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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.3. A NÁLISE DAS QUESTÕES RELACIONADAS À PIRATARIA DE SOFTWARE E DAS PROPOSIÇÕES DA PESQUISA

4.3.1. Estatística descritiva das questões relacionadas à pirataria de software

4.3.2.1. Análise de correlação bivariada

A correlação, tomada pelas as medidas agregadas das dimensões e pe- las médias das questões relacionadas à pirataria de software, pode ser verificada na matriz de correlação bivariada, exposta na Tabela 39.

Altruísmo Ambiental Ativismo Ética Comport. Intenção Cenário A Comportamento -0.158* -0.163** -0.035 -0.177**

Intenção -0.194** -0.182** -0.128* -0.199** 0.775**

Cenário A -0.153* -0.159* -0.028 -0.128* 0.549** 0.528**

Cenário B -0.161** -0.136* -0.052 -0.147* 0.517** 0.552** 0.700** **Correlação significante ao nível de 0.01.

* Correlação significante ao nível de 0.05.

Tabela 39 – Correlação bivariada entre os construtos (segunda amostra) Fonte: Dados da pesquisa

- RSCons versus prática de piratear de software

mento do indivíduo em relação à pirataria de software‟, verificou-se que, a exceção da dimensão ativismo, todas as demais, apesar de muito baixas, apresentaram cor- relações negativas estatisticamente significantes, seja ao nível de 1% (como as di- mensões de ambiental e de ética, respectivamente com 0,163 e 0,177), seja ao nível de 5% (como a de altruísmo, com 0,158). Isto significa que as dimensões do constru- to responsabilidade social do consumidor influenciaram muito pouco ou em nada (no caso do comportamento ativista), na pirataria declarada de software. Uma possível explicação para a Responsabilidade Social do Consumidor como um todo haver in- fluenciado tão pouco na pirataria de software é o fato dos consumidores não reco- nhecerem a gravidade de tal prática do ponto de vista ético e legal.

No entendimento de Vitell (2003), os julgamentos éticos dos consumido- res são baseados em três aspectos principais: (1) se o consumidor participa ou não ativamente ou passivamente no processo; (2) se a atividade pode ou não ser perce- bida como ilegal; e (3) se há ou não qualquer prejuízo para o fornecedor. Neste sen- tido, esses resultados parecem coerentes, tendo em vista que os dois últimos aspec- tos são marcantes no fenômeno em questão, na medida em que a pirataria muitas vezes não é percebida como ilegal e de que a percepção do prejuízo causado ao fornecedor é comprometida no caso de bens de informação ou cópia de material de propriedade intelectual, tais como música, software ou filme (VITEL, 2003; CARVA- LHO, 2004).

Além disso, como demonstrado na seção 2.5., destinada à apresentação de tal fenômeno, há toda uma gama de especificidades que envolvem a cópia de bens de propriedade intelectual, além de vários outros fatores que ainda precisam ser estudados, e que talvez expliquem melhor a variação do comportamento neste quesito.

- RSCons versus intenção de piratear de software

Os resultados em relação à intenção de piratear na questão geral, capta- da através do grau de probabilidade de piratear software no futuro, também demons- traram correlações baixas e negativas com todas as dimensões da RSCons analisa- das, apesar de estatisticamente não nulas. Com destaque para a dimensão compor- tamento ativista, com a qual intenção de piratear obteve a menor correlação (0,128) e, diferente das demais, que foram significativas a p<0,01, foi significativa estatisti-

camente somente a p<0,05. Esses resultados sugerem que a responsabilidade soci- al do consumidor influenciou inversamente, embora muito pouco, na sua intenção de piratear. Ou seja, de maneira geral, ainda que o impacto tenha sido bem pequeno, quanto mais socialmente responsável o indivíduo, menor foi sua intenção de pirate- ar.

Estes resultados estão coerentes com os obtidos para a influência da RSCons no comportamento associado a pirataria de software, o que é natural já que o comportamento final é, em boa medida, o reflexo da intenção do indivíduo. Aqui a interpretação das principais justificativas da pouca interferência da Responsabilidade Social do Consumidor na intenção de piratear são as mesmas que aquelas encon- tradas para o comportamento, ou seja, a não percepção do dilema ético e do prejuí- zo causado por esta prática aos mais diversos stakeholders (HINDUJA, 2003; RUT- TER; BRYCE, 2008; PHAU; NG, 2009; NILL; SHULTZ II, 2009).

- Comportamento e intenções

A correlação entre comportamento relacionado à pirataria de software e in- tenção de piratear software foi de 0,775, estatisticamente não nula ao nível de 1%. Esta relação, que pode ser interpretada como positiva e forte, já era esperada uma vez que intenção tem sido apontada pela literatura como a principal preditora do comportamento (AJZEN, 1991). Este relacionamento entre comportamento e inten- ção se confirma aqui, no contexto da pirataria de software, indicando que quanto mais o indivíduo adota esse comportamento hoje, maior a probabilidade dele adotá- lo no futuro.

É pertinente, no entanto, notar que quando comparada com as correla- ções encontradas entre comportamento e intenções nas questões dos cenários, (0,549 no cenário A e 0,517 no cenário B), percebe-se que há uma baixa considerá- vel. Talvez isso seja um indicativo de que quando transportado para um contexto mais real, como é o caso dos cenários, a verdadeira probabilidade de piratear seja mais facilmente explicitada pelos respondentes.

Interessante também observar que, no geral, e da mesma maneira que ocorreu na primeira amostra, quando analisadas com intenção, as correlações das dimensões são ligeiramente mais fortes do que quando confrontadas com compor- tamento, o que mais uma vez denota a lacuna existente entre intenção e comporta-

mento também largamente documentada na literatura, ou seja, nem sempre a inten- ção se traduz em comportamento.

Nas duas questões que mensuraram intenção a partir dos cenários, em- bora divergindo entre si pela estrutura de custos, os resultados das correlações fo- ram bastante próximos aos da questão geral, no sentido de que apresentaram corre- lações negativas e muito baixas, embora estatisticamente não nulas ao nível de ao menos p<0,05. Curiosamente, na amostra realizada com estudantes em nenhuma das dimensões confrontadas com as questões dos cenários foram apresentadas cor- relações estatisticamente significativas, ou seja, a intenção dos estudantes não so- fria qualquer influência de nenhuma das dimensões do construto RSCons, o que serve mais uma vez para confirmar que os estudantes são mais propensos a esta prática.

Como esperado, as correlações de ambos os cenários, tanto com o com- portamento quanto com a intenção de piratear software, medida na questão genéri- ca, foram positivas e estatisticamente significativas ao nível de 1%, além disso, os dois cenários apresentaram correlação positiva e forte entre si de 0,700, estatistica- mente significante ao nível de 1%.

A técnica de correlação foi aqui utilizada para estimar os relacionamentos existentes entre as variáveis porque fornece o número que resume o grau de relaci- onamento ou de intensidade de associação entre duas variáveis. Como nosso obje- tivo ia além, isto é, desejava-se verificar mais profundamente a natureza deste rela- cionamento, reconhecendo qual ou quais dimensões da RSCons exerceriam maior influência nas questões em análise de forma conjunta, optou-se por utilizar a técnica multivariada de regressão múltipla que permite chegar a uma equação que descreve matematicamente este relacionamento (STEVENSON, 1981; ANDERSON; SWEE- NEY; WILLIAMS, 2007). Os resultados desses procedimentos foram apresentados no tópico seguinte.