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Organização em sistemas cooperativistas de crédito no país

1.4 Conformação do cooperativismo de crédito brasileiro

1.4.2 Organização em sistemas cooperativistas de crédito no país

Para entender-se a dinâmica do cooperativismo de crédito, é imprescindível avaliar a organização em sistemas cooperativos, fenômeno observado ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Conforme já citado, no Brasil desenvolve-se a estruturação dos sistemas em três níveis, ou três “graus”, a saber: cooperativas de crédito singulares (1º grau), cooperativas de crédito centrais (2º grau) e confederações de cooperativas centrais (3º grau).

Dado o processo de constituição de uma cooperativa de crédito singular, como sociedade de pessoas, muitas vezes voltadas especificamente a um nicho profissional, setor econômico, área geográfica de atuação, ou uma conjunção dessas restrições, certas limitações de crescimento e desenvolvimento são inerentes ao processo de evolução de tais instituições.

Entendidas as fronteiras de ação, as entidades passam a demandar a obtenção de escala de produção, o que resulta na constituição de cooperativas centrais ou mesmo confederações (conjunto de cooperativas centrais), sob o objetivo de centralizar certos tipos de atividades nas entidades de maior grau.

24 A associação de cooperativas singulares em cooperativas centrais, e destas últimas constituindo confederações, reflete o interesse de construir-se uma abrangência maior, estadual ou mesmo nacional. A demanda pela centralização se fortalece quando as instituições se veem inseridas em um mercado financeiro onde devem enfrentar acirrada competição.

Diversas atividades podem ser centralizadas em cooperativas centrais e confederações, como a contabilidade, boa parte das estruturas de governança, de controles internos e de gerenciamento de riscos, e mesmo a gestão dos recursos financeiros. Uma maior e melhor alocação das atividades, vis-à-vis a eliminação de estruturas repetidas entre cooperativas singulares e centrais associadas deve, sem dúvida, incorrer na obtenção de melhores condições de competição em mercados financeiros.

No Brasil, existem alguns sistemas cooperativos mais desenvolvidos e outros que carecem de maior evolução; entretanto, a tendência geral observada no passado recente é de sensível progresso de tais organizações.

A organização das cooperativas de forma centralizada ocorre, em um primeiro momento, com a estruturação de cooperativas centrais, que normalmente têm área de atuação estadual. Conforme já citado, Pagnussatt (2004) demonstra que a primeira cooperativa central, em tempos mais recentes23, vem aparecer com a associação de cooperativas de crédito para estruturar a Cooperativa Central de Crédito do Rio Grande do Sul, no início da década de 80.

A partir daí, outras cooperativas centrais foram organizadas, e a reunião de algumas centrais passa a formar as confederações de cooperativas, normalmente constituídas para atuar como um ente cooperativo de abrangência nacional.

Nesta seção, são elencadas características dos quatro principais sistemas cooperativistas de créditos. Os entes classificados como “sistemas” representam a reunião de cooperativas de diferentes níveis em torno de objetivos comuns. Quando mencionados os “sistemas”, trata-se do conjunto de singulares, centrais, confederações e, porventura, bancos cooperativos (ou outras entidades de caráter complementar, prestadoras de serviços) existentes

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Antes do período de desestruturação do cooperativismo de crédito, que durou desde a metade da década de 60 até o início dos anos 80, tem-se registro de cooperativas centrais em atividade no Brasil, como a Cooperativa Central das Caixas Rurais, inaugurada em 1925, no Rio Grande do Sul. Em 1967 foi transformada em cooperativa de crédito singular.

25 que respondem a uma mesma forma centralizada de organização administrativa capitaneada por confederações ou mesmo em cooperativas centrais24.

SICREDI (Sistema de Crédito Cooperativo)

O sistema SICREDI é pioneiro na fase mais recente de desenvolvimento do cooperativismo de crédito, com a constituição da cooperativa central de crédito COCECRER/RS, em 1980. De acordo com as observações empíricas sobre a evolução dos sistemas, se apresenta como o sistema mais padronizado e centralizado, entre aqueles em atividade no Brasil.

A padronização baseada na difusão de normas e procedimentos únicos, limites gerenciais de atuação dos gestores dos entes menores, políticas nacionais definidas e centralização de áreas operacionais diversas, entre outros, denota um controle único e ações de âmbito nacional por sua alta administração. A condição concorrencial desse sistema, em face de bancos que atuam nacionalmente, pode ser relativamente melhor em relação a sistemas mais heterogêneos.

