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Análise da produção de ACDi por entidades convencionadas

2. Análise do comportamento de produtores de ACDi convencionados com o SNS

2.1. Provisão de ACD por unidades privadas de saúde

2.2.1 Análise da produção de ACDi por entidades convencionadas

Dos dados conhecidos da produção de unidades de imagiologia, ao longo de mais de uma década (de 1991 a 2008), retira-se uma dinâmica de crescimento continuado da

preços das unidades técnicas de produção impostos pelo comprador de forma administrativa (ver secção introdutória ao capítulo).

Em simultâneo, verifica-se que no mesmo intervalo de tempo decorreu um aumento persistente da produção de ACDi em quantidade de exames realizados para o SNS na série temporal observada, com excepção do ano de 2007, onde se constata uma redução significativa do número de exames realizados, em particular no caso da TAC e Ecografias (ver gráfico 2.3). Existem razões fundadas para se manter alguma reserva quanto à consistência dos dados de 2007, pois a quebra de produção em quantidades unitárias reportada nos diferentes tipos de exames (Ecografias; Radiografias; Ecografias), sugere uma variação negativa entre 2006 e 2007 numa escala que está longe de se aproximar à variação negativa ( -3,1%), no volume de aquisições de imagiologia em euros, entre os anos de 2006 e 2007 (ver ACSS: Relatório de Contas do SNS 2007). Acresce que em 2008 se retomou o crescimento da produção, num ritmo que aqui se atreve a adjectivar de “paradoxal”, tal o gradiente de variação positiva nas quantidades unitárias utilizadas, o que dá mais consistência à sugestão de imprecisão no registo de consumo de ACD em 2007.

Gráfico 2-3 – Produção em quantidades unitárias de ACDi por Radiologia, Ecografia e TAC (Fonte: DGS 2008)

Gráfico 2-4 - Evolução percentual dos ACDi efectuados e requisitados na área dos cuidados de saúde primários, em centros de saúde e convencionados, no Continente entre os anos de 1991 e 2007 (ano de 1990 base 100)

(Fonte DGS 2008)22

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A propósito dos dados revelados pela Direcção-Geral da Saúde na sua publicação Elementos Estatísticos Saúde/2008 que conduziram á produção deste gráfico, os seus autores deixam o seguinte alerta: “Os dados apresentados revelam algumas inconsistências, as quais resultam

Numa análise dos dados na área da imagiologia em maior detalhe torna possível constatar um efeito conjugado da alteração do cabaz de produção dos prestadores de ACDi para o SNS. Os números deixam transparecer uma progressiva migração do esforço produtivo da área da Radiologia convencional, para as técnicas de diagnóstico por Ecotomografia (Ecografia) e Tomografia Axial Computorizada (TAC). Uma observação superficial dos dados permite verificar que a Radiologia tem apenas uma variação marginal positiva despicienda no período em análise, à semelhança do acontece com as análises clínicas aqui têm um mero contributo de “benchmarking”. Em contrapartida, a Ecografia e a TAC, no mesmo intervalo de tempo, foram objecto de incrementos significativos na sua produção quantitativa (gráfico 2.4).

Os dados de comparação internacional de número de equipamentos por população, permitem verificar que existia em 2008, em Portugal, uma densidade de equipamentos TAC superior à proporção equivalente de equipamentos de Ressonância Magnética (RM) e superior à mediana da OCDE. Constata-se do mesmo modo, que a RM tem uma menor expressão em Portugal face ao número de equipamentos da mediana da OCDE (Tabela 2.7). De novo, as cautelas devem ser tomadas na utilização da informação, pois tem um mero valor descritivo, sem capacidade de inferência estatística. É no entanto sugestivo, de uma maior propensão para a instalação de equipamentos TAC, comparativamente para equipamentos de RM.

Se for atendido que a convenção com o SNS para a área da radiologia não contempla o reembolso de exames de RM, ao contrário do que acontece com os exames de TAC. Conjugadamente com o protagonismo retratado do sector privado na prestação de serviços de imagiologia, que expressam uma dependência significativa da celebração da convenção para a sua sobrevivência. Parece ser possível inferir que há em Portugal um nível de investimento em tecnologia TAC, em concordância com a hipótese de trabalho de uma recomposição do cabaz de oferta de ACDT. Dito de outro modo, os níveis de investimento em equipamento TAC traduzem um nível razoável, comparativamente com os números equivalentes da OCDE, e esta constatação vem em coerência com a hipótese de trabalho sugestiva que os convencionados migram a suas opções de investimentos, para áreas de maior rendimento potencial.

