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4. Análise do desempenho econômico a partir dos níveis observados de “Governança

4.4 Resultados

4.4.3 Determinantes do desempenho financeiro

O conceito de alavancagem utilizado serve aos propósitos desta pesquisa, por se constituir em variável bastante interessante para mensurar a produção e o desempenho de uma cooperativa de crédito. O indicador de alavancagem aqui utilizado é obtido do valor de operações de crédito líquidas de provisão para perdas sobre o patrimônio líquido contábil das instituições.

120 A observação empírica do conjunto de cooperativas de crédito no Brasil poderia demonstrar que elas operam em níveis de alavancagem mais baixos que as instituições tradicionais voltadas ao crédito. Tal cenário se configura em situação competitiva desfavorável, uma vez que os ganhos mais altos de agentes representativos da atividade financeira mais tradicional devem estar associados a um nível eficiente de alavancagem.

Feita essa qualificação, adota-se a premissa de que uma maior alavancagem representaria aproximação de melhor produção ou, ainda, de mais alta performance econômico- financeira78.

Os resultados apresentados na Figura 2 oferecem uma preliminar da relação entre os grupos de governança e o desempenho das cooperativas. Para cada grupo de governança, elaborou-se a distribuição de frequências para a alavancagem das cooperativas.

Há uma evidente concentração de melhores resultados de alavancagem para as cooperativas dos grupos de melhor governança. Cooperativas do C1 apresentam maiores alavancagens com maior regularidade que as dos demais grupos. Isso não elimina, entretanto, a ocorrência de baixa alavancagem em cooperativas desse mesmo grupo, que aparecem em uma frequência inferior à dos demais grupos.

Cooperativas do C3 apresentaram um desempenho semelhante ao do C1, com valores modais próximos e uma menor dispersão das alavancagens nos extremos inferior e superior. Com desempenho também semelhante, as cooperativas do C2 diferenciam-se pela maior dispersão das alavancagens e a concentração das ocorrências em valores inferiores aos dos C1 e C3.

Os dois piores grupos apresentam desempenhos claramente inferiores ao dos demais, com elevadas frequências de baixas alavancagens, sobretudo para as cooperativas do C5. A dispersão no C4 é maior, ou seja, embora haja uma elevada concentração de baixas alavancagens, há, em comparação com o C5, uma maior participação de cooperativas com alavancagem superior.

Algumas observações, mais específicas, sobre os resultados demonstrados na Figura 2:

78

Os dados contábeis das instituições para a medida de alavancagem foram obtidos dos valores contábeis registrados pelas instituições nas contas 1.6.0.00.00-1 Operações de crédito e 6.1.0.00.00-1 Patrimônio Líquido. Assim, Alavancagem = Operações de Crédito / PL. Interessante observar que o montante de operações de crédito utilizado é líquido de provisões para devedores duvidosos, o que incorpora a este conceito de alavancagem uma variável de qualidade das operações de crédito. Sobre provisões para operações de crédito, ver Resolução CMN 2.682/99.

121 o maior nível de alavancagem do C3, em relação ao C2, pode estar associado ao maior porte das instituições do primeiro quanto ao número de associados;

aproximadamente 5% dos componentes do C5 têm alta alavancagem, o que demonstra que certas instituições operam mais, sem apresentar, no entanto, um nível adequado de governança;

dados tais resultados, espera-se que uma atuação mais eficiente das instituições resultem em uma carteira líquida de crédito aproximadamente seis vezes maior que seu patrimônio líquido.

Figura 2 – Distribuição de frequências para alavancagem segundo grupos de “Governança Cooperativa”

Fonte: dados de pesquisa

O próximo passo da análise do desempenho econômico das cooperativas baseou-se nos resultados de um ajuste de fronteira estocástica para a variável dependente média das operações de crédito no período. Como determinantes das operações de crédito na função de produção (equação 2), consideraram-se os seguintes fatores explanatórios:

associados: variável dada pelo logaritmo natural do número de associados e que representa um medida de porte da cooperativa;

122 funcionários: variável dada pelo logaritmo natural do número de funcionários e que representa um medida dos investimentos em trabalho da cooperativa;

patrimônio: variável dada pelo logaritmo de uma transformação do patrimônio líquido médio da cooperativa no período (patrimônio médio + menor valor médio + 1), e que permite a consideração de cooperativas com patrimônio negativo. Representa uma medida de capital da cooperativa.