Para ilustrar a padronização nesse sistema, recorre-se à citação de Vasconcelos:

“Além dos poderes especiais de representação a que está investida, a confederação tem por objetivo, segundo o seu Estatuto Social (Sicredi Serviços, 2005), a prestação de serviços tecnológico-normativo-assistenciais às entidades cooperativas que integram o seu quadro associativo, ou através destas, com fins de incremento de qualidade e ganho de escala, propondo-se, dentre outras finalidades, a prospectar, desenvolver e manualizar de forma padronizada, em relação às cooperativas centrais e singulares participantes do Sicredi, diversos procedimentos de ordem administrativa e operacional ali descritos”. (VASCONCELOS, 2006, p. 64)

O modelo estrutural do sistema é composto, de acordo com descrição oferecida por Pagnussatt, em três níveis. No topo do organograma, coexistem a confederação de cooperativas e o banco cooperativo – BANSICREDI. O autor observa sobre as atribuições das duas empresas:

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O Sistema Ecosol, por exemplo, antes da constituição da Confederação Nacional das Cooperativas Centrais de Crédito e Economia Familiar e Solidária (Confesol), era sistema cooperativista de dois níveis, composto apenas por cooperativas singulares e cooperativa central de abrangência nacional.

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“A Confederação ocupa-se da prospecção e desenvolvimento das políticas corporativas no campo operacional (auditoria, jurídico-normativo, recursos humanos), representação institucional em nível nacional e execução dos serviços ligados à tecnologia de informação, inclusive os serviços de processamento centralizado de todas as entidades. O BANSICREDI – primeiro banco cooperativo privado brasileiro, fundado em 1995 – além da prospecção e políticas de natureza negocial, executa os serviços de administração financeira centralizada, fluxo financeiro corporativo e assessoria de divulgação.” (PAGNUSSATT, 2004, p. 28)

Conforme dados obtidos no sítio do sistema SICREDI25, sua composição no momento, é a seguinte:

1,5 milhão de associados;

130 cooperativas de crédito singulares e 1.000 pontos de atendimento;

cooperativas centrais, que abrangem 10 estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Pará, Rondônia, Goiás e São Paulo);

BANSICREDI, uma confederação e empresas controladas (administradora de cartões, administradora de consórcios e corretora de seguros). Também compõe a estrutura a Sicredi Participações S.A.

O sistema tem ambiente de governança em evolução, tendo em vista o valor da padronização para seus gestores, o que permite ações preventivas mais eficazes no sentido do acompanhamento da ação dos entes menores do sistema.

Uma ressalva deve ser feita: de acordo com informações obtidas de Vasconcelos (2006), inexiste, ainda, nas estruturas administrativas das cooperativas singulares do Sistema SICREDI, qualquer separação entre componentes de diretoria executiva dos CAs, aspecto visto como obstáculo à boa governança na alta gestão.

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SICOOB (Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil)

Comparativamente à realidade do sistema demonstrado na seção precedente, este tem características mais divergentes de uma centralização efetiva e de padronização.

As cooperativas centrais têm mais autonomia, quanto a recomendações da confederação, por vezes adaptando, inclusive, os documentos e manuais propostos, de acordo com suas necessidades mais localizadas. Alguns defendem esse maior raio de manobra oferecido aos entes menores, quando podem se adaptar a problemas mais específicos das regiões em que atuam.

A diversidade também é observada no seio do sistema, coexistindo os mais diversos tipos e portes de cooperativas de crédito singulares e centrais. Esse sistema tem o mérito de estar presente na maioria dos estados brasileiros, sendo responsável pela difusão do cooperativismo de crédito até as regiões menos favorecidas do país.

Ainda, a aceitação da heterogeneidade é necessária ao cooperativismo de crédito, uma vez que instituições menores necessitam do respaldo de centrais e confederações. Entretanto, deve-se observar que ações efetivas de âmbito nacional, visando à evolução de seus diferentes componentes, têm de ser adotadas de maneira contínua, a fim de garantir a minimização dos riscos de imagem para o sistema como um todo.

A estrutura de controles e gestão de riscos e mesmo as auditorias e supervisão das cooperativas centrais sobre suas associadas têm amplo espaço para progredir, a despeito de sua evolução mais recente. A própria evolução da obtenção tempestiva de dados financeiros consolidados de qualidade, referentes à totalidade das cooperativas associadas ainda pode se constituir em objetivo a ser alcançado pela confederação. Deve-se destacar que o sistema é muito pulverizado, as dificuldades de aplicação de soluções nacionais são consideráveis.

A estruturação desse sistema em termos de seus componentes organizacionais pode ser comparada à observada no sistema SICREDI26. A seguir, dados do sistema SICOOB27:

1,7 milhão de associados;

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Pode-se defender, com razoabilidade, que as estruturas de confederação e banco cooperativo do SICOOB, embora tenham forma semelhante e estejam em fase de desenvolvimento, se encontram ainda em estágio anterior de evolução de governança interna, quando comparadas às instituições similares do sistema SICREDI.

