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Já se mencionou que os consumidores domésticos não possuem fácil acesso ao mercado internacional de minério de ferro de forma a inibir um eventual abuso de poder econômico por parte da CVRD. Em respostas aos ofícios encaminhados pela SDE, as empresas siderúrgicas e guseiros afirmam a inviabilidade econômica de importação de minério de ferro (CUEVA, 2005).

Em vista disso, “é induvidoso que o fato constitui um elemento favorável para um eventual exercício de poder de mercado pela CVRD” (Id).

6.3.2 Barreiras à Entrada

Com relação aos transportes ferroviários, a CVRD é proprietária integral da EFVM e uma das principais acionistas da MRS. Considerando, ainda, que “só existem as duas ferrovias na região Sudeste e que ambas estão operando no limite da capacidade, infere-se que a logística constitui uma elevada barreira à entrada de potenciais competidores no mercado de minério de ferro” (CUEVA, 2005). Assim, verifica-se que “o alto volume de investimento e os problemas relacionados à logística dificultam a entrada de novos competidores para impedir o exercício de poder de mercado pela CVRD”, consubstanciando a avaliação do parecerista e relator do CADE Ricardo Villas Bôas Cueva (CUEVA, 2005).

6.3.3 Mercado de Pelotas

Com a aquisição da Samarco e Ferteco, “a CVRD atinge o monopólio do mercado de pelotas” (CUEVA, 2005). De acordo com a SDE (SDE, 2005), a CVRD tinha planos de construir uma pelotizadora na região Sudeste, mas com a aquisição da Ferteco, a CVRD pretende direcionar a produção da Ferteco ao mercado interno, por estar situada mais próxima às siderúrgicas, enquanto que sua produção, por estar mais próxima dos terminais portuários seria redirecionada ao mercado externo.

de pelotas exige também a entrada no mercado de pellet feed, cujos investimentos são bastante avultados, e ainda tem a barreira de possuir concessão de lavra com minério deste tipo” (SDE, 2005).

Diante do exposto, conclui-se que a “entrada no mercado de pelotas não é provável, tempestiva ou suficiente para impedir um eventual abuso de posição dominante por parte da CVRD” (CUEVA, 2005).

6.3.4 A Relação entre os Preços Domésticos e os Preços Internacionais

Segundo a SDE (SDE, 2005), as principais siderúrgicas consultadas por esta Secretaria do Direito Econômico do Ministério da Justiça informaram que após as operações, as grandes mineradoras de minério de ferro passaram a dolarizar seus preços, utilizando as cotações internacionais e as taxas de câmbio R$/US$. Tais afirmativas levam a entender que o suposto vínculo entre os preços domésticos e internacionais não existia, ou não era tão significativo, antes do término da realização das operações, o que sugere que a relação competitiva entre as concorrentes seria componente importante na formação dos preços domésticos.

A CVRD sustenta que sendo o mercado internacional muito competitivo, não possui poder de fixar o preço, o que por sua vez reflete nos preços nacionais, ressaltando o fato de que “o preço no mercado nacional nunca será superior ao preço internacional em razão das regras de mercado estabelecidas mundialmente para minérios de ferro” (CVRD, apud CUEVA, 2005).

No entanto, mesmo que não se possa afirmar com certeza absoluta, e corroborando a opinião da SDE e SEAE, “nada impede que a CVRD rompa o

atrelamento dos preços domésticos aos internacionais, se seus principais concorrentes domésticos são por elas adquiridos”.

De fato, “após as operações, a CVRD passa a configurar-se como a maior mineradora do mundo e a primeira em volume exportado, com 34% do mercado” (CUEVA, 2005). Dada “a participação de mercado atingida pela CVRD com as operações, a inexistência de concorrentes efetivos e do fato de que as siderúrgicas nacionais não possuem acesso ao mercado internacional de minério de ferro, não há como afirmar que a CVRD não teria condições de exercer poder de mercado no mercado doméstico” (CUEVA, 2005). Por conseguinte, não se pode afastar o

argumento de que “o aumento de preço do minério de ferro no mercado doméstico tenha capacidade de provocar aumento de preço dos produtos siderúrgicos e, com isso, afetar o bem-estar do consumidor final”, conforme observou a SDE.

6.3.5 Alterações nas Relações Comerciais com as Siderúrgicas Nacionais

Por hipóteses (segundo CUEVA, 2005), após as operações, poderiam vislumbrar-se os seguintes riscos para as empresas siderúrgicas nacionais: (i) possibilidade de ocorrer aumento de preços no mercado de minério de ferro; (ii) risco de desabastecimento e (iii) a CVRD, como produtora majoritária e detentora de todos os terminais portuários do Sistema Sul e da EFVM, e como participante do bloco de controle da MRS, pode usar todo este poder para ditar regras contratuais ou descumpri- las quando lhe for conveniente.

Já se viu que, com as operações, a CVRD passa a configurar-se como a principal mineradora no mundo a negociar com grandes grupos siderúrgicos internacionais. Entretanto, segundo a CVRD (na opinião dos Pareceristas Possas e Pondé, apud CUEVA, 2005), “as relações comerciais entre siderúrgicas e mineradoras

se dão através de relações contratuais (caracterizados como contratos relacionais) que, substituem, como mecanismo de coordenação, o sistema de preços”. Essas relações contratuais, segundo os pareceristas, “implementam um alinhamento de interesses das partes a médio e longo prazo, garantem um efetivo comprometimento destas na preservação da relação contratual frente a eventos imprevistos, e efetuam uma adaptação seqüencial das suas condutas, coordenando a interação entre os processos produtivos ao longo da cadeia”.

Assim, de acordo com a CVRD, sob o âmbito geográfico mundial, “as relações comerciais entre mineradoras e siderúrgicas se dariam na forma de um oligopólio bilateral. Nesse caso, quem possuir maior poder de barganha ou negociar melhor, conquista maior excedente”.

Esse é um dos principais argumentos apresentados pela CVRD para demonstrar que as operações não alteram as relações comerciais entre as Requerentes e as siderúrgicas nacionais.

esclarecido pela SDE, “resta apenas uma grande mineradora, a CVRD, de um lado,

enquanto do outro lado há basicamente três grandes grupos siderúrgicos não- verticalizados (Arcelor, Gerdau e Cosipa-Usiminas) e uma razoável franja de guseiros, pequenas siderúrgicas e fundidoras”. Ou seja, não há um oligopólio bilateral, pois, diferente das grandes siderúrgicas européias e asiáticas, “as siderúrgicas nacionais não possuem alternativas de fornecimento significativas”.

A SDE esclarece que os players restantes, pequenos e médios produtores de minério de ferro “encontram-se na franja competitiva desse mercado e, dessa forma, não podem entrar em uma guerra de preços com a CVRD senão acompanhar os preços praticados por essa última empresa”. Este último raciocínio também é válido para os guseiros que adquirem minério de ferro dos pequenos e médio mineradores. “Destarte, também saem prejudicados os guseiros” (CUEVA, 2005).

Conclui-se, assim, que “as operações têm potencial para prejudicar as relações comerciais entre a CVRD e as siderúrgicas”, corroborando o entendimento de CUEVA. (CUEVA, 2005).