• Nenhum resultado encontrado

Análise comparada dos Protocolos sem Análises e com Análises

E. Unidade territorial

3. Análise da procura de ACD

3.3. Dados e Variáveis

3.3.6 Análise comparada dos Protocolos sem Análises e com Análises

É possível encontrar sobreposição de resultados nos diferentes tipos de protocolos. Na coincidência de resultados, o dado de maior pertinência encontra-se na persistente inexistência de níveis de significância estatística com as variáveis dummy de rendimento mensal familiar consideradas, quer quando no grupo dos não utilizadores de ACD, ou mesmo no grupo dos potenciais utilizadores de ACD. As razões aduzidas para este resultado derivam do acesso aos serviços de saúde de análises clínicas e de imagiologia, ocorrer de modo dominante com suporte financeiro público, que como é sabido em operadores privados remete para o contrato de convenção, e que deste maneira anula restrições de acesso por via do rendimento mensal familiar.

No entanto, será dada maior atenção a algumas variáveis, que revelaram comportamento dissimilar nos dois tipos de protocolo em contraste. Tome-se como ponto de partida a revisão dos resultados no grupo dos não utilizadores de ACD, referenciados como o Grupo dos sempre-zero. Verifica-se que nos modelos que procuram explicar a utilização de protocolos com inclusão de análises clínicas (𝑃𝑟𝑜𝑡𝑜𝑐𝑅𝑒𝑠𝑡𝑟 e 𝑃𝑟𝑜𝑡𝑜𝑐𝐴𝑙𝑎𝑟𝑔), é possível encontrar algumas variáveis com resultados estatisticamente significativos, que nos modelos com variáveis dependentes de protocolos da área da imagiologia (𝑃𝑟𝑜𝑡𝑜𝑐𝐼𝑚 e

𝑃𝑟𝑜𝑡𝑜𝑐𝐼𝑚𝐶𝑜𝑚) não têm expressão. Assim, é o caso das variáveis sexo feminino, homem

casado, reformado, escolaridade e tensão alta, que têm todas coeficientes de sinal negativo e significância estatística, estando por isso associadas a entrevistados que tenderão a ser potenciais utilizadores de ACD.

Tenha-se agora em atenção o grupo dos potenciais utilizadores de ACD, ou seja, o grupo dos entrevistados nem sempre-zero. Verifica-se que a condição profissional parametrizada antecipa uma maior intensidade de utilização de protocolos da área da imagiologia (𝑃𝑟𝑜𝑡𝑜𝑐𝐼𝑚 e 𝑃𝑟𝑜𝑡𝑜𝑐𝐼𝑚𝐶𝑜𝑚). Do mesmo modo que a presença de asma no entrevistado está associado a um maior consumo de ACDi. Por outro lado, os entrevistados com utilização de insulina têm uma probabilidade de consumo de ACD com a integração de análises clínicas.

Centra-se agora a análise apenas naquilo que é distinto entre os dois grupos de modelos. Importa notar que enquanto a condição de reformado apenas se revela importante para a formação dos grupos de potenciais utilizadores de ACD com análises clínicas, já os desempregados estão associados a um maior consumo de ACDi. Pretende-se com estas variáveis explicativas identificar níveis de consumo associados a entrevistados com menor custo de oportunidade associado ao tempo consumido no ACD. Se for assumida uma escala de valor, que determine um custo de oportunidade em tempo maior para o desempregado, do que para o reformado, pois antecipa-se no desempregado que procure activamente nova fonte de rendimento, o diferente comportamento das variáveis pode sugerir custos de oportunidade diferentes. É assim, possível inquirir de modo estritamente especulativo, se o protocolo de ACDi não estará associado a situações clínicas de maior gravidade, do que o protocolo de ACD com análises. Neste caso, parece lícito presumir que o efeito ocupação profissional poderá indiciar, mas não evidenciar, a gravidade da casuística afecta ao tipo de investigação com os dois tipos protocolos.