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28 633 cooperativas singulares e 1.777 postos de atendimento;

14 cooperativas centrais;

BANCOOB, banco cooperativo estruturado a partir de 1997, uma confederação, e empresas controladas (Administradora de Cartões, Empresa de Informática e Corretora de Seguros).

Algumas observações complementares se destacam, quanto a informações qualitativas sobre o sistema:

ação menos abrangente e centralizadora dessa confederação, se contraposta ao caso anterior;

maior raio de manobra e concentração de poder em cooperativas centrais e até mesmo em singulares de grande porte, em detrimento da força política confederada nacional;

grande número e heterogeneidade de associadas como obstáculo à efetividade do acompanhamento e à governança sistêmica.

UNICRED (Sistema de Cooperativas de Economia e Crédito Mútuo dos Médicos)

Trata-se de sistema cooperativista de crédito que tem enfoque em categoria profissional, essencialmente a dos médicos e outros profissionais da área da saúde, portanto mais dirigido a segmento específico e de crescimento relativamente limitado, inclusive em termos de número de instituições.

Vale ressaltar, no entanto, que a grande quantidade de profissionais do ramo no Brasil, sua condição financeira relativamente vantajosa e a inclusão de outras categorias da área de saúde em seu corpo associável, conferem relevância ao sistema quando visto como parte do cooperativismo de crédito nacional.

Uma característica importante, que determina decisões tomadas pelos administradores do sistema e, portanto, influencia de forma relevante suas estruturas de governança, é a manutenção de uma relação próxima às atividades de cooperativas de trabalho médico, as UNIMEDs. A respeito dessa relação, menciona Pagnussatt:

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“Possuem um forte relacionamento negocial com as UNIMEDs (Cooperativas de Trabalho Médico), especialmente para arrecadações decorrentes de convênios de assistência médica e o pagamento por crédito em conta dos serviços prestados por seus cooperados (produção).” (PAGNUSSATT, 2004, p. 31)

Outra particularidade em relação aos sistemas anteriormente descritos, o sistema não dispõe de banco cooperativo em sua estrutura, embora ela também esteja constituída em três níveis, sob uma confederação nacional. A não-integração de entidade bancária resulta em necessidade de obtenção de alguns serviços bancários junto a bancos comerciais, estatais, ou mesmo bancos cooperativos pertencentes a outros sistemas.

O sistema UNICRED é composto de acordo com o demonstrado abaixo28: 192 mil associados;

122 cooperativas singulares e 406 postos de atendimento; 9 cooperativas centrais;

confederação – Unicred do Brasil. Esta tem especificidade em relação às outras confederações, já que é a única homologada como instituição financeira, autorizada a funcionar pelo BCB.

Uma última observação: a confederação também tem restrições de avanços, uma vez que os poderes constituídos, e as conseqüentes disputas financeiras e políticas existentes entre as cooperativas centrais, se constituem em obstáculos para uma visão nacional do sistema. Tem-se muito a progredir em uma visão de padronização, para ter condições de concorrência com o mercado financeiro em um prazo mais longo e em escalas maiores.

Sistemas CRESOL e ECOSOL: formação da CONFESOL

Os sistemas aqui a serem apresentados, de menor porte, têm a função de prover crédito solidário, principalmente a pequenos produtores rurais (CRESOL e ECOSOL), mas, também, a áreas geográficas pouco atendidas ou setores produtivos urbanos de menor capacidade financeira (ECOSOL).

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30 Por ter funções de auxílio e atendimento a setores menos desenvolvidos, o crédito solidário assume conotação social bastante importante.

Até o início de 2008, eram dois sistemas apartados, compostos por dois níveis de atuação, apenas contendo cooperativas singulares e centrais e atuando de forma mais relevante com recursos obtidos junto a bancos públicos, com repasses de linha de crédito para o desenvolvimento de setores específicos. Os sistemas interagiam por meio da ANCOSOL (Associação Nacional do Cooperativismo de Crédito da Economia Familiar e Solidária), entidade de apoio ao setor.

No início do 2º semestre de 2008, é constituída a confederação CONFESOL (Confederação das Cooperativas de Crédito de Economia Solidária), que agrega os dois sistemas, conforme notícia reproduzida do sítio da Cresol Central29:

“Na última quarta-feira (6 de agosto) foi firmado um convênio em Brasília, entre o Sebrae, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Associação Nacional do Cooperativismo de Crédito da Economia Familiar e Solidária (Ancosol) para promover a expansão, o fortalecimento e a gestão do cooperativismo rural. Durante três anos, as instituições afiliadas a Ancosol vão investir R$ 3,1 milhões na capacitação do quadro técnico e diretivo das cooperativas e implantar um programa de microfinanças solidárias no meio rural brasileiro.”

Destaca-se, portanto, no escopo deste sistema cooperativista de crédito, a preocupação com o crédito solidário, bastante dirigido ao pequeno produtor rural e à agricultura familiar.