• Nenhum resultado encontrado

PARTE II ANÁLISE DE DOCUMENTOS NORMATIVOS E ENTREVISTAS

7.3 ANÁLISE COMPARATIVA

Os gestores apresentam em suas narrativas sobre o Ensino Médio pontos comuns como:

a) Etapa escolar com problemas estruturais; b) Falta de investimentos;

c) Necessidade de melhor formação inicial e continuada de professores; e d) Necessidade de diversificação do currículo sem aumento do

quantitativo de disciplinas obrigatórias.

Os pontos divergentes estão relacionados a alguns dos caminhos que devem ser traçados para que os problemas desta etapa sejam sanados. São eles:

a) Utilização dos recursos tecnológicos por parte dos professores;

b) Maior diálogo com as empresas, levando os estudantes a estagiar em ambientes empresariais;

c) Necessidade de tornar a escola atrativa para os jovens; e d) Concepção da finalidade do Ensino Médio.

O Ensino Médio não pode ser reduzido ao percurso a ser vencido, como parâmetro que condiciona o sucesso dessa etapa da educação básica ao ingresso do estudante na educação superior. O Ensino Médio público nem sempre assume, na fala dos gestores, um valor em si, como direito universal, em que cada pessoa, se assim o desejar, poderá frequentá-lo próximo de sua residência, mas um valor para, ou seja, um diploma para arrumar emprego sem perspectiva de continuação dos estudos ou para arrumar um trabalho que viabilize o prosseguimento dos estudos em uma instituição de educação superior.

Como as demais etapas, Educação Infantil e Ensino Fundamental são mantidas pelos municípios, e o Ensino Médio, pelos Estados, os diálogos e

integração nem sempre são possíveis, dado que em vários municípios seus Secretários de Educação são de partidos políticos opostos aos dos Secretários de Educação dos Estados, e todos eles são, em geral, indicações políticas, e os representantes não dialogam.

Em suma, o Ensino Médio reflete as desigualdades, as divergências, as disparidades econômicas e político-partidárias no trato das questões de interesse público que o País tem. Talvez seja nessa etapa de escolarização que os problemas sejam mais latentes. Mantidas pelos Estados, as escolas de Ensino Médio – entre os Estados e dentro deles – revelam disparidades no modo de gestão, no grau de importância dado à educação pública, no sentido que lhe é atribuído, no quadro de docentes, na disposição geográfica das escolas, no cumprimento da legislação, entre outros, como podemos evidenciar nas falas dos gestores.

Há por um lado, como já explicitadas nos capítulos anteriores – levantadas pelos próprios entrevistados – questões como a falta de prédios adequados, de professores específicos por área do conhecimento, de condições adequadas para que os docentes consigam ensinar e, de outro lado, excesso de hierarquia entre as disciplinas, uma política enviesada de livros didáticos, a relação professor versus número de estudantes que atende, e também de funcionários técnicos versus alunos, escassez ou ausência de bibliotecas e laboratórios, salas de informática com número insuficiente de computadores, e os que têm são de qualidade inferior, entre outros apontamentos.

Essa estrutura precária dificulta ou desencoraja a continuidade dos estudos muito mais que o conflito de gerações, por exemplo, que, aliás, sempre existiu. Há, ainda, um elemento fundamental nessa questão que é a representação cristalizada para os brasileiros do que seja a escola.

Analisando o que disseram os entrevistados sobre os jovens brasileiros que estão frequentando a escola e a quem eles ajudam na gestão, é possível destacar considerações que identificamos em algumas falas dos entrevistados.

I. Prevalece a ideia de que a escola é redentora de todos os problemas vividos pelos jovens fora de seus muros e, ao falarem que a escola deve considerar os jovens, parece que a escola é uma entidade à parte e que ela não seria composta de pessoas/ profissionais que são eles mesmos;

II. Os jovens também aparecem tipificados como carentes, desinformados, coitados, perdidos, como se tivessem que ser tutelados pelos adultos;

III. A percepção macro do sistema de ensino, das políticas educacionais, da escola, dos professores, do funcionamento técnico da escola parece fragmentada, com ênfase nas questões locais e regionais do Estado que representa;

IV. A dimensão estrutural do sistema de ensino bem como seu vínculo com as questões econômicas, políticas e sociais, concernentes ao sistema capitalista contemporâneo, por que passam o país e o mundo, não são relacionadas com a realidade que eles encontram no dia a dia em sua região; e

V. A escola não estaria conseguindo ser atrativa para os alunos, e caberia aos professores promover essa atratividade para evitar a evasão, a repetência e promover o interesse dos estudantes pela sala de aula.

Mesmo com essas visões, os gestores foram capazes de identificar as peculiaridades vividas por cada geração que enfrenta conflitos, desafios, tensões, angústias... No entanto, novos conhecimentos, descobertas, novas tecnologias, oferta de escola, emprego, espaços de socialização, entre outros, são parte constitutiva de cada momento histórico e de cada situação econômica, tanto global quanto regional e local.

8 O PROCESSO DE FORMULAÇAO DAS DIRETRIZES E O ENSINO MÉDIO INOVADOR NA FALA DOS GESTORES

Neste capítulo, analisaremos o processo de elaboração das Novas Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio, que ocorreram entre 2009 e 2012. O Programa Ensino Médio Inovador, aprovado pelo Conselho Nacional de Educação em 2009, também é foco deste capítulo. A fala dos gestores entrevistados nesta pesquisa constitui a principal fonte de dados, e, para tanto, seguiremos os critérios da análise de conteúdo conforme já expostos na pesquisa.

8.1 A PARTICIPAÇÃO DOS ENTREVISTADOS NO PROCESSO DE