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3 ASPECTOS PROCESSUAIS DA SOLICITAÇÃO DE OPINIÕES

3.3 A DECISÃO DO JUIZ NACIONAL BRASILEIRO DE SOLICITAR

3.3.3 Necessidade de fundamentação da solicitação

Já se destacou no item 2.2.1.3 que o Tribunal de Justiça da União Europeia se manifestou no

sentido de que não há previsão normativa acerca da forma pela qual o órgão jurisdicional

nacional deve apresentar o requerimento de decisão da questão relativa ao Direito

Comunitário.

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Não obstante, a possibilidade de o Tribunal de Justiça oferecer uma interpretação que seja útil

ao órgão jurisdicional nacional, depende de uma adequada configuração do quadro fático que

se coloca no processo principal

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. Além disso, somente uma correta formulação das dúvidas

do juiz nacional possibilitará às partes do processo e às Instituições de que emana a norma, a

apresentação de observações úteis na fase escrita do procedimento do reenvio prejudicial.

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Em que pesem tais considerações, não se compreende que exista uma condição imperativa

que, não observada, impediria a apreciação da questão relativa ao Direito Comunitário.

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Em

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Roberto Ruiz Díaz Labrano sugere que seja determinada a suspensão dos trâmites do processo no qual surgiu a questão que deu ensejo à solicitação de opinião consultiva a fim de que esta não chegue tardiamente ao órgão solicitante. LABRANO, Roberto Ruiz Díaz. Las opiniones consultivas ante el Tribunal Permanente de Revisión del Mercosur a través de los tribunales superiores de los Estados partes. Anuario de Derecho Constitucional

Latino Americano, 2006, p. 629-651. Disponível em:

<http://www.juridicas.unam.mx/publica/librev/rev/dconstla/cont/20061/pr/pr29.pdf>. Acesso em: 15 set. 2008. p. 643.

517 ANDRADE, Miguel Almeida. Guia prático do reenvio prejudicial: o artigo 177º do Tratado CEE e a

cooperação entre os tribunais nacionais e o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. Lisboa: Gabinete de Documentação e Direito Comparado, 1991. p. 78; BULNES, Mar Jimeno. La cuestión prejudicial del artículo

177 TCE. Barcelona: Jose Maria Bosch, 1996. p. 404; CAMPOS, João Mota de; CAMPOS, João Luiz Mota de. Contencioso Comunitário. Curitiba: Juruá, 2008. p. 150; CAMPOS, João Mota de. Manual de direito comunitário. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2008. p. 319; COLOMER, Damaso Ruiz-Jarabo. El juez nacional como juez comunitario. Fundación Universidad Empresa – Civitas: Madrid, 1993. p. 100.

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ANDRADE, Miguel Almeida. Guia prático do reenvio prejudicial: o artigo 177º do Tratado CEE e a cooperação entre os tribunais nacionais e o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. Lisboa: Gabinete de Documentação e Direito Comparado, 1991. p. 78; ALMEIDA, José Carlos Moitinho de. O reenvio prejudicial

perante o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. Coimbra: Coimbra, 1992. p. 61; COLOMER,

Damaso Ruiz-Jarabo. El juez nacional como juez comunitario. Fundación Universidad Empresa – Civitas: Madrid, 1993. p. 100.

519 ALMEIDA, José Carlos Moitinho de. O reenvio prejudicial perante o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias. Coimbra: Coimbra, 1992. p. 61; CAMPOS, João Mota de; CAMPOS, João Luiz Mota de. Contencioso Comunitário. Curitiba: Juruá, 2008. p. 152.

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BULNES, Mar Jimeno. La cuestión prejudicial del artículo 177 TCE. Barcelona: Jose Maria Bosch, 1996. p. 404 e 405. Nas palavras da autora: “Por su parte, el Tribunal de Justicia únicamente ha aconsejado que la resolución jurisdiccional a través de la cual el juez o Tribunal estatal plantee la/s cuestión/es prejudicial/es deberá incluir las razones que inducen a este a acudir ante la jurisdicción comunitaria; en una palabra, se aconseja que dicha resolución jurisdiccional esté motivada. Sin embargo, no puede deducirse de ello la existencia de una condición imperativa de la que dependa la adimisibilidad de la cuestión prejudicial en si; es más, el Tribunal de Luxemburgo há aceptado reenvíos prejudiciales sin justificación alguna o bien formulada ésta en términos excesivamente abstractos que impiden muchas veces conocer la causa del reenvio.” Em sentido

outros termos, não é requisito que esteja o requerimento de intepretação prejudicial

fundamentado.

