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3 – APORTE TEÓRICO: DIREITO À INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO PÚBLICA E A PERSPECTIVA DO USUÁRIO

4.1 SOBRE A ANÁLISE DE CONTEÚDO

Antes de apresentar e explicar como a metodologia desse trabalho foi desenvolvida, é importante destacar que a técnica metodológica empregada na análise de todos os dados coletados nesse estudo, desde a observação direta dos grupos de agressores, ainda na fase exploratória, até as entrevistas em profundidade, foi a análise de conteúdo. Na definição de Bardin (1977), trata-se de “um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição dos conteúdos das mensagens” (BARDIN, 2009, p. 40). Mas, ainda segundo Bardin, isso não é suficiente para definir a especificidade desse instrumento.

Ainda para a autora, a análise é dupla, pois permite compreender o sentido da comunicação, mas também e principalmente “desviar o olhar para uma outra significação, uma outra mensagem entrevista através ou ao lado da mensagem primeira”. (BARDIN, 2009, p. 40). Fonseca Júnior (2012) explica que, em uma concepção ampla, a análise de conteúdo é um conjunto de instrumentos metodológicos voltado à investigação de fenômenos simbólicos. Utilizada, pelo menos, desde o século XVIII, passou a ser adotada mais regularmente pelas ciências sociais no século XX. Os primeiros trabalhos estariam relacionados ao florescimento do jornalismo sensacionalista nos Estados Unidos ainda nas últimas décadas do século XIX. “A partir do caminho aberto pelas pesquisas sobre o sensacionalismo na imprensa, diversas outras disciplinas (psicologia, história, sociologia etc.) passaram a incluir a análise de conteúdo entre suas técnicas de pesquisa.” (FONSECA JÚNIOR, 2012, p. 281-282)

Ainda para o autor, o status da análise de conteúdo como método de pesquisa atravessou períodos de reconhecimento, como durante a Segunda Guerra Mundial, e de críticas, como entre pesquisadores marxistas na década de 70. Um dos principais argumentos para a desqualificação do método,explica Fonseca Júnior, era a origem positivista da técnica, que não permitiria, por exemplo, a discussão crítica dos meios de comunicação de massa, ideia que depois chegou a ser contestada por outros autores marxistas. (FONSECA JÚNIOR, 2012, p. 281).

Para Bardin, a intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção, ou até de recepção, que recorre a indicadores (quantitativos ou não). Embora se presuma que a análise de conteúdo e a linguística tenham o mesmo objeto, qual seja, a liguagem, Bardin (1977) destaca que o objeto da linguística é a língua, o aspecto coletivo e

70 virtual da linguagem, enquanto o da análise de conteúdo seria a palavra, ou seja, “o aspecto individual e actual (em acto) da linguagem”. Essa técnica, portanto, “trabalha a palavra, quer dizer, a prática da língua realizada por emissores identificáveis (BARDIN, 1977, p. 43). Também não se confunde com a análise documental que, para Bardin, pode ser definida como um conjunto de operações que representa o conteúdo de um documento de uma forma diferente da original para facilitar sua consulta e referenciação. (BARDIN, 1977, p. 45). Desse modo, a documentação trabalharia com documentos enquanto a análise de conteúdo com mensagens, com a comunicação. O objetivo da primeira seria a representação condensada da informação, para consulta e armazenagem, já o da análise de conteúdo seria a manipulação de mensagens (conteúdo e expressão desse conteúdo) para evidenciar os indicadores que permitem inferir sobre uma outra realidade (BARDIN, 1977, p 46).

Conforme preceitua a técnica, o estudo deve ser dividido em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

Na pré-análise demarca-se o universo, define-se um corpus, cuja constituição implica, muitas vezes, escolhas de seleções e regras, tais como a da exaustividade (ou da não seletividade); da homogeneidade (apresentar critérios parecidos de escolha), da pertinência (elementos adequados à análise) e da representatividade (efetua-se em uma amostra parte representativa do universo inicial) (BARDIN, 1977, p.97-98).

A fase de exploração do material consiste basicamente em “operações de codificação, desconto e enumeração em função de regras previamente formuladas” (BARDIN, 1977, p. 101).

Codificar é tratar o material, é o processo pelo qual “os dados brutos são transformados sistematicamente e agregados em unidades, as quais permitem uma descrição exata das características pertinentes do conteúdo. (BARDIN, 1977, p. 103 – 104) Ainda segundo Bardin, organizar a codificação compreende três escolhas (no caso de uma análise quantitativa e categorial): o recorte (escolha das unidades), a enumeração (escolha das regras de contagem) e a classificação e a agregação (escolha das categorias).

A categorização, por sua vez, é “uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos” (BARDIN, 1977, p.118). Desse modo, as categorias seriam rubricas ou classes, que reúnem um grupo de elementos sob um título genérico, efetuado em razão das características comuns destes elementos. Ainda para esta autora, um conjunto de categorias boas deve possuir as seguintes qualidades: exclusão mútua (cada elemento não pode existir em mais de uma divisão), homogeneidade, pertinência,

71 objetividade e fidelidade (capacidade de diferentes partes de um mesmo material serem codificadas da mesma maneira, mesmo em análises diversas), produtividade (um conjunto de categorias só é produtivo se fornecer resultados férteis).

Sobre a inferência, Bardin destaca que

Se a descrição (a enumeração das características do texto, resumida após tratamento) é a primeira etapa necessária e se a interpretação (a significação concedida a estas características) é a última fase, a inferência é o procedimento intermediário, que vem permitir a passagem, explícita e controlada, de uma a outra” (BARDIN, 1977, p. 39).

São diversas as técnicas para se proceder à análise, como a categorial, de avaliação, de enunciação, de expressão, das relações, ou ainda a do discurso. Para esse estudo, destaca-se a primeira, conforme explica Bardin:

A análise por categorias cronologicamente é a mais antiga: na prática é a mais utilizada. Funciona por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos. Entre as diferentes possibilidades de categorização, a investigação dos temas ou análise temática, e rápida e eficaz na condição de se aplicar a discursos directos (significações manifestas) e simples. (BARDIN, 1977, p.153)

Já a fase final, é aquela em que os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos e válidos a fim de condensar e pôr em relevo as informações fornecidas pela análise. (BARDIN, 1977, p. 101).