Eq. TAC / 106 pop. Eq. RM / 106 pop. Áustria 29,9 18,0 Canadá 12,7 6,7 E.U.A. 34,3 25,9 Finlândia 16,5 16,2 Grécia 30,7 19,6 Holanda 10,3 10,4 Hungria 7,1 2,8 Irlanda 15,1 9,4 Itália 31,0 20,0 Japão 97,3 43,1 Luxemburgo 27,6 12,7 Polónia 10,9 2,9 Portugal 26,0 8,9 República Checa 13,5 5,1 República Eslovaca 13,7 6,1 Reino Unido 7,4 5,6 Turquia 10,2 6,9 OCDE – mediana 19,0 9,5

Tabela 2-7 – Número de equipamentos TAC e de Ressonância Magnética por milhão de habitante em 2008 (Fonte: Frogner et al. 2011)

A alteração no mix de oferta na área dos ACDi produzidos por entidades convencionadas deixa antever um impacto natural nos fluxos financeiros gerados, pois é sabido que os exames de TAC e Ecotomografia têm por regra valores unitários mais elevados do que a Radiologia, e desta forma o efeito agregado da despesa terá um incremento maior do que o simples aumento da produção de exames permite suspeitar. O gráfico 2.5 revela a variação observada entre os anos de 2000 a 2003. É possível encontrar no triénio em análise um peso menor da despesa gerada com a aquisição de ACDi por Radiologia relativamente ao verificado com TAC e Ecotomografia, que deste modo aumentou o seu peso percentual no agregado da despesa.

Gráfico 2-5 – Evolução do cabaz de produção dos prestadores de ACD, por imagem, segundo a despesa gerada para o SNS (fonte: Relatórios e Contas do SNS publicado pela ACSS/IGIF)

De destacar ainda, que a evolução encontrada na reconfiguração do cabaz de produtos do lado da oferta, com a alteração conexa da despesa, não se traduziu numa alteração significativa do peso relativo das técnicas ACDi no conjunto global da despesa do

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 2000 2001 2002 2003 Radiologia Convencional TAC Ecografias Outras Radiologia

SNS com todos os ACD (cerca de 36%), nem mesmo no peso relativo da despesa com ACDT (cerca de 18%), no período de tempo compreendido entre os anos 2000 e 2003, quando avaliada a despesa a partir de preços deflacionados (ver tabela 2.8).

2000 2001 2002 2003

% ACD 36% 36% 36% 36%

%ACDT 18% 18% 18% 17%

Tabela 2-8 – Peso da despesa em ACD por imagem no cabaz de serviços adquiridos aos prestadores convencionados pelo SNS (fonte ACSS/IGIF)

Os dados fazem presumir que o sistema de incentivos criado pelo sistema de reembolso conduziu uma parte dos produtores de ACDi a um desinvestimento em capacidade instalada na área da Radiologia convencional, com um maior esforço de investimento nas áreas da Ecotomografia e TAC, onde as expectativas de gerar excedente económico poderão ser superiores. Trata-se de uma intuição sem confirmação sustentada a partir dos dados disponíveis do sector, ainda que sugestiva de uma hipótese de trabalho motivadora de desenvolvimento de uma linha de investigação futura.

Tabela 2-9 – Taxas de variação da despesa, em valores constantes, por família de actos e para a totalidade de ACDi (fonte: IGIF)

Os dados descritos permitem desvendar em grandes agregados as dinâmicas plurianuais de consumo de bens intermédios aqui identificados por ACDT em geral, ou de ACDi se considerado o segmento restrito da imagiologia. Trata-se de uma análise na óptica do adquirente dos serviços (leia-se o SNS), onde é possível descortinar uma pressão crescente para o consumo de bens intermédios, que os médicos assalariados do SNS, no âmbitos dos cuidados de saúde primários, integram numa função produção, que visa maximizar o stock de saúde da população.