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3 – APORTE TEÓRICO: DIREITO À INFORMAÇÃO, COMUNICAÇÃO PÚBLICA E A PERSPECTIVA DO USUÁRIO

4.5 FASE MAPEAR DEMANDAS

4.5.1 Questionários

Com base nas demandas comunicativas coletadas durante fase exploratória da pesquisa, no já mencionado grupo reflexivo de homens, foi elaborado um questionário aplicado em vítimas e agressores envolvidos em processos da Lei Maria da Penha. O canal utilizado para acesso a esses homens e mulheres foram os próprios Nafavds e o atendimento do Setor de Psicossocial do MPDFT.

Uma das alternativas, por exemplo, seria utilizar o momento das audiências, mas percebeu-se que, além de elas serem, de modo geral, rápidas, envolvem muitos atores ao mesmo tempo e no

85 mesmo ambiente (juiz, defensor público, promotor de Justiça, vítima e agressor). Também podem representar um momento tenso na maioria das vezes para ambas as partes envolvidas. Desse modo, aos homens, o questionário foi aplicado por esta pesquisadora após participação deles nos grupos reflexivos promovidos pelo Nafavd. A escolha por esse canal se deu por eles oferecerem contato mais direto com os envolvidos em um contexto mais neutro e calmo. Mesmo o TJDFT e o MPDFT tendo grupos de reflexão para agressores, a utilização dos Nafavds como canal de contato se mostrou mais promissora, por eles estarem mais bem distribuídos pelas regiões do Distrito Federal. Além disso, pelo fato de serem uma política pública, instituída pelo governo local e já consolidada, apresentam mais uniformidade nas linhas de atuação com esses homens. Optou-se pela aplicação ao final dos encontros pela identificação, como já mencionado, de que esses homens chegam a esses serviços ainda muito reticentes e, não raras vezes, com comportamento revoltado. Percebeu-se que abordá-los logo no início da iniciativa poderia contribuir para a não adesão à pesquisa ou, ainda, para respostas enviesadas. No caso das mulheres, como a situação é diferente, a opção foi aplicar o questionário antes do atendimento psicossocial. Nesse caso, optou-se pelo serviço prestado pelo próprio MPDFT, uma vez que a ação já está consolidada na instituição, cuja comunicação é um dos focos centrais desta pesquisa.

Os questionários, disponíveis no anexo desta pesquisa, continham perguntas de acordo com o que foi levantado como demanda comunicativa na fase exploratória deste estudo, entre elas: dúvidas sobre o processo, etapas e consequências; medidas protetivas, conhecimento sobre ciclo da violência; Lei Maria da Penha e os cinco tipos de violência que ela contempla, entre outras.

Também havia espaço para manifestação livre, com perguntas abertas para respostas a serem escritas pelo participante. No caso dos homens, as questões versavam sobre qual informação recebida no grupo o participante achou mais importante e quais as dúvidas ainda permaneciam. No caso das mulheres, também foi perguntado, além de qual a principal dúvida que elas tinham, o que as levou a procurar a Justiça e qual a expectativa que tinham em procurá-la. Informações

86 sobre canais de comunicação utilizados e sobre a quais produtos comunicativos do MPDFT já tiveram acesso também foram contempladas em ambos os questionários.

No caso dos homens, como o questionário foi aplicado depois dos encontros, abaixo de cada questão havia ainda a pergunta se tais informações haviam sido obtidas após a participação no grupo ou se eles já tinham algum conhecimento sobre elas.

O objetivo do questionário foi levantar e ratificar as principais questões que envolvem a temática, desde aspectos objetivos do processo a situações mais abstratas relacionadas à questão de gênero e à violência em si.

O acesso às mulheres para aplicação dos questionários se deu por meio dos acolhimentos coletivos realizados pelos profissionais dos psicossociais das Promotorias de Justiça de Brasília, Sobradinho, Taguatinga, São Sebastião, Samambaia, Paranoá e Riacho Fundo. São essas as promotorias que realizam, de forma sistemática, esses encontros coletivos. As demais realizam apenas acolhimentos individuais e específicos, que dependem da solicitação dos promotores de Justiça que atuam na temática. Esses encontros são promovidos nas fases preliminares do processo, ou seja, entre a denúncia da vítima na delegacia e a audiência de justificação. Dessa forma, responderam ao questionário 124 mulheres, que foram atendidas entre os dias 10/10/2018 e 19/12/2018.

No caso dos homens, colaboraram com essa pesquisa, 8 dos 9 Nafavds que existem no Distrito Federal, são eles: Brasília, Sobradinho, Paranoá, Planaltina, Santa Maria, Gama, Taguatinga e Samambaia. O único que não participou foi o de Brazlândia, uma vez que, no período destinado à aplicação dos questionários, não havia previsão próxima para o encerramento de nenhum grupo, o que inviabilizou a participação desse núcleo na pesquisa. Oitenta homens responderam aos questionários, que foram aplicados entre os dias 20/10/2018 a 19/12/2018.

4.5.2 Entrevistas com promotores de Justiça

Também foram entrevistados promotores de Justiça que atuam na temática. Aqui, como não seria possível entrevistar os 45 promotores das Promotorias de Violência Doméstica, utilizou-

87 se o mesmo critério do recorte da participação em audiências, limitando as entrevistas aos promotores que atuam em Brasília e em Ceilândia.

Em Brasília, são quatro promotores titulares das promotorias de Violência Doméstica, mas um está licenciado. Foi possível, portanto, entrevistar três deles. Já em Ceilândia, são três promotores e uma promotora. Um dos promotores não teve interesse em participar da pesquisa. Foram entrevistados, então, dois promotores e uma promotora.

