. Dos opiniones consultivas
coincidentes en el Mercosur: ¿Nace una jurisprudencia consistente? 2009. (Em fase de publicação). p. 8. Deve
ser destacado, contudo, que na Opinião Consultiva n.º 01/2009, em que pese o Tribunal Permanente de Revisão ter assumido a mesma posição acima transcrita (cf. página 6, parágrafo 5º, já mencionado), nesta Opinião Consultiva o Tribunal não deixou de expressar sua posição sobre a questão central da solicitação: “Por los motivos expuestos en los numerales que preceden, se concluye que el TPR se ve limitado con relación al alcance con que puede emitir una OC en este caso, en cuyo trámite interno no se ha desarrollado el proceso al punto de clarificar cuestiones asenciales. Sin perjuicio de ello, cabe observar que, en el caso sub examine, la medida
cuestionada será incompatible con la normativa vigente del Mercosur en el Estado Parte, si se determina en el respectivo proceso judicial, que ella reimplanta un gravamen tal como se lo define en el artículo 2 de Anexo I al TA o si, tratándose de una tasa, su importe no guarda una directa y razonable relación con el costo de los servicios prestados” (grifo nosso).
507 Anexo I, artigo 1º e 2º, do Tratado de Assunção: “Programa de Liberação Comercial. ARTIGO PRIMEIRO:
Os Estados Partes acordam eliminar, o mais tardar a 31 de dezembro de 1994, os gravames e demais restrições aplicadas ao seu comércio recíproco. No que se refere ás Listas de Exceções apresentadas pela República do Paraguai e pela República Oriental do Uruguai, o prazo para sua eliminação se estenderá até 31 de dezembro de 1995, nos termos do Artigo Sétimo do presente Anexo. ARTIGO SEGUNDO: Para efeito do disposto no Artigo anterior, se estenderá: a) por "gravames", os direitos aduaneiros e quaisquer outras medidas de efeito equivalente, sejam de caráter fiscal, monetário, cambial ou de qualquer natureza, que incidam sobre o comércio exterior. Não estão compreendidas neste conceito taxas e medidas análogas quando respondam ao custo aproximado dos serviços prestados;”.
508
Nos termos constantes na Opinião Consultiva n.º 01/2008 (parágrafo 58): “En el presente caso, se ha cursado el pedido de OC en el marco del artículo 9 del RPO cuando en el procedimiento judicial nacional no se ha cualificado aún la naturaleza de la medida cuestionada. Se comprueba que luego de trabada la litis, sin más trámite, se envian a este Tribunal las actuaciones em consulta. Si bien es competencia del TPR expedirse en una OC sobre la compatibilidad de una norma interna con una norma del derecho del Mercosur, en el examen de esa compatibilidad, el TPR debe limitarse a analizar la norma interna exclusivamente en cuanto a su posible colisión. Empero, establecer si la medida cuestionada constituye un ‘gravamen’ o una ‘tasa’ en los términos del Anexo I del TA requiriria una interpretación del concepto de ‘costo aproximado de los servicios prestados’ y un análisis de los importes cobrados a la parte actora y su relación con ‘los servicios prestados’. Tal calificación corresponderia al solicitante de la OC y está fuera de las atribuiciones del TPR (artículo 4.1 RPO), pues implicaria en las condiciones de esta consulta entrar a considerar cuestiones fácticas ajenas a la incumbência del Tribunal.”