Pressupõe-se que o componente de ineficiência desse modelo (ui) apresente apenas

valores positivos, já que a ineficiência seria responsável pela redução das operações de crédito em relação à situação de plena eficiência determinada pelo porte, capital e trabalho da cooperativa. Considerou-se ainda que esse componente de ineficiência seja condicional aos seguintes fatores explanatórios:

região: representado por quatro variáveis binárias para discriminar 5 grandes regiões de procedência da cooperativa (NO: 1 para Norte e 0 c.c.; NE: 1 para Nordeste e 0 c.c.; SE: 1 para Sudeste e 0 c.c.; CO: 1 para Centro-Oeste e 0 c.c.; Sul utilizado como referência de análise);

Grupo de governança: representado por quatro variáveis binárias para discriminar 5 grupos de governança (C1: 1 para C1 e 0 c.c.; C2: 1 para C2 e 0 c.c.; C3: 1 para C3 e 0 c.c.; C4: 1 para C4 e 0 c.c.; C5 utilizado como referência de análise);

Como se tratam de ajustes com variável dependente em logaritmo, as estimativas dos coeficientes associados aos logaritmos das variáveis Associados, Funcionários e Patrimônio indicarão a elasticidade do desempenho em relação a porte, capital e trabalho da cooperativa. Para as variáveis independentes do modelo de ineficiência (região e grupos de governança), que assumem apenas valores 0 e 1, a variação percentual no componente de ineficiência associada à dicotomia estabelecida será equivalente a 100[exp.( j)-1]% (HALVORSEN; PALMQUIST,

1980).

A Tabela 2 apresenta os resultados das estimativas obtidas pelo programa FRONTIER 4.1:

123 Tabela 2 – Estimativas de máxima verossimilhança para coeficientes do modelo de fronteira estocástica

Variável

Função de Produção LTN (Operações de Crédito - Provisão)

S t P Constante -2.707 0.505 -5.361 ** ln (Associados) 0.024 0.023 1.044 0.297 ln (Funcionários) 0.492 0.020 24.203 ** ln (Patrimônio) 1.099 0.034 31.928 **

Modelo de Ineficiência (u)

Z SZ t P Constante -8.192 4.962 -1.651 0.099 Região CO 6.641 3.116 2.131 ** NE 7.811 3.562 2.193 ** NO 5.403 2.421 2.231 ** SE 4.737 2.272 2.085 ** Grupo 1 -7.732 3.418 -2.262 ** 2 -9.940 4.574 -2.173 ** 3 -6.831 3.016 -2.265 ** 4 -4.859 2.072 -2.345 ** 2 v 4.966 2.374 2.092 ** 0.982 0.009 109.721 ** n cooperativas 807 log-verossimilhança -610.102 teste LR para u 297.352 Eficiência media 0,670

Fonte: dados de pesquisa **

Significância a 5%

Em um primeiro momento, observa-se que, independente dos demais fatores, as operações de crédito tendem a crescer mais que proporcionalmente ao patrimônio da cooperativa. A elasticidade associada a essa variável indica um crescimento médio das operações em 1,1% para cada crescimento de 1% no patrimônio.

O número de funcionários é também um importante determinante das operações de crédito. Quando controlados os demais fatores, as operações tendem a crescer 0,5% para cada acréscimo de 1% no número de funcionários. Sem dúvida, as cooperativas devem registrar maior número de funcionários quando adquirem maior porte; entretanto, tal conclusão não prejudica as

124 observações de ganhos de escala extraídas da análise de médias: terão mais funcionários, mas devem ter proporcionalmente cada vez menos.

Por sua vez, o coeficiente associado ao número de associados mostrou-se insignificante no frontier, possivelmente devido à forte colinearidade com o patrimônio da cooperativa, outra variável explanatória adotada no modelo.

No que se refere à decomposição dos resíduos do ajuste (eˆi vˆi uˆi), as estimativas dos erros padrão de vi e ui indicam que a contribuição da variabilidade do componente de

ineficiência é significativa ( ). Em outras palavras, a variabilidade dos resíduos deve-se não somente aos choques aleatórios da função de produção, mas, também, a componentes de ineficiência do modelo.

A eficiência média das cooperativas seria de aproximadamente 67%, com importantes diferenciações em relação aos grupos de governança e grandes regiões.

Em primeiro lugar, os resultados sugerem um evidente ganho de eficiência associados à boa governança. As cooperativas dos 4 primeiros grupos apresentam eficiência substancialmente superiores à do último e mais precário grupo de governança. A eficiência é maior, sobretudo, para as cooperativas dos grupos 2 e 1.

No que se refere à localização geográfica, as cooperativas da região Sul tendem a apresentar os melhores resultados de eficiência, seguidas pelas cooperativas do SE. As mais ineficientes seriam aquelas das regiões NE e CO.