Junta-se aqui, que no conjunto das variáveis de estado de saúde, a presença de asma e de terapêutica com insulina estão associadas a aumentos de consumo de utilização de ACD em grupos de protocolos. Ora, em complemento com a especulação anterior é possível acrescentar que antes mesmo de um gradiante de gravidade das situações clínicas, se estará a diferenciar tipologias de situações clínicas distintas, que exigem estratégias de investigação clínicas com técnicas de diagnóstico dissimilares.

Por fim, deve-se notar que a variável percepção da qualidade dos serviços médicos tem resultados diversos consoante o tipo de variável dependente utilizada. De facto, quando se estudam as determinantes de consumo de protocolos com análises clínicas incluídas é possível constatar uma relação estatisticamente significativa, com uma opinião favorável da qualidade do serviço médico, nos centros de saúde, ao contrário do que acontece com os protocolos da área da imagiologia, onde essa relação se estabelece com os serviços médicos prestados em consultórios privados. Este resultado sugere mais questões do que esclarecimentos, pois importava agora perceber, onde os exames são realizados e ao abrigo de que sistema financeiro o entrevistado teve acesso aos serviços de imagiologia utilizados.

Existe amiúde a convicção de que a utilização de ACD se realiza num regime de

terceiro pagador, onde a convenção é particularmente relevante10. Nestes termos, admite-se

que em muitos casos haja exames requeridos por médicos em regime privado, mas suportado financeiramente pelo SNS, no âmbito das convenções, a partir de mecanismos de cooperação informais, tacitamente assumidos entre médicos de consultórios privados e

10

Remete-se neste ponto para os dados publicados no conjunto de relatórios da ERS de 2006 a 2009, com a análise do sector das convenções e da oferta de serviços de MCDT’s.

médicos do SNS em centros de saúde. Assim, a circunstância de se encontrar na utilização de ACDi uma associação com a apreciação da qualidade dos serviços médicos em consultórios privados, não desvirtua a constatação de que a maioria destes exames são financiados pelo SNS.

De facto, os resultados fazem admitir que os médicos em regime de consultório privado terão maior intensidade investigação clínica com técnicas de imagem, e que esta abordagem é entendida pelos seus doentes de modo favorável. Esta presunção carece de melhor fundamentação, pois com os dados discutidos não é possível estabelecer nexo de causalidade inequívoco. Nesta fase tem mero valor especulativo, que apenas se revela de maior pertinência quando se constata que os protocolos de investigação com análises clínicas estão associados a uma apreciação favorável dos serviços prestados por médicos de centros saúde, deixando de estar associada a serviços médicos prestados em consultórios privados.

Acresce que, a percentagem de operadores com convenção com o SNS no âmbito das análises clínicas é superior à proporção de operadores privados na área da imagiologia (ver relatórios da ERS já referenciados). Este dado vem em favor da especulação que reconhece a existência de comportamentos cooperantes entre médicos privados e públicos, informalmente estabelecidos, mas com maior repercussão no segmento das análises clínicas, do que na área da imagiologia, fruto de uma maior “independência” na oferta privada de ACDi. Talvez, deste modo, se torne mais evidente o efeito de percepção favorável dos médicos associado à intensidade de utilização de ACDi se fazer repercutir significativamente no âmbito privado e não atingir níveis significativos com consultas em centro de saúde. Ao contrário dos protocolos com análises clínicas, onde a percepção favorável com os dois tipos de médicos está associada a um aumento de probabilidade de intensidade de utilização de ACD.

Recorde-se que o regime de financiamento (aqui considerado sob a forma de: SNS; seguro de saúde; adse: e outros subsistemas), no acesso dos entrevistados aos cuidados de saúde não se revelou estatisticamente pertinente para a explicação do comportamento das variáveis dependentes. No entanto é possível admitir que se esteja em presença de segmentos de amostra com distribuições distintas, dentro da mesma amostra. Importará por isso, isolar os entrevistados de acordo com o respectivo regime de acesso aos cuidados de saúde (por exemplo, SNS vs o resto) e verificar se existe o chamado efeito de “colaboração” tácita entre médicos em regime público e privado. Parece existir aqui uma linha de investigação por desenvolver, que carece de esclarecimento futuro.

3.4. Análise da intensidade de recolha de informação com