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A mesma solução não parece adequada à solicitação de opinião consultiva. A dúvida quanto a

necessidade de ser solicitada uma opinião consultiva ao Tribunal Permanente de Revisão (que

terá por objeto uma questão relativa à interpretação da normativa Mercosul) configura-se, por

si só, como uma questão. Ela poderia ser formulada nos seguintes termos: “há necessidade de

ser solicitada uma opinião consultiva ao Tribunal Permanente de Revisão?”. A resposta à

indagação (seja positiva ou negativa, o foco do trabalho é, por razões óbvias, a resposta

positiva) é, em consonância com o CPC, uma decisão interlocutória: ato pelo qual o juiz, no

curso do processo, resolve questão incidente, nos termos do artigo 162, parágrafo 2º.

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Estabelecido que o pronunciamento quanto à necessidade de ser solicitada uma opinião

consultiva ao Tribunal Permanente de Revisão é entendido como uma decisão interlocutória, é

contrário, entretanto, posiciona-se Jânia Maria Lopes Saldanha: “Denys Simon faz referência a que o Tribunal de Justiça, passo a passo, construiu a doutrina da irrecebilidade do reenvio prejudicial. Ou seja, a sua jurisprudência que durante certo período, indicava aos juízes do reenvio quais os elementos do caso concreto deveriam ser elencados, a fim de oportunizar que ele proferisse uma resposta útil à demanda principal, passou a exigir dos juízes nacionais a obrigação de motivarem as ordens de reenvio, sob pena de não recebê-los, de não se julgar competente para julgar ou de que não haveria possibilidade de decidir.” Fausto de Quadros e Ana Maria Guerra Martins também destacam que o Tribunal de Justiça tem se mostrado “cada vez mais exigente quanto à necessidade de o juiz nacional fundamentar o pedido de decisão prejudicial, chegando mesmo a rejeitar liminarmente o pedido quando considera que esta exigência não está manifestamente cumprida.” QUADROS, Fausto de; MARTINS, Ana Maria Guerra. Contencioso comunitário. Coimbra: Almedina, 2002. p. 71. A explicação para os posicionamentos divergentes é explicada pelos últimos autores citados à página 74 da mesma obra: “O TJ parecia inclinarse no sentido de que o espírito de cooperação construtiva com os tribunais nacionais impunha a aceitação do máximo número possível de questões prejudiciais, pois tal também lhe permitia firmar jurisprudência sobre os vários temas de Direito Comunitário. Porém, uma vez fixada a jurisprudência em vastos domínios deixou de haver razões para continuar a aceitar todas ou quase todas as questões prejudiciais. Além disso, a constante acumulação de processos pendentes a partir da década de 80 – problema que nem a criação do TPI conseguiu resolver – não permitiam ao TJ continuar a política permissiva quanto às questões até então levada a cabo. Assim, a partir do momento em que o Tribunal se começou a aperceber de que estava a ser sobrecarregado pelos tribunais nacionais com questões menores, que em nada contribuíam para o desenvolvimento da jurisprudência comunitária, tinha de modificar a sua aparente benevolência quanto à admissibilidade das questões prejudiciais. O Tribunal passou a exigir ao tribunal nacional um maior rigor na definição do ‘quadro factual e legal em que se inscrevem as questões que coloca ou que, pelo menos, explique as

hipóteses factuais em que assentam essas questões’. Passou também a considerar necessário que o juiz nacional dê um mínimo de explicações sobre as razões de escolha das disposições comunitárias cuja interpretação solicita e sobre o nexo que estabelece entre essas disposições e a lei nacional aplicável ao litígio.”

521 Nesse sentido: “Por tanto, esta discrecionalidad para acudir al TJCE mediante el planteamiento de la cuestión

prejudicial del artículo 177, a fin de obtener la interpretación y/o apreciación de validez deseada, radica exclusivamente en los órganos jurisdiccionales de los Estados miembros, con exclusión de cualquier control sobre ella por parte del Tribunal de Justicia. Este, en principio, habrá de abstenerse de realizar cualquier

valoración sobre los motivos que impulsan al juez a quo a proponer el reenvio prejudicial, caso de que consten en la cuestión prejudicial formulada puesto que tampoco existe obligación alguna para el juez nacional de fundamentar el auto del reenvío” (grifo nosso). BULNES, Mar Jimeno. La cuestión prejudicial del artículo 177 TCE. Barcelona: Jose Maria Bosch, 1996. p. 226.

522 Artigo 162, do CPC: “Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. [...]. § 2o

inafastável a conclusão de que ele deverá ser fundamentado, por determinação legal (artigo

165, do CPC)

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e constitucional (artigo 93, IX da Constituição da República Federativa do

Brasil).

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3.3.4 Recorribilidade da decisão de realizar a solicitação de opinião