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Análise da composição dos grupos de governança

4. Análise do desempenho econômico a partir dos níveis observados de “Governança

4.4 Resultados

4.4.2 Análise da composição dos grupos de governança

Nesta etapa, os grupos/clusters de “Governança Cooperativa” foram analisados segundo a composição média de alguns indicadores: região de atuação, número de funcionários,

116 medidas de porte como número de associados ou valor de patrimônio líquido, e resultado contábil semestral sobre patrimônio líquido (ROE). (Tabela 1).

Inicialmente, a distribuição dos grupos nas cinco regiões brasileiras revelou dados interessantes, confirmando as diferenças regionais dos modelos cooperativistas de crédito brasileiro.

A região Sul apresentou os melhores resultados, concentrando as cooperativas nos grupos qualificados como de governança relativamente mais alta. Tal fato confirmou a percepção qualitativa, de maior desenvolvimento do segmento naquela região, pelo pioneirismo e presença da cultura de origem europeia, portadora do cooperativismo.

As instituições da região Centro-Oeste apresentaram, em média, desempenho mais interessante do que outras regiões, exceto quanto à região Sul. É importante salientar que, entretanto, que a região ainda tem ainda um número relativamente pequeno de instituições, o que ocorre também nas regiões Norte e Nordeste. Mas confirma-se também a evolução do cooperativismo de crédito em áreas que receberam migração de descendentes de europeus.

A região Sudeste concentra a maior parte das instituições em atividade no país, movimenta valores relevantes em relação ao todo nacional, mas seus componentes se concentram nos grupos de média e baixa governança. Verificou-se que as respostas nos questionários tiveram qualificação média algo superior ao das regiões Norte e Nordeste, que concentraram instituições nos grupos de governança mais baixa.

O número de associados é uma medida de porte econômico-financeiro que deve interessar às cooperativas de crédito. As cooperativas devem abranger o maior público, para que tenha escala para viabilizar a competição com outros entes do mercado financeiro, mas com a ressalva de manter sempre o caráter cooperativo e equitativo nas relações econômicas com seus “proprietários-associados”.

Isso se confirmou, uma vez que cooperativas de crédito maiores devem, de fato, operar de maneira mais eficaz, procurando utilizar instrumentos de governança mais adequados. Ademais, o desenvolvimento, neste sentido de crescimento do corpo associativo, deve resultar em crescentes ganhos de aprendizagem dos gestores, no sentido desejado pelos estudos de governança corporativa.

Por outro lado, o número de funcionários não apresentou relação direta com o nível de governança observado, o que poderia levar à conclusão de existência de economias de escala

117 em entidades de maior porte. Nesse sentido, a variável número de associados/funcionários reforça a tese de ganhos de escala, quando maiores instituições têm relativamente menos funcionários que aquelas menores.

O valor de patrimônio líquido (PL) das instituições per se revelou também relação positiva com os graus de governança de suas estruturas de gestão e controle. Os dois grupos que refletem ambiente de governança mais baixa têm PL médio inferior aos três grupos de governança mais alta.

Outra característica importante verificada na análise das médias: conforme já mencionado, as cooperativas de crédito devem ter objetivo distinto à maior geração de lucros, sobras ou rendas, mas persiste um viés das instituições de persecução de maiores resultados contábeis positivos, por diversas motivações77. Apesar da limitação de ordem conceitual já que são instituições sem fins de lucro, para fins estatísticos foram testados os dados de “saldo” semestral médio, em relação às informações obtidas de governança e a qualificação dos grupos de governança.

77

A procura por resultados positivos em cooperativas de crédito pode ocorrer, de fato. Até mesmo a maximização de resultados poderia ser aferida, tendo em vista a tendência de gestores em buscar lucros. A discussão é importante, porém, escapa dos objetivos desta pesquisa. Gestões para a geração de resultado contábil positivo – sinônimo de lucro – ainda são justificáveis no caso da necessidade de fortalecimento patrimonial da instituição.