O foco da entrevista foi, principalmente, entender as peculiaridades processuais que envolvem a Lei Maria da Penha, a inter-relação entre Justiça e cidadãos (vítimas e agressores), a percepção das principais demandas informacionais sentidas por esses operadores do Direito, assim como os desafios que a questão ainda apresenta ao sistema de Justiça e à sociedade.

Foi entrevistada, ainda, a coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos do MPDFT, já citado no capítulo 2, que também é promotora de Justiça.

As entrevistas foram do tipo semiestruturadas, ou semiabertas, desenvolvidas a partir de uma matriz, um roteiro de questões guia, em que questionamentos básicos foram propostos e aprofundados à medida que o entrevistado discorresse sobre o tema, conjugandoa flexibilidade da questão não estruturada com um roteiro de controle (DUARTE, 2008, p. 66).

O pesquisador faz a primeira pergunta e explora ao máximo cada resposta até esgotar a questão. Somente então passa para a segunda pergunta. Cada questão é aprofundada a partir da resposta do entrevistado, como um funil, no qual perguntas gerais vão dando origem a específicas. O roteiro exige poucas questões, mas suficientemente amplas para serem discutidas em profundidade sem que haja interferências entre elas ou redundâncias. (DUARTE, 2012, p. 66)

4.5.3 Identificação de estratégias de comunicação do Ministério Público – Levantamento dos produtos comunicativos e entrevistas com comunicadores

Para compreender os processos e produtos de comunicação do MPDFT foi realizada, ainda, entrevistas com o secretário de Comunicação e com a chefe da Divisão de jornalismo do MPDFT, que agora se chama Comunicação Externa.

Embora o setor tenha cerca de 20 servidores, optou-se por focar as entrevistas nesses dois servidores por serem eles, de fato, os responsáveis pela produção de conteúdo e pela interlocução com as outras áreas do MP. Também pela antiguidade na área, já que eles fazem parte do grupo de servidores mais antigos no setor. São eles, portanto, as principais peças para entender o histórico das ações comunicacionais. Só para se ter uma ideia, dos 7 analistas em

88 comunicação social da Secom, quatro ingressaram na instituição em 2014 após concurso público realizado no ano anterior.

Tais entrevistas abordaram inicialmente o histórico de atuação da área nessa temática, as estratégias de comunicação utilizadas para abordar o assunto, os principais desafios enfrentados na promoção das ações e dos produtos de comunicação, entre outros.

Como já mencionado, a comunicação no MPDFT atualmente é dividida entre externa e interna. Como o foco desta pesquisa é o cidadão, foi considerada aqui apenas a primeira para proceder ao mapeamento das estratégias e dos produtos de comunicação do MPDFT.

O Guia de Produtos e Serviços de Comunicação elaborado pela Secretaria de Comunicação do MPDFT estabelece quatro áreas básicas de atuação da comunicação externa: assessoria de imprensa; publicação de artigos em jornais e sítios jurídicos que oferecem espaço; portal do MPDFT na Internet; mídias sociais, que contemplam perfil no Facebook, no Instagram e no Twitter; produção de material institucional, que inclui campanhas publicitárias, confecção de fôlderes, cartilhas, banners, sinalização e identidade visual para eventos e material audiovisual, material de áudio e vídeo produzido pela Divisão de Rádio e TV.

Dessa forma, o mapeamento foi dividido da seguinte forma: - notícias da página do MPDFT;

- relacionamento com a Imprensa (produção de releases); - mídias sociais (Facebook, Instagram);

- cartilhas;

- projetos especiais (campanhas e programa Quero Saber Transamérica).

Na parte de mídias sociais, o Twitter não foi incluído devido à efemeridade e síntese que a ferramenta propicia, o que poderia levar a uma análise enviesada.

A categorização desses produtos levou em consideração data da publicação do texto, lead, fontes ouvidas e temas abordados na matéria, também ancorados nos apontamentos trazidos durante observação no grupo de agressores, quais sejam:

- contextualização da Lei Maria da Penha: histórico, sensibilização ao tema, descrição das características peculiares que a definem, reafirmação de constitucionalidade da lei, os cinco tipos de violência elencados na norma;

- aspectos processuais: crimes previstos, penas, quem pode ser denunciado, quem denuncia e quem julga, procedimentos do processo, informação sobre medida protetiva e consequências, se houver descumprimento;

89 - aspectos da violência contra a mulher: sensibilização à perspectiva de gênero, ciclo da violência, interlocução com homens e potenciais agressores.

Dessa forma, analisaram-se os produtos de comunicação produzidos pela Secom na temática da violência contra a mulher. Para pesquisa nos respectivos canais de comunicação do órgão, foram utilizadas como termos de pesquisa as palavras-chave: violência contra a mulher, violência de gênero, Lei Maria da Penha, feminicídio. Também foram analisadas todas as cartilhas produzidas sobre o assunto, bem como notícias no site do MPDFT, posts no Facebook e Instagram e outros projetos desenvolvidos pela comunicação sobre a temática. Somadas a isso, as entrevistas com os responsáveis pelas ações ajudaram a elucidar como essas estratégias foram idealizadas e desenvolvidas, o que levaram em consideração e no que se basearam para realização. As categorias elencadas para o levantamento desses produtos, conforme veremos com mais detalhes adiante, foram: o assunto (eventos, ações, matérias especiais), as fontes ouvidas (promotores, servidores, autoridades, cidadãos), os temas importantes a questão abrangidos (LMP, 5 tipos de violência, entre outros) e a quantidade e a data das notícias.