118 Tabela 1 – Percentuais e valores médios de características diversas segundo grupos de “Governança Cooperativa” (valores entre parênteses representam resultados dos testes estatísticos) Variável Cluster 1 2 3 4 5 No. Cooperativas 112 124 109 391 130 Região (% linha) Norte 4.7 14.0 18.6 55.8 7.0 Nordeste 8.6 10.3 12.1 58.6 10.3 Centro-Oeste 14.7 26.7 16.0 34.7 8.0 Sudeste 6.6 12.6 6.6 51.3 22.9 Sul 27.1 14.8 22.0 31.4 4.7 ( 2=155,1)*** No. Associados 7,402 3,765 4,647 2,051 1,354 (A) (B) (B) (C) (C) No. Funcionários 41.2 23.7 32.0 16.8 30.1

(A) (AB) (AB) (B) (AB)

No. Assoc./No. Funcion. 185.2 160.3 164.1 217.8 392.3

(B) (B) (B) (B) (A)

No. Semestres Negativos 1.50 1.30 1.34 1.44 2.15

(B) (B) (B) (B) (A)

No. Semestres Negativos Consecutivos

0.82 0.81 0.74 0.83 1.03

(AB) (AB) (B) (AB) (A)

Patrimônio Médio (1.000 R$) 9,916 7,151 10,941 5,062 2,939 (AB) (BC) (A) (DC) (D) Receita Média (1.000 R$) 6,792 3,725 5,495 2,015 574 (A) (B) (A) (C) (D) Despesa Média (1.000 R$) -6,179 -3,186 -4,679 -1,678 -435 (E) (C) (D) (B) (A) ROE Médio (1.000 R$) 0.044 -0.068 0.053 0.043 0.033

(AB) (B) (A) (AB) (AB) Fonte: dados de pesquisa

*** Significância a 0,01% pelo teste 2 para tabelas de contingência

(A) (B) (C) (D) (E): representam hierarquia dos valores médios. Médias com a mesma letra não são significativamente diferentes a um nível de significância de 5% pelo teste de Duncan

A medida adotada, que viabiliza a comparação dos saldos semestrais médios entre entidades de diferentes portes, é o ROE, ou retorno sobre o patrimônio líquido. De fato, na análise das médias do ROE, não forma observadas diferenças significativas entre os grupos.

119 Nesse caso, não foram reveladas diferenças relevantes entre resultados contábeis (saldos) em relação à determinação dessa variável pelos níveis de governança verificados na pesquisa empírica. Tal conclusão corrobora a tese, defendida nesta pesquisa, da inviabilidade de utilizar-se medidas de eficiência no sentido do desempenho econômico positivo, para análises estatísticas sobre o comportamento de instituições sem fins de lucro, como as cooperativas de crédito.

Embora, na prática, exista a preferência natural da alta administração em perseguir saldos positivos, de fato, o comportamento sob o objetivo de geração de lucros ou sobras não se materializou em instituições que tenham níveis maiores de gestão e governança.

Outra alternativa adotada para testar a determinação da performance econômico- financeira das entidades, pelo ambiente de governança verificado, foi separar as ocorrências de saldos contábeis negativos e relacioná-los à observância de níveis de governança inadequados. Isso ocorrer porque as instituições, embora não devam ter como finalidade de atuação a busca de geração de excedentes, devem ser geridas de modo a evitar a ocorrência de saldos negativos, principalmente de forma recorrente ou reiterada.

De fato, os saldos negativos para os grupos de governança se mostraram como relevantes, apesar de a diferenciação, no caso destas variáveis “semestres negativos” e “semestres negativos consecutivos”, não ter sido explícita para a totalidade dos grupos.

Um resultado bastante importante se verificou, na medida em que o grupo que se caracterizou fortemente pela governança mais pobre (C5) teve ocorrência mais significativa de saldos contáveis negativos, entre os dez exercícios semestrais analisados. Outrossim, quanto à presença de saldos contábeis negativos contábeis consecutivos, também se obteve a relação esperada, quando esse mesmo grupo de baixa governança se destacou negativamente.